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Bom domingo!

A todos que vierem me visitar hoje deixo a arte de Bob Dylan com uma das músicas que mais gosto na vida. De todas, “Jokerman” é a mais hipnótica. Quando começo a ouví-la passo horas, dias à fio sem conseguir parar. Maluquice? Talvez. Mas parem e ouçam com atenção. O clipe é praticamente todo legendado além de ser recheado de referências à arte e a fatos da história mundial. Ouvi essa música pela primeira vez aos 13 anos, e foi ela que me apresentou à genialidade de Bob Dylan. Muito especial!

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Jokerman é a primeira música do álbum Infidels, de 1983.


Caetano atacou a desonestidade da Veja; O Globo fez que não ouviu

O Globo escondeu de seus leitores a melhor parte da entrevista que Caetano Veloso concedeu ao jornalista e blogueiro Jorge Bastos Moreno. O depoimento omitido na edição desta quinta-feira (26) do jornal [leia a entrevista n’O Globo] — mas apresentado em áudio na Rádio do Moreno — é uma enfurecida denúncia de Caetano contra a revista Veja.
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André Cintra
Vermelho
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Caetano Veloso

“É preciso que se saiba que é abominável, que há muita desonestidade ali”, desabafa o cantor e compositor baiano, em tom enérgico. “A classe média instruída brasileira não lê direito a Veja, não acredita tanto. Mas a medianamente instruída se pauta muito por uma possível honestidade jornalística daquele veículo. Esse gente precisa ser avisada de que não há, nem de longe, sombra de honestidade naquilo.”

Classificando os articulistas da Veja como “desonestos”, Caetano citou um caso exemplar da desmoralização pela qual passa a principal revista da Editora Abril, da família Civita. O episódio ocorreu em setembro de 1995, quando Veja publicou uma ma matéria desaforada contra o DJ norte-americano Moby. “Ele diz tanta besteira que até parece o brasileiro José Miguel Wisnik — aquele sujeito que acredita que o termo ‘Big Bang’ é uma apropriação anglo-saxã da origem do universo”, escreveu Sérgio Martins na revista.

Wisnik, no entanto, jamais teceu qualquer comentário do gênero sobre a expressão “Big Bang”. A tal “apropriação” a que Veja se refere foi feita, na realidade, por Caetano, que escreveu para a revista e corrigiu as informações. Além de a carta nunca ter sido publicada, Veja voltou a atribuir a “apropriação” a Wisnik mais duas vezes. “Nunca mudaram, são desonestos. Eu não falo com eles. Outras coisas houve antes, mas essa é inacreditavelmente canalha”, resume Caetano, na entrevista.

Jorge Bastos Moreno – Você tem muita inimizade dentro da música?

Caetano VelosoNão tenho. Mesmo o Geraldo Vandré — que foi a única briga que eu tive propriamente dessa maneira, naquela altura… Quando eu estava já exilado em Londres, ele foi me visitar. Choramos juntos, estava nevando, conversamos um bocado. Depois que ele voltou pro Brasil, já estive com ele algumas vezes. Mas já faz algum tempo que ele se afastou.

Leia todos os trechos não publicados no jornal O Globo, da entrevista de Caetano Veloso.


As listas e suas injustiças

“Construção”, de Chico Buarque foi eleita como a maior música brasileira. “Águas de Março”, com Tom Jobim e Elis Regina ficou com a segunda colocação, “Carinhoso”, de Pixinguinha em terceiro.
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Marlon Marques
Amálgama
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Na edição do mês de outubro de 2009, a revista Rolling Stone Brasil trouxe em sua capa uma matéria intitulada “As 100 maiores músicas brasileiras”. No final da matéria, lê-se os nomes dos críticos e jurados que escolheram as canções, um time de peso. Sempre haverá injustiças e lamentos do público por achar que faltaram itens. Listar é de fato uma tarefa árdua, ainda mais em um país como o Brasil, tão rico musicalmente. Entretanto, temos que concordar que há omissões e omissões. O júri de Rolling Stone acertou muitíssimas vezes, mas também cometeu erros impressionantes, não sei se por política ou qualquer outra razão.

Clique na imagem e ouça cada uma das cem músicas da lista

Muita coisa boa e importante ficou de fora. E não só ausências de canções foram sentidas, mas também ausências de certos nomes que jamais deveriam ficar de fora de qualquer lista. Por exemplo, Lamartine Babo. Toda lista é pautada por critérios, a revista não expôs em um prefácio quais os critérios adotados para a sua, mas é nítido que muito do que ali está não seguiu nem critérios estéticos e nem de importância histórica, mas apenas porque foram hits em suas épocas.

