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Justiça ampla, geral e irrestrita

Tenho usado pouco esse espaço e quase nem me reivindico mais blogueira. Só apareço em duas ocasiões: quando a luta exige e quando meu sangue ferve e preciso desabafar escrevendo. Aí que hoje essas duas coisas se fundiram.

Ninguém sabe, mas o jornalista Mário Magalhães —  excelente repórter e hoje famoso pela também excelente biografia de Carlos Marighella — a quem admiro muito, foi fundamental num período crucial da minha vida. Eu, tentando juntar meus cacos e sem saber se conseguiria, tentando retomar minha vida profissional e me aparece o Mário num imeiu tecendo elogios e críticas ao meu trabalho na época, de uma forma tão terna e respeitosa que me comoveu. Ficamos amigos, e muito me honra essa amizade.

O leio quase diariamente e quase sempre concordo e divulgo seus textos e opiniões. Se não concordo com tudo, entendo e sou solidária ao seu ponto de vista, porque é antes de tudo honesto, sério e isento. Entendo demais seu texto indignado de hoje sobre a morte do repórter cinematográfico Santiago Andrade, no qual pede justiça. Leia aqui o texto completo. Mas, preciso discordar. Não do pedido de justiça, claro, mas de algumas ponderações.

Diz o Mário: “Não há legitimidade nos ataques armados aos policiais. O Brasil não vive uma ditadura. É legítimo recorrer às armas contra tiranias, como reconhecem teólogos relevantes. Por mais injusto que o país seja, a ditadura acabou na década de 1980. Jornalistas, como Vladimir Herzog, foram mortos na luta pela democracia.

Não vivemos uma ditadura, fato. Oficialmente, não. É pior. Vivemos uma democracia que permite tortura, assassinato político, desaparecimento de cidadãos sob a tutela do Estado. Nessa democracia temos uma das polícias que mais mata no mundo, 5 cidadãos por dia no que sordidamente convencionaram chamar de “em confronto com a polícia”. Nessa democracia, só no estado do Rio de Janeiro foram assassinadas dez mil pessoas em dez anos. Nessa nossa democracia seis jornalistas foram assassinados em 2013, nos elevando a condição de país mais perigoso da América Latina para o exercício dessa profissão. Mais: lideramos o ranking da impunidade pela morte desses jornalistas.

O repórter cinematográfico Santiago Andrade foi assassinado, e eu lamento muito por sua vida perdida. Porque sei que após a Globo destroçar seu cadáver ele será esquecido e sua morte ficará impune — se é que não será justiçado de forma equivocada, como está parecendo que será. Não dá para chamar de acidente ou incidente. É como a morte de ciclistas o trânsito, não é acidente, é previsível e sabendo disso e não prevenindo se torna assassinato. Simples assim. 

O que não dá é para descontextualizar sua morte. O Santiago morreu em meio a ação irresponsável da PM, que não tem o menor preparo para manifestações, de qualquer natureza. Agem como trogloditas. Se a ordem é dispersar — e a ordem é sempre dispersar. Porque nessa nossa democracia é proibido, não oficialmente mas na prática, se manifestar publicamente — dane-se a população que está na rua.

A mesma ação desastrada da PM no dia em que Santiago foi ferido matou o vendedor ambulante Tasman Amaral Accioly que tentando fugir das bombas de efeito moral foi atropelado violentamente por um ônibus na Presidente Vargas, em frente a Central do Brasil e não mereceu nenhuma linha da imprensa. Mais um, quase anônimo, também vai ficar impune. A PM chegou a disparar bombas DENTRO da Central. E não estamos falando de UMA ação desastrada onde se perdeu o controle, mas TODAS. Só não teve violência quando a PM não compareceu ou não agiu.

80% de toda a violência praticada contra a imprensa carioca nos atos de maio a outubro de 2013 partiram da PM, segundo o relatório do SindJor-RJ.

