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Sobre a denúncia de assédio/abuso contra Idelber Avelar

tá todo mundo meio assim com essa história...

tá todo mundo meio assim com essa história…

Está bem difícil ficar nas redes sociais sem se envolver, ler ou pelo menos saber da super-ultra-power-mega-plus-treta que envolve Idelber Avelar e duas mulheres que o acusam de assédio. Sim, é muito ruim chamar uma denúncia séria de assédio de “treta”, porque não é e é preciso tratar com respeito a questão, mas tudo que nas redes sociais ou plataformas digitais (oi, Dri) envolve discussão entre duas ou mais pessoas é chamado de treta, e essa envolve muitas pessoas, em pelo menos três dessas plataformas (twitter, facebook e tumblr) e já chegou à blogosfera (não toooooda a blogosfera, mas uma parte considerável dela, pelo menos a que eu frequento).

Se tu não sabes/entende muito bem o que é assédio e como isso se dá na internet ou ainda como as mulheres se sentem a respeito, passem antes pelo excelente e esclarecedor texto da Jarid Arraes na Revista Fórum que coloca as coisas nos seus devidos lugares. E, sim, considero assédio violência contra a mulher. Existem outros tipos de assédio? Sim, mas é o assédio sexual de mulheres o mais complicado de provar. Primeiro porque nunca basta a palavra da vítima. E em sendo mulher e ocupando a posição de denunciante sua palavra já vem com um descrédito de 70% de fábrica no mínimo.

Já sabendo o que é assédio, que constrange as mulheres, é violência e que não basta sua palavra para denunciar, a vítima precisa reunir *provas*. Nesse caso do Idelber as provas são controversas, porque são prints de conversas privadas. Existe naquilo que se chama netiqueta um acordo tácito de que conversas privadas ficam no privado, em segredo, numa relação de confiança mútua entre as pessoas que conversam. Não é preciso dizer que no privado somos bem menos bonitos e apresentáveis do que somos em público. É assim na vida, é assim na internet. No privado, em casa, a gente peida, enfia o dedo no nariz, tenta tirar aquele fiapo de frango do meio do dente com a unha, anda pelado, grita mesmo quando não é necessário (tem gente que não grita nunca, meu profundo respeito a esses), faz careta, xinga, etc. Isso quer dizer que é onde nos sentimos à vontade, então podemos virar do avesso. Confiamos nas pessoas com quem coabitamos e aturamos suas deselegâncias na mesma medida que elas aturam as nossas. Há um acordo tácito de não sairmos por aí contando as deselegâncias um do outro. Essas coisas não se dizem, não se contam. O que é público está em discussão e julgamento, o que é privado fica lá no privado.

Daí que o feminismo fez a deselegância de tirar várias coisas do privado e trazer para o público. Iam além da deselegância e ultrajavam, violentavam as mulheres (e em muitos casos, as crianças também). E muito do que só era privado e deveria ficar no privado passou a frequentar delegacias, inquéritos, tribunais. O excesso dessas *deselegâncias fora do seu lugar* criou a demanda de serem tipificadas no Código Penal. Algumas já foram. A Lei Maria da Penha é um resumo da demanda de várias deselegâncias do mundo privado que ao ficarem à vista de todos são facilmente tipificadas como crime, mas que por terem ocorrido no privado ficavam impunes. Agora não ficam mais. Basta que a vítima ou alguém próximo tire o que ocorre de violência no privado e traga a público.

Bueno, o chamado *Caso Idelber Avelar* foi não mais do que isso. Duas mulheres se sentiram violentadas no privado da internet e trouxeram a público para que todo mundo visse. Não sem sofrimento, não sem condenação, não sem dedos apontados para elas. Mesmo cientes da condenação imediata decidiram trazer. Se formos nos apegar à letra fria da lei quase nada ou nada do que ocorreu entre essas mulheres e Idelber é possível classificar como crime, mas elas se sentiram violentadas em algum momento na relação com ele. E quem é que mede, que diz se foi violência ou não? A vítima ou o agressor? O público que está fazendo do caso uma monumental treta?, os ditos operadores do direito? Se dependesse do judiciário a Lei Maria da Penha não seria lei e nem o que ocorre no privado dos lares estaria autorizado para ser trazido a público. Mas quem disse que o movimento feminista espera autorização de alguém para lutar pelo que é justo para as mulheres? UFA!, ainda bem que não. Muita gente tem dito que o que se conversa no privado deve ficar no privado. Mas e quando o agressor/abusador/molestador conta com esse acordo de privacidade para ir além do que lhe foi permitido e sair ileso, liso e ainda continuar agredindo, abusando, molestando por anos a fio, inclusive se vangloriando disso? Essa é a questão.

Esse caso não trata da sua amizade com o Idelber, nem sobre o comportamento das feministas e muito menos sobre o que cada de um nós acha sobre nada. Esse caso é uma denúncia de assédio sexual que duas mulheres (pelo menos até agora apenas duas) estão trazendo a público. ‘Ah, se trouxe a público o público tem o direito de opinar’. De opinar, sim. De julgar, NÃO! Não, não estou me referindo ao que estão chamando de “linchamento moral” do Idelber, me refiro a julgar quem denuncia, a apontar o dedo para essas mulheres fazendo comentários como “era uma relação consensual entre adultos”, “disseram sim e mandaram fotos porque quiseram” e coisas do tipo. Porque isso equivale a perguntar “o que estava fazendo com aquela roupa naquele horário na rua?” ou “se não queria, por que foi até o apê do cara?”. Se não me engano, já tínhamos, pelo menos dentro do movimento feminista, um acordo tácito e imprescindível de que NUNCA se julga a vítima, não se coloca sua palavra em dúvida e, principalmente, não se culpabiliza a vítima. Não importa se o agressor/abusador/molestador é nosso amiguinho, parente, do mesmo partido ou alguém que admiramos.

De verdade, estou lamentando muito que um cara de esquerda como Idelber Avelar, capaz de escrever coisas assim: “Quando esses homens são confrontados por uma feminista, seja em sua ignorância, seja em sua cumplicidade com uma ordem de coisas opressora para as mulheres, armam um chororô de mastodônticas proporções, pobres coitados, tão patrulhados que são. Todos aqueles olhos roxos, discriminações, assédios sexuais, assassinatos, estupros, incluindo-se estupros “corretivos” de lésbicas (via Vange), objetificações para o prazer único do outro, estereotipia na mídia, jornadas duplas de trabalho, espancamentos domésticos? Que nada! Sofrimento mesmo é o de macho “patrulhado” ou “linchado” por feministas! A coisa chega a ser cômica, de tão constrangedora.” no texto A busca incansável por um feminismo dócil, ou, não é de você que devemos falar (de 19/12/2010 em seu blog a respeito de uma outra treta monumental que envolvia o jornalista Luís Nassif e feministas), apareça agora como alvo de uma denúncia de abuso e assédio sexual.

