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O racismo que existe em mim

Já contei para vocês que amo-amo-amo a Charô? Para quem não a conhece vou defini-la como alguém que desacomoda, perturba, me tira do eixo. Gosto dela não só pela ~função~ que exerce na minha vida, ela é gostável de graça. Procurem-na. A Charô faz bem.

Hoje ela apareceu no feed de uma das redes sociais que compartilhamos com este pensamento

charô 4set

…que trouxe à tona em mim duas lembranças. A primeira um desconforto imenso ao estar cercada por mais negros que brancos numa festa e a segunda da infância, do Jardim de Infância — minha primeira experiência de sociabilização fora da família, aos 5 anos de idade.

O papel da publicidade e da tevê na construção da cidadania e do imaginário como cidadão são cruciais. Tu vais assistindo peças e novelas que te levam a crer que família de comercial de margarina só pode ser branca, classe média e hétero. Logo, todo o resto é estranho. Novelas — mesmo as que retratam favelas e subúrbios — com elenco quase 100% branco nos levam a crer que esse é o país que temos. Não que sejamos idiotas e acreditemos em tudo que assistimos, falo da construção do imaginário, do subconsciente. A crítica fica aqui, no campo da consciência. O meu imaginário também foi formatado assim.

Primeira lembrança. Um dia, durante a campanha para a prefeitura de Pelotas em 1992 — eu era do PT — uma das escolas de samba da cidade abriu a quadra para a nossa candidata a prefeita e fez uma pequena festa. Fui eu e uma amiga. Na entrada da rua da escola, tínhamos que caminhar umas oito quadras mal iluminadas para chegar, nos abraçamos e “de brincadeira” nos despedimos da “civilização” e seguimos, “corajosas”. Duas brancas, quase frescas, no meio de uma favela (plana, em Pelotas não existe morro) à noite. Olha a construção do imaginário, aí… Chegamos na festa. Bem. Não fomos interpeladas, não ouvimos piadinhas e não estivemos sequer perto de qualquer situação de perigo. Era só o imaginário. o.O

Na festa eu era a única pessoa da minha cor, branco fosforescente. Pensa que eu era ‘atração’? Óbvio que não. Fui super bem tratada. Mas, tinha um incômodo. Ele era só meu. E passei o tempo todo me auto-flagelando e tentando entender o porque de tanto estranhamento e desconforto. Afinal, sempre convivi com negros. Talvez o meu incômodo não fosse pela presença negra, mas pela maioria negra. Sim, sempre convivi com negros, mas sempre em minoria. E aí, não há outro nome para o desconforto a não ser racismo.

Segunda lembrança. Antes, deixa eu contextualizar. Sou filha e neta de proletários. Pai mecânico, filho de um descendente direto de portugueses da Ilha da Madeira e de uma italiana que nunca conheci. Mãe dona de casa, multifuncional, filha de um português e de uma mezo polonesa mezo alemã. Esse pai português da minha mãe era capitão de corveta da Marinha, mas deixou minha avó viúva aos 22 anos. Ela se juntou então com um ferroviário, negro, em 1947. Foi ele que conheci como avô. E embora minha família negasse sua negritude (não faço ideia de como eram capazes disso… ele tinha a pele muito escura e o nariz mais largo que já vi ao vivo na vida — imaginário? eu tinha 6 anos quando ele morreu), diziam que ele era “bugre” — coisas do Rio Grande do Sul…