Ser jornalista não nos confere nenhum privilégio. Nossa vida tem o mesmo valor que qualquer outra vida. E mesmo achando que ações ou reações violentas não constroem nada também sei que em alguns momentos é preciso enfiar o pé na porta, principalmente diante de uma polícia que tortura, mata e desaparece em plena democracia e em nome do Estado. É nesse contexto que eu não me sinto à vontade para desqualificar ou criminalizar uma tática que pode até errar, mas que evitou que muitas pessoas fossem agredidas pela polícia, vide os atos durante a greve dos professores municipais e estaduais em outubro. Eu posso até não levantar a voz para defender os Black Bloc, mas enquanto eles tiverem uma postura anticapitalista jamais os condenarei.

Não descontextualizar quer dizer também observar que a investigação do caso caminha para a montagem de uma farsa baseadas em suposições, em disse-me-disse, que desrespeitam a vida e tripudiam sobre o cadáver de Santiago. Querer justiça ao Santiago passa por querer uma investigação honesta e criteriosa sobre as condições de sua morte. E eu quero justiça ao Santiago tanto quanto quero justiça à Gleise Nana, ao Fernandão, ao ambulante Tasman Amaral Acciolyaos 13 assassinados da Favela da Maré e a todos os jornalistas agredidos — muitos que só não morreram por um golpe de sorte (estou citando apenas alguns dos casos do Rio de Janeiro; existem outros Brasil afora). Quero justiça também ao Rafael Braga Vieira, morador de rua CON-DE-NA-DO a cinco anos de reclusão por porte de pinho sol, injustamente — o único preso dos protestos de junho.

Quero justiça ampla, geral e irrestrita. 


Editorial de Moda (oi?) da Marcha das Vadias

Estou devendo este post há quase dois meses e antes que o assunto caia de moda…  (he – he – he)

Ao texto:

cartaz na Slut Walk São Paulo - 04062011 - foto do arquivo pessoal de Marjorie Rodrigues

Tudo começou em janeiro deste ano, em Toronto, durante uma palestra sobre segurança para a comunidade, um policial sugeriu que mulheres devem evitar se vestir como “piranhas” para não serem agredidas sexualmente. Ou como sluts, em inglês. A reação foi forte e generalizada, gerando a Slut Walk ou Marcha das Vadias, uma passeata defendendo o direito das mulheres de se vestirem como quiser e não serem atacadas por qualquer homem descontrolado nas ruas.

As Slut Walks se espalharam pelo mundo. No Brasil elas aconteceram nas principais capitais e neste post das Blogueiras Feministas tem o registro do protesto em São Paulo. Tive a sorte de estar em Brasília quando a capital federal realizou a sua Slut Walk e aí…, vocês sabem, ativista comunista feminista marchando em meio a outras ativistas comunistas (algumas nem tanto ou nada comunistas) feministas, acabou que algo me chamou muito a atenção. E não foram os cartazes ótimos e nem as palavras de ordem e nem o fato da marcha acontecer com o sol à pino e de vez em quando o pessoal parar de marchar para ficar gritando e pulando. Foi justamente o que ninguém esperaria de uma ativista comunista feminista: os modelitos Slut Walk.

Então, quem esperava um artigo feminista, essa é a hora de correr em direção a montanha mais próxima ou mudarem de canal, digo, de página. Sim, senhoras e senhores, este será um editorial de moda da Marcha das Vadias. Preparados? Ironia mode on? Voilà!

sou uma vadia livre, modernérrima com meu óculos moscona e sou linda (né, não?)

exigimos respeito! somos magros, nós podemos. morrão de inveja!

abram alas para minha lata de coca cola, minha meia arrastão, minha bota e meu sorriso desfilando na sua cara!

eu e meu estilo coroa bem resolvida laranja de ser... eu posso!

sou vadia, uso burca (e daí) e minha filhinha é caipira... somos fofas!

me visto pra mim, não pra você (ok, nós já entendemos!)

sou linda e estou abafando com meu shortinho, saltão vermelho e minha cadelinha... o.O

sou minha só minha e não de quem quiser, entenderam?

olhem como sou despojada no meu vestidinho tomara-que-caia baloné-retrô-demodê-anos80 xadrez, faixa e sapatilha!

punk? underground? roqueira? tô nem aí, sou uma vadia estilosa e tô marchando!

pedaço de carne é o karalho e deixa eu tuitar isso pro mundo...

eu uso saia jeans colada, top de couro e meia arrastão, mostro meu umbigo e não me estupre!