Eu poderia dizer que já sabia que ele era meio galinha, que três por quatro baixava nas DMs e caixinhas inbox de amigas feministas com cantadas baratas, mas o máximo que eu poderia dizer dele a esse respeito é que era um cara meio sem criatividade ao abordar mulheres. E só! Jamais, e acho que aqui reside o susto e abalo de quase todos, pensei que ele fosse capaz de desrespeitar as mulheres com quem se relacionava, e com uma visão tão machista e objetificadora das relações sexuais (até mesmo das casuais). Não, não é moralismo, amigues. As pessoas se relacionam como elas quiserem, se for consensual, tudo consensual, podem tudo, de BDSM e chamar de puta e viado/corno até mijar uma na outra. Eu não curto essa coisa escatológica, mas dizem que tem gente que gosta. Há gosto pra tudo, já dizia o cidadão comendo ranho (subistitua por outra coisa a que tenha nojo). Mas, repito: desde que seja consensual, do início ao fim, be-le-za. A questão é que em dado momento essas mulheres se sentiram violentadas, e denunciaram. A denúncia, por mais que queiram distorcer a questão e focar em algumas feministas que ajudaram-nas a reverberar, partiu das mulheres que se sentiram ultrajadas/violentadas por Idelber. E elas pensaram muito antes de denunciar. Pediram ajuda, de jurídica a psicológica passando por apoio moral. Muitas sequer lhes responderam. Casualmente (ou nada de casual) as blogueiras que lhes deram apoio são as mesmas protagonistas de todas as mega-tretas da internet desde que estou por aqui.

Não sou radfem (feministas radicais, linha do feminismo muito discutida na internet e muito briguenta – digamos assim), nem feminista fofa, nem rapunzel. Sou biscate, avulsa, eu sozinha. E costumo sim dizer o que penso quando acho que devo. Nunca, N-U-N-C-A, coloquei em dúvida a palavra da vítima. Isso pra mim, enquanto feminista, é condição. Lamento muito que o Luís Nassif — que outrora chamou a Lola e parte do movimento feminista de “feminazi” — agora se utilize de forma oportunista das próprias palavras da Lola para bater em Idelber, seu antigo desafeto, mas não é motivo suficiente para que eu deixe de apoiar uma mulher denunciando abuso/assédio. Lamento muito que o Pablo Villaça — centro de uma outra treta com feministas por piada machista infeliz — se aproveite desse caso para fazer de novo “gracinha“, ao mesmo tempo o aplaudo por logo em seguida reconhecer que falha sempre e não se diz feminista e que está aí tentando aprender. Porque é isso. O mundo é machista e o machismo sendo estrutural e estruturante atinge a todos indiscriminadamente. Nem as feministas estão a salvo de escorregarem e serem machistas aqui ou ali. Nos autovigiamos muito e tals, mas ninguém é infalível. Sim, os petistas e governistas — contra os quais Idelber se voltou nos últimos tempos politicamente e criticava muito — estão deitando e rolando. Lamento por isso também, está nojento de ver.

Mas lamento mesmo, de verdade e profundamente, é pelas pessoas que se relacionam com Idelber (namorada, filhos, família, amigos) que se veem no olho de um furacão de uma hora para outra sem saber o que fazer. Se eu fiquei dois dias perplexa, pensando no que iria escrever, imagino eles…e me solidarizo com sua dor. E por eles gostaria de deixar esse assunto pra lá. Mas, quando eu me tornei feminista assumi um compromisso de luta para a vida toda, e não posso me fazer de cega-surda-muda porque conheço o denunciado e seus familiares.

Um amigo, ontem, me disse “que desagradável tudo isso”. Concordei. Mas, como respondi a ele, para nós é APENAS DESAGRADÁVEL. Há pessoas que estão só na metade da estrada desse inferno.

Por fim, como ilustração, deixo o tuíte da :

Captura de tela de 2014-11-30 23:32:44

 

p.s.: Se algum dia houver alguma(s) denúncia(s) contra o Gilson, nos façam o favor, a mim e a ele, de não nos protegerem como estão tentando nesse caso. Nos tratem como inimigos ou meros desconhecidos e ouçam a(s) vítima(s). OUÇAM A(S) VÍTIMA(S).


Biscate de Luta e a Marcha das Vadias em Pelotas

Texto meu postado originalmente no Biscate Social Club

Não sou uma biscate qualquer.

A biscate que sou só eu poderia ser. Ou, a mulher que sou só eu poderia ser. Ou ainda, a pessoa que sou só eu poderia ser. Somos todos assim, construídos de pequenos detalhes, grandes diferenças, caminhos trilhados com dificuldade ou não, escolhas, dores, alegrias… Vida vivida.

Entre as minhas escolhas estão ser comunista — reconheço a que classe pertenço neste mundo capitalista, reconheço a opressão sofrida por esta classe, me rebelo, quero e luto para construir outro mundo, com outro sistema, sem classes e baseado na cooperação mútua tendo o ser humano como parâmetro — e feminista — reconheço meu gênero e todas suas implicações e opressão sofrida, e luto por um mundo antimachista, construído na parceria entre gêneros.

Para além de ser feminista, percebi que a opressão de gênero é um dos pilares de sustentação da opressão de classe e que essas duas opressões estão intimamente ligadas (a opressão de gênero e a normatização da sexualidade da mulher surge na História junto com a propriedade privada), uma não sobrevive sem a outra e talvez por isso seja tão difícil romper com as duas.

Nesse período do início de março é comum recebermos homenagens e flores e vermos a feminilidade ressaltada. Pois reafirmo, engrossando o coro de milhares de mulheres que lutam ao meu lado, o 8 de Março (leia aqui sobre a origem da data) é um dia de luta, de protesto e de reflexão. Dia de recusarmos as flores e falsas/frágeis homenagens e dizermos em alto e bom som: QUEREMOS É RESPEITO E UMA VIDA SEM VIOLÊNCIA!

Juntemo-nos às Marchas das Vadias e atos públicos desse 8 de Março nas cidades Brasil afora. Vamos às ruas fazer valer nossa autonomia e liberdade. Não há outro jeito. Nesse mundo, machista e capitalista, a biscate que eu sou é essa: rebelde, de luta!

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As mulheres de luta de Pelotas irão às ruas no próximo sábado na Marcha das Vadias, para dizer NÃO à violência contra a mulher. Concentração a partir das 11h, no Chafariz do Calçadão da Andrade Neves com Sete de Setembro. Faça o seu cartaz, vista-se da maneira que quiser e compareça.