Devidamente apresentada, minha primeira experiência de sociabilização foi numa escola mantida pelo padre da paróquia, para os filhos dos trabalhadores da comunidade ficarem mais debaixo da asa e dos olhos dos pais. De uma turma de 20, apenas três colegas eram negras. Uma em situação social idêntica a minha. As outras duas era mais pobres, filhas de mãe solteira, netas de uma senhora de “reputação não muito boa”, diziam, e a minha avó as chamava de sarará, o cabelo delas era amarelo. Eu olhava para todos com curiosidade, meninos e meninas. Só tinha um irmão mais velho em casa, a quem idolatrava nessa época. Estranho para mim eram as meninas e eu as observava mais. Aí, que um dia percebi que as duas meninas mais pobres não sentavam com todos na hora da merenda — todos levavam seu lanche de casa. Observei um pouco mais e me dei conta que não se juntavam ao grupo — achei eu — porque não tinha merenda. Eram orientadas em casa a não constranger os demais, não pedir. Ficavam apartadas, com fome, sem nem olhar para o que comíamos. Passei a levar merenda para mim e para elas, dispostas a incluí-las. Não funcionou. Eu acabei me apartando do grupo maior para lanchar com elas.

Um dia, indignada, subi no banco do pátio da escola e fiz discurso pela inclusão das duas gurias. Não funcionou. Elas não se exluíam e auto-excluíam só por serem negras, mas também por serem pobres. No caso, mais pobres que os demais. Segui levando lanche para elas (eu fazia sanduíches de bolacha cream cracker com patê, um pacote inteiro todos os dias — sim, aos 5 anos eu mesma preparava meu lanche), até minha mãe, intrigada de como eu conseguia comer tanto, ir até a escola investigar. A avó das meninas achou linda minha atitude, mas se ofendeu quando minha mãe ofereceu dar os pacotes de bolacha e patê diretamente a ela, para as gurias levarem seu próprio lanche para a escola. Aí, brigaram e tal e coisa, e as gurias foram instruídas a sequer falar comigo e eu idem.

Já me perguntei se não fosse o fato delas não terem merenda se perceberia o apartamento delas e o racismo embutido ali, já que no grande grupo tinha uma negra e era uma das líderes do frege. Também não sei dizer se me indignei mais pelo persistente apartamento delas — já que isso deixou de me incomodar depois — ou pelo fato da minha tentativa de inclusão ter fracassado. Não sei responder.

Nunca me achei imune ao racismo pela minha trajetória e vivências. Cresci entendendo que raça e condição social apartam, criam cisões. NÃO, PERA… O que aparta não é a raça ou a classe, mas o preconceito e sua construção no nosso imaginário. E esse nos acompanha por toda a vida, está impregnado em tudo, em cada ação, atitude, interação. Eu mesma escorreguei hoje, e nessa postagem da Charô que cito lá em cima, fiz um comentário torto, racista. Estava querendo dizer uma coisa, mas disse de uma forma que revelou o racismo que existe em mim. Ao dizer que meu imaginário foi formatado para pensar e agir assim não estou me desculpando, apenas tentando entender de onde vem para melhor combatê-lo. Luta infinda essa. :/

O que me fez perceber que tinha feito um comentário racista? O reli a partir do silêncio da Charô diante dele. Ela não precisou nem bater… Entendem porque a amo tanto? As pessoas que nos fazem sentir bem, confortáveis são necessárias, mas as que nos desacomodam são imprescindíveis, e nos tornam pessoas melhores.


NOTA DE REPÚDIO AO TROTE RACISTA E SEXISTA NA FACULDADE DE DIREITO DA UFMG

A Humanidade, se fosse uma pessoa, envergonhar-se-ia de muita coisa de seu passado; passado este que contém muitos episódios verdadeiramente abjetos. Enquanto humanos, faríamos minucioso inventário moral de nós mesmos; enquanto partícipes do que convencionamos chamar ‘Humanidade’, relacionaríamos todos os grupos ou pessoas que por nossas ações e omissões prejudicamos e nos disporíamos a reparar os danos a eles causados.

Vigiaríamos a nós mesmos, o tempo todo, para que individualmente e enquanto grupo,  não repetíssemos nossos vergonhosos e documentados erros. Pais conscienciosos, ensinaríamos as novas gerações os novos e relevantes valores morais que tem de pautar nossas condutas, palavras e intenções.

