Arquivo da tag: pt

Ainda somos muito ingênuos

Lula é uma raposa, sempre foi. Dentro da política sindical e do PT sabia como ninguém jogar com as palavras e peças no tabuleiro diante dessa ou outra situação para conseguir o que queria. Não à toa chegou onde chegou. Não há julgamento de valor aqui, apenas uma constatação.

Lula em Pernambuco nod 13 de junho dizendo que a vitória nas eleições será a vingança do PT contra a elite brasileira) (foto: Líbia Florentino/LeiaJáImagens)

Lula em Pernambuco no dia 13 de junho dizendo que a vitória nas eleições será a vingança do PT contra a elite brasileira pelos xingamentos à Dilma (foto: Líbia Florentino/LeiaJáImagens)

Diante das vaias e xingamentos do Itaquerão para Dilma na abertura da Copa, ele resolveu tirar o melhor proveito possível da situação e reverter isso eleitoralmente para Dilma. A declaração de Lula culpando a “elite branca” pela “ofensa” e constrangimento sofridos por Dilma na última quinta-feira, não foi um desabafo ou dita sem pensar. Ao contrário. Foi pesada, medida milimetricamente. Ao transformar Dilma em alvo da classe média branca privilegiada, Lula coloca todos que combatem a elite e a burguesia indiretamente, mesmo que provisoriamente, ao lado de Dilma.

É certo que muitos dos que estão indignados com declarações de orgulho de pequenos e médios empresários por sua raça, classe e condição (aka privilégios) não farão campanha ou votarão em Dilma. Mas esses (a “esquerdalha”) não interessam mesmo a Lula. Ao final desse processo eles colocarão no colo da campanha de Dilma várias pessoas perdidas e confusas com essa guinada à direita do PT e que não sabem o que farão nessa eleição, mas que engrossaram muito o caldo das críticas ao governo nos últimos dois anos. Esses sim, os confusos e perdidos, são o alvo de Lula.

Não esqueçam das mais recentes vinhetas do PT na tevê apostando no medo de uma possível (até aqui remota e improvável) volta do PSDB. Estrategicamente falando, o alvo eleito pelo PT nesse período ~ainda~ pré-elitoral é esse espectro de pessoas que foi se desgarrando do PT durante o governo Dilma.

Não sei vocês, mas eu não me deixarei usar para que o PT recupere o apoio que perdeu por se aliar e servir a quem não devia. O ódio de classe destilado pela classe-média-sofre nas redes e agora insuflado por Lula não precisa de mais lenha na fogueira. Até porque, o PT no governo não fez outra coisa a não ser mediar a luta de classes, com “ligeira” vantagem ao lado mais forte e privilegiado.

Analisando tudo com alguma distância é fácil concluir: ainda somos muito ingênuos politicamente e facilmente manipuláveis.


#ReginaDuarteFeelings e sua influência nas nossas escolhas de um projeto político

ReginaDuarte_MedoQuem não lembra do discurso “eu tenho medo” da Regina Duarte na campanha de 2002 para presidente? Isso ficou mais marcado do que o ano em que foi feito o discurso. O vídeo (linkado) diz que foi em 2006, só que em 2006 o candidato do PSDB era Alckmin. Mas o ponto não é esse, e sim a sua influência no modos operandi do fazer política de lá para cá.

A entrada das redes sociais na campanha política trouxe junto a lógica da política do medo, ou o que chamo de #ReginaDuarteFeelings. O argumento nunca é favorável, mas o inverso dele que te faz ficar favorável. É o velho e ruim “voto (in)útil” chamado agora de ‘mal menor’, do candidato ‘menos pior’. Acostumamos-nos a ele de tal forma que nem ousamos mais pensar no melhor, num projeto para chamar de nosso, para defender.

PSOL e PSTU e demais esquerdistas são classificados pelos governistas como “a esquerda que a direita gosta“, e de colaborar diretamente para o “avanço” dos tucanos sobre o eleitorado. Oi? Que avanço dos tucanos? Primeiro é preciso esclarecer que não criticar o governo não o salva de se atirar nos braços da direita e de ‘desenvolver’ sua política capitalista genocida e nem de se aproximar “ideologicamente” do PSDB. Segundo, não é assim que se estabelecem diferenças, mas com política real, no caso de governos com políticas públicas e econômica. E nesses quesitos, o governo do PT é campeão em mentiras, em fingir ser o que não é e em colocar no outro a culpa da política que faz.