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Outros Atos e Marchas referentes ao 8 de Março de 2012:

Brasília: 6 a 31/março — Diversas atividades do Fórum de Mulheres do DF.
Belém: 8/março — Caminhada, concentração em frente ao Tribunal de Contas às 9h.
São Paulo: 8/março — Ato e Passeata, concentração na Praça da Sé às 14h.
Recife: 8/março — Manifestação na Praça do Diário, às 15h.
Fortaleza: 8/março — Caminhada das Mulheres, concentração no Parque do Cocó às 16h.
Rio de Janeiro: 8/março — Manifestação, concentração no Largo da Carioca às 12h.
Belo Horizonte: 8/março — Ato e Passeata, concentração na Praça da Estação às 15h.
Natal: 10/março — Marcha das Vadias, concentração Ponte Negra atrás do Vilarte às 14h.
Vitória: 10/março — Ato das centrais sindicais na Assembleia Legislativa às 19h.
Campo Grande: 10/março — Marcha das Vadias, concentração Pça Rádio Clube às 8h30.

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Veja AQUI uma brincadeira, um editorial de moda (NOT) com as fotos que fiz na Marcha das Vadias de Brasília em junho de 2011.


O meu não-post pelo fim da violência contra a mulher

Não estou conseguindo escrever, produzir um texto novo sobre violência contra mulher. Justo eu, com mais de vinte anos de feminismo e de luta nessa trincheira… Mas estou com esse bloqueio tem uns dias, ele tem sido meio recorrente sempre que tem algo me chateando, incomodando.

Não sou uma máquina de produzir textos e mesmo que o assunto seja do meu inteiro domínio e tenha convocado os cinco dias de ativismo online e sentisse quase uma obrigação moral de escrever, todas as vezes que tentei senti como se estivesse me violentando. Não dá, desculpem-me!

Como sou a primeira a atear fogo nas pessoas para se mobilizarem e mesmo quando não é possível ir às ruas pelo menos inundarem as redes sociais com essas mobilizações, estou deixando minha justificativa pela falta de um texto com mais conteúdo e dados e postando as duas charges super bacanas do Carlos Latuff — sempre ele! — para a mobilização virtual pelo #FimDaViolenciaContraMulher.

Textos com muito conteúdo sobre o 25 de Novembro? O Blogueiras Feministas está repleto deles. Mulheres e homens se mobilizaram na blogagem coletiva organizada pelo BF e produziram textos excelentes.

Aproveito para postar também o clipe da campanha “Quem ama, abraça” pelo fim da violência contra mulher, para marcar os 30 anos da instituição do Dia Internacionacional pela Eliminação da Violência Contra Mulher pela ONU, e também para marcar os 20 anos da campanha dos 16 Dias de Ativismo pelo fim da violência contra as Mulheres, criada pelo Centro para a Liderança Global das Mulheres. Os 16 dias se estendem até o dia 10 de dezembro, aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas. Até lá prometo escrever um post à altura dos desenhos e da realidade de violência sofrida pelas brasileiras.  😉

Clipe da campanha “Quem ama, abraça”:

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Feministas em ativismo online pelo fim da violência contra a mulher II

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De 21 a 25 de novembro em todas as redes sociais da web

Dia 25 de novembro é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Para marcar a data, um grupo de feministas blogueiras-tuiteiras-interneteiras, inspiradas nos 16 dias de ativismo, está propondo fazermos de novo cinco dias de ativismo online pelo fim da violência contra a mulher, de 21 a 25 de novembro.

Durante os cinco dias pautaremos nossos blogues (adaptando ao tema central de cada um) e realizando uma blogagem coletiva, escrevendo artigos e crônicas abordando origens da violência de gênero, lembrando casos históricos, entrevistando mulheres vítimas de violência e/ou ativistas feministas que atuem no combate à violência, responsáveis pelas Delegacias Especializadas — onde houver. Textos próprios ou repostagem de textos interessantes, entrevistas com juízas e promotoras responsáveis pelas Varas de Violência Doméstica (que são complementares à regulamentação da Lei Maria da Penha), e divulgar a Lei Maria da Penha e o procedimento padrão no caso de denúncia. Uma indicação é reforçar o termo “feminicídio” e não desviar o foco do combate à violência de gênero. No Blogueiras Feministas tem muitos textos, dados que podem ajudar a escrever novos posts. No caso de postar depoimentos de vítimas de violência, sugerimos o cuidado para não expor ainda mais a mulher agredida e salientar como denunciar e o uso do 180 — Central de Atendimento à Mulher.

No twitter divulgaremos os blogues participantes da campanha, postaremos periódica e intensivamente notícias, posts, dados de pesquisas, artigos da Lei Maria da Penha, informações de como e onde denunciar agressões,  sempre acompanhadas da hashtag #FimDaViolenciaContraMulher — que é abastecida diariamente desde a campanha do ano passado.

No Facebook postaremos como notas depoimentos de vítimas e matérias sobre casos de violência — novos e antigos — em nossos feeds de notícias, além de imagens, músicas, poesias, vídeos sobre o tema. Nosso grupo lá se chama “Feministas e feminismo em ativismo digital” e é aberto. Venha participar e debater.

No orkut (sim, ele ainda existe) manteremos uma comunidade para debater o assunto, postando imagens e atualizando nossos perfis para “feministas em ativismo online pelo fim da violência contra a mulher” (sugestão). Enviaremos imeius com a recomendação que sejam repassados a todos os contatos, além de incentivarmos listas de discussões. Onde tivermos acesso, podemos sugerir a pauta à rádios – rádios online também. Pautar programas de rádio é nosso principal desafio. Sabemos que as redes sociais ainda estão muito longe de serem populares e por consequência não atingem a ampla maioria da população e das mulheres. É muito mais fácil chegarmos às mulheres vítimas de violência via rádio. Tem rádio na tua cidade com algum programa comandado por uma mulher ou radialista sensível ao tema? Liga e fala da campanha e te dispõe a participar.

Divulgaremos os atos de rua convocados para marcar o 25 de novembro pelo país afora com o intuito de incentivar mais atos além do virtual. Divulgaremos também os procedimentos em casos de denúncia, telefones, serviços de atendimento e artigos de leis, principalmente a Lei Maria da Penha para que todos a conheçam em detalhes.

Indicamos o uso da cor lilás no dia 25 de novembro em roupas e acessórios para dar visibilidade à campanha. O uso da cor lilás e da temática feminista são indicados também aos BGs no tuíter (imagem de fundo do perfil), avatares (foto de identificação nas redes sociais da web) e o uso de um banner da campanha para identificar os blogues participantes. Para colocar a marca na campanha no seu avatar, fizemos o twibbon “Fim Violência” << Clica no link e depois no retângulo “show my support now”.

E, por fim, proporemos toda essa pauta aos veículos da grande imprensa e às parlamentares das bancadas feministas para que façam o máximo de intervenções possíveis nos plenários dos parlamentos brasileiros. Quem quiser participar e não tem perfil em nenhuma rede social, pode reproduzir os posts publicados nos blogs listados e lincados abaixo e indicá-los por imeiu. No Facebook e no orkut somos facilmente encontradas pesquisando “Feministas em ativismo online” ou ainda procurando no google (ou outro site de busca) por “fim da violência contra a mulher”.