Dois desses episódios, chagas profundas e fétidas de nosso passado humano,  são a escravidão e o nazismo. No primeiro, tratamos outros seres humanos como inferiores;  os açoitamos; os forçamos ao trabalho; os ridicularizamos (dizendo que eles eram feios, sujos, burros, seres humanos mal acabados e não evoluídos);  procuramos destruir seus laços com a terra amada, sua cultura, sua língua; dissemos que eles não tinham alma enfim. No segundo não era diferente; mesmas ações, alvos expandidos: pessoas negras, judeus, homossexuais. Todos tratados com o mesmo desrespeito.

O tempo passou e como as chagas permanessem, fizemos um meio-trabalho: criamos leis. Leis como a 7.716/89, que qualifica o crime de racismo e depois a Lei  9.459/97 (que inclui o parágrafo 1 no artigo 20 da já referida Lei 7.716/89, mencionando a fabricação e uso de símbolos nazistas). Infelizmente, nem mesmo a força da lei tem sido suficiente.

O  que vemos é, em toda parte, ressurgirem graves violações dos Direitos Humanos outrora perpetradoss. O que seria motivo de vergonha vem ganhando  espaços públicos, por meio de recursos custeados pelo Estado; um Estado que se auto declara ‘Democrático de Direito’; um Estado que tem como fundamento a DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (inciso III do artigo 1 da Constituição de 1988).

Sim, foi isso mesmo o que você leu: na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), alunos do curso de Direito (sim, um curso cujo objetivo é formar profissionais que serão essenciais à Justiça e à defesa desse propalado Estado Democrático de Direito) fizeram um trote onde, sob a desculpa de fazer piada usaram saudações nazistas e representações racistas e sexistas.

A notícia, amplamente divulgada na mídia, vocês PODEM LER AQUI.

Mas não é só: infelizmente nesses últimos meses, tomamos contato com episódios igualmente repulsivos ocorridos em universidades: na Politécnica (Faculdade da Universidade de São Paulo, também mantida com recursos públicos), vimos alunos divulgarem uma gincana, onde uma das ‘provas’ era algo cometer assédio sexual. Aqui outra notícia do mesmo fato.

E isso logo após alunos de uma outra Universidade (também da USP, na cidade de São Carlos), agredirem manifestantes que criticavam um trote que vilipendiava a imagem feminina.

Todas essas condutas, perpetradas por alunos que deveriam estar recebendo instruções aptas a torná-los profissionais e cidadãos mais éticos (afinal, é para isso que todos os cursos contém em suas grades a matéria denominada ‘Ética’), mostram que beiramos a um perigoso retrocesso no quesito ‘Direitos Humanos’.

Sendo os Direitos Humanos imprescritíveis, inalienáveis, irrenunciáveis, invioláveis e universais, efetivos e interdependentes, não pode haver NENHUMA tolerância a qualquer ato ou gesto que os ameaçem.

E é por isso e também por tais atos (perpetrados nas três universidades citadas) constituirem verdadeiro incentivo à propagação de discursos preconceituosos e de ódio, é que os coletivos assinam a presente nota de repúdio, esperando que autoridades constituídas tomem as providências cabíveis para apenar exemplarmente os responsáveis. Leis para isso já existem; mas para que os direitos ganhem efetividade é preciso sua aplicação.

Esperamos também que as pessoas que lerem a presente também façam um reflexão sobre o rumo que nossa Sociedade está tomando. Não queremos o retrocesso. E se você compartilha conosco desse sentimento, dessa vontade de colaborar com a construção de uma Sociedade melhor, não se cale.

Nós somos negros; nós somos mulheres;  nós somos gays; nós somos lésbicas; nós somos transsexuais; somos nordestinos; adeptos de religiões minoritárias. Somos as minorias que diuturnamente temos de conviver com o menoscabo de nossas imagens; com atos que naturalizam a violência;  que criam verdadeira cisão entre Humanos; que reabrem as chagas e as fazem sangrar. E nós não vamos nos calar. O estandarte, escudo e espada emprestaremos da Themis, a deusa da justiça; usaremos a lei e  exigiremos o seu cumprimento.

