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A ilusão da casa

A ideia de não ter casa ou pouso fixo normalmente atrai, pela sensação de “irresponsabilidade” permitida e liberdade. Nunca tive casa (no sentido de lar), mas sempre tive um endereço onde morei a maior parte da minha vida e onde reconhecia cheiros, paredes, pessoas e onde dormia sem sobressaltos. O que não tem sido possível.

Por mais que viver solta por aí tenha uma aura de sedução, não se reconhecer em nada ou ninguém não é fácil. Mesmo que da casa tivesse só a ilusão — me apossando aqui da composição do amado Vitor Ramil para conseguir me expressar — de ter lugar para repousar do mundo e da batalha diária, ela é vital. Pelo menos para pés tão cravados no chão.

Falando em Vitor Ramil, não é de hoje que o apresento a quem encontro pela vida afora. Ele é bem mais que uma inspiração casual para escrever, é o meu compositor preferido. Diferente da ampla maioria dos artistas gaúchos que alcançam fama nacional — ou que objetivam a fama nacional — como seus irmãos mais velhos, Adriana Calcanhotto, Elis Regina, entre outros, o Vitor escolheu morar em Pelotas e mesmo que passe a maior parte do ano viajando, seu pouso, lar, coisas, ficam lá.

Nem todo mundo tem o talento do Vitor e pode escolher onde morar e continuar fazendo, trabalhando no que gosta. Nos meus últimos anos em Pelotas era morar lá ou ser jornalista. As duas coisas juntas mais o Calvin não foram possíveis para mim. Dói muito não estar em Pelotas. Não há outro lugar no mundo onde queira morar ou estar mais do que na Satolep descrita, poetizada e cantada por Vitor (por mais idealizada que seja).

Sua música me traz Pelotas. Me transporto pra lá pelo som da sua voz e na melodia de suas canções. Sinto meus passos pelas ruas úmidas, o cheiro da cidade, vejo as pessoas… A contradição do momento é que quanto mais a saudade aperta menos consigo ouvi-lo. E não ouvir a música do Vitor dói também, torna a vida mais triste, tudo fica menos. Suas canções me trazem a presença do Calvin tanto quanto as do Smiths. O ensinei a gostar dos dois. É nesse misto de “never never want to go home because i haven’t got one anymore” e “o tempo é o meu lugar, o tempo é minha casa, a casa é onde quero estar” que tenho vivido nos últimos meses.

Não posso voltar para Pelotas agora e é lá que está o meu melhor pedaço. Queria poder desembarcar do mundo numa estação da Satolep imaginária do Vitor para me recompor e parar de doer. O “me encontrar” é um luxo com o qual nem sonho mais neste mundo.


Biscate de Luta e a Marcha das Vadias em Pelotas

Texto meu postado originalmente no Biscate Social Club

Não sou uma biscate qualquer.

A biscate que sou só eu poderia ser. Ou, a mulher que sou só eu poderia ser. Ou ainda, a pessoa que sou só eu poderia ser. Somos todos assim, construídos de pequenos detalhes, grandes diferenças, caminhos trilhados com dificuldade ou não, escolhas, dores, alegrias… Vida vivida.

Entre as minhas escolhas estão ser comunista — reconheço a que classe pertenço neste mundo capitalista, reconheço a opressão sofrida por esta classe, me rebelo, quero e luto para construir outro mundo, com outro sistema, sem classes e baseado na cooperação mútua tendo o ser humano como parâmetro — e feminista — reconheço meu gênero e todas suas implicações e opressão sofrida, e luto por um mundo antimachista, construído na parceria entre gêneros.

Para além de ser feminista, percebi que a opressão de gênero é um dos pilares de sustentação da opressão de classe e que essas duas opressões estão intimamente ligadas (a opressão de gênero e a normatização da sexualidade da mulher surge na História junto com a propriedade privada), uma não sobrevive sem a outra e talvez por isso seja tão difícil romper com as duas.

Nesse período do início de março é comum recebermos homenagens e flores e vermos a feminilidade ressaltada. Pois reafirmo, engrossando o coro de milhares de mulheres que lutam ao meu lado, o 8 de Março (leia aqui sobre a origem da data) é um dia de luta, de protesto e de reflexão. Dia de recusarmos as flores e falsas/frágeis homenagens e dizermos em alto e bom som: QUEREMOS É RESPEITO E UMA VIDA SEM VIOLÊNCIA!

Juntemo-nos às Marchas das Vadias e atos públicos desse 8 de Março nas cidades Brasil afora. Vamos às ruas fazer valer nossa autonomia e liberdade. Não há outro jeito. Nesse mundo, machista e capitalista, a biscate que eu sou é essa: rebelde, de luta!

