Sobre a denúncia de assédio/abuso contra Idelber Avelar

tá todo mundo meio assim com essa história...

tá todo mundo meio assim com essa história…

Está bem difícil ficar nas redes sociais sem se envolver, ler ou pelo menos saber da super-ultra-power-mega-plus-treta que envolve Idelber Avelar e duas mulheres que o acusam de assédio. Sim, é muito ruim chamar uma denúncia séria de assédio de “treta”, porque não é e é preciso tratar com respeito a questão, mas tudo que nas redes sociais ou plataformas digitais (oi, Dri) envolve discussão entre duas ou mais pessoas é chamado de treta, e essa envolve muitas pessoas, em pelo menos três dessas plataformas (twitter, facebook e tumblr) e já chegou à blogosfera (não toooooda a blogosfera, mas uma parte considerável dela, pelo menos a que eu frequento).

Se tu não sabes/entende muito bem o que é assédio e como isso se dá na internet ou ainda como as mulheres se sentem a respeito, passem antes pelo excelente e esclarecedor texto da Jarid Arraes na Revista Fórum que coloca as coisas nos seus devidos lugares. E, sim, considero assédio violência contra a mulher. Existem outros tipos de assédio? Sim, mas é o assédio sexual de mulheres o mais complicado de provar. Primeiro porque nunca basta a palavra da vítima. E em sendo mulher e ocupando a posição de denunciante sua palavra já vem com um descrédito de 70% de fábrica no mínimo.

Já sabendo o que é assédio, que constrange as mulheres, é violência e que não basta sua palavra para denunciar, a vítima precisa reunir *provas*. Nesse caso do Idelber as provas são controversas, porque são prints de conversas privadas. Existe naquilo que se chama netiqueta um acordo tácito de que conversas privadas ficam no privado, em segredo, numa relação de confiança mútua entre as pessoas que conversam. Não é preciso dizer que no privado somos bem menos bonitos e apresentáveis do que somos em público. É assim na vida, é assim na internet. No privado, em casa, a gente peida, enfia o dedo no nariz, tenta tirar aquele fiapo de frango do meio do dente com a unha, anda pelado, grita mesmo quando não é necessário (tem gente que não grita nunca, meu profundo respeito a esses), faz careta, xinga, etc. Isso quer dizer que é onde nos sentimos à vontade, então podemos virar do avesso. Confiamos nas pessoas com quem coabitamos e aturamos suas deselegâncias na mesma medida que elas aturam as nossas. Há um acordo tácito de não sairmos por aí contando as deselegâncias um do outro. Essas coisas não se dizem, não se contam. O que é público está em discussão e julgamento, o que é privado fica lá no privado.

Daí que o feminismo fez a deselegância de tirar várias coisas do privado e trazer para o público. Iam além da deselegância e ultrajavam, violentavam as mulheres (e em muitos casos, as crianças também). E muito do que só era privado e deveria ficar no privado passou a frequentar delegacias, inquéritos, tribunais. O excesso dessas *deselegâncias fora do seu lugar* criou a demanda de serem tipificadas no Código Penal. Algumas já foram. A Lei Maria da Penha é um resumo da demanda de várias deselegâncias do mundo privado que ao ficarem à vista de todos são facilmente tipificadas como crime, mas que por terem ocorrido no privado ficavam impunes. Agora não ficam mais. Basta que a vítima ou alguém próximo tire o que ocorre de violência no privado e traga a público.

Bueno, o chamado *Caso Idelber Avelar* foi não mais do que isso. Duas mulheres se sentiram violentadas no privado da internet e trouxeram a público para que todo mundo visse. Não sem sofrimento, não sem condenação, não sem dedos apontados para elas. Mesmo cientes da condenação imediata decidiram trazer. Se formos nos apegar à letra fria da lei quase nada ou nada do que ocorreu entre essas mulheres e Idelber é possível classificar como crime, mas elas se sentiram violentadas em algum momento na relação com ele. E quem é que mede, que diz se foi violência ou não? A vítima ou o agressor? O público que está fazendo do caso uma monumental treta?, os ditos operadores do direito? Se dependesse do judiciário a Lei Maria da Penha não seria lei e nem o que ocorre no privado dos lares estaria autorizado para ser trazido a público. Mas quem disse que o movimento feminista espera autorização de alguém para lutar pelo que é justo para as mulheres? UFA!, ainda bem que não. Muita gente tem dito que o que se conversa no privado deve ficar no privado. Mas e quando o agressor/abusador/molestador conta com esse acordo de privacidade para ir além do que lhe foi permitido e sair ileso, liso e ainda continuar agredindo, abusando, molestando por anos a fio, inclusive se vangloriando disso? Essa é a questão.

