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Não sabe brincar, não desce pro play!

***Esse texto é sobre a “treta” de hoje à tarde no Twitter envolvendo eu, @sudornelles e o perfil de *humor* @O_Bairrista. Se tu não conhece esses três e nem tem perfil no twitter, pare a leitura por aqui porque vai ser difícil entender. Para os demais, vou tentar ajudar com ilustrações.***

Depois de muita peleia, jogo de cintura e negociação, finalmente o vereador Pedro Ruas e a vereadora Fernanda Melchionna, ambos do PSOL de Porto Alegre, conseguiram trocar o nome de uma das avenidas mais movimentadas, aquela pela qual se entra na cidade, de Av. Castelo Branco para Avenida da Legalidade e da Democracia.

Trocar o nome de uma rua movimentada nunca é fácil. Levará um bom tempo, quiçá gerações, para que a tal avenida deixe de ser chamada Castelo Branco ou “a antiga Castelo Branco”. Aqui no Rio de Janeiro, onde estou atualmente desgarrada do meu pago, a Av. Dom Helder Câmara, um dos eixos principais da zona norte da cidade, liga o bairro Benfica a Cascadura, tinha antes o nome de Suburbana. Ainda hoje eu ouço explicações de como chegar a algum lugar “que passam” pela Suburbana. O nome da ponte que liga o Rio de Janeiro a Niterói sobre a Baía da Guanabara está para ser alterado também, de Ponte “Presidente Costa e Silva” para “Ponte Betinho”, o projeto já foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e em breve irá à votação em plenário e não tenho a menor ilusão de que será chamada de Ponte Betinho, será Ponte Rio-Niterói para sempre.

Mas, por que diabos então trocar os nomes dessas ruas e avenidas? Só para causar confusão? Esses parlamentares não tem mais nada para fazer? Uma das principais atribuições de mandatários de cargos executivos ou legislativos é primar pela democracia, e isso por si só justifica a mudança dos nomes dessas ruas, pontes e avenidas. É SIMBÓLICO e é principalmente JUSTO! Esses generais golpistas, assassinos, torturadores e também corruptos não podem seguir sendo homenageados e referenciados pela história como se fossem heróis salvadores da pátria. É preciso contar seus crimes, colocar os pontos nos is, abrir os arquivos secretos da ditadura — que nem a Comissão Nacional da Verdade conseguiu ainda — e contar a história do Brasil por completo. É preciso contar a história das pessoas que deram suas vidas por esse país e continuam renegadas ao esquecimento, ao desparecimento político — o movimento #desarquivandoBR explica melhor isso do que eu sozinha; e tem blog também –. E no caso de Porto Alegre, nem é uma pessoa que está sendo homenageada, mas um movimento historicamente muito importante que ajudou a atrasar o golpe militar em pelo menos três anos, tal e qual o suicídio de Getúlio Vargas atrasou dez anos o golpe.

A necessidade de alterar o nome de ruas, avenidas e pontes que exaltam generais da ditadura e o golpe militar está justamente na ignorância de gerações que questionam a importância desse ato. Não entendem porque lhes foi negado o acesso à história real desse país. Daí que não surpreende que saiam por aí fazendo ato contra a corrupção e pedindo a volta da ditadura…

O projeto da Av. da Legalidade e da Democracia foi aprovado no dia 1º de outubro e só hoje — 21 de novembro –, depois de muitas críticas e denúncias, a A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) de Porto Alegre começa a colocar as placas da dita avenida com seu nome atual. Nunca me passou pela cabeça, nem no pior pesadelo que a EPTC ou o prefeito José Fortunati fossem viúvas da ditadura. Nem no meu pior pesadelo tinha atos públicos pedindo a volta da ditadura. Mas é 2014, um ano surreal. A ex-querda defende políticas de direita e a economia liberal e a direita canta de defensora da democracia…

meme viúvas ditadura

Como é natural que as pessoas ainda chamem a dita avenidade de Castelo Branco é natural também que a EPTC coloque placas adicionais dizendo “antiga Av. Castelo Branco” para facilitar o trânsito e a vida das pessoas. Dar destaque a isso ou fazer disso uma piada é que não faz o menor sentido. Em primeiro lugar: CADÊ A PIADA?

a "piada" do Bairrista só serviu para despertar comentários reaças e críticas desqualificadas e desqualificadoras que servem pra que, mesmo?

a “piada” do Bairrista só serviu para despertar comentários reaças e críticas desqualificadas e desqualificadoras que servem pra que, mesmo?