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As mulheres de luta de Pelotas irão às ruas no próximo sábado na Marcha das Vadias, para dizer NÃO à violência contra a mulher. Concentração a partir das 11h, no Chafariz do Calçadão da Andrade Neves com Sete de Setembro. Faça o seu cartaz, vista-se da maneira que quiser e compareça.

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Outros Atos e Marchas referentes ao 8 de Março de 2012:

Brasília: 6 a 31/março — Diversas atividades do Fórum de Mulheres do DF.
Belém: 8/março — Caminhada, concentração em frente ao Tribunal de Contas às 9h.
São Paulo: 8/março — Ato e Passeata, concentração na Praça da Sé às 14h.
Recife: 8/março — Manifestação na Praça do Diário, às 15h.
Fortaleza: 8/março — Caminhada das Mulheres, concentração no Parque do Cocó às 16h.
Rio de Janeiro: 8/março — Manifestação, concentração no Largo da Carioca às 12h.
Belo Horizonte: 8/março — Ato e Passeata, concentração na Praça da Estação às 15h.
Natal: 10/março — Marcha das Vadias, concentração Ponte Negra atrás do Vilarte às 14h.
Vitória: 10/março — Ato das centrais sindicais na Assembleia Legislativa às 19h.
Campo Grande: 10/março — Marcha das Vadias, concentração Pça Rádio Clube às 8h30.

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Veja AQUI uma brincadeira, um editorial de moda (NOT) com as fotos que fiz na Marcha das Vadias de Brasília em junho de 2011.


Entrevista (atrasada) com Ivan Lins

Tive o prazer, a sorte e a honra de entrevistar Ivan Lins em Pelotas logo após seu show no Theatro Guarany em 16 de novembro de 2010. Ivan iniciou em Pelotas a turnê Perfil para comemorar seus 40 anos de carreira. A entrevista foi tão bacana, mas tão bacana, e o Ivan foi tão gentil e tão disponível, respondendo todas as minhas perguntas que não sentia necessidade de publicá-la. Fiquei tão satisfeita com essa entrevista que a guardei durante mais de um ano só para mim. Pensem que o cara tem quatro décadas de carreira e entrevistas, reconhecimento no Brasil e consagração no exterior e em nenhum momento emitiu opinião sobre minhas perguntas ou se mostrou impaciente. Ivan é um artista ímpar e um ser humano simples e humilde, me respondeu olhando nos olhos (ai ai…), concentrado nas perguntas e no papo.

Não me acho grande coisa como entrevistadora — sou do tipo que fica interrompendo as respostas com pitacos, chata mesmo –, estava morrendo de dor de cabeça, esperei até a última tia velha aflita tirar foto com ele numa fila interminável de fãs no camarim após o show, cheguei a me perder no meio da entrevista (quem não se perderia diante daquele sorriso há apenas meio metro de distância?) e mesmo assim ele foi paciente e atencioso. Um gentleman, comigo e com todos. Quem nunca se apaixonou pelo entrevistado e guardou a entrevista só para si, né? Jornalista doida é isso. 😛

Falamos de música, política (e lembrem-se sempre que a entrevista foi feita em novembro de 2010), sobre o desafio de compor durante a ditadura militar, sobre o Ministério da Cultura, futebol… Confiram.

percebam a distância e avaliem o meu "nervosismo"... meu rosto queimava.

Tem diferença fazer sucesso no Brasil e no exterior?
Existe uma certa diferença pelo fato de que o sucesso que se faz no seu país é um encontro com suas raízes, com os motivos pelos quais levaram você a se dedicar tanto à sua arte. Sou filho desse país, tudo que eu sei, tudo que sou eu devo a essa terra, a esse povo, a todas as pessoas com quem eu tive a oportunidade de conviver, com todo o carinho que eu recebi através dos meus shows. Esse sucesso para mim é o melhor de todos. O sucesso que a gente faz lá fora a gente simplesmente está levando o nosso país para lá, eu canto meu país lá fora, eu sempre levo o que há de melhor daqui para falar lá, porque meu país é um lugar especial, de um povo muito especial. O sucesso que a gente faz lá fora é diferente, não sou eu sozinho, sou eu e o meu povo todo.

Em todas as profissões tem aquelas coisas que fazemos com mais prazer e outras que fazemos pela obrigação no exercício do ofício. O que mais te dá prazer na tua profissão?
É a liberdade que eu tenho para desenvolver a minha arte. Eu criei o meu próprio espaço e faço com que esse espaço seja mais amplo possível e ao mesmo tempo eu não fecho nem portas e nem janelas. Estou sempre aberto a tudo que possa vir. A beleza não é um privilégio meu, é de todas as pessoas. Todos têm um pouco de beleza dentro delas…
Todos têm a capacidade de ver o belo…
Isso… Eu sou muito fã dos meus colegas e me permito deixar influenciar por eles, e trabalho tanto com os mais velhos quanto com os mais jovens. Talvez esse seja o segredo. Eu me permito muito que os jovens me contaminem.