Esse caso não trata da sua amizade com o Idelber, nem sobre o comportamento das feministas e muito menos sobre o que cada de um nós acha sobre nada. Esse caso é uma denúncia de assédio sexual que duas mulheres (pelo menos até agora apenas duas) estão trazendo a público. ‘Ah, se trouxe a público o público tem o direito de opinar’. De opinar, sim. De julgar, NÃO! Não, não estou me referindo ao que estão chamando de “linchamento moral” do Idelber, me refiro a julgar quem denuncia, a apontar o dedo para essas mulheres fazendo comentários como “era uma relação consensual entre adultos”, “disseram sim e mandaram fotos porque quiseram” e coisas do tipo. Porque isso equivale a perguntar “o que estava fazendo com aquela roupa naquele horário na rua?” ou “se não queria, por que foi até o apê do cara?”. Se não me engano, já tínhamos, pelo menos dentro do movimento feminista, um acordo tácito e imprescindível de que NUNCA se julga a vítima, não se coloca sua palavra em dúvida e, principalmente, não se culpabiliza a vítima. Não importa se o agressor/abusador/molestador é nosso amiguinho, parente, do mesmo partido ou alguém que admiramos.

De verdade, estou lamentando muito que um cara de esquerda como Idelber Avelar, capaz de escrever coisas assim: “Quando esses homens são confrontados por uma feminista, seja em sua ignorância, seja em sua cumplicidade com uma ordem de coisas opressora para as mulheres, armam um chororô de mastodônticas proporções, pobres coitados, tão patrulhados que são. Todos aqueles olhos roxos, discriminações, assédios sexuais, assassinatos, estupros, incluindo-se estupros “corretivos” de lésbicas (via Vange), objetificações para o prazer único do outro, estereotipia na mídia, jornadas duplas de trabalho, espancamentos domésticos? Que nada! Sofrimento mesmo é o de macho “patrulhado” ou “linchado” por feministas! A coisa chega a ser cômica, de tão constrangedora.” no texto A busca incansável por um feminismo dócil, ou, não é de você que devemos falar (de 19/12/2010 em seu blog a respeito de uma outra treta monumental que envolvia o jornalista Luís Nassif e feministas), apareça agora como alvo de uma denúncia de abuso e assédio sexual.

Eu poderia dizer que já sabia que ele era meio galinha, que três por quatro baixava nas DMs e caixinhas inbox de amigas feministas com cantadas baratas, mas o máximo que eu poderia dizer dele a esse respeito é que era um cara meio sem criatividade ao abordar mulheres. E só! Jamais, e acho que aqui reside o susto e abalo de quase todos, pensei que ele fosse capaz de desrespeitar as mulheres com quem se relacionava, e com uma visão tão machista e objetificadora das relações sexuais (até mesmo das casuais). Não, não é moralismo, amigues. As pessoas se relacionam como elas quiserem, se for consensual, tudo consensual, podem tudo, de BDSM e chamar de puta e viado/corno até mijar uma na outra. Eu não curto essa coisa escatológica, mas dizem que tem gente que gosta. Há gosto pra tudo, já dizia o cidadão comendo ranho (subistitua por outra coisa a que tenha nojo). Mas, repito: desde que seja consensual, do início ao fim, be-le-za. A questão é que em dado momento essas mulheres se sentiram violentadas, e denunciaram. A denúncia, por mais que queiram distorcer a questão e focar em algumas feministas que ajudaram-nas a reverberar, partiu das mulheres que se sentiram ultrajadas/violentadas por Idelber. E elas pensaram muito antes de denunciar. Pediram ajuda, de jurídica a psicológica passando por apoio moral. Muitas sequer lhes responderam. Casualmente (ou nada de casual) as blogueiras que lhes deram apoio são as mesmas protagonistas de todas as mega-tretas da internet desde que estou por aqui.

Não sou radfem (feministas radicais, linha do feminismo muito discutida na internet e muito briguenta – digamos assim), nem feminista fofa, nem rapunzel. Sou biscate, avulsa, eu sozinha. E costumo sim dizer o que penso quando acho que devo. Nunca, N-U-N-C-A, coloquei em dúvida a palavra da vítima. Isso pra mim, enquanto feminista, é condição. Lamento muito que o Luís Nassif — que outrora chamou a Lola e parte do movimento feminista de “feminazi” — agora se utilize de forma oportunista das próprias palavras da Lola para bater em Idelber, seu antigo desafeto, mas não é motivo suficiente para que eu deixe de apoiar uma mulher denunciando abuso/assédio. Lamento muito que o Pablo Villaça — centro de uma outra treta com feministas por piada machista infeliz — se aproveite desse caso para fazer de novo “gracinha“, ao mesmo tempo o aplaudo por logo em seguida reconhecer que falha sempre e não se diz feminista e que está aí tentando aprender. Porque é isso. O mundo é machista e o machismo sendo estrutural e estruturante atinge a todos indiscriminadamente. Nem as feministas estão a salvo de escorregarem e serem machistas aqui ou ali. Nos autovigiamos muito e tals, mas ninguém é infalível. Sim, os petistas e governistas — contra os quais Idelber se voltou nos últimos tempos politicamente e criticava muito — estão deitando e rolando. Lamento por isso também, está nojento de ver.

Mas lamento mesmo, de verdade e profundamente, é pelas pessoas que se relacionam com Idelber (namorada, filhos, família, amigos) que se veem no olho de um furacão de uma hora para outra sem saber o que fazer. Se eu fiquei dois dias perplexa, pensando no que iria escrever, imagino eles…e me solidarizo com sua dor. E por eles gostaria de deixar esse assunto pra lá. Mas, quando eu me tornei feminista assumi um compromisso de luta para a vida toda, e não posso me fazer de cega-surda-muda porque conheço o denunciado e seus familiares.