Nesses tempos surreais o humor tem um capítulo de destaque. Não se faz mais piadas com o opressor e a opressão, é o oprimido o alvo das piadas, deboches, escárnios. E quem levanta a voz para dizer o quão horrendo e sem graça é esse tipo de humor é taxado de louco, censor, politicamente correto e etc. Nunca, NUNCA, nunquinha, alguém me viu, ouviu ou leu dizendo a alguém o que deveria escrever e muito menos apagar o que escreveu ou negar o que disse. Se o perfil d’O Bairrista não soube manter o humor ao ser criticado pela piada sem graça e decidiu apagar uma foto o fez porque quis, porque não tinha como sustentar a graça da piada pelo simples fato de que ela não existia. Ou não teria gasto mais de 30 tuítes se explicando e se justificando. Ou não teria jogado pra galera que tinha sido “censurado”. Censurado como? Que poder tenho eu para censurar alguém? Amigo, não sabe brincar não desce pro play. E ainda joga pra galera, atraindo para o meu perfil e da Suzana toda sorte de machista, misógino e reacionário para nos xingar. Teve um que ameaçou até de processo… /o\

Captura de tela de 2014-11-21 15:23:14

em nenhum momento nem eu e nem a Suzana pedimos que O Bairrista apagasse nada, e ele distorceu a situação e jogou pra galera que, obviamente, veio com tudo: misoginia,machismo…

Ó, que ideia massa:

Esse foi o melhor, me poupou muitos pilas com terapia, psiquiatra e já me deu o diagnóstico, preciso:

CAPAZ !?!?!?!?!?!?

CAPAZ !?!?!?!?!?!?

Não fosse suficiente o oprimido que ousa lutar contra sua opressão ser criminalizado, ainda é alvo do “humor”. Debochar de gordo, mulher, gay, negro, torturado e fazer toda sorte de piada preconceituosa não é humor, é reforço na opressão, é azeite na máquina do status quo. Enquanto O Bairrista ria de si mesmo (o gaúcho que faz piada de seu bairrismo) ia tudo muito bem, mas é impressionante como o “sistema”, a máquina do status quo mói até mesmo essas pequenas iniciativas críticas. Vide o caso Dilma Bolada.

“Ah, vocês de esquerda não têm humor e querem censurar o humor alheio”. Amigue, dá uma olhada no perfil @PSTUdoB e quem o retuíta e veja se não temos humor. Desde os 15 anos que ouço piadas sobre Marx, Lênin, Trotsky dos próprios marxistas, leninistas e trotskistas. Sim, como qualquer ser humano somos capazes de — E DEVEMOS! — rir de nós mesmos. O que não é possível é viver por aí, em público, sem aceitar críticas, sem saber ouví-las e recebê-las como se fôssemos perfeitos. De certo que ninguém é perfeito, mas quem se acha está a meio passo do fascismo.

Foi Max Weber quem disse – e não Karl Marx – “Quem se declara neutro já se decidiu, mesmo sem saber, pelo lado mais forte”.

Um dos maiores humoristas da história, o mais engraçado de todos, Charles Chaplin, debochava de si mesmo e principalmente do opressor, provando que não é preciso ser preconceituoso para ser engraçado. Meu único conselho é: REVEJAM SEUS CONCEITOS!

#BeijoMeBloqueia

 

p.s.: O @O_Bairrista pediu desculpas por ter citado a minha arroba e a da Suzana, só que depois que abrir as portas do inferno fica difícil fechar…

p.s.2: Deveria ter apagado o nome das pessoas que nos xingaram e nem deveria linkar seus perfis. Ops! Foi mal. Desculpaê.

p.s.3: Só pra contrariar, continuarei seguindo O Bairrista no tuinto, é engraçado tirar *humorista* do sério. 😛


Luiz Cláudio Cunha foi absolvido

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Luiz Cláudio Cunha

O jornalista Luiz Cláudio Cunha foi absolvido no processo por dano moral, movido pelo ex-policial do Dops gaúcho João Augusto Rosa, o “Irno”. Rosa participou do sequestro de Lílian Celiberti, seus dois filhos e Universindo Díaz, acontecido em novembro de 1978 em Porto Alegre – caso relatado no livro “Operação Condor: sequestro dos uruguaios”, escrito por Cunha.

O ex-policial, que foi condenado em 1980 pela participação no sequestro, acabou absolvido em segunda instância por “falta de provas” em 1983. Lílian e Universindo estavam presos no Uruguai, onde a ditadura militar só terminou em 1985. O motivo da ação judicial era a suposta omissão no livro escrito por Cunha, da absolvição de “Irno”.