Ivan Lins sempre convida para seus shows um novo talento e em Pelotas o escolhido foi Leandro Maia, que além de mostrar uma composição sua, cantou "Bilhete" com Ivan na hora do bis

(Conheçam o trabalho do talentoso Leandro Maia em seu blog Palavreio e entendam porquê ele foi apadrinhado por Ivan Lins)

Falaste em liberdade de criação. Começastes numa fase difícil. Como foi criar e compor durante a ditadura,quando era preciso andar na corda bamba para não ser preso ou não ser censurado?
Foi um exercício de criatividade. Eu até acho engraçado isso, é um paradoxo. Assim como dizem que a dor é cafetina da arte, os momentos difíceis são também os momentos em que arte tem que se desenvolver com mais criatividade.
Tirar leite de pedra…
Exatamente. Os anos 60 e 70 foram o auge da criatividade da música no Brasil.

Gostas de futebol. Tricolor, né?
Eu sou tricolor, lá e aqui (infelizmente para os colorados).
(Tá tudo bem, não sou colorada…)
Até que ponto és torcedor? Vai a estádio, assiste jogo na televisão…?
Vou a estádio, assisto na tevê, fico nervoso, sofro, xingo.
Vai ser campeão?
Olha, não sei. Não consigo prever. Não acho que o Fluminense tenha o melhor time. Tem um grande técnico (Muricy Ramalho), mas não tem o melhor time. Acho que tem times melhores jogando. O time do Grêmio é muito bom, o time do Internacional é um time muito bom. Eu acho que os dois são melhores que o do Fluminense, apesar de estarem mais atrás na tabela. Sou um apreciador do bom futebol, gosto do espetáculo. Meu time não oferece um grande espetáculo nos jogos, tem ganho inclusive sem fazer boas apresentações, eu tenho gostado mais do time do Botafogo por exemplo. O time do Santos também tem oferecido um melhor espetáculo. Gostaria muito que o Fluminense fosse campeão, mas não sei se vai conseguir.

(para a alegria de Ivan e dos tricolores cariocas o Fluminense foi o campeão brasileiro de 2010)

Teu nome foi incluído numa carta de artistas em apoio a José Serra e depois teve um desmentido. Como foi isso? (o segundo turno das eleições de 2010 tinha acabado de acontecer)
Foi oportunismo do pessoal que trabalhava para o Serra, assim como fizeram para a Dilma também. Incluíram meu nome numa lista de apoio à Dilma ainda no primeiro turno. Mandei desmentir e disse que ia votar na Marina. Eles tiraram, tudo certo. Depois no segundo turno tava quieto, não ia votar mais em ninguém, eu anulei meu voto no segundo turno porque os dois candidatos deveriam se chamar Pinóquio e Pinóquia porque estavam mentindo demais pro meu gosto e eu não gosto de gente mentirosa, é uma das coisas que mais detesto. Então, anulei meu voto. Mas quando apareceu meu nome lá (lista de apoio à Serra) eu fiquei passado, muito passado. Não gosto do Serra, nunca gostei dele e se me perguntassem ‘de quem você gosta menos’ responderia Serra.

Como foi ter um colega como ministro da Cultura? Como ficou a música no período em que Gilberto Gil foi ministro?
Eu acho que a gestão do Gil foi fundamental para que a classe criasse mecanismos próprios para poder defender seus direitos e isso só começou com Gil no ministério, apesar do monte de críticas que fizeram a ele e que particularmente achei muito injustas, porque o Ministério da Cultura não é o ministério da música, o que falta é uma secretaria da música e essa é uma reivindicação, uma questão seríssima. De todas as artes a música é a que tem o maior poder de alcance, inclusive internacional, e por isso a necessidade de uma secretaria especial, mas isso não quer dizer que ela tenha ou vá ter prioridade de verbas, pelo contrário, porque eu acho que a cultura começa com a preservação das raízes, da memória, do patrimônio. Não existe um país se não tiver sua memória preservada. Esse é o grande trabalho que precisa ser feito no Brasil. O Brasil é um país que se distrair perde a memória fácil, diferentemente dos países da Europa. Nós tivemos muito do nosso patrimônio dilapidado, destruído dentro das grandes cidades e eu acho que esse é um trabalho que tem que ser feito e exige um investimento muito alto. Esse foi um dos trabalhos que foram feitos, principalmente a partir de Gil e do Juca Ferreira, que é o grande responsável por essa área. Juca Ferreira é o homem que está fazendo o melhor trabalhado de toda a história de preservação de memória, de patrimônio e de folclore desse país. O Brasil tem manifestações folclóricas que estão desaparecendo e as novas gerações não estão acompanhando, e o grande esforço para que essas manifestações se preservem foram iniciadas a partir do Gil. Mas essas iniciativas não chegam ao grande público, não chegam aos interessados. Cada um olha muito pro seu próprio nariz… os músicos, o pessoal do teatro, do cinema… Todo mundo só querendo ver o seu lado, mas ninguém pensou que antes disso o país precisa ter suas raízes e essências preservadas. Se eu fosse ministro também me dedicaria 80% a preservação do patrimônio e 20% ao resto. Foi isso que o Gil e o Juca fizeram e apanharam de todo mundo. Eu sou um dos grandes defensores do trabalho feito e se o Juca Ferreira puder ficar no próximo governo sou totalmente favorável.

