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Dia 01 — O livro mais querido de todos os tempos
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Foi muito complicado decidir qual é o livro mais querido de todos os tempos pra mim. Nesse processo fui encontrando semelhanças estranhas e acabei ficando entre dois livros de autores suicidas. Como diria o famoso filósofo aquele, isso explica muita coisa!
Mas por todas as singularidades é Mrs Dalloway da Virginia Woolf o meu livro mais querido. A começar pela total subversão da narrativa que essa escritora inglesa, inquieta, muito a frente de sua época e desconfortável com sua sensação de despertencimento no tempo e espaço, nos apresenta.
Este romance, que foi o quarto livro da carreira de Virginia, conta um dia na vida de Clarissa Dolloway ambientado logo depois da Primeira Guerra Mundial. O título inicial era “As Horas” e fazia uma referência direta ao tempo da narrativa na vida dessa mulher que passa o dia preparando mais uma de suas festas. Virginia narra esses preparativos com uma riqueza de detalhes impressionante e vai misturando o real com o abstrato com uma sutileza tal que é como se estivéssemos vivendo aquilo tudo.
É tão intenso que é impossível não sentir junto com Clarissa e Virginia a angústia dos silêncios, as feridas que se abrem com a chegada de seu primeiro amor para a festa, a lembrança dos sonhos que se perderam, e até as alucinações e esquizofrenia com o amigo que morreu combatendo na guerra. Tudo isso misturado vai desenhando uma espécie de auto-retrato da autora que se sentia aprisionada às convenções e às consequências inevitáveis de suas escolhas.
O objetivo da personagem é fazer com que as pessoas saiam de sua festa com a sensação de que viver vale a pena ao mesmo tempo em que expõe a prisão que é a tendência que todos temos de nos adaptarmos à circunstâncias e à convivência social e a um mundo de aparências muito diferente do que desejamos realmente. E é aqui a minha maior identificação com Virgínia e Clarissa: a eterna luta contra as circunstâncias.
Essa personagem poderia ser qualquer mulher, porque todo o emaranhado de sentimentos, sonhos e frustrações de todas as mulheres estão presentes na descrição desse dia, dessas horas na vida de Mrs Dolloway.
Impossível não se identificar, impossível não gostar.
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Na versão ebook só encontrei em inglês. Mas no site da editora Nova Fronteira é possível encomendá-lo por um preço bem acessível, com tradução de Mario Quintana.
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Também estão participando da brincadeira a Luciana do Eu Sou a Graúna, a Tina do Pergunte ao Pixel, a Renata do As Agruras e as Delícias de Ser, a Rita do Estrada Anil e a Marília do Mulher Alternativa. Mais alguém?
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25 agosto, 2011 at 3:38 AMago
Gosto muito de VW e há um enorme risco de algum livro dela comparecer no sexto dia…E que bela apresentação essa que você nos trouxe, fiquei com vontade de correr na estante e reler linha por linha.
25 agosto, 2011 at 3:38 PMago
Estou tentada a participar mas viu, um bebe de um ano em casa… Como faz?!? rsrsrs ah mas eu adoro desafios. Bjs
27 agosto, 2011 at 3:38 PMago
Olá. Está chegando tradução nova, por Denise Bottmann, desse livro de Virginia Woolf:
http://naogostodeplagio.blogspot.com/2011/08/mrs-dalloway-no-prelo.html
29 agosto, 2011 at 3:38 PMago
Oi!
Estou lendo right now! E, claro, estou completamete rendida. É como ler Lispector em inglês (alías, uma bebeu muito na outra, ne). Vou fazer um post sobre o livro quando terminar de ler e vou linkar esse seu, que, né, tá potente. 🙂
Beijo (brincadeira boa, essa, ne?)
Rita
30 agosto, 2011 at 3:38 AMago
Que bom que gostastes, Rita. Fico mó feliz. Beijo, 🙂
22 outubro, 2011 at 3:38 PMout
[…] Clandestina da Cecília, de Memórias do Fogo ou d’O Livro dos Abraços do Galeano, de Mrs. Dalloway da Virginia e de muitos outros livros especiais para mim. Mas a única coisa que sei de cor mesmo […]