Vamos colocar alguns pingos nos is, então. Tudo nesse governo é capitalista. Não há nenhuma política de esquerda em que possamos usar aquele atenuante “ah, o governo tem problemas, mas tirou 30 milhões de pessoas da miséria…“. Sério? Mesmo? Quando um governo gerencia um Estado privilegiando sempre os mais ricos, até mesmo na “política” de Direitos Humanos, ele produz miséria ao invés de combatê-la. Ao produzir miséria e miseráveis e usar o braço armado desse Estado contra qualquer oprimido que tente se rebelar/protestar, ter uma única política que tira pessoas da miséria e depois as joga na selva do capitalismo (onde só se prospera pelos “próprios méritos”, como se não houvesse aí exploração do trabalho de outrem/ns), não é tirar pessoas da miséria, mas uma política social-democrata de redução de danos que no final das contas atrela essas pessoas ao voto de gratidão nesse governo. Isso é a velha política clientelista dos coronéis de outrora maquiada de “política social de distribuição de renda”. Tanto assim que os índices de desigualdade social permanecem os mesmos. Enquanto pessoas saem da miséria com esmola do governo os ricos ficam mais ricos — com exceção do Eike, coitado… 😛 –. Tirou pessoas da miséria? Sim, mas mantém a política que produz a miséria e os miseráveis.

O fato é que transformar miseráveis em consumidores não os transforma automaticamente em cidadãos. Educação e participação política é que transformam miseráveis em cidadãos. Democracia não é apertar um botão a cada dois anos passando um cheque em branco para este governo que clienteliza a população mais pobre. Não se preocupar com os resultados de sua política como crianças vivendo no lixo; prostituição de crianças na esteira do “desenvolvimento” da construção de hidrelétricas para produzir energia suja; remoção de pobres e pretos para a maquiagem das grandes cidades para os grandes eventos; preocupação zero com os danos ambientais de todas as obras e desarticulação dos órgãos fiscalizadores desses danos ambientais; prática de tortura, assassinato e desaparecimento nas delegacias e unidades policiais de norte a sul do país e apoio incondicional ao aparato policial em detrimento do cidadão; coloca o PT e seus governos no rol dos iguais. E nem vou citar mais casos de violações de direitos humanos, como índios assassinados, secretário de governo do PT armado contra sem terra, apoio do governo à milícias do agronegócio, etc., sob pena de ficar linkando até semana que vem. Não são os esquerdistas que colocam o PT no rol dos iguais apenas o dizendo (e nem a palavra da esquerda é tão poderosa assim), é o próprio PT com sua política que se coloca nesse lugar. Observar e evidenciar isso não é mérito nenhum além de não ser cego.

Dizer que quem enxerga e evidencia a real politik do PT — e não a política que o PT diz fazer — é colaborador da direita ou eleitor indireto de Aécio ou Marina é nada mais nada menos que repetir o discurso do medo de Regina Duarte. E, PASMEM, TEM FUNCIONADO! Várixs governistas que estavam finalmente percebendo que não criticar publicamente o governo só o empurra cada vez mais para a direita, estão voltando à política governista de terrorismo nas redes sociais. “Ou tu vota no PT e apóia Dilma ou estará apoiando Aécio ou Marina”, assim, fatalmente. Oi? Não existe voto nulo e não-validação desse sistema eleitoral, dessa falsa democracia?

Para quem cria, estimula ou se deixa enredar nesse terrorismo, deixem-me apenas dizer duas coisas. UMA: o TSE não computa apoio crítico, e nem o PT. Já os votos nulos e a abstenção eleitoral aparecem na contabilidade final das eleições e querem dizer uma única coisa: INSATISFAÇÃO. DUAS: Dizer que não adianta abraçar um projeto político que não tem chances eleitorais é o que dizia o MDB/PMDB lá no início do PT. O PT não nasceu na Presidência da República, mas como um partido pequeno, pentelho, que só tinha gente desconhecida como candidato (muitos ex-presos políticos e barbudos desgrenhados, o que não ajudavam em nada na “imagem vendável” de um partido sério) e foi construindo tijolinho por tijolinho, por acreditar que o seu projeto era o bom, era o justo, era o melhor é que o fez chegar onde chegou (apesar de muitos atribuírem apenas a figura de Lula). Ninguém fez mais campanha contra o voto (in)útil que o PT. Voltar a isso é apostar na despolitização e desconscientização do voto. Cuidado! Esse é um caminho sem volta, não para a política eleitoral nacional, mas para os (até aqui) agentes políticos transformadores da sociedade que fazem uso desse expediente.

Para os governistas envergonhados que ficam aí dizendo “tenho críticas ao governo, mas não há nada melhor do que isso“, assumam o ônus de defender e votar nesse projeto do PT e o defendam pelo seu melhor, se encontrarem. Chega de #ReginaDuarteFeelings na política! Até porque a própria Dilma jogou por terra todo o terrorismo feito pelo PT na campanha de 2010 ao fazer tudo que ‘disseram que Serra faria’ nos primeiros seis meses de governo e fechando com chave de ouro agora, com a privatização de campos de petróleo. Voltemos urgentemente a lutar pelo melhor, pelo justo, pelo bom. Democracia é antes de tudo um exercício de respeito às escolhas dx outrx. Disputemos antes sua consciência com o nosso melhor, com a melhor proposta — inclusive a do voto nulo, se acreditarmos nele como força de mudança –, mas depois da escolha feita, respeitemos sua escolha e inteligência.

medo eu tenho desse cabelo...

medo eu tenho desse cabelo…

p.s.: Não se perguntem porque não falo diretamente com tucanos e afins. Não me relaciono com eles de forma alguma, não tenho nada a dizer a eles e o que tinha para saber deles já sei. Não sou eu que me aproximo deles com a política que faço, mas o PT.

