.
Dia 02 — Um livro que você não gosta
.
Desde que o Paulo Coelho — ou Paul Rabbit como costumo brincar — virou febre no Brasil no início dos anos 90 já o olhava desconfiada. Mas como tudo na vida que te causa ojeriza de certa forma também atrai, um dia me permiti ler (ou pelo menos começar a ler) um de seus livros.
Estava nos primeiros semestres da faculdade e tinha uma amiga muito querida super fã dele e que já tinha lido todos os livros lançados até então. Isso era 1994 e ele estava lançando Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei. Essa amiga já tinha na estante de casa O diário de um mago, O Alquimista, Brida e As valkírias. Todos os meus amigos esquerdistas, comunistas falavam muito mal do Paul Rabbit, mas ela falava tão bem de sua literatura que acabou convencendo as minhas veias libertárias e subversivas a experimentar. Perguntei a ela qual o melhor para mim, para adentrar no universo do tal mago, e ela me respondeu sem pestanejar “Brida“.
Comecei a ler devagar e fui achando sua narrativa interessante, embora estivesse um tanto quanto desconfiada que Brida não tratasse de magia e fosse mais um romance barato entre uma jovem afoita por aprender os segredos da bruxaria (que se chamava Brida) e um velho mestre condenado a viver vagando num bosque nos arredores de Dublin, na Irlanda. Eis que chego a página 33 de Brida (e eu reli o livro até essa página essa madrugada para poder citar com justiça o trecho que me causou um acesso de riso).
A personagem Wicca está jogando cartas de tarot para a jovem Brida e diz o seguinte “Em cada vida temos uma misteriosa obrigação de reencontrar pelo menos uma dessas Outras Partes. O Amor Maior, que as separou, fica contente com o Amor que as torna a unir.” A jovem Brida pergunta, então à Wicca:
“– E como posso saber que é a minha Outra Parte?” — Sem responder à Brida, Wicca se põe a pensar e lembrar de seus próprios questionamentos quando jovem: “(…) Era possível conhecer a Outra Parte pelo brilho no olhos — assim, desde o início dos tempos, as pessoas reconheciam seu verdadeiro amor. A Tradição da Lua tinha um outro processo: um tipo de visão que mostrava um ponto luminoso acima do ombro esquerdo da Outra Parte. Mas ainda não ia contar isso a ela; talvez ela terminasse aprendendo a ver este ponto, talvez não. Em breve teria a resposta.”
Tive um acesso de riso que beirou a histeria e nunca mais consegui voltar nem ao Brida e nem a qualquer outro livro do Paul Rabbit. Assim como Brida deixei muitos outros livros pela metade por não ter gostado, mas Brida explica minha ojeriza ao mago e sucesso literário mundial Paulo Coelho e é com justiça o livro que não gosto desse desafio.
.
Aqui a versão de Brida em pdf para quem quiser baixar e ler.
.
Também estão participando da brincadeira a Luciana do Eu Sou a Graúna, a Tina do Pergunte ao Pixel, a Renata do As Agruras e as Delícias de Ser, a Rita do Estrada Anil e a Marília do Mulher Alternativa. A Mayara do Mayroses começará no sábado. Mais alguém?
.
27 agosto, 2011 at 3:38 AMago
Cara Niara, não li “Brida” (você também não, pelo que conta); para mim, o ridículo raso que é a literatura de Paulo Coelho veio com “Veronika decide morrer”, que meu irmão comprou numa pilha de supermercado. Vi aquilo, pedi para ler, cheguei até o fim (sou paciente e o livro é curto: é só uma redação esticada e mal escrita). Nunca esqueci da história, que é de um inverossímil infantil e inclui uma tentativa canhestra de transformar o próprio autor em personagem. Em certo almoço, em que se comemorava que uma amiga havia passado para um concurso de letras na USP, resolvi contar a história (era um momento de trash literário). Quando cheguei à parte da masturbação da protagonista ao som do piano no asilo, uma professora da FFLCH não aguentou de rir e uma uva voou de sua boca direto para uma taça. Tal é a magia de Coelho!
27 agosto, 2011 at 3:38 AMago
Heróica,li Brida até o fim. E ainda aprendi duas coisas: 1) a ser, sempre, a rainha da noite (e decidir sempre por mais vinho e menos água) e 2) nunca mais ler nada do PC.
27 agosto, 2011 at 3:38 PMago
Adoro azamiga que chega beuba de madrugada e vai comentar nos posts e postar nos murais dos bonitões… Eu vi. hahahahahahahaaha
Ó, heróica mesmo. Queria saber o que o mundo viu no Paul Rabbit… Será que viram a tal luz brilhante sobre seu ombro esquerdo?
27 agosto, 2011 at 3:38 PMago
Acho que tá todo mundo procurando a tal luzinha e não se tocaram que era um vaga-lume…
28 agosto, 2011 at 3:38 AMago
hahaha! Interessante isso.
29 agosto, 2011 at 3:38 PMago
Cheguei a ler um livro do Paulo Coelho e o que me incomodou foram algumas histõrias que eu ja tinha lido em livros esotericos e que apareceram como se fosse do Coelho… Sei la num diria que eh plagio, mas eu diria que eh uma colcha de retalhos de coisas que eu ja tinha lido com mais profundidade em algum lugar. Ele tem seus meritos sim, os livros dele sao faceis de ler, isso eh um merito (acho). Ja fui mais critica a ele mas muita gente comeca pelo Paulo Coelho e vai mais alem. Bjs
29 agosto, 2011 at 3:38 PMago
Pois foi isso que me incomodou também. O que ele diz em Brida sobre encarnação e como as almas vem pra esse mundo e como se reconhecem aqui é um plágio (sim!) do conceito socrático-platônico do amor. A incrível coincidência é que estava estudando isso na faculdade justamente na época em que peguei o livro para ler. O Platão só não falou em luz brilhante sobre o ombro, isso deve ser coisa do Paul Rabbit mesmo. Rá!!!
27 fevereiro, 2013 at 3:38 AMfev
1) sobre aura, pontos brilhantes, E.T.’s e outras coisas que são fáceis de negar: “don’t criticize what you can’t understand” dylan
2) o fato de o livro brida citar coisas platônicas não faz disso um plágio, talvez nos outros livros também seja o caso, mas só li “o alquimista” então nao posso falar por toda a obra de paulo coelho
3) BIll Clinton leu e gostou de “o alquimista” e várias pessoas inteligentes gostam de livros ou autores “ruins”… mas umas pessoa da área de humanas…
4) enfim, olhem isto (escrito por uma pessoa realmente inteligente e culta, diferente de mim)> http://super.abril.com.br/cultura/valor-paulo-coelho-443249.shtml
3 março, 2013 at 3:38 AMmar
Teu comentário só foi aprovado agora porque sou uma jornalista ocupada (felizmente) e uma blogueira relapsa (lamentável). Não tenho medo do contraditório, minhas opiniões e posições não são superficiais e resistem a debates. Obrigada pelo comentário, Robervaldo. Assine o feed do blog, assim quando eu deixar de ser relapsa e passar a blogar como deveria, vais saber. 😉
5 fevereiro, 2015 at 3:38 AMfev
Concordo, paulo coelho coloca suas verdades em um livro, mas não as explica, fala e fala, mas não explica nada.
21 dezembro, 2018 at 3:38 AMdez
Porque ninguém fala do brilho nos olhos? A reflexão não tem credibilidade, ou ninguém ousou refutar???
18 maio, 2019 at 3:38 PMmaio
A fanpage de Yuval Noah Harari postou uma foto de uma pilha de livros… entre eles Paul Rabbit.