Um amigo, ontem, me disse “que desagradável tudo isso”. Concordei. Mas, como respondi a ele, para nós é APENAS DESAGRADÁVEL. Há pessoas que estão só na metade da estrada desse inferno.

Por fim, como ilustração, deixo o tuíte da :

Captura de tela de 2014-11-30 23:32:44

 

p.s.: Se algum dia houver alguma(s) denúncia(s) contra o Gilson, nos façam o favor, a mim e a ele, de não nos protegerem como estão tentando nesse caso. Nos tratem como inimigos ou meros desconhecidos e ouçam a(s) vítima(s). OUÇAM A(S) VÍTIMA(S).

Sobre Niara de Oliveira

ardida como pimenta com limão! marginal, chaaaaaaata, comunista, libertária, biscate feminista, amante do cinema, "meio intelectual meio de esquerda", xavante, mãe do Calvin, gaúcha de Satolep, avulsa no mundo. Ver todos os artigos de Niara de Oliveira

49 respostas para “Sobre a denúncia de assédio/abuso contra Idelber Avelar

  • Leandro Oliveira

    Concordo que deve-se sempre ouvir as vítimas de qualquer tipo ou nível de agressão. Mas a agressão deve ser sempre provada, sob pena de sermos injustos.
    No entanto, nesse caso do Idelber, é notório que o momento em que deixou de ser consensual não está em NENHUM dos prints apresentados no blog das vítimas mas somente nos depoimentos delas que precedem as “provas”. Então o que temos? Os depoimentos são bem fortes, chocantes mesmo, mostrando que o Idelber forçou a barra para conseguir obter seu intuito e também para manter suas relações com as vítimas mesmo depois que elas mostravam não querer continuar. Entretanto, as provas oferecidas NÃO mostram esse momento! Os prints, que foram editados pelas vítimas, mostram somente o momento em que elas concordaram com o que estava acontecendo. Independentemente de se aprovar ou não o que o Idelber escreveu para as moças, fica claro pelos próprios prints que elas aprovavam o que estava rolando.
    O depoimento da Lola, que NÃO está no blog das vítimas, aponta para a presença de outras provas até mesmo em vídeochat que incriminariam de vez o Idelber. Mas não foram mostrados.. Por que? Seria o intuito fazer uma descontrução do Idelber aos poucos? Seria para malhar o Judas aos pouquinhos, deixando sangrar bastante na rede?
    Qual a intenção de esconder as provas definitivas?

    Em nenhum momento os prints provam o que os depoimentos dizem. Os prints mostrados são o contrário dos depoimentos! Tudo o que os depoimentos consideram degradante e abuso psicológico, nos prints são mostrados como sendo aprovados pelas vítimas! Mesmo as falas machistas! Não tem um único print onde as vítimas se mostram desconfortáveis com o que lêem! Em nenhum momento! Pelo contrário! Mostram que estão gostando da “brincadeira”, como uma delas escreveu!

    Tanto é assim que a acusação que prevaleceu até agora foi a da incoerência do Idelber em sua posição pública feminista e a forma machista de tratar uma mulher durante a relação sexual e de se referir aos maridos traídos. Toda a indignação com o sentimento das vítimas são baseadas somente no depoimento delas, sem correlatos nos prints! Portanto sem provas!

    Será que pode-se acusar o Idelber de abuso psicológico e assédio somente com o depoimento das vítimas? Enquanto que as provas apresentadas mostram justamente o contrário, que elas aceitavam e gostavam do que estava acontecendo?

  • valeria villela dos santod

    Das manifestações que li, sem dúvida a melhor…Mas ainda fica a dúvida deste vir a público de msgs in box não ser antes de tudo um grande espetáculo, um linxamento moral, que atinge família e trabalho do professor… tarado, diria minha avò.
    Valéria

  • Luma Rosa

    Oi, Niara!
    Acredito que esse tipo de denúncia na web e comentada nas redes sociais, ajudam aquelas que não sabem se defender de um assédio – que seja por estarem fracas emocionalmente ou até pelo ineditismo do fato. Mas o que vejo é uma exposição do agressor enquanto as denunciantes se mantém anônimas. Vocês que as apoiam, conhecem suas identidades e podem assinar embaixo das denúncias, mas nós que estamos de fora, fica um vácuo que dá margem para comentários nada edificantes. Para se tornar crime, bastava uma queixa crime e, pq isso não foi feito ainda?
    O que fizeram foi jogar no ventilador para ver no que vai dar… ou pior, ele pode reverter tudo em benefício dele e denunciar à todos que fizeram posts por difamação.
    Me corrija se estiver errada.

  • Daniela

    nada a acrescentar, texto definitivo.

  • Jane Oliveira

    Você é simplesmente foda, Niara! Acompanho há tempos, nas redes sociais, a maioria dos amigos de Idelber e também ele. Para mim, são a esquerda mais crítica que há no país. Porém, quase a totalidade deles foi declinada nesse caso. Somente você foi corajosa o suficiente para colocar o dedo na ferida. Não usou argumentos do relativismo-quando-me-convém (sobretudo, como fizeram para safar o amigo). Não desqualificou as vítimas. Nem tampouco caiu num jogo retórico para ficar em cima do muro e agradar fãs de Atenas e Esparta (como fez Ivana Bentes). Este caso está sendo um divisor de águas. De agora em diante terei bastante cautela quando essa esquerda crítica, em textos incendiários, convocar as pessoas para fazerem exatamente o que agora resolveram criticar (já que o “alvo” é um amigo). Pura hipocrisia.