Essa campanha foi pensada e construída sob a ótica feminista da colaboração, da construção solidária e coletiva. Não há donas(os) e sim colaboradoras(es) e participantes. Junte-se a nós contribuindo com o tempo e a ferramenta que dispuser. Uma vida sem violência é direito de todas as mulheres. Lutamos contra todas formas de opressão e violência e acreditamos que qualquer iniciativa, por menor que pareça, ajuda a construir a cultura de paz que tanto necessitamos. Outras sugestões são bem-vindas.

Os cinco dias de ativismo online pelo fim da violência contra mulher antecede a campanha mundial dos 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres, que inicia no 25 de novembro e vai até 10 de dezembro (Dia Internacional dos Direitos Humanos).

É dia de luta, bebê!

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Aborto legal, livre e gratuito já!

Hoje é o Dia Latino-Americano pela Legalização do Aborto na América Latina e Caribe e a divulgação dos primeiros textos suscitaram discussões e polêmicas antigas sobre a questão. Mas mesmo toda a argumentação pró-vida (apenas do feto) não consegue responder por que a grande maioria das mulheres que morre em decorrência de abortos mal feitos (é a terceira causa de morte de mulheres no Brasil) são pobres e negras.

O fato do aborto ser ilegal no Brasil não impede que ele seja praticado. A diferença é que as mulheres com melhores condições financeiras o fazem com toda a segurança e amparo médico em clínicas sofisticadas que nunca são denunciadas e as mulheres pobres o fazem ou em “açougues” (clínicas clandestinas sem nenhuma condição de higiene) frequentemente denunciados ou em casa, com agulhas de tricô e citotec.

A mesma sociedade que condena o aborto não dá nenhuma assistência à maternidade e a Amanda Vieira escreveu um texto muito interessante abordando esse aspecto da opção pela maternidade:

“…o debate sobre o aborto precisa passar por uma séria reflexão do que significa a maternidade e o desejo de ser mãe. Como é que a sociedade tem preparado as nossas mulheres para isso? Será que nós, mulheres, estamos recebendo o suporte necessário? Nem me refiro a questão financeira, que também é importante, mas em relação ao psíquico: será que a sociedade está despertando o desejo de ser mãe nas mulheres ou estamos enlouquecendo a mulherada com tantas obrigações?

(…) Também acredito que descriminalizar o aborto e legalizar a prática é uma forma de monitorá-lo, de conversar mais com essas mulheres, de saber o que está acontecendo, de efetivamente ajudar a reduzir mortes de mulheres jovens e pobres por esse Brasil.”

É preciso decidir: ou se é favor da maternidade ou não. Mais do que um problema de gênero (e não deveria ser, já que a reprodução é obra de homens e mulheres), a criminalização do aborto é um problema de classe e de raça. São as mulheres pobres, trabalhadoras e mais as negras que sofrem com as consequências de abortos mal feitos ou por serem obrigadas a levar adiante uma gravidez indesejada.

Se no momento da concepção a sociedade está preocupadíssima com a vida do feto, lava suas mãos depois que esse feto nasce e ganha uma cor, uma raça e uma classe. Pró-vida de quem, então, moralistas? Hipocrisia define essa sociedade que sempre condena as mulheres pobres e em sua ampla maioria negras à culpa, à marginalidade e a péssimas condições de vida que tem como pano de fundo a normatização da sexualidade da mulher e a culpa e pune pelo prazer.

Alguns dados:

  • quase 2 milhões de abortos são realizados por ano no Brasil, sendo que 95% deles em situação de risco
  • quase 800 mil internações nos serviços de saúde por abortos mal feitos
  • quase 6 mil mulheres morrem por ano em decorrência desses abortos mal feitos
  • 1 em cada 5 mulheres já interrompeu uma gravidez ao longo da vida por vontade própria
  • é possível engravidar mesmo tomando anticoncepcional

Por fim:

“A questão do aborto está mal posta. Não é verdade que alguns sejam a favor e outros contrários a ele. Todos são contra esse tipo de solução, principalmente os milhões de mulheres que se submetem a ela anualmente por não enxergarem alternativa. É lógico que o ideal seria instruí-las para jamais engravidarem sem desejá-lo, mas a natureza humana é mais complexa: até médicas ginecologistas ficam grávidas sem querer.

Não há princípios morais ou filosóficos que justifiquem o sofrimento e morte de tantas meninas e mães de famílias de baixa renda no Brasil. É fácil proibir o abortamento, enquanto esperamos o consenso de todos os brasileiros a respeito do instante em que a alma se instala num agrupamento de células embrionárias, quando quem está morrendo são as filhas dos outros. Os legisladores precisam abandonar a imobilidade e encarar o aborto como um problema grave de saúde pública, que exige solução urgente.” (Drauzio Varella, A questão do aborto)

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Aborto legal, livre e gratuito já, porque é um direito da mulher.

Esse post faz parte da Blogagem Coletiva Pela Descriminalização e Legalização do Aborto convocada pelas Blogueiras Feministas para esse 28 de setembro de 2011. Leiam todos os posts da blogagem lá.

Deixo ainda como sugestão o texto da Lis Lemos, Acordei com vontade de fazer um aborto.

No final do dia escrevi por encomenda um texto avaliação da ação desse 28 de setembro de 2011 pela legalização do aborto e os espaços de debate e silêncio que encontramos. Está no Jornalismo B, em “Legalização do aborto é debatida na web e silenciada na grande mídia“.

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Estamos apenas começando

Blogagem coletiva do Blogueiras Feministas pelos cinco anos da Lei Maria da Penha

Ontem, 7 de agosto, a Lei Maria da Penha completou cinco anos e o Blogueiras Feministas convocou para hoje uma blogagem coletiva sobre a lei, aplicação, funcionalidade, eficácia e a luta pelo fim da violência contra mulher.

Depois de mais de 25 anos da criação das delegacias especializadas para os crimes de gênero, sentíamos (nós, do movimento feminista) que faltava amparo legal para combater, prevenir e coibir a violência contra mulher. A Lei Maria da Penha veio para ser instrumento de punição mais rigorosa e exemplar aos agressores e assassinos de mulheres.

Mas assim como após a criação das delegacias sentimos que faltavam outros instrumentos e assim surgiram os albergues para mulheres vítimas de violência e em situação de risco de vida e a própria Lei Maria da Penha, após a criação da Lei e passados esses cinco anos de sua aplicação, sentimos que ainda falta muito para coibir, prevenir e combater a violência doméstica, de gênero.

Foram pensadas as Varas Crimimais de Violência Doméstica que geraram alguma polêmica no próprio movimento feminista, se fortaleceriam ou enfraqueceriam a Lei Maria da Penha. Mas o que tenho percebido (e é impressão mesmo, não tenho dados ou pesquisa que comprove isso) é que a Lei Maria da Penha aflorou o machismo do judiciário. Muitos juízes que antes até decidiam em favor das mulheres por opção ou convicção diante dos casos e na interpretação do código usado, passaram a questionar a Lei Maria da Penha como que numa rebelião jurídica por terem agora uma Lei que os obriga de certa forma a uma interpretação que antes consideravam um favor, uma concessão particular.