(Infelizmente, Juca Ferreira não ficou no Ministério da Cultura)

Estás sempre compondo, é um hábito?
Eu sou muito compulsivo para criar, mas ultimamente não tenho tido é tempo. Tenho trabalhado demais e é uma consequência da crise financeira e de mercado da música brasileira. As grandes gravadoras acabaram, a pirataria de uma certa forma acabou com um lado da indústria, o outro lado, da internet com os downloads (que é a chamada pirataria informal) prejudica muito. Essa principalmente me prejudica bastante.
Não és tão popular para vender em camelô…
É… Exatamente. Então hoje eu sou obrigado a trabalhar mais para pagar minhas contas e não tenho tido muito tempo para compor, infelizmente.

Gostas de viajar pelo interior, conhecer o país nessa rotina de shows?
Adoro viajar, adoro conhecer… Adoro conhecer a arquitetura e a história, vou a museus…
Essa é uma questão importante para ti, da preservação do patrimônio…
Tenho muita vontade de fazer um trabalho pelo Brasil, se alguém financiasse, fazendo documentários, criar movimentos de preservação. Eu sou um entusiasta do folclore brasileiro, da preservação das nossas raízes. Esse país é incrível! E olha que eu conheço só 20% dele.

Se fosses te definir… Quem é Ivan Lins?
Eu sou um cidadão brasileiro, um bom cidadão brasileiro, compromissado com a beleza. Tenho um compromisso com a beleza no seu sentido real, amplo, interior. E por amar demais esse país eu me indigno e sou muito crítico. Eu sou um brasileiro que cobra e ama muito.

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(Fotos Murilo Paulsen, Portal VIP Pelotas)

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PS: Agradecimento especial aos queridos Alex e Martha Fonseca, sem os quais não teria chegado nem perto do Ivan Lins.

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Como e porque expurguei o PT de mim

Diferente de muitos militantes do PT que deixaram o partido após os escândalos do mensalão e decepções com o governo Lula, eu saí bem antes. Me desfiliei depois de dez intensos anos de militância partidária, em agosto de 1999. Na verdade estava fora desde outubro de 1998, bem entre o primeiro e segundo turno da eleição que elegeu Olívio Dutra governador do Rio Grande do Sul.

Nessa época, eu tinha trabalhado como assessora de imprensa da Prefeitura de Palmeira das Missões, região noroeste do estado, com status de secretária de governo. Era amiga pessoal, não muito próxima, do então candidato a vice-governador Miguel Rossetto –  éramos da mesma tendência interna, a Democracia Socialista –, que mais tarde se tornou o grande articulador do Fórum Social Mundial. Eu havia saído da prefeitura de Palmeira das Missões por problemas de relacionamento (para terem uma ideia eu havia chamado o prefeito de covarde numa reunião do secretariado municipal – e todo o governo e direção do PT em Palmeira das Missões era da Articulação de Esquerda, tendência “próxima” à coordenação do MST, eu era um ser estranho e incômodo)*.

A assessoria de imprensa na prefeitura em Palmeira foi meu primeiro emprego como jornalista formada. Dos que se formaram comigo e ainda não trabalhavam na área, em torno de 70% da turma, fui a primeira a conseguir emprego, exatos 35 dias depois da formatura. E  o salário não era de iniciante nem de estagiária. Mas eu me empolguei tanto que fiz em seis meses o trabalho de três anos e, claro, não vi os resultados. Tornei-me dispensável porque ainda resolvi um problema grave para a Administração Popular local: Cooptei uma jornalista do PDT e a levei para trabalhar comigo. Ela era uma das grandes articuladoras da oposição no funcionalismo municipal. Sempre tive um gênio do cão e não “respeitei” uma espécie de hierarquia familiar** do PT e da Administração Popular de Palmeira das Missões.

Nem vou mencionar que foi lá que recebi o diagnóstico da síndrome do Calvin (por telefone) e o havia levado para morar comigo há apenas dois meses quando fui demitida –  nos primeiros quatro meses eu vinha a Pelotas em média uma vez por mês. Calvin estava com apenas dois anos.

