Meu momento MiMiMi ao final dos 5 dias de ativismo online pelo #FimDaViolenciaContraMulher
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Vida de ativista parece fácil, né? Afinal, como dizia a minha avó Carolina, quem corre por gosto não cansa. Na teoria. Na prática, cansa e muito.
Sou meio revoltada assim desde sempre. No jardim de infância da escola paroquial onde estudei até a 4ª série, já protestava contra a exclusão de duas colegas negras e mais pobres que os demais do grupo da merenda. Naquela época a escola não era obrigada a oferecer merenda e cada um levava a sua. Essas duas nunca levavam. E eu, para tentar incluí-las, levava merenda para três e dividia. Protestei também contra a obrigatoriedade de cantar o hino nacional em fila nas segundas-feiras e ainda beijei um coleguinha no rosto em pleno recreio. Isso em 1977, aos cinco anos de idade. Não é à toa que sempre me senti um E.T. neste mundo, meio fora de esquadro e compasso. Fato é que nunca consegui assistir calada uma injustiça e sempre fiz o que me “deu na telha”.
Me assumo comunista desde os 15 anos e feminista desde os 20. Desde que minha consciência de gênero aflorou – ou foi forjada na opressão e discriminação da militância no PT e no movimento estudantil – o mundo ganhou algumas cores e perdeu outras. Na utopia de sonhar com o impossível fui tentando fazer o possível para suportar o dia a dia. Mais ou menos como diz o Belchior naquela canção, “a minha alucinação é suportar o dia a dia e meu delírio é a experiência com coisas reais”.
Para quem não sabe, o meu filhote dinossauro (forma carinhosa como sempre me refiro a ele no tuíter) é um quase autista de 14 anos, portador da Síndrome de Lennox-Gastaut. Ele não articula a fala e é praticamente um bebezão no corpo de um adolescente. Eu o crio sozinha, com a ajuda da minha família – ajuda que muitas vezes me sai cara demais – e confesso estar muito cansada. Desde a gravidez já foram três crises de depressão profunda, cada uma mais longa que a anterior. Nunca alimentei sonhos com a maternidade e até eu me surpreendo comigo enquanto “mãe”. Minha jornada é tripla, às vezes quádrupla. Durmo em média quatro horas por dia, trabalho fora, cuido do Calvin e da casa e ainda tento arrumar tempo para blogar, tuitar – minha diversão e ativismo no momento. Não sobra tempo pra mim.
Hoje, enquanto participava da entrevista na Radiocom com a Cíntia Barenho – companheira muito querida nesta jornada dos 5 dias de ativismo online pelo fim da violência contra a mulher, que tive o prazer de conhecer pessoalmente –, e falávamos das diversas formas de violência de gênero, me dei conta que enquanto falava lutava contra o meu cansaço físico e dores pelo corpo para estar ali. Não eram nem 10h. Me senti violentada. Esse mundo capitalista e machista me violenta todos os dias na falta de estrutura e de condições básicas para a minha existência. Me sinto tão pouco cidadã que exercer meu ativismo soa quase ridículo. Fico apontando a falta de estrutura do Estado para combater e prevenir a violência contra as mulheres e ainda não consegui apontar a falta de estrutura do Estado com a chamada educação especial (eu definiria como educação diferenciada) porque me parece que legislar em causa própria é muito imediatista e egoísta. Mas o fato é que este Estado e este governo não garantem ao meu filho nem educação e nem saúde públicas de qualidade e com isso me violenta duplamente.
Cheguei em casa exausta hoje. Duas entrevistas, muito trabalho chato e o Calvin carente da minha presença com crises de ciúme do computador, sem me deixar continuar meu ativismo online pelo fim da violência contra as outras mulheres.
Ai, ai, Complexo de Cinderela batendo na porta mais uma vez… Vida de ativista é assim mesmo. Não é?
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