Se alguém souber de dados, reportagens com esse enfoque, colaborem informando. Faço depois uma correção no post com acréscimos e links. Estou escrevendo a partir de minhas impressões pessoais meio que como um desabafo de uma feminista após 20 anos de ativismo no combate à violência contra mulher.

Temos todos os veículos e recursos para atender as mulheres vítimas de violência em cada etapa desse triste e trágico processo, claro que em alguns lugares nem posto (etapa anterior à delegacia especializada) policial para mulheres temos, nem albergues (ou casa abrigo), nem funcionários da saúde treinados, nem Varas especializadas ou promotores(as) sensibilizados ou mesmo conhecimento da Lei que está completando cinco anos. Mas nos lugares onde temos todos os serviços possíveis e disponíveis, a violência continua.

Quero dizer com isso que não é pela falta da estrutura do Estado com serviços e recursos que a violência contra mulher perdura e se perpetua. O movimento feminista ficou anos à fio lutando e brigando para ter serviços de atendimento para cuidar e tratar das vítimas, no entanto não atingimos o objetivo de diminuir os índices de violência. O máximo que conseguimos foi aumentar o índice de denúncias, que continuamos estimando em apenas 40% da violência ocorrida. E detalhe: Nos últimos anos vimos novamente o número de feminicídios crescer assustadoramente, inclusive entre adolescentes e jovens.

Minha reflexão hoje é também uma auto crítica. Precisamos focar na prevenção à violência contra mulher, ou seja, no combate a sua causa: o machismo. Precisamos de uma educação antimachista, antissexista, numa cultura de paz e não violência. Creio que chegamos ao ponto mais pedregoso de nossa estrada e é como se estivéssemos apenas començando. À luta, gurias e gurizes. Como diria Beto Guedes: “vamos precisar de todo mundo, um mais um é sempre mais que dois”.

Continue lendo a respeito:

Blogueiras Feministas

Como especialistas avaliam os cinco anos da Lei Maria da Penha

Dados sobre a Violência contra as Mulheres

Lei Maria da Penha citada como exemplo em relatório da ONU

Vídeo – Programa Profissão Repórter: Violência Doméstica: Parte 1 e Parte 2.

Entrevista – Maria da Penha avalia a aplicação da lei que leva o seu nome

Vídeo – Programa Conexão Repórter: Quando o medo dorme ao lado: Parte 1 – Parte 2 –Parte 3 e Parte 4

Reportagem – Maria da Penha, a mulher que sobreviveu à tentativa de assassinato pelo marido e virou nome de lei

Só para mulheres – O sujeito de direito sob proteção da Lei Maria da Penha é a mulher, discordando da abrangência para homossexuais homens. Texto de Debora Diniz

Notícia – Criada para mulheres, Lei Maria da Penha também ajuda homens. No Rio e no Rio Grande do Sul, juízes decidiram aplicar a lei para relações homossexuais. No Mato Grosso, homem conseguiu se proteger da ex-mulher.


Editorial de Moda (oi?) da Marcha das Vadias

Estou devendo este post há quase dois meses e antes que o assunto caia de moda…  (he – he – he)

Ao texto:

cartaz na Slut Walk São Paulo - 04062011 - foto do arquivo pessoal de Marjorie Rodrigues

Tudo começou em janeiro deste ano, em Toronto, durante uma palestra sobre segurança para a comunidade, um policial sugeriu que mulheres devem evitar se vestir como “piranhas” para não serem agredidas sexualmente. Ou como sluts, em inglês. A reação foi forte e generalizada, gerando a Slut Walk ou Marcha das Vadias, uma passeata defendendo o direito das mulheres de se vestirem como quiser e não serem atacadas por qualquer homem descontrolado nas ruas.

As Slut Walks se espalharam pelo mundo. No Brasil elas aconteceram nas principais capitais e neste post das Blogueiras Feministas tem o registro do protesto em São Paulo. Tive a sorte de estar em Brasília quando a capital federal realizou a sua Slut Walk e aí…, vocês sabem, ativista comunista feminista marchando em meio a outras ativistas comunistas (algumas nem tanto ou nada comunistas) feministas, acabou que algo me chamou muito a atenção. E não foram os cartazes ótimos e nem as palavras de ordem e nem o fato da marcha acontecer com o sol à pino e de vez em quando o pessoal parar de marchar para ficar gritando e pulando. Foi justamente o que ninguém esperaria de uma ativista comunista feminista: os modelitos Slut Walk.

Então, quem esperava um artigo feminista, essa é a hora de correr em direção a montanha mais próxima ou mudarem de canal, digo, de página. Sim, senhoras e senhores, este será um editorial de moda da Marcha das Vadias. Preparados? Ironia mode on? Voilà!

sou uma vadia livre, modernérrima com meu óculos moscona e sou linda (né, não?)

exigimos respeito! somos magros, nós podemos. morrão de inveja!

abram alas para minha lata de coca cola, minha meia arrastão, minha bota e meu sorriso desfilando na sua cara!

eu e meu estilo coroa bem resolvida laranja de ser... eu posso!

sou vadia, uso burca (e daí) e minha filhinha é caipira... somos fofas!

me visto pra mim, não pra você (ok, nós já entendemos!)

sou linda e estou abafando com meu shortinho, saltão vermelho e minha cadelinha... o.O

sou minha só minha e não de quem quiser, entenderam?

olhem como sou despojada no meu vestidinho tomara-que-caia baloné-retrô-demodê-anos80 xadrez, faixa e sapatilha!

punk? underground? roqueira? tô nem aí, sou uma vadia estilosa e tô marchando!

pedaço de carne é o karalho e deixa eu tuitar isso pro mundo...

eu uso saia jeans colada, top de couro e meia arrastão, mostro meu umbigo e não me estupre!

Jesus Loves Sluts (uau!), mas apenas as tatuadas de sainha estampada e bota

as repousantes ondas azuis do meu vestido-bata para marear meu ratinho, digo, meu cãozinho e disfarçar minha dondoquice

feminista raivosa... (medaaaaa) depois chamam de feminazi e ficam brabas...

sou santa, sou puta, sou livre... oi?

somos chiques e legais com nosso multiculturalismo e roupas coloridas... ouié!

estou super simples mas atentem pro meu sapatinho vermelho style

vadia, sim, mas contemporânea, descolada e cosmopolita!

E para terminar, a Madrasta do Texto Ruim…

vadia e bruxa de 'cathiguria', chique no melhor estilo eu-tô-arrasando-além-do-ideológico, pobralhada, com minha bolsa falsificação legítima (tô bege até agora)

Queriam um editorial de moda pra valer? Não deu, né? Ainda mais que não teve um mísero e simples vermelhinho combativo (minha opção marxista subversiva para substituir o indefectível pretinho básico). Conseguem imaginar que em meio a tantas vadias nenhuma tenha escolhido um vestido vermelho? Affff…

ps: Cês acham que já posso pleitear uma vaga como jornalista de moda? Melhor não, né? Tá.