  • Niara de Oliveira

    Leandro Oliveira, minha resposta pra ti é o tema do texto: NUNCA DUVIDO DA PALAVRA DA VÍTIMA. Nos casos de abusos e assédio sexual (de mulheres a crianças) isso é a peça-chave para que outras vítimas se sintam confiantes para denunciar os abusos e assédios que sofrem. É uma questão de princípio, achei que tinha deixado claro.

  • Niara de Oliveira

    Bueno, Valeria, duas mulheres já chamadas de “malucas” (mínimo que tive estômago pra ver) pelos amigos do denunciado contra um homem, branco, hétero, com alto grau de instrução e não pobre (e com amigos nas mesmas condições). Ele tem todas as condições de se defender, e muito mais poder de argumentação que elas, inclusive. Não vi o tal linchamento moral em nenhuma das minhas redes. Talvez eu viva numa bolha e só tenha amigos legais e educados e na defesa dele o máximo (mas não menos decepcionante) que vi foi silêncio/omissão e o apego ao legalismo. Não estamos falando de uma reportagem na Globo, mas de um tumblr na internet. Abç.

  • Niara de Oliveira

    Luma, me mostra um caso em que mulheres vítima de assédio/abuso ao denunciarem tenham “se dado bem”. Muito ao contrário. Sabe aquela estória de que “a culpa é sempre da mulher”? Não é estória, é real.

  • Niara de Oliveira

    É o grupo que leio também, Jane. Meu lamento é sincero. E tens total razão quando dizes que esse caso é um divisor de águas. As reações, contemporizações e justificativas conseguem me espantar mais que o caso em si.

  • Pablo Villaça

    Cara Niara, sinto que diga que me aproveitei deste caso para fazer “gracinha”. Se tivesse lido os tweets que publiquei antes e depois do único que linkou, teria percebido que eu estava apontando justamente o absurdo da argumentação feita por quem defendia o blogueiro alegando que ele não cometera crime algum. Acho também maniqueísta que tenha me acusado de fazer “gracinha”, mas não tenha linkado nem para o texto que escrevi sobre o caso (https://www.facebook.com/pablovillaca01/posts/597718773666686) e tampouco para outro, já mais antigo (http://www4.cinemaemcena.com.br/diariodebordo/?p=2114), no qual me penitenciei publicamente pela piada feita no passado (embora isto não a tenha impedido de relembrar o caso em si).

    Não peço que me considerem um feminista (como digo no meu texto: não sou) ou mesmo como um aliado (embora eu queira crer ser um). Mas peço, sim, que seja ao menos justa. Apontar minhas falhas (uma delas, nem mesmo real, já que eu estava justamente apontando um absurdo) e ignorar meus acertos (ou tentativas de) é algo, convenhamos, pouco ético.

  • Ana Carla

    O p.s. ao final do texto é foda! Digno demais. É isso aí! =)

  • Luma Rosa

    Niara, vou mudar o foco do meu comentário. Mas respondendo a sua pergunta, nas mídias sociais temos as “famosas” que foram abusadas por seus companheiros. Está valendo?
    Na cidade onde resido, faço parte do “Movimento de Mulheres de Cabo Frio” e damos assistência jurídica às vítimas – mas elas precisam ‘querer denunciar’, mesmo sabendo que não será fácil prosseguir – Muitas vezes é a própria família que não apoia.
    Esse tipo de assédio sexual virtual deve ir às vias de fato, caso contrário, o sexo feminino continuará reforçando estigmas. Continuarão a confirmar o que a escritora Roxanne Gay escreveu em seu artigo para o jornal britânico The Guardian: “O que as pessoas estão fazendo é lembrar às mulheres que, não importa quem elas sejam, elas ainda são mulheres. Elas são eternamente vulneráveis” e por esses pensamentos elas precisam reagir de forma a punir seus algozes de forma exemplar. Esse bla, bla, bla na rede somente alimenta curiosos e fofoqueiros, não ajuda em nada. Mas se existir um processo e consequente condenação, a sociedade paralisa para entender que existe punição e que não há impunidade ao assediar virtualmente uma mulher.

  • Niara de Oliveira

    Pablo, eu segui no mesmo parágrafo dizendo que li os teus tweets seguintes. Não ignorei, muito pelo contrário, disse que aplaudi e aplaudo mesmo. Entender que o machismo é estrutural e que qualquer um pode escorregar e quando isso acontecer é mais fácil e simples repensar, reconhecer o erro e se desculpar (se for o caso) e tentar não repetir do que ficar horas tentando justificar o que não tem justificativa deveria ser nossa meta, nosso objetivo diário. Idem com racismo e homolesbitransfobia.
    Um dos tweets parece gracinha (e a dinâmica do twitter é essa, em cada 140 caracteres uma sentença). Minha leitura e interpretação. Teu comentário está aí para dizer que não. Ok.

  • Niara de Oliveira

    O p.s. do final não é nenhuma tentativa de dar lição de moral, caso alguém entenda assim. É que eu realmente acho que eles (os amigos) não estão ajudando ninguém com essa “estratégia”. Obrigada, Ana.