Voltei para Pelotas me sentindo derrotada. Derrotada pela intolerância e pelas divergências entre as tendências internas do PT. Justamente o que mais me mobilizava e encantava no partido, que era a democracia interna, a construção da unidade partidária na diversidade de ideias. Estava meio depressiva e o Olívio (diferente do Lula que perdeu para FHC no primeiro turno) tinha passado para o segundo turno com chances reais de derrotar Antônio Britto. Decidi me enfiar de cabeça na campanha e recebi da direção local da DS a incumbência de dividir trabalho em uma comissão com uma militante feminista muito complicada do então PT Amplo e Democrático (ex Nova Esquerda, ex PRC) que, desconfiávamos, poderia sabotar a campanha de Olívio só porque ele havia composto com a DS***. É, a guerra entre as tendências internas do PT era um jogo duríssimo onde da testa para baixo tudo era canela.

A minha presença ou vigília na tal Comissão de Mobilização da campanha Olívio em Pelotas não durou uma semana. No fim de uma tarde fria, que antecedia uma noite de plenária de campanha, fui acusada por essa militante feminista complicada de ter furtado de sua bolsa R$ 7,00 (sete reais). Seria o troco de uma bandeja de figos cristalizados (Pelotas é capital nacional do doce e produz, além dos chamados doces finos de mesa, doces e frutas cristalizados). Ela levou o caso à coordenação local de campanha e do partido, me acusou frontalmente dizendo ter certeza que havia sido eu e exigiu providências. Um dirigente da DS, assessor de finanças do partido, juntamente com outro assessor da Brasil Revolucionário (ex PCBR), antes de falarem comigo telefonaram para Palmeira das Missões contando tudo o que estaria acontecendo e pediram “referências” minhas. Queriam saber, investigar, o motivo da minha demissão lá. Armaram um circo imenso. Todas as tendências e todos os militantes envolvidos direta e indiretamente na campanha souberam do fato antes de mim. Finalmente a coordenação tomou a decisão, a minha revelia, de me afastar da campanha e proibir minha entrada na sede do PT.

Detalhe sórdido 1: A tal militante feminista complicada havia PERDIDO os tais R$ 7,00 dentro da sede do PT e o achou minutos depois de ter comunicado o meu “delito”. Mesmo assim não voltou atrás na acusação e exigências.

Detalhe sórdido 2: Militava com ela também numa ONG feminista da cidade e tínhamos uma convivência normal, baseada em solidariedade e respeito –  acreditava. Internamente na DS sempre a defendi de comentários maldosos que, julgava eu, eram muito mais pelo fato dela ser mulher do que por ser da tendência oposta.

Detalhe sórdido 3: A tal militante feminista complicada não foi nem sequer repreendida, muito menos afastada da campanha. E, antes que eu soubesse de tudo, ela conversou comigo e me consolou dizendo não saber o que havia motivado a coordenação a agir daquele jeito.

Detalhe sórdido 4: O dirigente da DS e meu algoz no caso da falsa denúncia de furto, militou anos a fio comigo, desde o movimento estudantil secundarista. Foi ele quem me apresentou a DS e me emprestou o primeiro livro do Trotsky que li na vida (sim, eu fui troska!).

Dois dias depois do falso caso de furto, julgamento e condenação, os dois venenosos dirigentes (DS e BR), bateram na minha casa me pedindo desculpas por terem acreditado em alguém, segundo eles, comprovada e notoriamente mau caráter e não em mim. A executiva municipal do PT e a coordenação de campanha me perguntaram se eu queria receber um pedido de desculpas formal em reunião interna (claro, plenária seria um exagero) como forma de retratação. Eu aceitei. Fui pessoalmente dizer que não os desculpava e comecei naquele dia um longo período de depressão e um longo, lento e doloroso processo de rompimento com o PT e com as pessoas que eram meus referenciais políticos. Isso tudo ocorreu em outubro de 98 e eu só me desfiliei em agosto de 99. Não vou relatar aqui o rompimento derradeiro. Apenas digo que escrevi aos prantos uma carta de próprio punho no Cartório Eleitoral da cidade comunicando a minha desfiliação do PT. As atendentes do cartório, coitadas, não entendiam o motivo do choro. Afinal, não era uma assinatura de divórcio, embora eu estivesse me comportando como se fosse.

Estou expurgando tudo isso publicamente de mim só agora, onze anos e meio depois motivada por dois casos ocorridos essa semana. Um foi ter entrado em contato no domingo com esses métodos nada éticos e nada ortodoxos produzidos – parecem – em série no PT e na DS, em meio a uma brincadeira no tuíter. Parece que o pessoal do PT leva até jogo de futebol de botão tão a sério como se fosse eleição para presidente. O segundo foi uma espécie de explosão homofóbica e “carteiraço” de um assessor de dirigente nacional do partido também no tuíter, que pode ser conhecido em dois posts do blog Maria Frô, um que relata e outro que traz uma espécie de resumo do caso por um petista crítico à sua direção e a esse tipo de comportamento. O fato fala por si e dispensa qualquer comentário meu a respeito.

