Hoje o Pimenta com Limão está completando dois anos de vida. Não posto nada há quase dez dias (ou mais?), mas já vou voltar ao ritmo normal. Quem me acompanha sabe que tenho esses bloqueios de vez em quando, resultado da falta de disciplina e concentração. Aliás, se alguém souber onde vende em drágeas me informe, por favor!?!
Para quem ainda não sabe como surgiu esse espaço, conto nesses três primeiros posts a história toda: “Meu blog pessoal“, “O antes…” e “A primeira noite do resto da minha vida foi muito boa“. Quando escrevi esses textos não pensava em ficar tanto tempo no ar e muito menos passar das cem mil visitas. É muito mais do que imaginei, e para quem pensava não saber falar de si já coleciono uma pá de desabafos cabeludos e muito #mimimimi.
Muito obrigada a todas e todos que me acompanham durante todo esse tempo e ainda aturam esses meus hiatos. E falando em bloqueio e falta de disciplina, fui procurar uma imagem para colar aqui e achei essa chamada “niver preguiça”. Significa? Rá!!!
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Confesso que guardava escondidinho um fio de esperança que o presidente Lula abrisse os arquivos da ditadura militar carimbados como ultra secretos, que são responsabilidade do executivo, e que tiveram esse carimbo renovado ad eternum por Lula quando do vencimento do prazo de 25 anos a partir da Lei da Anistia. O fio arrebentou. E a Secretaria de Direitos Humanos está lançando mais alguns livros sobre tortura e a repressão no campo durante a ditadura. Preferia menos livros e mais atitudes. Embora o registro seja importante, ele não é incorporado à grade curricular na disciplina de História do Brasil e sabemos que eles são feitos porque esse é o limite da ação da SDH.
É decepcionante e lamentável a falta de atitude do Brasil nesse caso. Enquanto os demais países do Cone Sul passam sua história a limpo e aos poucos vão condenando os militares torturadores de seus períodos ditatoriais, o Brasil prefere passar esse recibo vergonhoso de jogar a sujeira para debaixo do tapete. Mais lamentável ainda é a atitude das próprias Forças Armadas que deveriam ter interesse em ver julgados e condenados os militares que se envolveram na tortura para limpar o nome da corporação. Ao acobertarem seus colegas assassinos e psicopatas, se envolvem nessa lama como se a tortura, o assassinato e o desaparecimento forçado dos opositores do regime fosse (é) prática institucionalizada da corporação.
Pior do que não punir os torturadores é não dar às famílias dos desaparecidos políticos o direito de enterrarem seus entes queridos e encerrarem seu luto inacabado. Essa tortura continuada é inominável. Assim como o ministro da Comunicação Social Franklin Martins, eu espero ver um dia o presidente da República pedir desculpas ao país em nome do estado brasileiro e das Forças Armadas pela ditatura e atrocidades cometidas. Acreditei que Lula faria isso. Não fez, foi omisso e covarde. Fico aguardando a atitude de Dilma, ex-guerrilheira e vítima da tortura e que sabe como ninguém o mal que esses animais fizeram ao país. Mas é improvável que faça, embora eu torça para não ter razão.
Como punir policiais que praticam a tortura em delegacias país afora, se os militares da ditatura não o foram? Mesmo que inicialmente sejam punidos com medidas paliativas quando são flagrados – e apenas quando são flagrados -, esses policiais sempre terão a seu favor o argumento da impunidade de gente que torturou e matou muito mais do que eles e com a autorização do Estado brasileiro. A tortura é prática institucionalizada no país e o tal estado democrático de direito é cuspido e pisoteado diariamente e com o aval da Justiça.
Parte da revolta que senti quando o Supremo Tribunal Federal estendeu a anistia aos torturadores foi abrandada agora, com a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA condenando o Brasil no caso da Guerrilha do Araguaia e obrigando-0 a investigar o caso (o Brasil sequer admitia a existência da Guerrilha do Araguaia, que dirá da chacina promovida pelo Exército).
Diz a sentença: “investigue o caso, determine as responsabilidades penais e aplique as devidas sanções; esforce-se para descobrir o paradeiro das vítimas, identificá-las e entregar os restos mortais a seus familiares; ofereça tratamento médico e psicológico às vítimas; realize ato público de reconhecimento de responsabilidade no caso; promova curso ou programa sobre direitos humanos para integrantes das Forças Armadas; e adote medidas para tipificar o delito de desaparecimento forçado de pessoas de acordo com os parâmetros interamericanos.” Leia a íntegra da sentença.