  • Niara de Oliveira

    Luma, eu não tive contato com as denunciantes, a não ser com uma delas porque tem twitter, e confesso que nem a estou seguindo, talvez passe a segui-la. Li o tumblr, vi os prints e uns tweets dessa moça (que parece ser a que foi assediada desde quando tinha 15 anos) e me bastou. Sendo tu do movimento de mulheres, comente no tumblr, faço contato. 😉

  • O tal professor machista - Revista ConsciênciaNet: acesse a sua.

    […] sobre o tema por Niara de Oliveira e do Escreva Lola […]

  • Olhares

    Niara, obrigada pelo seu texto. Ele me tirou um nó da garganta e peço licença para deixar um comentário longo. Lamento muito por tudo, o seguia, compartilhava seus textos, admirava. Mas não vejo outra maneira de lidar com a questão a não ser respeitando as vítimas. Quanto ao p.s., sei que não há lição alguma, mas acho importante. Justamente porque não é lição. É um modo de dizer que isto poderia acontecer a qualquer pessoa. Já me relacionei com uma pessoa que agiu de forma cafajeste com outras pessoas e quando seus erros vieram à tona, eu me senti destroçada e violada, mas apenas esperei que ele assumisse a responsabilidade.

    É doloroso, claro, mas é o justo com as pessoas que foram intimidadas e feridas, que desejam recuperar sua dignidade na forma que enxergam a seu alcance. Acho importante dizermos que vivemos num mundo desigual em que não somos perfeitxs, ao contrário, lutamos para mudá-lo mesmo em face de nossas contradições. Como mulheres somos submetidas a tantas violências de gênero cotidianas que não possuem qualquer implicação legal… Será que a busca por uma resolução de conflitos que se mostram graves e sistemáticos como este só deve ser admitida quando inserida na esfera jurídica? Acho que não.

    Senti incômodo pelo uso de prints, se alguma delas me perguntasse, eu desaconselharia. Mas se elas só tinham este recurso ou se o preferiram, respeito.

    Obrigada também por pontuar que o assédio consiste em intimidação e manipulação, e deixa rastros de dor para o resto da vida em quem o sofre, sem mencionar a vergonha, o sentimento de inutilidade e impotência, sabemos que há um longo caminho para a punição deste tipo de opressão. Todas as vezes em que sofri assédio desse tipo eu disse não, o que certamente me faz dormir mais tranquila, mas não quer dizer que não tenha sofrido as consequências.

    Numa dessas vezes tive de arcar com prejuízos materiais sérios, como perder o emprego, perder prestígio e até amigxs. Será que só o “não” é suficiente e nos redime de qualquer coisa, como muitxs querem fazer acreditar? O nosso não evita que aquela pessoa siga com suas táticas destrutivas, sendo inúmeras vezes bem sucedida? Entendo como óbvio desde o início que estamos falando de abuso via machismo estrutural, não entendo quem quer resumir tudo à esfera da dissidência sexual, não entendo quem quer resumir à esfera jurídica. Entendo a dor e o apoio dos amigxs, não entendo que para isto seja necessário desqualificar as vítimas. A mim está claro que não se trata de uma questão sexual, mas da humilhação serial, desigual e cheia de elementos perversos, impetrada a mulheres em condição reconhecidamente (por ele) vulnerável…

  • Rosa

    O que eu não entendo é essa regra universal “nunca duvidar da vitima”. Quer dizer que a vítima possui um ponto de vista supremo e nunca pode estar enganada? Ou então que a vitima possui uma bondade suprema que nunca pode enganar? Eu acho que a vitima deve sim ser ouvida, mas também não da pra partir da premissa que ela está sempre certa. No mais, nesse caso especifico eu acho o cara um escroto que merece toda essa exposição e ainda mais. Porém, eu acho que no caso especifico postado no blog da Lola, que a vítima não é a mulher. Ela falou reiteradas vezes que estava participando do jogo. Quando o cara mandou a foto do pau pra ela, ela não pensou em denunciar, não achou absurdo, ela gostou e retribuiu. Gente…são dois adultos que estavam alí (não to falando dos outros casos, como com a menina de menor, estou falando desse especifico) e cada qual tem o seu fetiche e ninguem pode julgar. Se existe alguem que foi vitima, que não estava em consenso com essa prática, foi a namorada dele e o marido dela (dependendo da relação estabelecida entre eles)

