Quando era criança dizia que não gostava de nhoque. Na verdade gostava, mas apenas do nhoque que a minha avó fazia e como não gostava de nenhum outro para não ter que passar por aqueles constrangimentos de dizer que gosta de algo e depois ter que comer obrigada, passei a dizer — e a acreditar — que não gostava de nhoque.
Apenas há uns dez anos atrás experimentei fazer e deu certo. Fui seguindo a receita, que não tinha, guiada pelas lembranças passo a passo como que num ritual. Descasquei as batatas, cortei em pedaços grandes e coloquei numa panela com água e sal para cozinhar. Depois de cozidas num ponto depois da batata para salada de maionese, escorri e amassei. Deixei esfriando. Não sabia se deveria deixar esfriar completamente ou poderia acrescentar a farinha com a batata ainda morna.
Acabou que acrescentei farinha na batata ainda morna, reservei eu fui desfiar o frango que já tinha cozinhado ensopado num molho básico de cebola, alho, muito tomate, pimentão, orégano, pimenta, dois ou três tabletes de caldo de frango, manjericão, alecrim e/ou louro. Detalhe: Joga tudo na panela ao mesmo tempo com um fio de azeite e o frango cru em pedaços e cobre com água fria. Dá certo até mesmo com o frango ainda congelado.
Depois de pronto, retira o frango para esfriar e poder desfiar. Nesse dia me distraí desfiando o frango — tem certas atividades rotineiras que fazem o pensamento divagar e desfiar frango é uma dessas pra mim, assim como lavar banheiro — e a massa do nhoque gelou e meio que desandou. Como não tinha certeza da quantidade de farinha, fui acrescentando aos poucos e sentindo a consistência da massa na mão para enrolar e fazer os “travesseirinhos”.
Antes de começar a enrolar a massa, coloque uma panela no fogo com água e sal. Quando ferver baixe o fogo e vá terminar a massa. Pega uma bola de massa com diâmetro equivalente ao de um CD e para enrolar na tábua e cortar precisa ir untando a tábua e as mãos com farinha, e ao enrolar na tábua (como se fosse um rolinho de massa de modelar) a massa não pode estar se quebrando. Se quebrar, desmancha e acrescenta mais um pouco de farinha e faz tudo de novo.
Depois de enrolado, corte em pedaços pequenos. Ajeite os travesseirinhos um a um com a ponta dos dedos selando completamente. É assim: Tu tens um quadradinho de batata sobre a tábua untada de farinha. Vá apertando levemente cada um de seus lados com a ponta do dedo indicador. No final tens um travesseirinho gordinho. É, nhoque dá trabalho e não dá para fazê-lo sobre a pressão do relógio.
Depois de prontos os travesseirinhos, jogue-os em grupos dentro da água fervente já em fogo baixo (com cuidado para não saltar água quente para todos os lados). Os travesseirinhos inicialmente afundam e quando estão cozidos sobem e ficam boiando na superfície. Retire-os com cuidado com uma escumadeira, deixe um tempinho no escorredor de massas e já coloque direto nos pratos, em porções individuais. Vai por mim, se esfriarem cozidos e sem molho ficam colados. Caso aconteça, basta aquecer no vapor para que descolem.
Pode substituir o molho de frango por um de três ou quatro queijos. Um fio de azeite numa panela para refogar um cebola ralada (ou picada bem miudinha) com meio litro de leite batido no liquidificador com os queijos escolhidos, uma colher de amido de milho e 200ml de creme de leite, uma pitada de sal e outra de pimenta. Acerte o sal depois de pronto. Se ficar muito grosso é só colocar mais um pouquinho de leite.
Sirva polvilhado com queijo parmesão ralado. Para acompanhar, vinho tinto seco (escolha um mais encorpado).
.
Por que nhoque do azar? Azar da dieta depois de tanto se empanturrar com o nhoque, azar dos vizinhos que ficarão apenas com o cheiro, azar de quem for lavar a louça e limpar o pandemônio que fica a cozinha… E azar principalmente do/a convidado/a de honra — hehehehe (risadinha maligna) — que estará enfeitiçado/a para TO-DO O SEMPRE. Ahhhh… E porque comunista não conta com a sorte. Rá!!!
.