Aos estudantes de Direito que fizeram uma tal ‘brincadeira’repulsiva, lembramos:

‘Ubi non est justitia, ibi non potest esse jus’  –
Onde não existe justiça não pode haver direito.

trote não

Assinam o presente,


Onde estavam as mulheres negras na ditadura militar?

Este texto faz parte da Blogagem Coletiva Mulheres Negras 2012.

Vou começar falando da dificuldade em escrever sobre mulheres negras e ditadura — na perspectiva que sempre abordo a ditadura, de luta e resistência pela esquerda. Não existem referências que falem especificamente sobre esse tema. E acho que relatar a dificuldade na pesquisa além de ser mais honesto pode dar uma vaga ideia do quão complicado é tratar do tema.

Fato é que não há referências anteriores à década de 70 sobre a luta dos negros e negras na resistência à ditadura militar e poucos são os registros de militantes negros nas organizações clandestinas e/ou da luta armada. Se não há referências do movimento negro imaginem da luta das mulheres negras… É, pois é. O ponto mais delicado, o setor mais oprimido da luta na esquerda (não vou usar o termo “mais baixo na escala da opressão porque não curto a expressão) se lutou contra a ditadura ou não deixou registros ou ninguém pesquisou ainda. Entendem porquê é tão importante a abertura dos arquivos secretos da ditadura civil-militar? Além de fazer criar corpo a necessidade de punição às violações de direitos humanos cometidas pelo Estado é importante para contar esse período da história que continua envolto numa névoa densa.

No calendário Afro está lá a referência ao dia 10 de novembro como “O governo Médici proíbe em toda a imprensa notícias sobre índios, esquadrão da morte, guerrilha, movimento negro e discriminação racial / 1969” e encontrei ainda esse texto com a referência do calendário e uma rápida contextualização do período sem citar fontes ou de fato explicá-la. Pesquisei os Atos Institucionais e pedi ajuda a um grande parceiro do Movimento #DesarquivandoBR, o Pádua Fernandes, perguntando se essa proibição saiu em algum AI. Mas não consta essa proibição, assim textual, em nenhum dos dezessete AIs. Doze deles são de 1969, mas nenhum foi publicado em 10 de novembro, sendo o último de 14 de outubro. Me contestem, por favor, se eu estiver errada.

Pesquiso e leio muito sobre a ditadura militar e sempre me incomodou a ausência dos negros e negras na resistência. E o incômodo não está em “ó, os negros não se aliaram a resistência”, mas por saber que a esquerda reproduz os preconceitos estruturais da sociedade e é tão machista, racista e homofóbica quanto qualquer reacionário. Pior do que isso, por ser esquerda acham que estão a salvo da reprodução desses preconceitos.

Feito o registro da dificuldade na pesquisa, vamos ao que encontrei. O Movimento Negro Unificado começou a se estruturar na década de 70 (provavelmente 1978), na negação da democracia racial vendida pela ditadura brasileira. Diz Nelma Monteiro, em texto de 21/08/2012:

“Os Movimentos Negros das décadas de 1970 e 1980, ao colocarem em suas agendas as denúncias de racismo institucional, de racismo à moda brasileira e da farsa da democracia racial, demarcaram um campo de força política imprescindível na conquista por direitos civis, políticos e materiais. Apesar do período de repressão militar, surgiu em São Paulo o movimento Negro Unificado (MNU) contra o Racismo – uma reação à ideologia dos militares que apregoavam e sustentavam a existência da democracia racial no Brasil.

No final da década de 1980, foi inequívoco o avanço dos Movimentos Negros em seu projeto político de denúncia do racismo institucional. É preciso lembrar a inegável contribuição desses segmentos que, com suas diferentes correntes e tendências, vêm contribuindo na construção de políticas afirmativas de valorização da população negra.”

É da década de 70 a origem do movimento Soul no Brasil, que tem como principal objetivo a valorização da cultura negra, a resistência cultural.