Jesus Loves Sluts (uau!), mas apenas as tatuadas de sainha estampada e bota

as repousantes ondas azuis do meu vestido-bata para marear meu ratinho, digo, meu cãozinho e disfarçar minha dondoquice

feminista raivosa... (medaaaaa) depois chamam de feminazi e ficam brabas...

sou santa, sou puta, sou livre... oi?

somos chiques e legais com nosso multiculturalismo e roupas coloridas... ouié!

estou super simples mas atentem pro meu sapatinho vermelho style

vadia, sim, mas contemporânea, descolada e cosmopolita!

E para terminar, a Madrasta do Texto Ruim…

vadia e bruxa de 'cathiguria', chique no melhor estilo eu-tô-arrasando-além-do-ideológico, pobralhada, com minha bolsa falsificação legítima (tô bege até agora)

Queriam um editorial de moda pra valer? Não deu, né? Ainda mais que não teve um mísero e simples vermelhinho combativo (minha opção marxista subversiva para substituir o indefectível pretinho básico). Conseguem imaginar que em meio a tantas vadias nenhuma tenha escolhido um vestido vermelho? Affff…

ps: Cês acham que já posso pleitear uma vaga como jornalista de moda? Melhor não, né? Tá.

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Fotos by Niara de Oliveira com a câmera da Amanda Vieira.

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Turbilhão

Tomara que este turbilhão arranque as palavras da minha mente tal e qual o vento faz com as folhas da cabeça do menino na arte do Thiago Caleffi

Muitos textos para escrever e este maldito bloqueio que me persegue há mais de quinze dias. Mas antes que o mês de maio acabe decidi furar o tal bloqueio na marra. Aproveito e já vou prevenindo meus leitores — apesar desse longo tempo ausente eles se mantém fiéis e persistentes — que tem pelo menos três imensos desabafos na fila dos textos a serem concluídos e postados, afora a retomada das campanhas. Senta, que lá vem história.
Um turbilhão de textos se chocando contra o bloqueio, recriando aquela velha máxima da água mole em pedra dura… Tomara!
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Meu tratado com a lua cheia

Sexta-feira, 18 de março, foi um dia de decisões difíceis. Na verdade as decisões já estavam tomadas. Eu só precisava acalmar o coração e colocar todos os sentimentos em seus devidos lugares, considerando respeito e amor próprios – que pareciam agredidos pelos sentimentos e ações impensadas dos últimos tempos.
Para mim não existe jeito melhor de fazer essa espécie de faxina interna do que na beira da Lagoa dos Patos – Laranjal’s Beach – um dia antes da mudança da lua cheia no calendário. Ver a lua emergir da lagoa sempre foi uma forma de entrar em contato comigo mesmo, tipo código de acesso interno.
A minha amiga chegou pontualmente às 17h59 para me ajudar na organização e faxina e para fazer comigo um tratado importante. Entre os pontos desse tratado estão não deixar nada nem ninguém impedir, atrapalhar ou atrasar a realização de um sonho ou de viver. Mais do que isso, tratei com a lua que anteciparei a realização de um sonho e que um dia voltarei para contar a ela como foi.
Os demais pontos do tratado com a “Big Moon” serão revelados aos poucos, em doses homeopáticas. Não quero matar ninguém do coração. 😉
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Acompanhem os registros da minha super-hiper-mega amiga lua cheia, feita por amigos. As duas primeiras fotos são de Roger Peres, as três seguintes do Nauro Júnior e as duas últimas do Paulo Duarte. A foto do Paulo ele fez a meu pedido, quando o encontrei no Laranjal na sexta ao cair da noite (ou seria a tarde que estava caindo?).



Tempo de renascer

Em meio a tantas turbulências e portas que se fecharam e outras que eu mesma precisei fechar, um dia fechei os olhos e tentei escutar o ritmo em que meu coração batia. Era um teste para saber das avarias. E foi aí que voltei a sorrir. Depois de um longo período de depressão – quem viu o surgimento desse blog sabe muito bem dessa história – e de um processo de recuperação que parecia não ter fim, finalmente consigo me reconhecer. Estou inteira novamente. \o/
E como já havia adiantado mesmo em meio à turbulência, estou construindo um sonho imenso e sem muito tempo para ficar sofrendo desilusões amorosas. É isso, sou mais prática do que romântica. E com licença que o mundo está a minha espera e já estou atrasada.