Nunca fiz nenhuma crítica pública ao partido porque não me sentia habilitada para isso. Eu não rompi com o PT por motivos políticos, mas pessoais. E mesmo reconhecendo que recuperei minha consciência crítica só depois que me afastei, sempre achei melhor guardar as críticas para mim. Só faço críticas ao PT em público quando estou muito braba, e aí sobra tiro para todo lado mesmo. Mas, assim, consciente, calma e oficialmente é a primeira vez.

Como um partido que não consegue se revolucionar e romper com preconceitos internamente pretende fazer isso na sociedade? O tempo passa, o tempo voa e o PT não consegue nem fazer autocrítica e nem reconhecer seus problemas. Essa história do soldadinho do passo certo é conhecida e já cansou. Tem que ver isso aí, PT! Já perdeu imensas fileiras de militantes e continuará perdendo. Uma hora a gente cansa de dar murros em ponta de faca e vai construir a vida e a militância em outros espaços.

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P.S.: Me filiei ao PT aos 17 anos, quando presidia o maior grêmio estudantil secundarista da região, no dia 28 de março de 1989 – Dia Nacional de Lutas, por ser aniversário do assassinato do estudante Edson Luís pela ditadura militar, dia histórico para os secundaristas (esse termo se perdeu já que agora é Ensino Médio). Mas aos 14 já havia tentado organizar um núcleo do PT no bairro onde morava. Foi muito difícil desvencilhar a minha história do PT, mas consegui.
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Notas:

* A Articulação de Esquerda em Palmeira das Missões se sentia (deve se sentir ainda) a vanguarda revolucionária do mundo. Foi lá, num terreno doado pelo cara que conheci em 1998 como presidente do PT local, que se articulou a ocupação da Fazenda Anoni em 1978-79 e se tornou o berço do MST. Nesse terreno foi construído uma espécie de Quartel General dos Sem Terra, local onde eles fazem seus cursos internos de formação política e se reúnem em encontros mais longos para planejar estratégias e ações. Só estive lá uma vez e tinha um clima de clandestinidade no ar impressionante. Foi em Palmeira das Missões que conheci pessoalmente João Pedro Stédile. Seguidamente o encontrava em reuniões, cafés, com membros do PT e AP.

** Em Palmeira das Missões existem três ou quatro famílias que estão inteiras no PT e dominam completamente a cena além dessa forte influência/interferência do MST no partido e vice-versa. Aliás, foi onde encontrei a maior proximidade do PT com o MST. E ela se dava muito mais pelas relações pessoais do que institucionais.

*** Mais tarde a própria DS assumiu essa estratégia sórdida de boicotar a tendência vitoriosa na disputa interna quando da campanha do partido na eleição. Vide o comportamento da DS na campanha da Maria do Rosário para a prefeitura de Porto Alegre em 2008. A DS era a tendência majoritária e não admitiu a derrota, e boicotou vergonhosamente a campanha de Rosário, preferindo deixar José Fogaça se reeleger.

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Aniversariante do dia

Meu querido amigo mestre jornalista Deogar Soares faz hoje, 1º de janeiro, 75 anos. Ele está e estará sempre presente na minha lembrança.

Sempre que vou escrever e não estou muito inspirada ou com preguiça, penso que ele poderia ler o meu texto. Aí, sou obrigada a caprichar. Deogar era um crítico mordaz, ácido e ferino. Mas doce no trato com as pessoas. Um homem de princípios, caráter firme e regador de utopias. Sonhava em montar um jornal de esquerda, para desafiar os poderosos e esfregar o preconceito da sociedade em sua cara.

Sua revolta e indignação nunca envelheceram. Ele preservou aquele sentimento típico da juventude de querer mudar o mundo e sonhava com dias melhores. Mais do que isso, contribuía com suas crônicas diariamente no rádio, desconsertando e desacomodando quem o ouvia. Tinha uma voz padrão de rádio, grave, inconfundível.

Deogar lutou contra a ditadura no ar, trabalhando. Ele criou (acho que inspirado em José Saramago) um método para não ser apanhado pela censura. Durante a repressão, as rádios não podiam improvisar e tudo o que fosse ao ar precisava ser redigido antes e aprovado pelo diretor da rádio, no caso a Rádio Universidade Católica de Pelotas (RU), além da gravação  dos programas naqueles rolos de fitas antigos.

Deogar, que tinha o aval do diretor da RU (mesmo que alguns duvidem), passou a escrever suas crônicas sem pontuação nenhuma e sem parágrafos. Pontuava mentalmente, quando escrevia e depois quando lia dando a entonação que desejasse. Tomou muitos ‘chás de banco’ no 9º Batalhão do Exército ali na Av. Duque de Caxias. Mas era impossível provar o que ele havia dito na rádio horas antes. Os arremedos de censores locais perdiam horas tentando ler seus textos ‘despontuados’ e não tinham aparelhagem para ouvir aquelas fitas em rolo. Deogar se divertia, apesar do perigo e contava essas histórias sempre com aquela risada pausada, que era sua marca.