“Ana Júlia”, dos Los Hernamos, marca presença. Será que os cariocas não compuseram muitas canções superiores a “Ana Júlia”? Embora “Alagados”, dos Paralamas, seja uma canção seminal, “Lanterna dos Afogados” não ter entrado foi uma injustiça. É claro que, depois da sentença de Nelson Rodrigues, toda unanimidade tornou-se duvidosa. Não farei uma lista elencando as injustiças cometidas pela revista. Não adotarei critérios críticos ou métodos científicos para justificar os nomes que citarei, apenas usarei a traiçoeira memória para trazer a tona músicas que poderiam estar naquela lista e que os nobres jurados ou esqueceram ou negligenciaram.


Gilberto Gil

Entrevista publicada neste sábado, 21, pelo Estadão:

Visões de um passageiro da política

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Em turnê pela Europa, compositor diz que Brasil é um país menos preconceituoso, elogia FHC, Lula e Marina
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SÃO PAULO – Lá em Londres, vez em quando me sentia longe daqui (…)/Naquela ausência/De calor, de cor, de sal, de sol, de coração pra sentir. Os versos do rock Back in Bahia, de Gilberto Gil, sobre o sentimento do exílio entre 1969 e 1972, não definem seu estado de espírito na última semana, quando revisitou a capital inglesa. Instalado no hotel Renaissance Chancery Court, tinha à mesa da suíte um exemplar da revista britânica The Economist, cuja capa traz o Cristo Redentor transformado em foguete, anunciando que o Brasil decolara de vez no mundo. Por onde passou na turnê de seu novo CD, o acústico Bandadois – em que se apresenta em dobradinha com o filho Bem, mais o violoncelista Jaques Morelenbaum -, cumprindo uma agenda de shows na França, Inglaterra, Alemanha e Espanha, o assunto foi o mesmo. “Os repórteres só me perguntam disso, o Brasil, o Brasil. Fico pensando: ‘O que dizer?’”, ri, satisfeito.

Aos 67 anos, o compositor baiano, que passou cinco anos e meio à frente do Ministério da Cultura do governo Luiz Inácio Lula da Silva, diz não ter saudades da política. “Está de bom tamanho”, resume a experiência vivida em Brasília, que, além de um bocado de tempo e energia criativa, tirou-lhe parte do brilho da voz, desgastada nas intermináveis conversações ministeriais. Por conta disso, diz ele nesta entrevista concedida ao Aliás, tem feito exercícios diários de fonoaudiologia. Mas não se furta a falar quando o tema é o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado sexta-feira, no aniversário da morte do herói Zumbi dos Palmares.

Embora considere que a inclusão do negro na sociedade brasileira avançou desde a década de 60 – quando, aos 23 anos e já formado em economia, foi contratado como estagiário pela Gessy Lever, numa espécie de “experimento racial” -, Gil avalia que “é tijolo sobre tijolo, pedra sobre pedra, que essas coisas vão sendo construídas”. A favor da política de cotas para negros nas universidades brasileiras, não concorda que elas estimulem visões antiquadas que dividem a raça humana em negros, brancos, amarelos. Vê nesse tipo de ação afirmativa uma técnica de reparação já testada em outros lugares. Então, por que não aplicá-la no Brasil, por um período?

Pelo caleidoscópio com que enxerga o País, Gil defende o filme Lula, o Filho do Brasil – “é a cultura que está pegando o bonde da popularidade dele, não o contrário” -, mas critica a falta de visão estratégica do presidente em relação aos temas de cultura e meio ambiente. Faz um malabarismo conciliatório ao sair em defesa do amigo Caetano Veloso, que semanas atrás chamara Lula de analfabeto e grosseiro: “Caetano se referiu a uma coisa da qual todos nos orgulhamos, o fato de um homem não letrado ter chegado à Presidência com tanto êxito”.

Sexta-feira foi o Dia Nacional da Consciência Negra. Celebrar esse tipo de data faz diferença?

Há uma percepção na humanidade inteira de que essas coisas, de modo geral, adiantam. Na década de 80, fui fazer um show em Washington e me telefonaram dizendo que Stevie Wonder queria me ver. Saímos para jantar juntos e perguntei o que ele tinha ido fazer na capital americana. “Estou batalhando pelo Martin Luther King Day”, ele respondeu, referindo-se à implantação de um feriado devotado à causa negra. O dia de homenagem a Martin Luther foi de fato oficializado (em 1986). E, anos depois, temos a eleição do primeiro presidente negro americano. Você pode me dizer que não teve nada a ver, mas no final das contas é tijolo sobre tijolo, pedra sobre pedra, que essas coisas vão sendo construídas.

Leia a entrevista de Gilberto Gil na íntegra.


Para uma excelente noite…

Al Otro Lado Del Rio, do uruguaio Jorge Drexler. Trilha do filme Diários de Motocicleta, de Walter Salles.


Boa sexta

Todo lo que vi está demás
Las luces siempre encienden en el alma
Y cuando me pierdo en la ciudad
Vos ya sabes comprender
Que es solo un rato no más
Tendría que llorar
O salir a matar
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Te vi te vi te vi
Yo no buscaba a nadie y te vi
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Fito Paez