“…
Só quero saber
Do que pode dá certo
Não tenho tempo a perder
…”
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(Sérgio Britto / Torquato Neto)

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Tempo de turbulência

Passei por um período de verdadeira convulsão emocional. Além do excesso de trabalho e de estar me dedicando mais ao outro blog, o Pipoca Comentada, parecia estar bloqueada. Aqui escrevo o que penso e manifesto meu pensar do jeito que o sinto. Alguns textos são todo coração e foi justamente aí que ocorreram muitas turbulências. Entre afetos rejeitados, sonhos ameaçados e esperança na UTI era impossível escrever. Nem sabia o que estava sentindo para poder falar a respeito.

“…
Enquanto sofre o coração intui,
Que ao mesmo tempo que machuca o tempo,
O tempo flui

Quem sabe o que se dá em mim,
Quem sabe o que será de nós…
O tempo que antecipa o fim,
Também desata os nós
…”
(Fred Martins / Alexandre Lemos)

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Tempo de fechar portas e me recolher

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Nos últimos dias (até ontem) essa música da Ana Carolina foi perfeita para traduzir fatos e sentimentos. Explica também o meu silêncio e ausência desse espaço nesse período.

“…
E fui fechando o tempo, sem chover
Fui fechando os meus olhos, pra esquecer
Quem é você?
…”
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(Ana Carolina)

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Aniversário de vitória

Há exatamente um ano eu estava saindo da casca, ou melhor dizendo, rompendo com quatro anos de depressão profunda que me impediam de sair de casa, trabalhar, viver…
O lançamento e sessão de autógrafos de um livro com alguns textos meus na Feira do Livro de Pelotas de 2009 me tiraram de casa direto para uma situação de destaque, algo que evitava/evito. Foi um trabalho importante. Não escrevo mais no blog/site/jornal online que gerou a publicação, mas me orgulho de todo o trabalho que fiz naquele período, incluindo os textos publicados no livro.
Encarei o evento como o primeiro passo do resto da minha vida. E assim foi. Minha vida mudou radicalmente nesses 365 dias passados, embora alguns sentimentos e pensamentos sombrios insistam em permanecer comigo. Mas estou vigilante e tento não deixá-los tomar espaço.
Voltei a sorrir e a sonhar como tenho relatado nos posts mais recentes e o sentimento mais comum nos últimos dias é a esperança de dias melhores.
Depois de amanhã, dia 9, o Pimenta com Limão completa seu primeiro ano de vida. Me aventurei nessa viagem – até então inédita – de escrever sobre sentimentos muitos pessoais para registrar aquele meu momento vitorioso (afinal eu venci a depressão sem ajuda profissional, sozinha, com as minhas pernas e esforços) e para me acostumar com essa ferramenta (blog do wordpress) para finalmente colocar no ar o meu blog de cinema. O Pipoca Comentada está no ar e eu mantive o Pimenta com Limão porque gostei de desabafar virtualmente. Gostei tanto que vocês me aturarão por muito tempo ainda. Rá!!!
Hoje eu comemoro o primeiro aniversário do meu segundo nascimento. Muitos outros ainda virão, não que eu pretenda morrer novamente para de novo nascer, mas porque sobreviver é o que de melhor faço nessa vida.
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Obrigada, camaradas!

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Dilma Rousseff, na lente de Carlos Latuff

