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sigo errando…

matrioshka-21-728

saí para participar de um programa de rádio pouco depois do meio dia sem tomar café. (erro 1)

num outro espaço que não a rádio, fui sincera como quase sempre sem medir palavras. e me-senti/fui fiscalizada, atropelada. (erro? 2)

ao invés de fincar o pé, me impor e perguntar “qualé?”, me desculpei pelo erro que não cometi e conciliei quando não quero mais conciliar e consciente que não valerá o esforço. (erro 3)

cheguei em casa e emendei o café da manhã com almoço e comi com raiva (erro 4), com direito a engasgo e choro involuntário que desencadeou num voluntário. porque poucas coisas me chateiam mais do que ser fiscalizada e essa sensação de não poder ser eu mesma. como se devesse algo, sabe comé?

agora estou aqui mei que passando mal e lembrando que embora eu estivesse mesmo doente todas as vezes que hibernei (digamos assim), não era só a falta de condições físicas e mentais de sair e permanecer no mundo. é que realmente esse mundo não me apetece muito. não desse jeito.

hoje, embora esteja bem e bem longe do abraço sombrio da depressão, senti vontade de hibernar. largar tudo pra lá e me afastar de tudo e todos (e aqui pode morar o erro 5, onde já não tenho mais espaço para errar).

fazia muito tempo mesmo que não comia com raiva. eu e o Gilson nos esforçamos para construir e manter o Parque Jurassí como um espaço de paz, um refúgio das agruras do mundo como deve ser todo lar digno do nome.

sim, preciso me preservar mais. estar mais atenta dos terrenos por onde piso e as pessoas que tenho mantido por perto. a questão é sempre me convencer que o andar vale esse esforço extra aí. é por isso que eu paro de vez em quando.

sabe o dia que parece uma matrioska de erros?


Vapor de água

Nasci errada. Não me lembro de um só dia em que tenha me sentido certa, em acordo com o tempo, espaço, outras pessoas. Ser errada me fez rebelde desde cedo. Muitas e intensas dores provocadas e sentidas. Muitos discursos inflamados desde sempre, dedo em riste, críticas muito severas. Sempre errada, errante, errando.

Cresci errada. Na sensação de desamor sempre presente, gritante, aprendi a sonhar demais, querer demais. Me amparava na rebeldia, na luta contra o mundo e contra todos. Versão feminina infanto-juvenil de Don Quixote, solitária, sem Sancho Pança. Continuei errando em cada mísero detalhe. Tanto que os poucos acertos pareciam — e ainda parecem — obra do acaso. Aprendi a amar na ressaca das paixões, no desamor, a acarinhar na carência do toque.

Fui assim, gostando sem saber me fazer gostar e sem ser gostada, na errância. Riso frouxo, debochado, sorriso escasso, aprendi a rir de mim mesma observando o ridículo de todos os meus erros. E foram tantos que só restava rir-me de mim… Vivendo errado procriei errado. Conheci o maior amor errando e nem assim me redimi. Segui errando e errei tanto que fiquei torta, sem conserto.

Passada mais da metade do erro, digo, da vida, sigo errando. Mas como posso ser tão burra e não aprender com os erros? Aprendi. Foi tudo que aprendi nessa vida torta: Errar. Não sei fazer outra coisa. Exibo minha competência e aprendizado diariamente. Quer acertar? Não siga meus passos e vá na direção oposta a minha.

Não me preocupo mais em achar caminhos. Certos ou errados, tanto faz. Trocaria hoje todos os meus sonhos — grandes demais para mim — para me tornar vapor de água e me desfazer aos poucos no ar, sem rastro, sem lembranças aqui, e ir chover noutro lugar.

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