Recapitulando, então. Se o MNU surge ainda durante a ditadura e é dessa época um movimento de valorização da cultura negra (afora a cultura do samba já fazer o mesmo há mais tempo) para contestar a falácia da democracia racial dos governos militares, e já começa a se observar nas favelas cariocas (e baixada fluminense) e paulistas o extermínio sistemático de pretos e pobres “classificados” como marginais e bandidos, não é difícil concluir que mesmo que o tal AI com a determinação de que a imprensa não citasse “índios, esquadrão da morte, guerrilha, movimento negro e discriminação racial” não tenha existido oficialmente, ele existiu de fato.

Aliás, a grande imprensa precisava/precisa de um decreto para ignorar pobres, índios, negros e movimentos de insurreição (a não ser para caracterizar “vandalismo”) da ordem?

Um dos filmes, que salvo algumas alterações de fatos e datas, retrata as décadas de 60, 70 e 80 no Rio de Janeiro é Cidade de Deus de Fernando Meirelles. O filme que conta a formação da Cidade de Deus no início da década de 60 (e coincide com a ditadura) e os próximos vinte anos no local, dá uma ideia de como os negros eram tratados pelo Estado brasileiro e a pouca ou nenhuma atenção dada à violência específica de gênero. Sim, o elo mais fraco nessa corrente é a mulher negra e a falta de estrutura atual do Estado na atenção a sua discriminação específica denuncia que esse é um problema anterior à ditadura. Pode ter sido agravado, afinal a tortura praticada pelo Estado e seus órgãos de repressão que antes matava e desaparecia comunistas e “subversivos” hoje mata e desaparece negros e pobres. A abertura da Vala de Perus e o livro Rota 66 de Caco Barcellos apontaram isso. Os crimes sexuais cometidos na rabeira dessa onda maior de violência social e racial, tortura e constrangimentos nunca entraram nas estatísticas (relatos do movimento de mulheres do Rio de Janeiro que ouvi há poucos dias durante audiência da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Violência Contra a Mulher dão conta desses mesmos crimes nas favelas “pacificadas” pelo Estado).

A ausência de dados na minha pesquisa revela ainda algo mais grave. Como definir o desinteresse de pesquisar sobre mulheres negras no Brasil no período de 1964 a 1885? Para não dizer que não há pesquisa nessa área,  encontrei UMA pesquisa, de Karin Sant’ Anna Kössling na USP em 2007 sobre As Lutas Anti-Racistas de Afro-descendentes sob Vigilância doi DEOSP/SP.

Por fim, deixo um trecho da obra Fala Crioulo, de Haroldo Costa, onde o autor alertava: “cada vez que há um endurecimento, um fechamento político, o negro é atingido diretamente porque todas as suas reivindicações particulares, a exposição de suas ânsias, a valorização de sua história, desde que não sejam feitas segundo os ditames oficiais, cheiram à contestação subversiva”. 

Onde estavam as mulheres negras da ditadura militar? No mesmo lugar de hoje, renegadas à história e sem acesso aos avanços da ciência e da “modernidade”, relegadas a segundo plano inclusive dentro da esquerda e do movimento feminista, mas resistindo.


Se liga na Blogagem Coletiva Mulher Negra 2012!

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Começando devagarito a fazer a faxina aqui e a tirar as teias de aranha para participar da Blogagem Coletiva Mulher Negra 2012. Sim, eu adoro blogagens coletivas. Acho que é uma das funções principais de ativistas comunistas-esquerdistas-feministas-antirracistas nas redes sociais. Afinal o nome já diz: rede social, e acho bacana quando conseguimos fugir da ordem individualista do mundo “moderno” e da lógica especifista e egoísta de nossos bloguinhos pessoais. Não estou desmerecendo não, apenas pontuando.

A blogagem coletiva propriamente dita ocorre entre os dias 20 (Dia da Consciência Negra) e 25 (Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher) de novembro, mas começamos a aquecer os motores a partir de amanhã e quem começa sou euzinha aqui no Pimenta com Limão falando sobre mulheres negras e ditadura militar, relacionando essa blogagem com o movimento #desarquivandoBR.

Gostou da ideia? Veja como participar abaixo ou clique AQUI.