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Fotos by Niara de Oliveira com a câmera da Amanda Vieira.

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Sobre os feminicídios

Feminicídio é a classificação dada pelo movimento feminista para o assassinato sexista de mulheres. Explicando melhor. Não é feminicídio quando uma bala perdida atinge uma mulher durante tiroteio entre polícia e bandidos numa favela ou uma mulher morre numa briga com uma vizinha. Pode ser assassinato, mas o crime não teve motivação sexista. É isso que classifica o feminicídio: motivação sexista, de posse.

Quando vi essa charge do Latuff – que ele fez especificamente para a nossa campanha dos 5 dias de ativismo online em novembro de 2010 -, me pareceu perfeita para o que o feminicídio representa. Quando uma mulher é assassinada por motivação sexista e o assassino é identificado, todos se apressam para chamar de monstro (vide goleiro Bruno, Pimenta Neves e tantos outros). Mas não nos esqueçamos que eles não apenas não foram coibidos em seus instintos mais primitivos de posse e crueldade com relação às mulheres, como alguns são incentivados.

A verdade é que essas mulheres, vítimas de feminicídio, pressentiram o perigo. Todas elas pressentem e denunciam, pedem socorro e proteção. Umas para a polícia, outras judicialmente e outras apenas para seus familiares. E ninguém dá ouvido. Todos pensam mais ou menos assim: “Te envolveste com este canalha porque quiseste. Agora, aguente as consequências”. É esse pré-julgamento que todas as mulheres enfrentam quando pedem socorro ao se sentirem ameaçadas. Para os familiares que pensaram assim e viram suas mães, filhas, irmãs, netas serem assassinadas fica a culpa por não terem dado ouvidos aos seus reclames. Mas polícia e justiça se eximem de qualquer culpa ou responsabilidade.

É óbvio que o feminicista tem que ser responsabilizado e punido exemplarmente, mas quando um feminicído acontece toda a sociedade é responsável e culpada. Elisa Samúdio não apenas teve suas queixas e denúncias ignoradas como continua a ser responsabilizada pela sua morte – sim, não tenho dúvidas de que ela está morta. Até quando permitiremos isso? Quantas Elisas, Mércias, Eloás, Marias Islaines, Elianes mais terão que morrer até darmos um basta neste absurdo?
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#FimDaViolenciaContraMulher
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* Texto da campanha 5 dias de ativismo online pelo fim da violência contra a mulher, de novembro de 2010, repostado agora com correções.


Voltando atrás num dizer

Faz algum tempo que estou para corrigir um post da campanha 5 dias de ativismo digital pelo fim da violência contra a mulher que culminou no dia 25 de novembro. (Veja aqui o post original “Sobre os femicídios”). A começar pelo título que cita “femicídio” quando a expressão correta é feminicídio.
Logo no primeiro parágrafo, onde tento caracterizar o feminicídio, digo: “Femicídio é a classificação dada pelo movimento feminista para o assassinato sexista de mulheres.” Até aqui, tudo bem. Mas fui muito infeliz no trecho seguinte quando digo “não é femicídio quando uma bala perdida atinge uma mulher durante tiroteio entre polícia e bandidos numa favela ou quando uma mulher morre numa colisão de trânsito. Uma mulher morreu (lamentamos), mas o crime não teve motivação sexista. É isso que classifica o femicídio: motivação sexista, de posse.”
Peço 479 mil desculpas às mulheres que enfrentam todos os dias o trânsito sexista nas ruas deste país e que vitimiza muito mais facilmente as mulheres. O que quis dizer é que não é qualquer morte, qualquer assassinato onde a vítima é uma mulher que pode ser chamado de feminicídio. Mas acabei usando a desculpa de todos os atropeladores que usam seus carros como uma arma, quase como uma extensão fálica no seu exercício de dominação, ao disporem da vida de qualquer outro que não esteja dentro dessas ‘armaduras’ e em evidente desvantagem.
Se alguém quiser abordar melhor esse tema num guest post, o Pimenta com Limão está aberto ao debate e fica aqui o convite.
Estou, então, repostando o texto com as devidas alterações.


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Simone de Beauvoir

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“Não se nasce mulher: torna-se.” Simone de Beauvoir, que nasceu Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir em 9 de janeiro de 1908, tornou-se mulher e feminista, escritora e filósofa. Viveu tão intensamente que precisou escrever quatro livros para narrar apenas parte de tudo que presenciou e viveu. Deixo aqui o seu ensaio filosófico mais famoso, O Segundo Sexo, em pdf. Basta clicar e salvar. Boa leitura beauvoiriana!

O Segundo Sexo, Vol. 1 “Fatos e Mitos”

O Segundo Sexo, Vol. 2 “A Experiência Vivida”

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Ano novo, lutas velhas!

Anteontem li alguém dizendo que ano novo é uma mera definição de calendário. Apesar de todo simbolismo, é apenas um dia depois do outro com uma noite no meio. O ano pode ser novo, a década também, mas as lutas são velhas. Algumas muito mais velhas que eu (acredite se quiser!!! <—- ainda sob impacto da crise provocada pelo último aniversário).
Tanto assim que a revoltada aqui segue se debatendo em embates (bem chatos) sobre feminismo, a esquerda, a grande imprensa, a posse da primeira mulher presidente (presidentA) no Brasil, ódio de classe, hipocrisia sobre aborto, preconceitos em geral e discriminações para todos os gostos.
Confesso estar bem cansada de fingir que acredito no feminismo dos meus camaradas da esquerda, e no último embate pelo menos consegui derrubar uma máscara (viva!). Homem feminista (sic) dizendo “é uma questão de estratégia política – é mais ‘inteligente’ unir forças e derrotar o inimigo comum para depois brigar entre si“, afirmando que o machismo da direita e da grande imprensa é mais nocivo, maior e pior que o machismo da esquerda, é a mais nova versão para o velho chavão da esquerda “primeiro libertaremos os trabalhadores da opressão de classe e depois uniremos forças para libertarmos as mulheres da sua opressão específica”. Primeiro a macro política (leia-se política de homem, importante), depois as lutas menores, específicas (leia-se política de mulheres, negros, jovens, deficientes, ambientalistas…) Conhecemos bem essa balela. Conversa para boi dormir (ou enganar a vaca).
A história já provou que [1] a luta das mulheres é prioritária porque a opressão de gênero é o pilar fundamental de sustentação do capitalismo e da opressão de classe, não à toa surgiu junto com a ‘invenção’ da propriedade privada, e [2] nas experiências de ruptura do capitalismo e tentativas de derrotar a opressão de classe, a luta pela libertação das mulheres ficou em segundo plano, não por ser secundária mas porque assim foi determinado pelos líderes camaradas homens das tais revoluções socialistas que nunca cumpriram suas promessas de depois dar atenção a nossa causa e opressão.