  • pitangadigital

    Niara, concordo em absoluto contigo quanto ao “NUNCA DUVIDO DA PALAVRA DA VÍTIMA”, mas isso não implica em “nunca averiguar a denúncia”. Implica sim em um acolhimento humanizado para aquelas que buscam ajuda por se sentirem violadas, implica em não julgarmos antes de conhecermos, prática que é habitual, como bem relataste. A mulher denuncia e imediatamente (e sem averiguação alguma) já recai sobre ela a pecha da desconfiança, o “mas o que vc estava fazendo lá?”, quando se deveria escutar, acolher, respeitar, confortar e posteriormente, averiguar e oferecer as incoerências que porventura aparecerem para que sejam esclarecidas pelas vítimas. No entanto, a fala de Leandro me parece pertinente, pois as próprias vítimas, talvez sem perceber, ofereceram “provas em contrário”, seria muito mais fácil abraça-las incondicionalmente se os prints não se tornassem públicos. Foram os próprios prints (ou seja o privado) que colocados a públicos evidenciaram que o que ocorreu no privado não foi uma violência, foi um ato consensual.
    Agora, falando em termos teóricos, eu milito em um feminismo que desconstruiu a categoria teórica de mulher-vítima, que aparece muito em Bourdieu e, principalmente, nas feministas radicais, pelas incoerências e insolubilidades que essa categorização colocou o feminismo. Se somos, a priori, vítimas da sociedade, não construímos a mesma, se não construímos a mesma acabamos por reafirmar aquelas clássicas categorias paternais que tanto lutamos p desconstruir, ativo/passiva, produtor/reprodutora, forte/fraca, público/privado, representações irreais que estruturam as construção das desigualdade de gênero, que são bem reais.
    Eu milito em um feminismo que não julga a vítima, muito menos antes de conhecer a denúncia, mas isso não é salvo-conduto para abraçar incondicionalmente práticas de mulheres que se mostrem incoerentes.
    Quem trabalha com direito de família vê cotidianamente o problema de se transformar seres humano adultos que se dizem vítimas em sujeitos inquestionáveis pela força emocional de seus discursos. É triste, é um horror, mas muitas vezes, infelizmente, não é verdade.

    Não estamos acima de qualquer suspeita. Ninguém está.
    Luto pelo fim de todas as formas de violência contra a mulher (contra toda a violência na real, contra crianças, contra lgbtt…), mas luto de olhos bem abertos, e entendo que somos deveras complexas para sermos universalmente reduzidas a categoria de “vítimas acima de qualquer suspeita”. Aliás, percebo um ranço paternal nesse tipo de enquadramento.
    Portanto, voltando ao caso em questão, o episódio é bem atípico, porque ao mesmo tempo que conhecemos as denúncias as vítimas ofereceram a público suas “provas” que acabaram por tornar a “denúncia” muito pouco risível. Acabou por transformar a “denúncia de abuso” em uma vontade irracional de linchamento, motivado por arrependimento, por despeito, ou seja lá o que for. Erramos diariamente, e nos arrependemos a cada minuto, mas não podemos jogar no colo dos outros aquilo que fizemos lúcidas e por vontade própria. É claro que nossas práticas são muito fortemente condicionadas pela cultura que estamos inseridas, cultura essa androcêntrica que precisa ser desconstruída, mas isso não pode implicar em desresponsabilização de absolutamente todos nossos atos, pq assim estamos, nós mesmos, nos infantilizando, nos reduzindo a a categoria de seres autômatos que apenas emulam práticas culturais, completamente desprovidas de capacidade critica, e isso coloca o feminismo em um buraco sem saída, obstaculiza toda a mudança.
    Enfim, era isso. Desculpa o comentário enfadonho.
    Forte abraço.
    Alessandra

    PS: Sou petista e feminista, e é bem difícil problematizar essa questão por se tratar de mulheres de um lado, e um homem do outro, que não guardo simpatias nenhuma.
    PS2: Gostaria muito que nossa legislação fosse modificada para criminalizar pessoas adultas que se envolvem com adolescentes. Esse episódio envolveu uma adolescente de 15 anos e me parece que não se tem ainda instrumentos para coibir isso, o que é uma lástima.

  • Luiz Fernando

    “E quem é que mede, que diz se foi violência ou não? A vítima ou o agressor?”

    Quando se diz que há uma vítima e um agressor, a pergunta “foi violência?” já não foi respondida?

    abraços

  • Niara de Oliveira

    Obrigada pelo depoimento, Olhares. 🙂

  • Niara de Oliveira

    Rosa, a “regra” do nunca duvidar da vítima de assédio e violência sexual é porque se duvidamos num caso e acreditamos em outro, colocamos em risco a vida de zilhões de vítimas desse tipo de assédio que estão caladas aguardando enxergar um porto seguro onde se apoiar, segurança para fazerem também sua denúncia. É pelas inúmeras vítimas que estão sofrendo caladas. A cada vez que duvidamos da palavra de uma vítima, milhares de outras se encolhem na sua dor e seguem sofrendo caladas. Expliquei?

  • Niara de Oliveira

    Alessandra, quando digo nunca duvidar da palavra da vítima não disse que ela automaticamente se transforme em sentença. Nem sei se esse caso chegará a esfera jurídica. A questão (e já li relatos de mulheres dizendo “finalmente alguém o denunciou, alguém precisava pará-lo”) é apenas não duvidar da palavra da vítima, oferecer apoio. Elas mesmas dizem que disseram alguns sins para ele, mas isso não significa que ele não tenha abusado e ido além, isso não significa que não tenha aviso assédio e violência em algum momento. Não sou um tribunal onde sou obrigada a ouvir todos os lados. Sou uma feminista e jornalista (nessa ordem) que adora divulgar conquistas e mulheres empoderadas vencendo a sua opressão de gênero individual e que não esquece da necessidade de denunciar as violações e violências cotidianas que as mulheres sofrem. Reconhecer que em algum momento foi vítima de opressão e decidir, contra tudo e todos, denunciar é também uma forma de empoderamento.