Já tinha escrito antes sobre a defesa cega do governo e retrocessos suportados…

Texto do Gilson, de hoje, sobre o mesmo tema.

E para quem ainda isenta Lula da política de Dilma no governo, sinto muito (mentira, sinto nada) em decepcionar.


Dilma se alia aos algozes da ditadura e trai seus velhos companheiros de luta

.
Texto publicado no Diário Liberdade
.

Desde a ditadura militar essa é a bandeira oficial do Brasil -- desenho de Carlos Latuff

Há quase dois anos que milito mais ativamente na luta pela abertura dos arquivos da ditadura militar e pela punição dos torturadores. Nesse período foram muitas as perdas e decepções. Aliás, foram só perdas e decepções. 

Nesses poucos mais de vinte meses vi o governo Lula manter o sigilo eterno — criado por Fernando Henrique Cardoso — sobre os arquivos da ditadura quando tinha poderes para abri-los; vi o STF estender a anistia aos torturadores ao julgar improcedente a APDF 153 que pedia a revisão da Lei da Anistia; vi o governo Lula fazer campanha publicitária (Memórias Reveladas) e gastar dinheiro público pedindo ajuda à população por informações sobre os desaparecidos quando esses desapareceram sob a tutela do Estado brasileiro e ao mesmo tempo que mantém sob seu poder essas informações, nos arquivos mantidos como secretos ad eternum; vi o Ministério da Defesa criar em 2009 um grupo de trabalho para procurar os restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia que já no nome negava a história, e que só criou porque foi obrigado judicialmente por uma ação movida pelos familiares dos mortos e desaparecidos e que até agora não apresentou resultados concretos; vi o Brasil ser condenado na Corte Criminal da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 14/12/2010 a rever a Lei da Anistia (assim como fizeram ArgentinaChileUruguai que apuraram, julgaram e condenaram as violações de DH de suas ditaduras militares) e nada fazer; vi o governo Lula terminar e nada de Comissão da Verdade ou abertura dos arquivos; vi uma guerrilheira que pegou em armas contra a ditadura militar e que foi presa e torturada chegar à presidência e em nove meses de governo não demonstrar nenhum respeito à memória dos mortos e desaparecidos e, por fim; vi essa mulher ser a primeira na história da humanidade a abrir uma assembléia geral das Nações Unidas e justamente pela pressão internacional e sentença da OEA ainda não cumprida — prazo de um ano se esgota em 14/12/2011 — montar uma farsa e aprovar às pressas o projeto de lei que cria a Comissão Nacional da Verdade na Câmara dos Deputados (projeto ainda precisa passar pelo Senado).

Mesmo depois de todos as derrotas anteriores e sabermos que era uma espécie de farsa, apenas para a ONU, OEA e o mundo verem, houve mobilização em apoio ao “esforço” do governo em aprovar a Comissão Nacional da Verdade. Embora soubéssemos também que o projeto a ser aprovado era uma mutilação daquele  previsto no terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos apresentado no final de 2009, artistas fizeram abaixo-assinado e enviaram mensagens aos deputados, entidades de Direitos Humanos se fizeram presentes no Congresso e acompanharam a ministra Maria do Rosário no momento da entrega simbólica do projeto ao parlamento e durante todo o dia ativistas na web fizeram um tuitaço (esforço concentrado na rede social e microblog Twitter) através da hashtag #ComissãoDaVerdade.

Antes disso, quando os familiares dos mortos e desaparecidos tiveram acesso à versão final do projeto que seria votado pelo Congresso Nacional, divulgaram um documento onde propunham algumas alterações. Alegavam que se o projeto fosse aprovado da forma como o governo estava negociando teríamos uma Comissão de Meia Verdade. As alterações propostas pelos familiares dos mortos e desaparecidos foram apresentadas como emendas em plenário pelo PSOL e pela deputada Luiza Erundina e nenhuma foi aprovada. Essas alterações continuam sendo propostas na tramitação do projeto no Senado e já houve até uma manifestação em São Paulo em apoio a elas.

Manifestação em São Paulo na sexta 30/09/2011 em apoio às alterações no projeto da Comissão da Verdade que permitam a punição dos torturadores da ditadura militar

A Comissão da Verdade é importante e é retratada na sentença, “o Tribunal valora a iniciativa de criação da Comissão Nacional da Verdade e exorta o Estado a implementá-la”, mas sem a revisão da lei da Anistia é cortina de fumaça. É dever da cidadania fazer ecoar nos quatro cantos do país um brado: Cumpra-se por inteiro a sentença da OEA.” — dizia Mercelo Zelic, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP em artigo publicado no Blog do Tsavkko em 27/06/2011.