Ah… Essa proposta supimpa foi da linda da Charô Lastra.

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Blogagem Coletiva Mulher Negra 2012

Blogagem Coletiva Mulher Negra tem como objetivo aproximar duas datas significativas para o debate feminista a partir de uma perspectiva étnico-racial: o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) e o Dia Internacional de Combate À Violência Contra a Mulher (25 de novembro).

A primeira data foi criada na década de 1970 com o objetivo discutir a inserção do negro na sociedade brasileira. Relembra o assassinato do líder Zumbi dos Palmares em 1695 e procura ser uma alternativa à celebração do dia 13 de maio quando se deu a falência definitiva do regime escravocrata sem a construção efetiva da cidadania para a população negra.

Já o dia 25 de novembro de fala sobre o assassinato de três irmãs na República Dominicana. Patria, Minerva e Antonia Mirabal eram integrantes do Las Mariposas, grupo de oposição ao ditador Rafael Trujillo. Alguns anos mais tarde, o 1º Encontro Feminista Latino Americano Caribenho escolheria a data para discutir e combater a violência contra a mulher.

Aproxinar duas datas tão significativas é uma oportunidade ímpar para falar de uma personagem central em ambas as discussões: a mulher negra. Sobre ela recai um véu duplo de preconceito formado por uma combinação potencialmente letal de sexismo e racismo, seja ele velado ou explícito. E justamente por isso, mesmo em meios propícios ao debate, muitas vezes a agenda feminista afrocentrada é deixada em segundo plano. Nossa vontade é dar visibilidade a essa questão nevrálgica.

TEMAS

Blogagem Coletiva Mulher Negra 2012 discutirá temas como representatividade, consumo, direitos humanos, trabalho, sexualidade e beleza.

Mas será dada especial atenção à discussão dos Direitos Humanos através da representação da mulher negra num momento em que temos a ampliação da participação de atores afrodescendentes – em novelas (com Lado a Lado e a reexibição de A cor do pecado) e minisérries (Suburbia) – ainda que estejamos aquém de um panorama de igualdade.

Também pretendemos contribuir para a percepção do racismo e sexismo difundidos por meio da publicação de um texto sobre a questionável Dona Adelaide interpretada pelo ator Rodrigo Sant’Anna em comemoração  a Uma Semana da Consciência Negra Sem Racismoque se inicia no dia 17 de novembro.

PARTICIPE

Para fazer parte da Blogagem Coletiva Mulher Negra 2012 basta publicar seu post entre os dias 20 e 25 de novembro falando sobre representatividade, beleza, consumo, sexualidade, trabalho e/ou direitos humanos. Não se esqueça de enviar um email nos informando até o dia 18 informando sua colaboração (acharolastra ARROBA live.com).

BLOGUES CONVIDADOS

Blogueiras Feministas
Ativismo de Sofá
Mulher Dialética
Bidê Brasil
Luluzinhacamp
Biscate Social Club
Pimenta com Limão
Cidinha da Silva

PERSONAGEM

A personagem que ilustra a Blogagem Coletiva Mulher Negra 2012 é Bell Hooks, autora deAlisando nossos cabelos.

CANAIS

wordpress – http://blogagemcoletivamulhernegra.wordpress.com/
facebook – http://www.facebook.com/blogagemcoletivamulhernegra
twitter – http://twitter.com/bcmulhernegra

DOCUMENTOS

Brasil, Retratos da Desigualdade – Gênero e Raça. Unifem, Ipea. 2003.
Dados sobre as desigualdades raciais. Campanha Diálogos contra o Racismo.
Desigualdade étnico-racial. Ipea.
Sexo e renda. Censo 2012.
Mulher Negra. Institutos Búzios. 2003.
Estudo do Censo aponta desigualdade em trabanhos iguais. Globo.com. 2010.
Boletim Seade sobre Trabalho Doméstico
Alisando nossos cabelos. Hooks, Bell.