Finalmente acabou a pior eleição que já acompanhei. E olha que vivi intensamente a de 1989, a campeã em baixaria até então.
O mais marcante da rede de boatos e mentiras dessa eleição foi a existência das mídias sociais e o seu uso como arma para a divulgação dos absurdos inventados para espalhar o pânico e o terror. Até as empresas de telefonia foram envolvidas, principalmente celular (e é preciso investigar como se deu esse envolvimento pela Polícia Federal), com trotes ameaçadores do tipo: “Se você votar na Dilma, terá sua linha telefônica cancelada” ou “sua casa será invadida” e o tom terrorista ao final “sabemos como te encontrar”. Igual aos trotes de falso sequestro emitidos dos presídios tentando extorquir dinheiro das vítimas.
Chamo a atenção para os spams (algo que surgiu junto com a internet), e aos quais in-com-pe-ten-te-men-te a campanha de Dilma se deu ao trabalho de responder no caso do aborto e que fez com que a candidata, agora presidenta eleita, assumisse publicamente o compromisso de não tomar a iniciativa de alterar a legislação sobre aborto durante o seu mandato. E danem-se as mulheres que seguirão morrendo vítimas de abortos mal feitos e clandestinos país afora. Espero sinceramente que a bancada feminista do Congresso tome essa iniciativa. Afinal, Dilma (pelo menos isso) não se comprometeu em vetar uma lei que regulamente o tema vinda do Legislativo.
Mas nem mesmo toda a baixaria impressa pelo PSDB e pela direita raivosa desse país e reverberada pela grande imprensa nessa eleição conseguiu transformar Dilma numa candidata de esquerda. Nem o PT é mais um partido de esquerda. Nada em seu programa de governo ou em suas propostas pode ser classificado como sendo bandeiras esquerdistas. Alguém pode retrucar lembrando do compromisso principal assumido por Dilma – em seu primeiro pronunciamento como presidenta eleita -, a erradicação da pobreza. Não se iludam. É impossível erradicar a pobreza no capitalismo. Tudo o que o governo Lula fez nesse sentido comparado aos lucros dos banqueiros e empresários não passou de migalhas. Distribuir renda é outra coisa. Avançamos, sim. O Brasil de hoje – tal como previ em 2002 – é infinitamente melhor que o Brasil de FHC e do PSDB. Jamais cometeria o erro histórico de comparar Dilma à Serra, mas seus partidos disputam as bandeiras da social democracia. Um com respeito aos movimentos sociais e o outro se utilizando do aparelho repressor do Estado para inibir oposição e com total apoio da grande imprensa. Mas nós, cidadãos, estamos muito longe (muito mesmo) de sermos todos iguais – diante da lei ou de quem quer que seja – como garante apenas na teoria a nossa constituição.
Quero salientar que o fato mais significativo dessa eleição, que é termos a primeira mulher na presidência do Brasil em 510 anos, foi habilmente anulado pelos setores mais retrógrados e reacionários do país durante a campanha. Da mesma forma como hoje, na prática, pouco representa (a não ser simbolicamente) para os negros dos EUA e do mundo ter Barack Obama ocupando o cargo mais importante do planeta. E eu lamento isso profundamente. Queria mesmo estar comemorando o feito de termos elegido uma mulher, mas ainda é cedo para saber se Dilma se comportará diferente de um homem em seu lugar.
Por fim, quero agradecer aos companheiros de luta, de esquerda, que abraçaram essa campanha como se Dilma representasse mesmo a derrota da direita e da grande imprensa. Vocês estarão lado a lado comigo nas críticas às políticas governamentais adotadas nos próximos quatro anos, porque o PT não compra nenhuma grande briga e o PMDB ganhou no futuro governo Dilma muito mais espaço. Aliás, desde o governo Sarney – e eles nunca mais saíram do poder (Collor/Itamar, FHC, Lula) -, esse será o governo em que terão mais espaço. Mas é evidente que reconheço que será muito melhor criticar e levantar bandeiras no governo de Dilma Rousseff. Desejo que sua eleição como presidenta siga refletindo e influenciando outros países da América Latina.
A política de Estado continua a mesma e nos encontraremos nas lutas pelos avanços na legislação sobre aborto e pelo fim da violência contra a mulher, pela reforma agrária, pela abertura dos arquivos da ditadura militar e pela punição aos torturadores, pelo fim do desmatamento na Amazônia, por um amplo programa de educação popular, por saúde pública, … A luta de verdade, da vida real, nunca acaba enquanto houver opressão e oprimidos.
Obrigada, camaradas! Eu pude ser fiel e leal à minha consciência e votar nulo no primeiro e segundo turnos dessa eleição, porque vocês toparam enfrentar a guerra suja desse arremedo de democracia que vivemos. Eu não tive estômago para tudo isso.