  • Niara de Oliveira

    Luiz Fernando, nesse momento do texto estava me referindo de forma genérica aos casos de violência. Tenho certeza do que escrevi.

  • Gigi

    O que me chocou mais nessa história toda foi ver muita gente que se diz feminista usando os mesmos tipos de argumentos machistas pra colocar a culpa nas mulheres. “Cadê a moral dessa mulher casada traindo o marido?”, “deu trela e depois reclama quando o bicho pega”, “dá corda e depois quer pagar de santa”, etc etc etc… (não necessariamente com essas palavras, mas nesse nível de ideia). Estou enojada porque se tinha uma turma da qual eu não esperava esse tipo de argumento era da turma feminista. Me puxaram o tapete de baixo dos pés com uma violência inesperada. Fico imaginando o que seria de mim agora se eu fosse vítima de um caso assim ou principalmente desse.

  • Niara de Oliveira

    Não aprovei o comentário da Rê_Ayla, e a única coisa que essa comunista aqui pode dizer a respeito do conteúdo é repetir uma frase de Max Weber: “Quem se declara neutro já se decidiu, mesmo sem saber, pelo lado mais forte”. É a minha justificativa (mesmo sendo desnecessária) para não publicar tal comentário. Esse espaço não é uma democracia, ele é meu e aqui só publico o que quero. Faça toda a tua consideração “neutra” em outro lugar. Abç!

  • Niara de Oliveira

    Idem, Gigi. Com homens canalhas, cafajestes, manipuladores e tals, todas nós já nos deparamos/lidamos em algum momento da vida. Mas quem sabe a medida da dor é quem a sente.

  • nayaragarofalo

    Só sugiro uma errata: “Nem as feministas estão a salvo de escorregarem e serem machistas aqui ou ali. ”

    Mulheres não podem SER machistas. Sugiro “… a salvo de reproduzirem machismo aqui ou ali”.

  • Rosa

    Niara, eu ainda acho que é necessário duvidar da vítima. E quando eu falo vítima, to falando de todos os tipos. No meio jurídico se parte da premissa que todos são inocentes até que se prove o contrário, e acho q não podemos nos afastar disso. Uma coisa é acolher a vítima, isso é necessário como você colocou. Mas, por outro lado, não se pode simplesmente pelo seu relato, pela sua visão da história, definir quem é culpado e o nível de culpa. Ninguém possui um ponto de vista privilegiado, e é necessário para o fortalecimento da luta que nossas acusações e críticas sejam certeiras e justas. Por isso eu acredito que se faz necessário sim duvidar da vitima e averiguar até onde há veracidade em seu relato.

  • Rosa

    Só pra esclarecer mais o que eu tava tentando dizer. Acho que o que sobre o que a mulher sente ninguém pode duvidar, ninguém pode minimizar, isso deve ser aceito e respeitado. Porém é necessário averiguar a situação pra ver até que ponto isso que foi sentido pela mulher em questão é fruto diretamente da opressão ou de outra coisa. Por exemplo, nesse caso, a mulher só resolveu denunciar e romper laços quando o cara marcou com ela e não apareceu. Quer dizer…todo esse tempo, ela estava “na brincadeira”, mas quando o cara não quis mais ela não gostou. Não acho que a nossa emancipação pode comportar tantas mulheres vitimizadas assim. Ao contrario, temos que parar de passar a mão na cabeça e fazer com que todas nós assumamos nossa responsabilidade

  • Niara de Oliveira

    Bueno, eu entendo que quem reproduz machismo é machista, mesmo que temporariamente, só por algum momento. Não aponto o dedo para ninguém para dizer “fulanx É machista”, porque acho que nossas atitudes é que são e podemos acertar, errar também com relação a isso.

  • Niara de Oliveira

    Rosa, continuo afirmando o que disse no texto. Se queres duvidar da vítima e achas isso válido, escreva sobre isso nos teus espaços exatamente como eu fiz. 😉

  • C

    Seu texto diz muito sobre as mulheres que denunciaram e sobre todas as outras que já foram assediadas por este impostor, obrigada por nos acolher e acreditar em nós.

    Tanto vc, quanto a Lola, a Nádia, a Denise, entre outras escreveram o que não só nós duas passamos, mas muitas. SÃO MUITAS, esse é ponto pelo qual nós viemos a público c todo esse chorume que aparentemente ninguém queria ler.

    Apesar de as pessoas ainda acharem que foram apenas duas mulheres querendo vingança, nós todas sabemos que foram muitas, que muitas estão aí fora com medo de denunciar a violência que viveram ao cruzar o caminho desse homem.

    Deixo aq alguns comentários publicados por pessoas que conheciam esse cara e que sabiam desse lado nojento dele por anos e nunca puderam fazer nada além de assisti-lo enquanto ele se exibia pelas redes sociais e continuava assediando outras por aí…

    https://twitter.com/ssilva_daniela/status/539253547918172160

    DEUS e o mundo sabia, mas infelizmente só essas duas putas ai tiveram coragem de falar o que ninguém queria ouvir, sob a pena de sermos condenadas e apedrejadas, como estamos sendo desde que isso veio a público.
    😦

    Obrigada Niara.

  • Leticia

    Excelente texto. Muito obrigada.