CALENDÁRIO

Esquenta

Dia 10 de novembro: Abertura ao público dos canais wordpress, facebook e twitter com convocação aos blogues participantes.
Dia 16 de novembro: Niara (Pimenta com Limão) fala sobre a censura do Governo Médici a notícias sobre o movimento negro e a discriminação racial (1969).
Dia 17 de novembro: Jarid Arraes (Mulher Dialética) fala sobre Dona Adelaide e Uma Semana da Consciência Negra Sem Racismo.
Dia 19 de novembro: Prazo para a inscrição de blogues individuais (envie seu email para acharolastraARROBAlive.com ou linque essa página)

Blogagem Coletiva Mulher Negra

Dia 20 de novembro: Blogueiras Feministas e Cidinha da Silva
Dia 21 de novembro: Ativismo de Sofá
Dia 22 de novembro: Luluzinhacamp
Dia 23 de novembro: Biscate SC
Dia 24 de novembro: Cidinha da Silva
Dia 25 de novembro: Bidê Brasil


Bolsonaro, Noblat, crime e liberdade de expressão

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Desde a semana passada que o país inteiro só comenta as declarações racistas de Jair Bolsonsaro no programa de humor (duvidoso) CQC da Band, ao responder uma pergunta da Preta Gil. Entre as pessoas que tenho contato virtual repercutiu mal, assim como repercutiu mal para o programa, para a emissora e para o Marcelo Tas de darem espaço a um ultrarreacionário por ser um polemisador e elevar a audiência. Mas com quem converso na rua, trabalho, ônibus – leia-se senso comum – não repercutiu tão mal assim. Essa é a parte assustadora da história. Fato é que Bolsonaro já está no sexto mandato consecutivo como deputado federal pelo Rio de Janeiro e na última eleição obteve em torno de 120 mil votos. Para quem não conhece o “nobre” (sic) deputado, basta olhar o naipe das polêmicas em que se envolve.
Mas Bolsonaro destilar seu preconceito, ódio, homofobia e racismo na tevê ou onde quer que seja não é novidade mais. Os ineditismos nesse episódio são: 1) talvez ele tenha que responder judicialmente pelo que disse já que Preta Gil decidiu processá-lo; 2) 20 parlamentares protocolaram ação na Câmara contra ele e; (3) o jornalista e blogueiro Ricardo Noblat saiu em defesa de Bolsonaro num artigo intitulado “O fascismo do bem” empunhando a bandeira da liberdade de expressão. É esse terceiro que quero comentar.
Desde quando incitar preconceito e crime é liberdade de expressão? O “nobre” (sic) jornalista deve ter ou perdido o pouco de noção e vergonha na cara que lhe restavam ou está de sacanagem mesmo. E como ele citou um fato ocorrido em Pelotas e que envolve nossa fama de cidade gay, não consegui não me manifestar.