Já tramitava desde o início do ano um projeto da deputada Luiza Erundina que propunha rever a Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979, a Lei da Anistia. Pois, segundo Erundina, sem rever a Lei da Anistia e sem a possibilidade de punir os torturadores essa Comissão da Verdade é inócua. Eis que o partido do governo — da presidenta Dilma Vana Rousseff, militante da luta armada, ex-torturada, vítima da ditadura militar e de um partido dito de esquerda e defensor dos Direitos Humanos –, PT, se alia ao deputado Jair Bolsonaro — a escória do Congresso Nacional, defensor da ditadura e dos torturadores, misógino, homofóbico e racista (para quem não o conhece basta pesquisar em qualquer site de busca da internet) — para derrubar o projeto de Erundina e manter a Lei da Anistia, mesmo sabendo que existe uma sentença da OEA que obriga o Brasil a tomar providências quanto às violações de DH cometidas pelo Estado brasileiro durante a ditadura militar.

Neste momento está no plenário do Senado, pronto para ser votado, o projeto de lei que regulamenta o sigilo de documentos oficiais. O texto, que tramita em regime de urgência, estava previsto para entrar na ordem do dia do plenário no último dia 22/09. Mas ainda não foi à votação. Mas não esqueçamos que além da presidenta Dilma abrir mão da decisão e passá-la para o legislativo, o relator do projeto é o senador Fernando Collor que junto com José Sarney é um dos mais resistentes à abertura dos arquivos da ditadura. Como o projeto trata do acesso a todos os documentos oficiais, não me espantaria que na negociação do apoio desses dois senadores (e dos demais contrários, e eles são muitos pelos mais diferentes motivos e interesses) ficassem de fora os documentos classificados como ultrassecretos — justamente os do período de 1964-1985 — ou ainda que estendam o prazo que esses documentos ficarão indisponíveis. 

A única chance da Comissão da Verdade cumprir o papel esperado, jogar luz nos porões da ditadura militar, era estar combinada com a revisão da Lei da Anistia (possibilidade de punição dos torturadores) e com a abertura dos arquivos da ditadura (acesso aos documentos que de fato podem revelar a verdade sobre o destino dos mortos e desaparecidos e as condições reais de suas mortes e desaparecimentos). Sem isso a Comissão da Verdade não passa de uma farsa e de deboche com a democracia e com os Direitos Humanos.

Não existem mais dúvidas quanto ao “compromisso” do PT e deste governo com a Comissão da Verdade e a passar a limpo as páginas mais obscuras de nossa história e punir os torturadores, é NENHUM. É como se os mortos, desaparecidos e torturados da ditadura estivessem sendo de novo, de novo e de novo mortos, desaparecidos e torturados. E o nosso compromisso com eles, que tombaram numa luta desigual e bárbara para que nós tivéssemos hoje liberdade de expressão e democracia, é dobrado. Enquanto houver um único desaparecido sem que saibamos em que condições foi desaparecido e sem que o Estado brasileiro peça oficialmente desculpas às famílias das vítimas da ditadura, em luto permanente e inacabado, não teremos uma democracia de fato.

Segundo a cientista política do departamento de Ciências Políticas da Universidade de Minnesota, Kathryn Sikkink, “os julgamentos e a punição de torturadores ajudam a construir o Estado de direito, deixando claro que ninguém está acima da lei. Além disso, a punição deixa claro que haverá ‘custos’ para os agentes individuais do Estado que se envolverem em abusos dos direitos humanos, e isto pode ajudar a prevenir futuras violações de direitos humanos. Os julgamentos também são acontecimentos altamente simbólicos que comunicam os valores de uma sociedade democrática em favor dos direitos humanos e do Estado de direito”. Em sua opinião, “a tortura, como crime contra a humanidade, não deveria estar sujeita a leis de anistia ou à prescrição”.

Vale lembrar à presidenta Dilma que Luiza Erundina quando prefeita de São Paulo mandou abrir a Vala de Perus em 1990 no Cemitério Dom Bosco, onde foram encontradas 1049 ossadas (e alguns dos desaparecidos da ditadura militar) e são a prova de que a tortura, morte e desaparecimento se tornaram práticas usuais dos aparelhos de repressão do Estado brasileiro, mesmo depois da “democratização” do país. Erundina assumiu para si a responsabilidade histórica que é de todos nós. Dilma Rousseff pode mandar abrir os arquivos secretos no momento que assim decidir e dar dignidade à sua trajetória política e à história do Brasil. Só não o faz porque não quer. De certo que não é por falta de coragem, afinal é preciso muito mais coragem e estômago para se aliar aos seus algozes do que enfrentá-los como já o fez no passado. 

Me sinto traída por este governo e pelo Brasil que insiste em manter esse passado esquecido e intocado e neste momento sequer consigo me colocar no lugar dos familiares dos mortos e desaparecidos, diante dessa tortura que parece não ter fim. Não sei muito bem o que propor, mas é certo que precisamos fazer algo concreto e é hora de unir esforços.