Novas Perspectivas – “Em Leipzig, na antiga Alemanha Oriental, surgem indícios que apontam um novo caminho para a sociedade. Nada de capitalismo ou socialismo, senhoras e senhores. O futuro é isso aí.” 28/09/2010. Do blog Memórias do muro, da jornalista Ariane Mondo

Quantos embates mais teremos que travar para provar que não há socialismo nem liberdade sem feminismo? Poxa! Se não aprenderam com as experiências históricas, vão aprender como, quando? Cansa ficar repetindo os mesmos chavões ano após ano. E quando, de tempos em tempos, temos alguma vitória, somos obrigadas a travar uma luta extra de manutenção dessa conquista ou retrocedemos (vide caso da violência contra mulher e feminicídios).
Quem decide qual luta deve ser priorizada, trincheira ocupada ou inimigo a ser combatido primeiro, somos nós mesmas. Não precisamos de orientação nem de comando. Alguém ousa ficar ditando regra ao MST, movimento negro, ambientalista, LGBTs? A esquerda não ousa orientar ou comandar nem mesmo o movimento estudantil, composto em sua amplíssima maioria por jovens e que muitas vezes repetem erros já vividos por militantes mais experientes. Sua autonomia é respeitada e assim está correto.
Ao movimento feminista tem sempre um homem (vide participações e comentários em blogs feministas) dizendo que estamos sendo radicais, que se formos por ali ou por aqui perderemos apoio à nossa causa ou espantaremos apoiadores e tentando nos dizer qual linha do feminismo e/ou pensadora feminista é a mais certa. Oi? Um sincero “VTNC” aos homens pseudo feministas sabichões de plantão. Vão cuidar de suas vidas e suas lutas. Do movimento feminista cuidamos nós, mulheres feministas. Respeitem nossa autonomia e escolhas e nos apóiem como fazem com os demais movimentos. Ou nossa luta não é justa?
Nosso inimigo é um só, o machismo. Seja machismo de direita, esquerda, de homens, mulheres, gays, jovens, negros, na grande imprensa ou blogosfera ou na sociedade como um todo, será combatido da mesma forma e no tempo que surgirem.
As lutas travadas hoje são velhas, seculares, assim como é velha a minha revolta e indignação. Mas um ano e uma década novinhos em folha renovam forças e disposição para lutar e para os “novos” embates. Que venham os machistas todos. Minhas mangas estão arregaçadas e meus punhos erguidos.
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Pronto, desabafei!
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Podem me chamar de barraqueira, não vou contemporizar

Sobre as feministas más e as de ‘bom termo’ e a tentativa de nos dividir

Pensei muito antes de escrever sobre essa polêmica das ‘feminazis’, mas não acho correto me omitir vendo outras feministas de posicionamento muito semelhante ao meu sendo atacadas covardemente por blogueiros machistas que fingem apoiar a nossa luta. Pensei, não ponderei e vai na forma de desabafo mesmo. No final tem a lista de textos já publicados sobre o assunto.

Quando me formei jornalista, minha monografia de conclusão da graduação versava sobre opressão de classe sofrida pelos jornalistas. Existe no marxismo (vou simplificar para que qualquer um/a entenda) a citação de um fenômeno chamado de reificação, que trata da opressão de classe sofrida e negada/ignorada por determinadas categorias que supostamente já tenham atingido a consciência de classe. O fenômeno da reificação é mais facilmente observado entre profissionais liberais (advogados, médicos, jornalistas, músicos, etc.), que por não serem assalariados e/ou receberem remuneração um pouco mais condizente com o esforço diário empregado no trabalho, se acham livres da exploração, mais valia, etc., e por consequência, livres da opressão de classe.

Mas por que estou falando em reificação e opressão de classe quando o assunto é a polêmica com as feministas? Simples. A reificação pode ser observada também na consciência de gênero entre as feministas. Algumas de nós já militam há tanto tempo e estão tão escoladas no machismo e principalmente no machismo da esquerda (muito mais cruel e perverso), que se acham livres da opressão de gênero. Se acostumaram a ‘dar pinotes’ para não se deixar oprimir que já não percebem mais quando veem um cabresto (desculpem-me, mas é esse mesmo o termo) adornado por flores.

A polêmica sobre as ‘feminazis’ – termo que se refere à mulheres sexistas que pensam em “exterminar” os homens (oi?) – começou com a publicação de um comentário pelo Luis Nassif em seu portal. Ele disse que publicou por desatenção, mas não apenas não excluiu o comentário como o transformou em post, debochou das feministas que reclamaram, ofendeu e quando finalmente foi pedir desculpas, reforçou seu ataque. Não tenho dúvidas sobre o entendimento do Nassif quanto ao termo ‘feminazi’, já que ao se desculpar ele cita “feministas de bom termo” (criando clara e intencionalmente um cisão) como seu oposto. Ou seja, para o Nassif e para todos aqueles que estão se sentindo incomodados com essa discussão, ‘feminazi’ virou sinônimo de feminista radical.

Os chamados blogueiros progressistas estavam todos inquietos, vendo Nassif ser criticado implacavelmente por todas as feministas e muitos outros homens solidários à nossa luta. Tentavam contemporizar, mas não conseguiam defendê-lo abertamente e Nassif, do alto de sua arrogância, não admitia o erro e nem se desculpava. Eis que surge o Idelber Avelar escrevendo sobre a busca do feminismo dócil e dá aos amigos de Nassif os argumentos para defendê-lo. Imediatamente surge a cavalaria de Nassif capitaneada por Rodrigo Vianna e Eduardo Guimarães atacando Idelber e mudando o foco da polêmica para o encontro dos blogueiros progressistas, e clamando pela re-união de todos deixando para lá questões menores como essa das feministas (interpretação muito radical dessa feminista tresloucada aqui). Nassif – o magnânimo – imediatamente liga para alguém mandando avisar via tuíter que ainda essa semana chamará a Marcha Mundial de Mulheres (feministas de bom termo?) para conversar e abrirá espaço em seu portal (esse é o cabresto adornado por flores).

A tática de guerra mais antiga do mundo: dividir para conquistar. Isola-se as feministas radicais e chama-se as de bom termo oferecendo generosamente um espaço numa vitrina. As feministas de verdade, as que fazem o certo apoiando os valorosos homens, blogueiros progressistas, guerreiros e cavaleiros da liberdade serão ouvidas e respeitadas. As barraqueiras histéricas e insensatas, bruxas más e divicionistas da esquerda como a Lola Aronovich, Cynthia Semíramis, eu e mais meia dúzia ficaremos berrando e esperneando até cansarmos e em breve alguém nos dirá: Chega de “mimimi”. Não acho correto o que estão fazendo e fico muito surpresa em ver mulheres contemporizando e defendendo esses absurdos. A pergunta que não quer calar: A quem interessa dividir as feministas?