Apesar de ter sido uma vitória, foi uma vitória vergonhosa, desonrosa. O Brasil só tomará uma atitude com relação aos crimes promovidos pelo Estado naquele período – e apenas de uma parte desses crimes – porque uma corte internacional o está obrigando. Enquanto isso, a Argentina faz a lição de casa e só em 2010 já condenou 89 repressores de sua ditadura militar.
(Aqui eu abro um parênteses para dizer que a mim incomoda muito essa história de indenização, embora seja um direito das famílias. Durante os governos de Fernando Henrique Cardoso começaram os processos de reconhecimento de perseguições políticas e os pagamentos de indenizações e ficou a impressão de que o Estado tinha feito a sua parte. Ou seja, sempre que há dinheiro envolvido fica essa impressão de ‘pagamento’ – no sentindo de fazer justiça – por algo que não tem preço e nem medida. Mas voltarei a esse ponto outro dia.)
Para encerrar uma boa notícia. Entrou em vigor dia 24 de dezembro a Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados, ratificada por 20 países – Albânia, Alemanha, Argentina, Bolívia, Burkina Faso, Chile, Cuba, Equador, Espanha, França, Honduras, Iraque, Japão, Cazaquistão, Mali, México, Nigéria, Paraguai, Senegal e Uruguai. Outros 70 países também já afirmaram sua intenção de ratificá-lo no futuro. Sentiram a falta do Brasil na lista dos países ratificadores da convenção? Mais uma vergonha… Como diria um cantor nativista daqui de Pelotas, Joca Martins, “é aí que me refiro” que ser ou não de esquerda não faz a menor diferença. A dita esquerda hoje no poder abandonou a esquerda que tombou combatendo a ditadura (*) e que contribuiu muito para que hoje vivamos numa democracia. Um arremedo de democracia, é bem verdade, mas infinitamente melhor que qualquer ditadura. .
(*) Mesmo que os personagens sejam os mesmos, fazendo desse momento e abandono um ato quase esquizofrênico.
Nota: O Pimenta com Limão é um grão de areia no mar da comunicação brasileira, mas continuarei a minha luta pela abertura dos arquivos da ditadura e pela punição dos torturadores.
Finalmente estou dando um ‘tapa no visual’ do Pimenta com Limão. Ainda não está pronto. Vou levar um tempinho para recolocar todos os banners das campanhas que participo e das lutas que defendo, e ainda tem o banner do cabeçalho que deve colocar um pouco de cor nesse novo layout. Mas é mais ou menos isso. Até amanhã deve estar tudo pronto. Por enquanto fica com essa cara de casa nova vazia, sem móveis. Rá!
Há exatamente um ano eu estava saindo da casca, ou melhor dizendo, rompendo com quatro anos de depressão profunda que me impediam de sair de casa, trabalhar, viver…
O lançamento e sessão de autógrafos de um livro com alguns textos meus na Feira do Livro de Pelotas de 2009 me tiraram de casa direto para uma situação de destaque, algo que evitava/evito. Foi um trabalho importante. Não escrevo mais no blog/site/jornal online que gerou a publicação, mas me orgulho de todo o trabalho que fiz naquele período, incluindo os textos publicados no livro.
Encarei o evento como o primeiro passo do resto da minha vida. E assim foi. Minha vida mudou radicalmente nesses 365 dias passados, embora alguns sentimentos e pensamentos sombrios insistam em permanecer comigo. Mas estou vigilante e tento não deixá-los tomar espaço.
Voltei a sorrir e a sonhar como tenho relatado nos posts mais recentes e o sentimento mais comum nos últimos dias é a esperança de dias melhores.
Depois de amanhã, dia 9, o Pimenta com Limão completa seu primeiro ano de vida. Me aventurei nessa viagem – até então inédita – de escrever sobre sentimentos muitos pessoais para registrar aquele meu momento vitorioso (afinal eu venci a depressão sem ajuda profissional, sozinha, com as minhas pernas e esforços) e para me acostumar com essa ferramenta (blog do wordpress) para finalmente colocar no ar o meu blog de cinema. O Pipoca Comentada está no ar e eu mantive o Pimenta com Limão porque gostei de desabafar virtualmente. Gostei tanto que vocês me aturarão por muito tempo ainda. Rá!!!
Hoje eu comemoro o primeiro aniversário do meu segundo nascimento. Muitos outros ainda virão, não que eu pretenda morrer novamente para de novo nascer, mas porque sobreviver é o que de melhor faço nessa vida. .
Não consigo blogar desde a madrugada de domingo. Estou sofrendo de uma espécie de bloqueio que me impede de escrever e desenvolver qualquer raciocínio, mesmo tendo muitos assuntos e fatos que estejam me indignando e que, normalmente, me inspirariam. Mas estou tentando me disciplinar para recomeçar a escrever a partir de hoje. Espero conseguir. Mas sempre que não conseguir escrever, tentarei pelo menos postar sobre arte e música. Obrigada pela paciência e por não deixarem de visitar o Pimenta com Limão.