.


O jornalismo deles e o “nosso”

Faz tempo que leio, ouço, vejo críticas à grande imprensa brasileira. Aliás, desde que me entendo por gente, antes mesmo de ser jornalista. De uns tempos para cá, essas críticas vêm acompanhadas de um apelido. Na época em que essa grande imprensa começou a dar voz a um pequeno grupo que sugeria o Fora Lula, no início de 2007 (portanto logo após a eleição que o reconduziu à presidência), o jornalista Paulo Henrique Amorim passou a chamar a grande imprensa de PiG (assim com o i minúsculo para identificar com iG, de onde foi demitido em 2008), Partido da Imprensa Golpista. Nesse post do blog Maria Frô tem uma explicação melhor e mais detalhada sobre o que é PIG, como surgiu, quem usa a expressão e que tipo de prática jornalística caracteriza.

Com o advento das redes sociais que permitem transmissão de informação como Facebook e Twitter, o conceito do PIG foi tomando corpo e espaço e reverberando. A blogosfera e a chamada imprensa alternativa seriam conceitualmente a antítese do PIG. Conceitualmente. E eu digo seriam porque na prática não são.

Entre as práticas condenáveis do chamado PIG estão a manipulação da informação, manchetes que distorcem o conteúdo das matérias, enfoques privilegiando um dos lados da notícia (e sempre o mesmo lado, a classe dominante e os chamados governos de direita) e em alguns casos o total silêncio, como se o fato simplesmente não estivesse existindo.

Desde sempre discuto o papel do jornalista de esquerda. Como se contrapor a grande imprensa e aos grandes monopólios e ainda sobreviver exercendo dignamente a profissão? Tarefa complicada. Quinta coluna declarada desde sempre e jornalista formada há 13 anos, ainda não encontrei a fórmula. Vendo minha força de trabalho como qualquer trabalhador, produzindo textos em série, em sua ampla maioria fúteis, para ter o direito de blogar e exercer meu jornalismo livre e marginal. É isso ou trabalhar para o PIG, como faz PHA e muitos dos blogueiros críticos ao “jornalixo” ou “jornalismo canalha“. Não me imponho a tarefa de me contrapor a grande imprensa. Não tenho estrutura para isso. Sequer tenho câmera fotográfica para exercer o tal “jornalismo cidadão”, mas não me furto de dar minha opinião em assuntos que considero importantes.

Desde a última eleição para presidente – uma das mais violentas e atípicas da história –, vi de um lado a grande imprensa pesando sua balança para o candidato tucano e a blogosfera e a imprensa alternativa (salvo honrosas exceções) pesando sua balança para a candidatura petista.

Trezentos blogueiros se reuniram em São Paulo em agosto do ano passado com uma estrutura nunca antes imaginada para blogueiros alternativos, com a clara e confessa intenção de organizar o contraponto à campanha da grande imprensa na defesa do governo e de sua candidata (Blogueiros Progressistas ou blogprog). Abro um parênteses aqui para dizer que esse fato me incomodou demais. Além de ser um encontro bem pequeno burguês, onde blogueiros marginais que contam moedas para pagar sua conexão não tinham condições de estar, ser de esquerda e não votar em Dilma era considerado crime capital.

Continuarei tomando meu café na caneca do PIG e mostrando a bunda pro povinho da patrulha, da etiqueta governista revolution*

A partir daí começou a patrulha na blogosfera e nas redes. Quem criticasse o governo (perfeito!), Lula (deus!), ou Dilma (santa!) era acusado de ser tucano, de colaborar com a oposição e ou de ser “a esquerda que a direita gosta”. A ordem era ‘defenda o governo acima de qualquer coisa, incluindo a sua consciência crítica‘. O comportamento dessa ‘brigada’ identificada como “onda vermelha” era evangelizador, fundamentalista, e essa ‘guerra santa’ ficou tão violenta que cortei relações com umas 300 pessoas (nem todos blogprog) e deixei de ler blogues que acompanhava há muito tempo. Mais do que isso. Perdi o respeito que nutria por esses cidadãos e profissionais. Até tentei voltar a acompanhar boa parte deles, mas o estrago já estava feito. Eles não perderam o vício da patrulha e estão mesmo vendados, cegos.

No último período surgiu o slogan “O PIG esconde, a gente mostra”, num esforço de cumprir o papel que a grande imprensa se nega – perseguir a verdade com ceticismo e inteligência –, passaram a divulgar notícias que, segundo eles, o PIG não divulga por ser contra seus interesses. Isso na teoria. Numa manhã dessas, um amigo tão cético quanto eu se deu ao trabalho de conferir sete das manchetes citadas no tal slogan. Segundo ele, TODAS estavam publicadas na Folha de São Paulo (vilã mor do PIG junto com a Veja). Ele ainda alfinetou ao final: “Vocês mentem!” Não lembro de alguém tê-lo contestado, mas o slogan segue a pleno vapor mostrando matérias que teoricamente o PIG esconde. Mas a Folha publica.