Lílian foi testemunha de defesa de Cunha, e reconheceu “Irno” na audiência em fevereiro, o que foi decisivo para o desfecho do processo. A juíza Cláudia Maria Hardt, da 18ª Vara Cível do Foro Central de Porto Alegre, não aceitou o argumento de que a publicação do livro fere o direito à honra e à imagem do ex-agente da repressão política, absolvendo Cunha na última sexta-feira, 8 de julho.

A juíza entendeu que não houve abuso por parte do jornalista ao escrever o livro porque não há como negar que existiram abusos cometidos pelas autoridades instituídas durante o período do regime militar brasileiro.

Uma vitória a ser comemorada nesse ano de tantas derrotas para todos aqueles que lutaram contra a ditadura no Brasil e que ainda esperam ver a justiça acontecer.

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Nota: Li essa notícia na segunda-feira, no Cão Uivador. Infelizmente a vida anda tão corrida que só agora estou podendo dividi-la com quem ainda não soube.
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Mais de 30 anos depois, vítima da ditadura fica frente a frente com ex-policial do Dops gaúcho

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Professora uruguaia Lilian Celliberti, sequestrada na Capital em 1978, participou de audiência no Foro Central
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Rádio Guaíba, Porto Alegre
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Lilian Celiberti confirmou à juiza: "Sim, é ele mesmo!" (foto: Sérgio Valentin, Coletivo Catarse)

Mais de três décadas depois, a professora uruguaia Lilian Celliberti voltou a encontrar, nesta quinta-feira, o ex-policial do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) gaúcho João Augusto Rosa, em Porto Alegre. Ele foi condenado na década de 80 por ter seqüestrado Lilian, o marido Universindo Diaz e dois filhos dela, de três e sete anos, em novembro de 1978. O crime ocorreu em um apartamento na rua Botafogo, bairro Menino Deus, e foi tema do Livro “Operação Condor: sequestro dos uruguaios”, escrito pelo jornalista Luiz Claudio Cunha. A obra levou o ex-policial a processar Cunha, e, por isso, uma audiência reuniu o ex-agente do Dops, a uruguaia, e o autor do livro, na 18ª Vara Cível do Foro Central de Porto Alegre.

Lilian, ao deixar o local, lamentou que o homem acusado de sequestrá-la processe quem tenta relembrar a repressão política. “Meu sentimento hoje é de lembrança de um fato que traumatizou meus filhos”, disse. Na audiência, ela testemunhou em defesa do jornalista. “Fico triste pela impunidade no Brasil em relação à ditadura e por não ter tido a oportunidade de acusar, ao invés de defender, nesta mesma cidade”.

Rosa sempre negou ter seqüestrado Lilian. Contudo, o jornalista Luiz Claudio Cunha, garante que foi até o o apartamento da rua Botafogo, na ocasião do sequestro, e teve uma arma apontada para sua cabeça pela mesma pessoa que agora tenta processá-lo. Na ação, o ex-policial exige uma retratação pelo suposto uso indevido de imagens e de expressões utilizadas no livro. “Ele diz que sou medíocre, fala que tenho focinho, mas isto é coisa de animal”, reclama. “Eu fiquei mais ofendido quando ele colocou um revólver na minha testa, por ter testemunhado um crime cometido por ele”, rebateu Cunha.

A juíza Maria Helena Soares decide nos próximos dias se dá ou não sentença favorável ao ex-agente da repressão política.

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Quer saber mais sobre o caso? Leia texto “O sequestrador mostra a sua cara“, de Leandro Fortes publicado anteontem sobre o julgamento.
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A luta pelo direito à memória e à verdade no FSM 2010

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Marco Weissheimer
RS Urgente
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Seminários, ato-show, exposição de fotos e teatro de rua marcam o Projeto Direito à Memória e à Verdade no Fórum Social Mundial 2010, quarta e quinta (27 e 28), em Porto Alegre e São Leopoldo. Os seminários “Sobreviventes: marcas das ditaduras nos direitos humanos” e “Impunidade: marcas das ditaduras nos direitos humanos” reunirão em Porto Alegre o secretário executivo do Arquivo Nacional da Memória, da Secretaria de Direitos Humanos da Argentina, Carlos Lafforgue, o diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos, os jornalistas Bernardo Kucinski e Marcos Rolim, e Flávia Carlet, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.