Podem me chamar de feminazi, barraqueira, divisionista e mais o que for. Não vou me calar diante desses machos retrógrados (progressista é um apelido de mau gosto) e blogueiros tubarões. Se dizem imprensa alternativa, mas se comportam como a grande imprensa.  Espero sinceramente que as feministas de ‘bom termo’ – assim chamadas por Nassif  em seu pedido de desculpas (sic) – tenham claro tudo isso na hora em que forem chamadas à ‘vitrina do bom senso’. E lembrem-se que nenhum desses progressistas deu espaço à campanha pelo fim da violência contra mulher, com exceção do Azenha (embora a postagem tenha sido da Conceição Oliveira).

Meu nome é resistência, leia-se mulher!

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Nota: Desculpem-me por tantos chavões, mas ao afirmar posições eles são inevitáveis.

Nota 2: O foco principal do assunto continua sendo o machismo finalmente aflorado de um dos maiores blogueiros do país.

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Segue a lista de alguns dos principais textos publicados na blogosfera sobre o assunto:

Feminazi: ignorância a serviço do conservadorismo – Cynthia Semíramis

Como falar bobagens e ser publicado num blog famoso – Lola Aronovich

Progressistas, progressistas,mulheres a parte – Marília Moschkovich

A agressividade como ferramenta de auto-afirmação – Lola Aronovich

“Socorro! Não sou machista, mas as feminazis mal-comidas estão me patrulhando” – Alex Castro

A quem interessa comparar feministas a nazistas? – Srta. Bia

Blogosfera progressista, feminismo e polêmicas – Conceição Oliveira

A nova blogosfera e o episódio com as feministas – Luis Nassif

Nassif pede desculpas às feministas de bom nível – Lola Aronovich

A busca incansável por um feminismo dócil, ou, não é de você que devemos falar – Idelber Avelar

Nassif e a esquerda que a direita gosta – Rodrigo Vianna

A quem interessa desagregar a blogosfera – Eduardo Guimarães

Algumas reflexões sobre a “blogosfera progressista” – Hugo Albuquerque

Sobre o debate Nassif, feminazis, Idelber e blogs progressistas – Rogério Tomaz Jr.

Feminismo não é partido! – Danilo R. Marques

Pelo direito de ser braba – Bete Davis

Discussão sobre feminismo: a esquerda e suas divergências – Cris Rodrigues

Os Blogueiros Progressistas, teorias da conspiração e Feminazis: Da “docilidade” à estupidez – Raphael Tsavkko

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25 de novembro: Dia Internacional pelo fim de toda a Violência contra a Mulher


Mais um 25 de novembro chega e, mais uma vez, não avançamos no combate à violência sexista: as mulheres, cada vez mais, seguem sendo vítimas de violência.No Brasil, a cada segundo, 15 mulheres são agredidas.
A Fundação Perseu Abramo aponta este dado em suas pesquisas e mais: de 65,5 milhões de mulheres com 15 anos ou mais ouvidas, 11% já foram vítimas de espancamento e 1 em cada 5 mulheres já sofreram algum tipo de violência, seja física, psíquica (atingir a auto estima), profissional (depreciar a capacidade da mulher, pagar salários inferiores aos pagos aos homens pela mesma tarefa), racial (as mulheres negras são mais penalizadas que as brancas), ideológica (discriminação em função de posicionamento político ou religioso), à dignidade da mulher como tal (música, campanhas publicitárias) e outros.
A violência está presente na falta de respeito com as mulheres e na tentativa de controlar suas vidas.
E é perverso saber que em 70% dos casos o agressor é o companheiro, o pai, o irmão, sempre alguém muito próximo do grupo familiar da vítima.
O Dia Internacional da não Violência contra a Mulher foi criado no 1º Encontro Feminista da América Latina e Caribe realizado em 1981 em Bogotá e é uma homenagem a Las Mariposas, codinome das irmãs Minerva, Pátria e Maria Tereza Mirabal que lutaram contra a ditadura de Rafael Trujillo na República Dominicana, sendo assassinadas em 25 de novembro de 1960.
O elemento comum a esta realidade de violência está na sociedade patriarcal com sua cultura e valores próprios, que, historicamente, vê a mulher como “propriedade” do pai e depois do marido. Facilmente foi considerada tutorada pelo homem.Sendo uma questão de comportamento, sua erradicação é bastante difícil. São necessárias políticas públicas que conduzam a sociedade a não mais aceitar como naturais atitudes que provoquem ou induzam a violência sexista.
Hoje temos leis como a Lei 11340/06, Lei Maria da Penha, que penaliza o agressor, protege a vítima e aponta a obrigação dos currículos escolares de todos os níveis e modalidades de ensino a tratarem da violência doméstica e familiar.
Falta o judiciário cumprir o seu papel e o executivo priorizar o cumprimento da Lei no âmbito da rede nacional de educação.
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Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas – GAMP/ONG Feminista

#FimDaViolenciaContraMulher


Sobre os femicídios


Femicídio é a classificação dada pelo movimento feminista para o assassinato sexista de mulheres. Explicando melhor. Não é femicídio quando uma bala perdida atinge uma mulher durante tiroteio entre polícia e bandidos numa favela ou quando uma mulher morre numa colisão de trânsito. Uma mulher morreu (lamentamos), mas o crime não teve motivação sexista. É isso que classifica o femicídio: motivação sexista, de posse.
Quando vi essa charge do Latuff ontem, no final da tarde – que ele fez especificamente para a nossa campanha dos 5 dias de ativismo online -, me pareceu perfeita para o que o femicídio representa. Quando uma mulher é assassinada por motivação sexista e o assassino é identificado, todos se apressam para chamar de monstro (vide goleiro Bruno, Pimenta Neves e tantos outros). Mas não nos esqueçamos que eles não apenas não foram coibidos em seus instintos mais primitivos de posse e crueldade com relação às mulheres, como alguns são incentivados.
A verdade é que essas mulheres, vítimas de femicídio, pressentiram o perigo. Todas elas pressentem e denunciam, pedem socorro e proteção. Umas para a polícia, outras judicialmente e outras apenas para seus familiares. E ninguém dá ouvido. Todos pensam mais ou menos assim: “Te envolveste com este canalha porque quiseste. Agora, aguente as consequências”. É esse pré-julgamento que todas as mulheres enfrentam quando pedem socorro ao se sentirem ameaçadas. Para os familiares que pensaram assim e viram suas mães, filhas, irmãs, netas serem assassinadas fica a culpa por não terem dado ouvidos aos seus reclames. Mas polícia e justiça se eximem de qualquer culpa ou responsabilidade.
É óbvio que o femicista tem que ser responsabilizado e punido exemplarmente, mas quando um femicído acontece toda a sociedade é responsável e culpada. Elisa Samúdio não apenas teve suas queixas e denúncias ignoradas como continua a ser responsabilizada pela sua morte – sim, não tenho dúvidas de que ela está morta. Até quando permitiremos isso? Quantas Elisas, Mércias, Eloás, Marias Islaines, Elianes mais terão que morrer até darmos um basta neste absurdo?
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#FimDaViolenciaContraMulher
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Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
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Adélia Prado

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#FimDaViolenciaContraMulher

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