  • Niara de Oliveira

    C, tudo o que escrevi foi sincero e, sim, eu sempre acredito e tento, na medida do possível, dar voz às vítimas. Obrigada a vocês, pela coragem e por terem levado alívio a tantas que se sentiam como vocês e não tiveram/têm coragem para denunciar.

  • fritadordecoxinhas

    Republicou isso em Fritando Coxinhase comentado:
    O caso Idelber Avelar e o machismo nosso de cada dia, inclusive na esquerda…

  • Daniel

    Bastante interessante a perspectiva, mas é um pouco incômodo o silêncio em relação ao teor mesmo das comunicações entre Idelber e as suas vítimas. Com essa verdadeira “saída pela tangente” que é o discurso do “se é consensual, beleza”, a própria natureza violenta (e aqui estamos obviamente falando da violência simbólica) das taras que vieram à tona é minimizada. E é justamente essa violência que ataca a própria credibilidade do discurso que ele propaga(va?), porque envolve necessariamente a humilhação de um terceiro (o marido, que não pediu pra entrar nesse triângulo perverso) como condição do gozo. Não é chocante o fato de que o Idelber sequer se espantou com uma crise conjugal deflagrada pela descoberta por parte do Marido, e que pela descrição tinha real potencial de violência física? Pelo contrário, o episódio apenas serviu para alimentar o desejo bizarro (contando com um ridículo conceito de “amansamento do corno” !!!), à revelia da circunstância real em que a mulher se enxergava.

    E isso–podem falar o que quiser–é sim extremamente incoerente, discrepante com o discurso que era costumeira e brilhantemente articulado pelo professor. O círculo não se fecha quando aquela comunicação, aparentemente consensual de início, passa a ser enxergada enquanto violenta pelas vítimas, a ponto de fazê-las vir a público? Ora, o consensual se converte em assédio precisamente por conta do teor extremamente violento, e tão incoerente, do contato.

    É por isso que se tem que colocar o dedo na ferida, sim, nesse caso, ao invés de enfatizar aspectos como a “privacidade do inbox”.

  • Marcelo Cafrune

    Discordo muito da parte “nos tratem como inimigos” no PS. Não se trata disso. A vida é complexa e o cara fez merda. grande. estamos com as mulheres, nesse caso. Mas a raiva de quem viveu a dor não pode servir pro julgamento. Não existe retaliação justa. A mudança necessária é mais difícil, no âmbito da cultura e das relações de poder.

  • Thierry

    Daí se vê que a filiação política nem sempre determina a justeza de caráter. Tem safado (no pior sentido) de tudo que é lado, e algumas atitudes ultrapassam de fato a fronteira do informal e aceitável. Botar advogados pra tratar do assunto dá a mostra de que truculência não parece ter ideologia, também.

  • Niara de Oliveira

    Marcelo, o “nos tratem como inimigos” poderia ser só “desconhecidos”. O que quis dizer é dispenso a proteção que supostamente estão tentando dar à namorada, filhos e família. O nome correto disso é acobertamento. É isso que peço aos meus amigos que não façam comigo, caso algum venha a ser partícipe de numa situação dessas. No restante concordo em tudo contigo.

  • mulherasterisco

    O assédio a menores é crime. E é difícil coibir isto na internet pq as meninas podem mentir a idade. Então se ele checou a idade e mentiram para ele, este crime teria um atenuante. Se não, realmente houve um crime. Debater este crime é, sim, uma forma de tentar proteger nossas meninas. Elas alertarem umas as outras sobre isso também não tem nada de errado. Pegar este caso como emblemático dos dilemas do feminismo só me parece possível por ser o envolvido um seguidor de Judith Butler, uma das principais expoentes do feminismo distoipico. E, por conta disso, provavelmente ganhou fama entre as meninas que não conhecem outra tradição. O cara se aproveitou desta posição de “famosinho” pra caçar fantasias pela internet. As meninas tem todo o direito de estar indignadas por seu contato com ele ser diferente do que elas pensavam ao conhecer as ideias que ele defendia. O problema é que as ideias que ele defendia, por serem voltadas aos combate simbólico contra o machismo, só poderia ter deixado de ter a dimensão real de lado, inclusive de quem ele mesmo é. Usá-lo como símbolo de uma luta contra os “esquerdomachos” é não abrir a perspectiva de discutir como as mulheres de esquerda podem se proteger e alertar umas as outras contra os predadores de nosso meio. Porque, nem a esquerda esta livre de misóginia. Este feminismo não é radical, porque não vai na realidade para buscar enfrentar a opressão, fica na superfície, condenando os reprodutores do machismo, ao invés de sua produção.

  • mulherasterisco

    O que não deveria passar de um alerta para outras meninas não criarem falsas expectativas e depois se sentirem envergonhadas de si mesmas por terem acreditado na ilusão de um “homem feminista”, mesmo que algumas pudessem escolher participar deste tipo de brincadeira, ao que parece, sem contato físico, acabou transformando num linchamento moral.Na minha opinião, quem envenenou o debate foram os homens que se meteram nele. Nos, mulheres, podemos tratar disso sozinhas.

  • Gabriela Galvão

    Niara, linqei este texto num post meu. Não sei s erecebe notificação qando isso ocorre e acho por bem você poder tomar conhecimento. O texto é esse: http://madamedeau.blogspot.com.br/2015/09/de-ludibriacao.html
    Brigada, beijo..

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