Já escrevi sobre ele algumas vezes (Sobre ser jornalista…Das minhas utopias), e continuarei escrevendo.

Deogar ao centro no microfone, sentado, num programa de rádio com músicos locais

Deogar com a filha Letícia

Fotógrafo dos bons e das antigas, apaixonado por PB, numa brincadeira com ele mesmo

O “velho” Deogar, já como o conheci… observando, pensativo (foto: Nauro Jr)

Eu o convidei para me entregar o “canudo” na minha colação de grau como jornalista em janeiro de 1998. Era justo, já que ele sempre foi minha maior inspiração e exemplo de ética e profissionalismo. Ele foi e eu fiquei muito orgulhosa, me sentindo prestigiada pelo meu mestre.

Deogar nos deixou prematuramente em agosto de 2003. As saudades são muitas.

Um beijo, querido!

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Sobre o show do Zé Ramalho em Pelotas e da minha revolta com a burguesia dessa cidade

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“O povo foge da ignorância, apesar de viver tão perto dela…”
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Hoje (14/11/2010) tive o prazer de assistir pela primeira vez um show do Zé Ramalho. Caro demais pra mim. Se tivesse que pagar não iria. Felizmente meu “frila” atual me permite algumas benesses como entrar de graça em alguns shows. “Vamo combiná” que não é de graça para ninguém e eu preferiria ganhar o suficiente para bancar o ingresso dos shows que quisesse ir. Mas… C’est La Vie!

Voltando ao show, Zé Ramalho é um artista raro. Ele curte fazer o show e expressa isso de um jeito que em alguns momentos parece estar curtindo mais que o público. Os músicos que o acompanham, da Banda Z, parecem tocar juntos há meio século e respondem a ele num simples suspiro. O show é redondo, perfeito, e apesar de alguns arranjos em músicas mais antigas serem novos, tu reconheces cada grande sucesso desde o primeiro acorde. E o Zé Ramalho canta uma barbaridade – como dizem aqui nos pampas. Afinado, vozeirão, empolgado, não erra as letras e nem tem o chamado apoio por escrito à mão (Vanusa deve morrer de inveja). Em nenhum momento, nenhum mesmo, ele demonstra estar cansado de cantar os mesmos versos ou tocar os mesmos acordes há 20, 30 anos. Conselho meu: Tendo a oportunidade, não deixe de assisti-lo.

A apresentação foi a parte boa do show.

Sempre que vou a alguma atividade cultural em Pelotas, destoo em tudo. Não uso maquiagem, não me arrumo como se estivesse indo a um casamento e nem uso o saguão do teatro como um picadeiro de circo antes da apresentação em questão. Já aprendi a relevar algumas coisas, mas sempre vou me sentir um peixe fora d’água em meio àquelas pessoas. Acho até bom que seja assim…

Quem conhece o repertório do Zé Ramalho sabe que ele tem músicas com críticas sociais profundas, mesmo que em meio as suas viagens existenciais, transcendentais, espirituais, astrais… A principal delas é seu maior sucesso,”Admirável Gado Novo” — que assim como o disco da roqueira baiana Pitty (Admirável Chip Novo) — tem inspiração na obra ficcional Admirável Mundo Novo, do britânico Aldous Huxley publicado em 1932, que cria uma hipótese interessante de futuro que por si só já é crítica. A música do Zé tem versos que poderiam ser um soco no fígado dos apáticos trabalhadores explorados desse país, que se comportam – na verdade são tratados assim – como gado e são felizes – “povo marcado, ê, povo feliz!

Assistir hoje a burguesia dessa cidade, que é de causar engulhos em qualquer classe média de cidade grande – quem conhece Pelotas sabe do que estou falando -, cantando de pulmão aberto Admirável Gado Novo como se estivesse debochando do povo-gado ou ignorando o que estava cantando (afinal eles podem), me causou uma revolta como há muito tempo não sentia. Assim, o verso que mais deu sentido a essa estranha noite foi “o povo foge da ignorância, apesar de viver tão perto dela“.

Será que o Zé Ramalho de hoje já foi pausteurizado nessa cultura de massa e não se apercebe mais desses detalhes? Ele, viajandão, adorou a energia do público pelotense. Eu, comunista e pelotense, senti vontade de vomitar em meio à tamanha contradição.

Noite confusa, de sensações conflitantes. Hoje sou mais fã do que jamais fui de Zé Ramalho e sou mais crítica e revoltada do que sempre fui com a burguesia, principalmente com a burguesia de Pelotas.


Relicário de Amélia

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Do Estrelário de Madu Lopes.