Ontem, duas discussões no Twitter me estressaram. Quem me conhece pessoalmente sabe que não é muito difícil me estressar. A tolerância é um exercício, mas conforme eu consigo esticá-la em algumas coisas, menos sobra em outras. Na verdade são opções minhas não tolerar determinadas coisas por respeito a minha história de vida. Com algumas coisas não quero mais ser tolerante. Vou falar de duas, presentes nas discussões de ontem.
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Falsa neutralidade
Alguém ainda acredita nesse discursinho furado “não tenho ideologia, tenho opinião”? Estou simplesmente saturada desses jornalistas de centro/direita que se julgam acima do bem e do mal e acham que conseguem enganar a todos com suas maravilhosas crônicas críticas a tudo e todos. Suas críticas atacam sempre aos mesmos, mas de vez em quando citam aqueles com quem simpatizam para ‘provar’ sua “neutralidade”, “isenção” e “ética”. (Com licença, fui ali vomitar e já volto!)
Eles julgam nós da esquerda como histéricos. Como se histeria fosse privilégio de apenas um dos extremos. Mas o que dizer desse ex-coronel citado na crônica de Marcelo Rubens Paiva? Não é histeria achar que comunistas “comem crianças e que são o mal encarnado na Terra”?
Os falsos neutros não sabem, mas servem como arma no jogo sujo da direita, para quem ainda identifica as trágicas experiências do socialismo autoritário e burocrático do Leste Europeu com a teoria de Marx. É comunista? Não presta. E para quem acha esse tema superado, prestem atenção no discurso atual da mídia, onde os defensores do PNDH-3 são classificados como subversivos perigosos.
Foi Max Weber quem disse – e não Karl Marx – “Quem se declara neutro já se decidiu, mesmo sem saber, pelo lado mais forte”. Não se encaixa como uma luva no caso dos falsos neutros?
Machismo dissimulado
Nesses tempos chatos onde prevalece o ‘politicamente correto’ e onde as pessoas escondem o que realmente pensam para não serem crucificadas em praça pública, os preconceitos são todos varridos para debaixo do tapete. Vez ou outra afloram, como no caso de Boris Casoy. É como manter uma mola encolhida.
A direita finalmente está perdendo a vergonha e colocando a cara na janela, mas os machistas e os racistas cada vez se escondem mais. Duas leis em vigor no Brasil, necessárias para coibir os abusos cometidos contra mulheres e negros, contribuem pra isso: Lei Maria da Penha e a Lei Caó(*), que combatem as agressões mais grotescas mas só fazem o preconceito aumentar. É como se os racistas e machistas ficassem com raiva por terem seus instintos reprimidos.
Mas quero mesmo é falar daquele machismo embutido em todas as relações e que afloram na forma de pequenas grosserias no dia a dia. Ontem, ao reclamar da chatice de uma discussão teórica que não levaria ninguém a lugar nenhum – ou seja, aquelas velhas discussões sobre o “sexo dos anjos” -, li um sintomático: “Basta não ler se não quiseres”. Simples assim. O detalhe é que essa discussão era no Twitter, onde não ler ou não escrever é ficar de fora de uma discussão.
Entenderam? O macho em questão (talvez não tenha se dado conta, considero também que possa ser um simples caso de reprodução automática) me disse com outras palavras para cair fora da discussão e parar de perturbar. Já ouvi a mesma coisa, nas mais variadas formas, centenas de vezes em longos anos de militância. Não admito mais esse tipo de grosseria comigo e não gasto meu tempo discutindo com pessoas capazes desse tipo de coisa. Simples assim.
Os dois casos de estresse de ontem resultaram em “unfollow” sumário. Deixei de seguir os perfis dos dois cidadãos no Twitter, o “falso neutro” e o “macho alfa que tenta ganhar discussão falando grosso”. Isso mesmo, sou radical.
Sempre me perguntam porque meu blog pessoal se chama Pimenta com Limão. Alguma dúvida ainda?
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(*) A Lei Caó é de 1989, de autoria do deputado constituinte Carlos Alberto de Oliveira (PDT-RJ), e classificou os crimes de racismo como inafiançáveis e imprescritíveis. Em 1997, a Lei n.º 9.459 previu as penalizações e por isso muitas pessoas acham que a lei anti-racismo no Brasil só passou a valer a partir desse complemento.
marginal, chaaaaaaata, comunista, libertária, feminista, amante do cinema, "meio intelectual meio de esquerda", xavante, mãe do Calvin e "avulsa" - diretamente de satolep, fim do fundo da américa do sul