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Democracia à brasileira I

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Tropa de Choque cercou as ruas da região do Palácio dos Bandeirantes, centro de SP, e atacou professores com bombas de efeito moral e balas de borracha - sexta-feira, 26/03/2010

Parece absurdo. O Brasil superou – teoricamente – o periodo colonial, a monarquia, a escravidão, o entra e sai em períodos ditatoriais na recente república (basta verificar os períodos de ilegalidade do Partido Comunista) e o tema democracia ainda é tão controverso até mesmo em discussões entre os que dizem defendê-la. Talvez pela falta de vivência. Pelo menos é o que dizem os especialistas ao justificar a falta de interesse do povo por política e o abuso dos representantes eleitos para os parlamentos e executivos: “ainda estamos engatinhando na democracia”, repetem em suas análises. Mas se é algo tão novo, não deveríamos estar muito interessados, quase eufóricos, em termos finalmente democracia e o tão propalado estado democrático de direito?

Falta apenas esclarecer que democracia é essa, que direitos são esses e explicar o motivo de tamanha apatia e desânimo no seu exercício.

Se pegarmos como exemplo as manifestações públicas nos últimos anos no Rio Grande do Sul, Brasília e mais recentemente em São Paulo (só para citar alguns exemplos), a impressão é que ainda estamos em plena ditadura. O tal estado democrático de direito, que assegura na Constituição a liberdade de expressão, organização e manifestação, é cuspido e desrespeitado ‘democraticamente’ todos os dias, país afora. A desculpa é sempre a mesma: “são baderneiros que insistem em ameaçar a ordem pública”. (Oi?)

Não fosse a presença ostensiva da polícia, que vai até o local das manifestações provocar propositadamente os manifestantes, tenho certeza, nenhum tumulto aconteceria. A polícia diz que precisa estar presente nas manifestações para assegurar a ordem pública, mas na verdade vai para tentar intimidar e, se possível, impedí-las. Ou seja, quem descumpre as regras do estado democrático de direito é o próprio estado, representado pelo seu dirigente local e chefe do aparelho repressor.

Nas recentes manifestações em São Paulo, sejam elas quais forem – do protesto de moradores de regiões alagadas (municipal), à passeata dos professores em greve (estadual), ao passeio de ciclistas nus – wnbr 2010 (mundial) -, foi registrada a presença de policiais disfarçados e infiltrados – a famosa P2 -, e policiais fardados sem identificação, numa clara disposição à repressão, ao confronto e à intimidação.

Quadro montagem com fotos da época da ditadura (esquerda) e atuais (direita). Qual a diferença?

Ao olhar as fotos de manifestações de rua sendo reprimidas na ditadura e agora, além da sinistra sensação de estarmos perdidos no tempo-espaço, a única diferença é o tempo que as separa e a qualidade das imagens. Entre uma e outra, tivemos o período de repressão, a anistia, a lenta-segura-gradual transição do regime militar ao democrático, a volta dos partidos políticos, dos exilados e das eleições diretas, a promulgação da constituição – uma das mais avançadas do mundo (sic) em Direitos Humanos – e cinco eleições presidenciais.

E o que mudou? Podemos votar e eleger representantes que não estão nem aí para seus representados. Podemos eleger prefeitos, governadores e presidentes que não exitam em usar o aparelho repressor do Estado para defender os seus direitos contra o povo, quando esse decide se organizar para reivindicar os seus. Temos o direito de pagar impostos e de não vê-los retornar em benefícios públicos, como diz a lei. Temos direito a uma péssima assistência em saúde, mesmo sendo o maior sistema de saúde pública do mundo. Temos direito a uma educação sucateada, em escolas caindo aos pedaços e a mercê da violência e do tráfico de drogas, com professores desmotivados e humilhados, tanto nas escolas quanto em praça pública. E temos também direito à habitação digna (outro direito básico), mas nem vou comentar as condições porque descrever as favelas e periferias brasileiras é deprimente. Já basta olhá-las e, principalmente, vivê-las todos os dias.

Segundo os dicionários da Língua Portuguesa, democracia é um substantivo feminino, derivado do grego demokratía que significa governo do povo; 1. Governo em que o povo exerce a soberania, direta ou indiretamente; 2. Partido democrático; 3. O povo (em oposição a aristocracia).

Dito isso, falta “apenas” definir o que temos e vivemos no Brasil. Pois só nessa rápida e rasa análise, democracia já sabemos que não é.

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Nota: Esse é o primeiro texto de uma série sobre democracia. Volto ao assunto para tentar analisar o que temos e que democracia queremos ou mesmo se queremos democracia. Aceito sugestões e contribuições para os demais posts da série.
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Ajuste fiscal às custas da saúde dos trabalhadores

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Entenda como a governadora Yeda conseguiu o seu propalado “déficit zero” e como funciona o seu choque de gestão tucano nas contas da saúde pública do Rio Grande do Sul
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O Ministério da Saúde DEVERIA advertir: Yeda faz mal à saúde do Rio Grande do Sul

A Carta Capital desta semana traz uma matéria, “Remédios por juros“, do Leandro Fortes sobre mais um crime cometido contra a saúde pública neste país. Três dos estados mais ricos da federação – Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais, coincidentemente administrados pelo PSDB – usaram recursos do SUS para fazer ajuste fiscal, aplicando no mercado financeiro. Isso vem sendo feito ao longo dos últimos quatro anos pelos governos do RS, SP e MG e incluindo também o Distrito Federal, administrado pelo DEM em parceria com o PSDB.

O mais novo escândalo da saúde no país foi revelado através de uma fiscalização do Departamento Nacional de Auditorias do Sistema Único de Saúde (Denasus), órgão de terceiro escalão do Ministério da Saúde. O resultado das auditorias foi entregue ao ministro José Gomes Temporão (PMDB) no dia 10 de janeiro deste ano.

Os dados sobre o Rio Grande do Sul na matéria são escandalosos e revelam que os setores mais sucateados foram vigilância sanitária e vigilância epidemiológica. Ou seja, as epidemias de gripe A e a mais recente de dengue, que o RS ainda vai enfrentar as consequências, são resultado direto do tal choque de gestão tucano.

Mas é bom lembrar que o secretário de Saúde de Yeda, Osmar Terra, é do mesmo partido do ministro Temporão, o PMDB – principal partido da base de sustentação do governo Lula e principal aliado na candidatura da ministra Dilma Roussef (PT) à presidência.

Desculpem-me, mas não tenho esperança alguma de ver qualquer punição ou reprimenda aos estados que fraudaram as contas do SUS, principalmente aqui no RS. Ganhe Dilma Roussef ou José Serra, Tarso Genro ou José Fogaça, ficará tudo por isso mesmo em nome da macropolítica. Afinal, SUS, saúde pública, a saúde e a vida dos trabalhadores, tudo isso são meros detalhes no jogo político eleitoral, sempre maior e mais importante. Não é, não?

Falando em saúde, vou começar a estocar antiácido em casa. Só leite gelado não dará conta do meu estômago neste ano eleitoreiro.