Ricardo Noblat

No afã de defender Bolsonaro – sabe-se lá porquê –, Noblat comete dois equívocos. O primeiro de que os petistas teriam se calado diante da piada homofóbica de Lula sobre Pelotas. O tal comentário repercutiu muito mal na campanha e mesmo assim foram criticados abertamente e embora os adversários do então candidato à prefeito Fernando Marroni tivessem (não tenho dúvidas sobre isso) a mesma opinião de Lula sobre os gays e a nossa fama nacional, usaram incansavelmente o vídeo na disputa eleitoral local. Pelotas é uma cidade tão ou mais preconceituosa do que qualquer outra. Tanto que o Movimento LGBT daqui tem dificuldade em conseguir apoio da Secretaria Municipal de Saúde na distribuição de preservativos na nossa Parada Gay ou “Avenida da Diversidade”. Nem Marroni e nem Lula podem ser defendidos nesse episódio relembrado pelo blogueiro oficial d’O Globo. Eles foram homofóbicos, sim. Um ativamente e outro se omitindo. Se os petistas homofóbicos (eles existem) se calaram, os ativistas LGBT cumpriram seu papel. O único ponto em que Noblat acerta é sobre a patrulha petista que usa mesmo dois pesos e duas medidas quando o assunto é o “santo” Lula.
O segundo equívoco de Noblat é quanto ao direito à opinião. Essa liberdade só é possível na democracia se 1) não se cometa crime ao exercê-la e 2) respeite-se a liberdade de opinião do outro. Bolsonaro ofendeu, incitou o crime de racismo e incitou a violência contra homossexuais. Isso no exato momento em que uma pesquisa revela que em 2010 os assassinatos de homossexuais cresceram mais de 30% no Brasil. Claro que Bolsonaro tem o direito à opinião e livre expressão – todos temos – , mas ao cometer um crime no uso dessa liberdade terá que responder judicialmente.
Noblat ainda cita outro comentário de Lula quando o então presidente declarou serem os “louros de olhos azuis” responsáveis pela crise econômica mundial e cita como preconceito. Alguém precisa lembrar ao jonalista/blogueiro que a opressão se caracteriza quando uma classe, gênero, raça, povo, grupo está em clara situação de desvantagem, exploração. Falar em racismo contra brancos de olhos azuis é o mesmo que falar de violência doméstica cometida por mulheres contra homens ou do ataque de homossexuais contra héteros (“heterofobia”?). Deve existir, mas é tão raro que não há como configurar como um problema social.
Durante a ditadura militar eu entenderia um jornalista defender Bolsonaro. Mas em plena “democracia” onde a imprensa goza de ampla liberdade de dizer o que bem entende sobre qualquer pessoa, a posição de Noblat só pode ser classificada de mau-caratismo. Afinal, quando colegas seus foram são demitidos por usarem o tuíter para manifestar suas opiniões – sem ofender ninguém ou incitar crime algum – ele ficou em silêncio e tampouco lembrou ou invocou o direito à liberdade de expressão.
Está explicado porquê Bolsonaro está no sexto mandato e tem 120 mil votos, né?
Noblat não tem moral alguma para criticar os petistas que se calam diante da homofobia de Lula e jogam pedras na homofobia de Bolsonaro. Ele mesmo está agora usando dois pesos e duas medidas. Um comentário distorcido de Dilma Rousseff sobre aborto durante a campanha de 2010 bastou para que ele e a grande imprensa a crucificassem no intuito de prejudicá-la eleitoralmente. A Bolsonaro ‘se dá’ o direito de liberdade de expressão para ser racista e homofóbico. Nojo de tudo isso, viu?

Deveríamos ver na tevê diariamente o seguinte recado: “O Ministério da Saúde adverte: Ler o Blog do Noblat causa problemas estomacais gravíssimos e náuseas”. Quando me perguntarem: “não leste no Blog do Noblat?”, responderei: “não uso drogas pesadas!”
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HP lança computador racista

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Denise Arcoverde
Blog Síndrome de Estocolmo
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Muita gente já deve ter visto isso, mas como é impressionante, resolvi postar também. A HP lançou um computador com uma webcam que reconhece rostos e os segue. Mas, esqueceram de criar detectores para rostos negros. E ainda acham que os afro-americanos fazem muito barulho por nada.
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A imagem de Michelle Obama no Google

Michelle Obama, no Google

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Ao digitar o nome da primeira-dama dos EUA, “Michelle Obama” no site de buscas Google Imagens, aparece uma foto montagem onde seu rosto é substituído pelo de um macaco.

O Google pediu desculpas pela imagem racialmente ofensiva, que  é a primeira da lista oferecida como resultado à busca pelo nome de Michelle Obama no site de buscas.

O site colocou o aviso “Resultados de Busca Ofensivos” – logo acima do destaque da foto montagem – sobre a imagem dizendo que “algumas vezes nossos resultados são ofensivos”.  Mas o Google se recusou a retirar a imagem dos resultados de busca, dizendo que não remove conteúdo simplesmente porque recebe reclamações. “O Google vê a integridade dos nossos resultados de busca como uma prioridade extremamente importante”, disse o site. A Casa Branca não comentou o incidente.

No site BBC Brasil está aberto um fórum de discussão sobre o assunto.