O jornalismo praticado pela maioria dos blogprog e por boa parte da imprensa alternativa é igual ao da grande imprensa. Só mudam os personagens a serem defendidos e atacados. Quero aqui fazer uma ressalva sobre um grande portal, o Vermelho do PCdoB, que por ser veículo de um partido político tem a licença natural de ser ideológico. Quem vai ao vermelho buscar informação, sabe de antemão o viés da notícia. A isso se chama isenção jornalística. Incluo nessa ressalva os blogues que estampam a foto da atual presidenta e aos que tentam honestamente manter a isenção. Aos demais, aconselharia uma leitura que me acompanha desde guria: “A moral deles e a nossa” – León Trotsky. Acrescento que não basta se dizer diferente. É preciso se constituir como diferente nas práticas diárias (se pudessem ler também o conceito de práxis em Gramsci, seria bom) . Reproduzir o péssimo exemplo de jornalismo do PIG só o reforça. E aí cabe a pergunta: Quem é de fato a esquerda que a direita gosta?

Todo socialista sabe (está nos relatos da primeira revolução socialista, a russa) que governo ainda no sistema capitalista é um jogo em disputa, precisa ser tensionado à esquerda porque a direita e a grande imprensa estão combatendo diariamente. Isso na hipótese de termos de fato um governo de esquerda. Atualmente isso é apenas uma crença de militantes fundamentalistas desvairados que querem provar sua hipótese a qualquer custo, engolindo Sarneys, Collors, Calheiros, Cabrals, Kassabs e toda sorte de sapos, cobras e outros animais peçonhentos que enfiam nas suas goelas e nas de outrem.

Crítica e auto crítica são fundamentais para manter o prumo, para se manter no caminho certo. Se for apenas um jogo de poder e de se manter nele, tirem as máscaras e parem de usar os termos esquerda, socialista, cidadania, verdade e, inclusive, o PIG. Transformar seus blogues em panfletos de propaganda governista não revela altruísmo ou ativismo abnegado. Apenas levanta suspeitas quanto à manutenção monetária desses veículos. Tal e qual com a grande imprensa, onde quem anuncia é bem tratado na notícia. O problema é que nos blogues e na imprensa alternativa não há anúncios. Quanto mais obscura essa relação, menos crédito dou às defesas inflamadas que tenho lido ultimamente.

Blogueiros gostam de bater no peito e dizer que não abrem espaço para anúncios porque se profissionalizar – ninguém anunciaria em blogues que não sejam atualizados periodicamente – perderiam a característica informal, marginal e porque não se vendem. Ok. Mas vender a consciência crítica tudo bem? A que preço? Ativistas experientes podem mesmo ficar tão cegos e alienados assim?

Atualmente há uma campanha na internet pedindo a saída da ministra da Cultura Ana de Hollanda. Na linha de frente dessa campanha estão velhos camaradas e até ex-funcionários da campanha à presidência de Dilma. A primeira atitude de alguns blogueiros, antes de verificar os argumentos desses seus velhos camaradas, foi tentar desqualificá-los, descontextualizar as críticas e defender o governo – e aqui há um equívoco, porque defender o governo Dilma nesse momento pode passar justamente por pedir a substituição de Ana de Hollanda –. Ou é muita miopia política ou talvez a tese hipotética de financiamento governista de alguns blogues não seja infundada. Vejam bem, eu disse “alguns blogues”. Existem centenas de pequenos blogueiros que fazem a defesa do governo Dilma na base do “amor”. Mundo injusto esse, não?

Só uma constatação: O que se faz na maioria dos blogues e da imprensa alternativa deste país é tão anti-jornalismo quanto o que se faz na grande imprensa. É o roto falando do esfarrapado. Talvez por isso a grande imprensa não se sinta ameaçada pelo blogprog. Ser de direita não é necessariamente ser burro ou cego, né? Tal e qual ser de esquerda não garante neurônios ágeis, razão ou ética.
.
Sujestão de leitura: Sobre ser jornalista…
.

* A etiqueta governista revolution é a definição para a brigada virtual de militantes sempre prontos a defender o governo petista, não importando qual a crítica ou argumento. Mesmo defendendo um governo que não pode ser classificado como esquerda, eles se sentem vanguarda da revolução socialista, que não aconteceu no Brasil (é bom lembrar). O termo é proposital e debochadamente contraditório, autoria da publicitária cearense Mayara Rocha.
.


Como e porque expurguei o PT de mim

Diferente de muitos militantes do PT que deixaram o partido após os escândalos do mensalão e decepções com o governo Lula, eu saí bem antes. Me desfiliei depois de dez intensos anos de militância partidária, em agosto de 1999. Na verdade estava fora desde outubro de 1998, bem entre o primeiro e segundo turno da eleição que elegeu Olívio Dutra governador do Rio Grande do Sul.

