Na madrugada de 12 de fevereiro, uma festa de aniversário com 15 a 20 pessoas em Queimadas, Paraíba, foi palco de uma barbárie. Um estupro coletivo teria sido planejado com 15 dias de antecedência. Todos os homens na festa sabiam o que iria acontecer e concordaram. Eles fingiram um assalto e alguns dos homens invadiram a festa encapuzados e fortemente armados, separaram as esposas de dois deles e estupraram as demais. Antes falava-se em cinco estupradas, agora já são seis. Antes eram seis os homens que confessaram, agora já são dez e incluem um sobrindo do prefeito da cidade. Das seis mulheres estupradas (não se sabe ainda por quantos elas foram estupradas), duas delas lutaram e conseguiram ver o rosto dos estupradores e os reconheceram, Michele e Isabela. Elas foram levadas na fuga e foram executadas.
O plano do estupro coletivo teria sido arquitetado pelo dono da casa, Eduardo, de 28 anos,ex-cunhado de Isabela. Estuprar as mulheres solteiras da festa seria um presente de aniversário para o irmão, Luciano, de 22 anos. Na hora, eles também vestiram um capuz e estupraram.
Dos detalhes sórdidos dessa história de terror, dois deles chamam mais a atenção. O fato de não ter entre os dez homens nenhum que achasse errado estuprar mulheres por diversão e o segundo é o relato das mulheres de que eles riam com o choro e o desespero das vítimas. Preciso desenhar ou explicar mais alguma coisa para dizer que estamos vivendo a barbárie?
Quando o ser humano perde a capacidade (ou não tem) de se comover e compadecer da dor de seu semelhante não há muito mais o que fazer. Não há razão a ser chamada. Não há argumentação a ser feita. E aqui está o ponto chave desse horror. As mulheres serem consideradas objetos, coisas, que servem apenas para satisfazerem os desejos mais sórdidos e absurdos dos homens, que nos enxergam como seres de segunda categoria.
Homens se acham superiores e, por isso, acham que podem dispor das mulheres como bem quiserem e nem se dão conta do quão desumanos se tornam assim. Estupro não é um instinto animal a ser saciado. Animais não estupram. Animais respeitam o cio da fêmea (o que poderíamos traduzir como esperar a vontade da mulher). Estupro é coisa de homem. Estupro é um crime fruto de uma sociedade machista que coisifica e objetifica a mulher.
Repetindo dois trechos do texto sobre estupro do Biscate Social Club:
Estupro não é sexo. Estupro não é uma vontade incontrolável de dar prazer à outra pessoa mesmo que ela não saiba que quer muito isso. Estupro não é um favor, não é um acidente, não é uma empolgação. Estupro é uma violência que decorre de uma relação de poder. No estupro, aproveita-se da vulnerabilidade do outro.
(…)
Entenda: estupro não tem atenuante. Mulher pode gostar de sexo, de beber, usar roupas provocantes e se divertir e isso não dá a ninguém o direito de estuprá-la. Vamos desenhar, atenção: Não é porque ela estava bêbada que pode estuprar. Não é porque ela estava na rua sozinha depois das 22hs que pode estuprar. Não é porque ela estava com um grande decote, saia curta ou maquiada que pode estuprar. Não é porque ela é prostituta que pode estuprar. Não é porque ela dá pra todo mundo que tem que dar prá você também. Não é porque ela é gostosa que pode estuprar. Não é porque ela dança de forma provocante que pode estuprar. Não é porque ela é “feia” e nunca ia arrumar namorado que pode estuprar. Não é porque ela concordou em conhecer sua coleção de figurinhas de jogadores das seleções asiáticas de futebol que pode estuprar. Não é porque ela se deitou com você e ficou trocando carícias embaixo do edredom que pode estuprar. Não pode usar força, não pode insistir com ameaças, não pode se aproveitar que a pessoa dormiu, não pode chantagear. NÃO PODE ESTUPRAR!
Complementando. Não é porque você decidiu se divertir com seus amigos que pode estuprar. Não é porque você decidiu “dar mulheres” de presente de aniversário ao seu irmão que pode estuprar. Não é porque é solteira, casada, viúva, sozinha, lésbica, negra, nordestina, refugiada que pode estuprar. NÃO PODE ESTUPRAR!
Até que o inquérito vire processo e os estupradores sejam julgados e condenados na forma da lei estaremos lembrando do caso de Queimadas, dessas seis mulheres estupradas e de Isabela e Michele. Não vamos esquecer e nem deixar cair no esquecimento.
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Esse post faz parte da blogagem coletiva de repúdio ao caso de Queimadas, convocado pelas Blogueiras Feministas e pelo Luluzinha Camp. Para fazer parte, basta externar sua indignação e reportar para que seus posts sejam linkados nas páginas desses blogs.
17 fevereiro, 2012 at 3:38 PMfev
[…] Quando a dor do outro vira diversão, por Niara de Oliveira Quando o ser humano perde a capacidade (ou não tem) de se comover e compadecer da dor de seu semelhante não há muito mais o que fazer. Não há razão a ser chamada. Não há argumentação a ser feita. E aqui está o ponto chave desse horror. As mulheres serem consideradas objetos, coisas, que servem apenas para satisfazerem os desejos mais sórdidos e absurdos dos homens, que nos enxergam como seres de segunda categoria. […]
22 fevereiro, 2012 at 3:38 AMfev
[…] Quando a dor do outro vira diversão por Niara de Oliveira […]
22 fevereiro, 2012 at 3:38 PMfev
[…] Quando a dor do outro vira diversão por Niara de Oliveira […]
23 fevereiro, 2012 at 3:38 AMfev
Fica difícil comentar sobre algo que desperta em vc apenas impulsos virulentos, violentos…
Nesses casos não há justiça, seja qual for a pena. A justiça será feita no inferno, não o metafísico, mas o carcerário, onde estupradores são fervido em ódio…
24 fevereiro, 2012 at 3:38 AMfev
Odeio pensar sobre isso, Guilherme. Não tenho esses sentimentos de vingança, juro.
Não consigo desejar a barbárie, acho que isso não combina com o humano. A violência me incomoda, em todos os sentidos.
Quero justiça, mas para ser possível construir um mundo de paz.
24 fevereiro, 2012 at 3:38 AMfev
A violência é tão essencial no humano qto a razão. É a forma que cada um equaciona esses fatores que dita sua conduta (essa vai pro livro, fato).
Não entendo isso como vingança, ou justiça, muito menos tem a ver com pena de morte institucional. É apenas uma constatação da condição humana.
Essa “vingança” foi erguida sobre os mesmos fundamentos machistas que empoderaram esses estrupradores filhos da puta. E não tem nada a ver com fazer justiça pela violência contra mulher.
25 fevereiro, 2012 at 3:38 AMfev
Pensando…
2 março, 2012 at 3:38 PMmar
e CHAMAM essas pessoas de HUMANAS, de NORMAIS, de HOMENS.
7 setembro, 2012 at 3:38 PMset
Eh algo muito ruim,mas não julge todos os homens,por isso,estes ai não merecem ser chamados de homens,quem realmente e homem respeita a mulher acima de qualquer coisa,pois nem homens nem mulheres são superiores,somos todos iguais acima de tudo em questões intelectuais,pois afinal Deus criou a mulher da costela do homem,eu entendo isso como se Deus tivesse dizendo que a mulher e para ser protegida,cuidada,não desprezada,afinal ela e um igual uma companheira de batalha diaria,nem melhor nem pior,mas igual um complemento ao homem
8 setembro, 2013 at 3:38 AMset
Eu logo vi que você era feminista.