Transformatórios sociais

UM OUTRO MUNDO É AQUI!
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Relato do Fórum Social Expandido da Periferias que aconteceu no Loteamento Dunas, em Pelotas e que contou com a participação de periferias de cidades como Belém, Paris, Ivry, Roma, Rosário, Medelin e Barcelona, via internet
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A terceira edição do Fórum Social Expandido das Periferias foi, para mim, uma experiência ímpar. Teria sido para qualquer ativista social. Ver periferias de várias cidades do mundo linkadas através da internet, socializando experiências de como reverter a exclusão social imposta pelo capitalismo, foi gratificante. Mais até do que minha participação na primeira edição do Fórum Social Mundial, quando vi nascer a esperança da possibilidade de construção de um mundo novo. Principalmente por ser o Fórum das Periferias uma organização anárquica dentro do próprio FSM, que hoje parece esgotado em sua proposta inicial.

Comitê Desenvolvimento do Dunas - CDD

O FSP 2010 aconteceu entre os dias 3 e 6 de fevereiro, no Loteamento Dunas em Pelotas, região sul do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, Terra. Neste local, um dos mais pobres e violentos da periferia pelotense, são desenvolvidos projetos sociais baseados na organização comunitária. Aqui, a Uniperiferia (Universidade da Periferia) e a ONG Amiz trabalham em conjunto para dar novas perspectivas de vida aos moradores no Comitê de Desenvolvimento do Dunas (CDD). Entre os projetos desenvolvidos está o Casa Brasil, projeto interministerial do governo federal que agrega elementos do Pontos de Cultura e Inclusão Digital. Saliento que o Dunas é uma das melhores experiências do Casa Brasil, e foi ele que proporcionou, através de equipamentos e treinamento de pessoal, a apropriação da tecnologia necessária à realização deste fórum.

auditório do CDD - local dos debates presenciais

Ou seja, o investimento público feito por um projeto governamental e administrado corretamente por uma comunidade organizada, está resultando hoje em benefícios locais e também numa organização que pretende ser global, para beneficiar outras comunidades que ainda vivem na mais completa exclusão. É a gLOCALização em contraponto à globalização, combatendo o capitalismo e produzindo inclusão social.

interconexões: enquanto Betinho, da ong AMIZ fala no debate presencial, David Gabriel (no telão) acompanha de Paris, via Ustream

Durante quatro dias, os quatro eixos de discussão do FSP 2010 foram Cultura e Arte Transformadora, Ambiência e Urbanismo, Segurança e Proteção, e Comunicação e Informação. Estiveram linkadas ao FSP (via plataforma OpenFSM, através das ferramentas Ustream e Skype) nas discussões, periferias das cidades de Uruguaiana, Belém, Medelin, Rosário, Roma, Barcelona, Paris e Ivry.

creche para os filhos dos participantes locais

A palavra que traduz essa edição do Fórum das Periferias é “transformatórios”, que traz em si a ideia de alterar o caráter passivo dos muitos observatórios sociais para transformatórios das realidades já estudadas e observadas. Conheça, no OpenFSM/FSP2010, as resoluções e encaminhamentos aos quatro eixos de discussão do FSP 2010, já chamados de transformatórios. É possível assistir a cada um dos debates, além de entrevistas e depoimentos extras. Quem quiser contribuir na discussão em cada um dos temas, o espaço está aberto. Nada mais natural que transformatórios sociais estejam em constante transformação.

Discussão sobre arte transformadora, coordenada por Dan Baron (esquerda)

Num outro momento apresentarei aqui a experiência da comunidade do Loteamento Dunas, em Pelotas, e porque é este lugar que sedia o debate presencial do Fórum Social Expandido das Periferias.

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NOTA: A entrevista com Dan Baron, arte educador e presidente da IDEA, sobre arte transformadora está sendo transcrita e estou fazendo perguntas complementares por e-mail. A gravação além de longa não ficou boa. Prometo para breve. Questões enviadas via Twitter por @carlosemilio e @qriz fazem parte da entrevista.
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Salamanca dos pampas…

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Princesa do Sul, de Madu Lopes

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— Eu sou a princesa moura encantada, trazida de outras terras por sobre um mar que os meus nunca sulcaram… Vim, e Anhangá-pitã transformou-me em teiniaguá de cabeça luminosa, que outros chamam o – carbúnculo – e temem e desejam, porque eu sou a rosa dos tesouros escondidos dentro da casca do mundo…
Muitos têm me procurado com o peito somente cheio de torpeza, e eu lhes hei escapado das mãos ambicioneiras e dos olhos cobiçosos, relampejando desdenhosa o lume vermelho da minha cabeça transparente…
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Lendas do Sul, de João Simões Lopes Neto
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Do Estrelário de Madu Lopes – artista plástico pelotense que se define como “um artista do sul que adora cheiro de alecrim e terra molhada…”
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