Nessa época, eu tinha trabalhado como assessora de imprensa da Prefeitura de Palmeira das Missões, região noroeste do estado, com status de secretária de governo. Era amiga pessoal, não muito próxima, do então candidato a vice-governador Miguel Rossetto –  éramos da mesma tendência interna, a Democracia Socialista –, que mais tarde se tornou o grande articulador do Fórum Social Mundial. Eu havia saído da prefeitura de Palmeira das Missões por problemas de relacionamento (para terem uma ideia eu havia chamado o prefeito de covarde numa reunião do secretariado municipal – e todo o governo e direção do PT em Palmeira das Missões era da Articulação de Esquerda, tendência “próxima” à coordenação do MST, eu era um ser estranho e incômodo)*.

A assessoria de imprensa na prefeitura em Palmeira foi meu primeiro emprego como jornalista formada. Dos que se formaram comigo e ainda não trabalhavam na área, em torno de 70% da turma, fui a primeira a conseguir emprego, exatos 35 dias depois da formatura. E  o salário não era de iniciante nem de estagiária. Mas eu me empolguei tanto que fiz em seis meses o trabalho de três anos e, claro, não vi os resultados. Tornei-me dispensável porque ainda resolvi um problema grave para a Administração Popular local: Cooptei uma jornalista do PDT e a levei para trabalhar comigo. Ela era uma das grandes articuladoras da oposição no funcionalismo municipal. Sempre tive um gênio do cão e não “respeitei” uma espécie de hierarquia familiar** do PT e da Administração Popular de Palmeira das Missões.

Nem vou mencionar que foi lá que recebi o diagnóstico da síndrome do Calvin (por telefone) e o havia levado para morar comigo há apenas dois meses quando fui demitida –  nos primeiros quatro meses eu vinha a Pelotas em média uma vez por mês. Calvin estava com apenas dois anos.

Voltei para Pelotas me sentindo derrotada. Derrotada pela intolerância e pelas divergências entre as tendências internas do PT. Justamente o que mais me mobilizava e encantava no partido, que era a democracia interna, a construção da unidade partidária na diversidade de ideias. Estava meio depressiva e o Olívio (diferente do Lula que perdeu para FHC no primeiro turno) tinha passado para o segundo turno com chances reais de derrotar Antônio Britto. Decidi me enfiar de cabeça na campanha e recebi da direção local da DS a incumbência de dividir trabalho em uma comissão com uma militante feminista muito complicada do então PT Amplo e Democrático (ex Nova Esquerda, ex PRC) que, desconfiávamos, poderia sabotar a campanha de Olívio só porque ele havia composto com a DS***. É, a guerra entre as tendências internas do PT era um jogo duríssimo onde da testa para baixo tudo era canela.

A minha presença ou vigília na tal Comissão de Mobilização da campanha Olívio em Pelotas não durou uma semana. No fim de uma tarde fria, que antecedia uma noite de plenária de campanha, fui acusada por essa militante feminista complicada de ter furtado de sua bolsa R$ 7,00 (sete reais). Seria o troco de uma bandeja de figos cristalizados (Pelotas é capital nacional do doce e produz, além dos chamados doces finos de mesa, doces e frutas cristalizados). Ela levou o caso à coordenação local de campanha e do partido, me acusou frontalmente dizendo ter certeza que havia sido eu e exigiu providências. Um dirigente da DS, assessor de finanças do partido, juntamente com outro assessor da Brasil Revolucionário (ex PCBR), antes de falarem comigo telefonaram para Palmeira das Missões contando tudo o que estaria acontecendo e pediram “referências” minhas. Queriam saber, investigar, o motivo da minha demissão lá. Armaram um circo imenso. Todas as tendências e todos os militantes envolvidos direta e indiretamente na campanha souberam do fato antes de mim. Finalmente a coordenação tomou a decisão, a minha revelia, de me afastar da campanha e proibir minha entrada na sede do PT.

Detalhe sórdido 1: A tal militante feminista complicada havia PERDIDO os tais R$ 7,00 dentro da sede do PT e o achou minutos depois de ter comunicado o meu “delito”. Mesmo assim não voltou atrás na acusação e exigências.

Detalhe sórdido 2: Militava com ela também numa ONG feminista da cidade e tínhamos uma convivência normal, baseada em solidariedade e respeito –  acreditava. Internamente na DS sempre a defendi de comentários maldosos que, julgava eu, eram muito mais pelo fato dela ser mulher do que por ser da tendência oposta.

Detalhe sórdido 3: A tal militante feminista complicada não foi nem sequer repreendida, muito menos afastada da campanha. E, antes que eu soubesse de tudo, ela conversou comigo e me consolou dizendo não saber o que havia motivado a coordenação a agir daquele jeito.

Detalhe sórdido 4: O dirigente da DS e meu algoz no caso da falsa denúncia de furto, militou anos a fio comigo, desde o movimento estudantil secundarista. Foi ele quem me apresentou a DS e me emprestou o primeiro livro do Trotsky que li na vida (sim, eu fui troska!).