O Projeto Direito à Memória e à Verdade conta a história dos 21 anos da ditadura militar no Brasil. Criado em 2006, o projeto já esteve em quase 60 cidades do Brasil e de países do Cone Sul, alcançando mais de 2,5 milhões de pessoas, por meio de exposições fotográficas, debates e instalação de memoriais em homenagens a mortos e desaparecidos políticos, vítimas da ditadura militar brasileira. A exposição fotográfica inaugurada hoje (25) ficará aberta ao público até 25 de fevereiro na Usina do Gasômetro e na Estação São Leopoldo do Trensurb. É uma parceria da Fundação luterana de Diaconia, da Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação (Alice) e da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. (A programação completa do projeto no FSM)


O FSM e as nossas esperanças

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Começou hoje em Porto Alegre o Fórum Social Mundial 10 anos. Na verdade não é o décimo FSM – que teve sua primeira edição em 2001 -, mas é o início das atividades para a décima edição que será a mais longa da história. Por isso também o retorno a Porto Alegre e o seminário de avaliação (veja programação) das conquistas nesses nove anos na construção de um outro mundo.

Os avanços são inegáveis. Pessoas que não eram vistas e ouvidas, hoje fazem parte da agenda mundial de contestação à ordem vigente e de protesto contra injustiças. O FSM rompeu preconceitos, aproximou culturas e promoveu uma interatividade mundial nunca antes sonhada. Muitos dos excluídos de antes, hoje caminham juntos em defesa daqueles que ainda não tem acesso aos recursos disponíveis no mundo e nem mesmo ao próprio FSM.

marcha de abertura FSM 2010, Porto Alegre

Como disse hoje pela manhã, no seminário de abertura do Fórum, a uruguaia Lilian Celiberti, da Articulação Feminista Mercosul, “no FSM ainda há mais homens, mais brancos, mais heterossexuais. (…) Sou a favor do anti-imperialismo. Mas não basta. É preciso falar do anti-racismo, anti-patriarcalismo, anti-homofobia. (…) Dificuldade não está só no inimigo externo, mas nas práticas capitalistas que os próprios movimentos adotam no dia a dia”. E como Lilian mesmo lembrou em sua fala, “a diversidade se impôs” também no FSM.  E não poderia ser diferente. Num espaço criado para servir de fomentador da transformação da ordem mundial, da construção de um mundo justo e solidário, baseado na lógica humana e não do capital, surgem pequenos personagens que se destacam. Pessoas que tentam com o seu exemplo provar que outro mundo é possível.

Pedalantes por um mundo melhor


Estou falando de quatro adoráveis malucos, que decidiram ir pedalando até Porto Alegre para participar do FSM 2010. Dois deles partiram de São Paulo no dia 7 de janeiro, Antonio Lacerda Miotto (@pedalante, no Twitter) e Mathias Fingermann. No dia 11, em Joinville, se juntou ao grupo Giorgio Testoni e em Floripa, no dia 14, Victor Barreto completou o quarteto que chegou a Porto Alegre pedalando no último dia 22.

Giorgio, Antonio, Mathias e Victor (abaixado), no Alto Araçás em Floripa - foto: Edu Green

Mathias Fingermann e o hotdog vegano

Durante a viagem foram consumidos quase dez litros de água de coco, quatro litros e meio de caldo de cana, três melancias, além de muitos “X-mico” ou hotdog vegano (pão com banana). Diariamente cada um comeu pelo menos duas bananas. Esse foi o combustível extra para a viagem, dificultada pelas chuvas fortes e o vento sul que castigaram os ciclo-viajantes.

Antonio Miotto, o 'pedalante'

Segundo o pedalante Antonio Miotto – 43 anos, vegetariano e professor universitário -, o objetivo da viagem é inserir a discussão da bicicleta como meio de transporte no meio urbano. Essa discussão sobre mobilidade urbana se faz cada vez mais necessária quando as pessoas perdem cada vez mais tempo, presas no trânsito caótico das grandes cidades. Amanhã, 26, eles farão uma palestra no auditório da Secretaria Municipal de Esportes de Porto Alegre, às 19h30, promoção da Sociedade Audax e Poabikers.com.br.

Giorgio Testoni

Mathias Fingermann, 23 anos, é professor de educação infantil e não come carne vermelha. Victor Barreto, 39 anos, é analista de projetos sociais e também não come carne vermelha. Giorgio Testoni, 23 anos, é estudante universitário é o único onívoro do grupo.

Victor Barreto

Esses “malucos” são os mais certos entre nós. Mudaram suas vidas, seu jeito de viver e tentam socializar sua experiência com outras pessoas. Usando apenas uma bicicleta como arma, tentam mudar o mundo e nos enchem de esperança de que é mesmo possível construir uma alternativa para a humanidade. “Bora” fazer alguma coisa também?

As fotos são da galeria pedalfsm2010 e pedalfsm. Mais detalhes sobre as propostas do ciclo-turismo, mobilidade urbana e o início dessa aventura no blog Pedalante e no blog pedalfsm2010 (atualizado durante a viagem).