Dois dias depois do falso caso de furto, julgamento e condenação, os dois venenosos dirigentes (DS e BR), bateram na minha casa me pedindo desculpas por terem acreditado em alguém, segundo eles, comprovada e notoriamente mau caráter e não em mim. A executiva municipal do PT e a coordenação de campanha me perguntaram se eu queria receber um pedido de desculpas formal em reunião interna (claro, plenária seria um exagero) como forma de retratação. Eu aceitei. Fui pessoalmente dizer que não os desculpava e comecei naquele dia um longo período de depressão e um longo, lento e doloroso processo de rompimento com o PT e com as pessoas que eram meus referenciais políticos. Isso tudo ocorreu em outubro de 98 e eu só me desfiliei em agosto de 99. Não vou relatar aqui o rompimento derradeiro. Apenas digo que escrevi aos prantos uma carta de próprio punho no Cartório Eleitoral da cidade comunicando a minha desfiliação do PT. As atendentes do cartório, coitadas, não entendiam o motivo do choro. Afinal, não era uma assinatura de divórcio, embora eu estivesse me comportando como se fosse.

Estou expurgando tudo isso publicamente de mim só agora, onze anos e meio depois motivada por dois casos ocorridos essa semana. Um foi ter entrado em contato no domingo com esses métodos nada éticos e nada ortodoxos produzidos – parecem – em série no PT e na DS, em meio a uma brincadeira no tuíter. Parece que o pessoal do PT leva até jogo de futebol de botão tão a sério como se fosse eleição para presidente. O segundo foi uma espécie de explosão homofóbica e “carteiraço” de um assessor de dirigente nacional do partido também no tuíter, que pode ser conhecido em dois posts do blog Maria Frô, um que relata e outro que traz uma espécie de resumo do caso por um petista crítico à sua direção e a esse tipo de comportamento. O fato fala por si e dispensa qualquer comentário meu a respeito.

Nunca fiz nenhuma crítica pública ao partido porque não me sentia habilitada para isso. Eu não rompi com o PT por motivos políticos, mas pessoais. E mesmo reconhecendo que recuperei minha consciência crítica só depois que me afastei, sempre achei melhor guardar as críticas para mim. Só faço críticas ao PT em público quando estou muito braba, e aí sobra tiro para todo lado mesmo. Mas, assim, consciente, calma e oficialmente é a primeira vez.

Como um partido que não consegue se revolucionar e romper com preconceitos internamente pretende fazer isso na sociedade? O tempo passa, o tempo voa e o PT não consegue nem fazer autocrítica e nem reconhecer seus problemas. Essa história do soldadinho do passo certo é conhecida e já cansou. Tem que ver isso aí, PT! Já perdeu imensas fileiras de militantes e continuará perdendo. Uma hora a gente cansa de dar murros em ponta de faca e vai construir a vida e a militância em outros espaços.

.

P.S.: Me filiei ao PT aos 17 anos, quando presidia o maior grêmio estudantil secundarista da região, no dia 28 de março de 1989 – Dia Nacional de Lutas, por ser aniversário do assassinato do estudante Edson Luís pela ditadura militar, dia histórico para os secundaristas (esse termo se perdeu já que agora é Ensino Médio). Mas aos 14 já havia tentado organizar um núcleo do PT no bairro onde morava. Foi muito difícil desvencilhar a minha história do PT, mas consegui.
.
Notas:

* A Articulação de Esquerda em Palmeira das Missões se sentia (deve se sentir ainda) a vanguarda revolucionária do mundo. Foi lá, num terreno doado pelo cara que conheci em 1998 como presidente do PT local, que se articulou a ocupação da Fazenda Anoni em 1978-79 e se tornou o berço do MST. Nesse terreno foi construído uma espécie de Quartel General dos Sem Terra, local onde eles fazem seus cursos internos de formação política e se reúnem em encontros mais longos para planejar estratégias e ações. Só estive lá uma vez e tinha um clima de clandestinidade no ar impressionante. Foi em Palmeira das Missões que conheci pessoalmente João Pedro Stédile. Seguidamente o encontrava em reuniões, cafés, com membros do PT e AP.

** Em Palmeira das Missões existem três ou quatro famílias que estão inteiras no PT e dominam completamente a cena além dessa forte influência/interferência do MST no partido e vice-versa. Aliás, foi onde encontrei a maior proximidade do PT com o MST. E ela se dava muito mais pelas relações pessoais do que institucionais.

*** Mais tarde a própria DS assumiu essa estratégia sórdida de boicotar a tendência vitoriosa na disputa interna quando da campanha do partido na eleição. Vide o comportamento da DS na campanha da Maria do Rosário para a prefeitura de Porto Alegre em 2008. A DS era a tendência majoritária e não admitiu a derrota, e boicotou vergonhosamente a campanha de Rosário, preferindo deixar José Fogaça se reeleger.

.