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Ainda somos muito ingênuos

Lula é uma raposa, sempre foi. Dentro da política sindical e do PT sabia como ninguém jogar com as palavras e peças no tabuleiro diante dessa ou outra situação para conseguir o que queria. Não à toa chegou onde chegou. Não há julgamento de valor aqui, apenas uma constatação.

Lula em Pernambuco nod 13 de junho dizendo que a vitória nas eleições será a vingança do PT contra a elite brasileira) (foto: Líbia Florentino/LeiaJáImagens)

Lula em Pernambuco no dia 13 de junho dizendo que a vitória nas eleições será a vingança do PT contra a elite brasileira pelos xingamentos à Dilma (foto: Líbia Florentino/LeiaJáImagens)

Diante das vaias e xingamentos do Itaquerão para Dilma na abertura da Copa, ele resolveu tirar o melhor proveito possível da situação e reverter isso eleitoralmente para Dilma. A declaração de Lula culpando a “elite branca” pela “ofensa” e constrangimento sofridos por Dilma na última quinta-feira, não foi um desabafo ou dita sem pensar. Ao contrário. Foi pesada, medida milimetricamente. Ao transformar Dilma em alvo da classe média branca privilegiada, Lula coloca todos que combatem a elite e a burguesia indiretamente, mesmo que provisoriamente, ao lado de Dilma.

É certo que muitos dos que estão indignados com declarações de orgulho de pequenos e médios empresários por sua raça, classe e condição (aka privilégios) não farão campanha ou votarão em Dilma. Mas esses (a “esquerdalha”) não interessam mesmo a Lula. Ao final desse processo eles colocarão no colo da campanha de Dilma várias pessoas perdidas e confusas com essa guinada à direita do PT e que não sabem o que farão nessa eleição, mas que engrossaram muito o caldo das críticas ao governo nos últimos dois anos. Esses sim, os confusos e perdidos, são o alvo de Lula.

Não esqueçam das mais recentes vinhetas do PT na tevê apostando no medo de uma possível (até aqui remota e improvável) volta do PSDB. Estrategicamente falando, o alvo eleito pelo PT nesse período ~ainda~ pré-elitoral é esse espectro de pessoas que foi se desgarrando do PT durante o governo Dilma.

Não sei vocês, mas eu não me deixarei usar para que o PT recupere o apoio que perdeu por se aliar e servir a quem não devia. O ódio de classe destilado pela classe-média-sofre nas redes e agora insuflado por Lula não precisa de mais lenha na fogueira. Até porque, o PT no governo não fez outra coisa a não ser mediar a luta de classes, com “ligeira” vantagem ao lado mais forte e privilegiado.

Analisando tudo com alguma distância é fácil concluir: ainda somos muito ingênuos politicamente e facilmente manipuláveis.


Blogueiros Progressistas: Democráticos e horizontais, pero no mucho!

Quando decidimos no Eblog participar do 2º BlogProg em BSB, fomos com a disposição de, além da contribuição óbvia na realização da mesa Mulheres na Blogosfera – que estava sem nomes até quinze dias antes do encontro e fatalmente seria cancelada –, participar de forma assertiva e colaborativa. Embora tenha “brincado” muito nas minhas redes nos dias que antecederam o encontro de que incendiaria/implodiria o BlogProg, fui com o espírito desarmado, disposta a conhecer e, quem sabe até, ser convencida de que o BlogProg não era tão ruim quanto nós da “extrema-esquerda-incendiária” pensávamos ser.

Avalio a presença do Eblog no BlogProg como extremamente positiva. Agora, quando criticarmos esse grupo de blogueiros governistas e “chapas brancas”, não poderão mais nos acusar de falar sem conhecimento de causa ou de não termos tentado participar e/ou contribuir. Minha atuação no 2º BlogProg foi crítica como é minha atuação no mundo, mas contribuí na discussão, mediei uma mesa, apresentei propostas e mesmo sendo um tanto quanto ogra, não fui ríspida e nem grosseira com ninguém. Já não posso dizer o mesmo do ministro Paulo Bernardo, que é muito elogiado pelos blogprog por sua paciência, mas, ao se referir aos meus questionamentos foi grosseiro, porque responder mesmo não respondeu. Mas deve fazer parte, né? Num evento promovido por blogueiros que apóiam o governo, com palestrantes do governo e financiado por estatais, certamente ele esperava um clima crítico calculado.
Abro um parênteses para a matéria da Folha de São Paulo sobre o 2º BlogProg:

‘Blogueiros progressistas’ pedem regulamentação da mídia

Uma carta redigida ao final do “II Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas” pede novo marco regulatório dos meios de comunicação (conjunto de leis e diretrizes que regulam o funcionamento do setor) e faz ataques à mídia.

O evento, que acaba neste domingo (19), em Brasília, contou com a presença de cerca de 400 pessoas que apoiaram o governo Lula e a eleição de Dilma Rousseff.

“A blogosfera consolidou-se como um espaço fundamental no cenário político brasileiro. É a blogosfera que tem garantido de fato maior pluralidade e diversidade informativas. Tem sido o contraponto às manipulações dos grupos tradicionais de comunicação, cujos interesses são contrários a liberdade de expressão no país”, diz trecho da carta aprovada hoje.

Os blogueiros pedem ainda a divulgação imediata do projeto redigido pelo então ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação Social na gestão Lula). “Para que ele possa ser apreciado e debatido pela sociedade. Defendemos, por exemplo, que esse marco regulatório contemple o fim da propriedade cruzada dos meios de comunicação no Brasil.”

A abertura do evento, na última sexta-feira (17), contou com a participação de Lula e do ministro Paulo Bernardo (Comunicações), que adotaram o mesmo tom.

(…)

Hoje eles aprovaram que o III encontro acontecerá em maio de 2012, na Bahia. O evento deste ano foi patrocinado pela Petrobras, Fundação Banco do Brasil, Itaipu binacional e governo do Distrito Federal.

(19/06/2011, Maria Clara Cabral, Folha de S. Paulo — LEIA A MATÉRIA COMPLETA AQUI)

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Foi isso. A Folha de São Paulo, embora grande imprensa e distorcedora de fatos como todos nós sabemos e criticamos, dessa vez – e justamente sobre os blogueiros progressistas, sempre tão atingidos e injustiçados – fez um retrato fiel do tal encontro. Fato, e não palavras, é que basta olhar os blogs organizadores, estruturadores, proponentes do encontro, os palestrantes e os patrocinadores para sabermos, politicamente, em que terreno estamos pisando.

Enquanto Lula falava era quase impossível circular pelo auditório

Sobre a presença do ex-presidente Lula no encontro, resumo da seguinte forma: O primeiro (?) presidente a conceder uma coletiva a blogueiros amigos foi ao encontro dos amigos blogueiros massagear o ego dos presentes para que estes amenizassem as críticas à coordenação nacional (isto é, seus amigos). Não há outra explicação. O presidente Lula não disse nada de novo, não fez nenhuma revelação secreta e apenas cutucou o seu ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, agora ministro das Comunicações, que falaria logo depois.

Paulo Henrique Amorim, no sábado pela manhã, se referindo à presença de Lula entre os blogueiros, disse que “foi uma festa muito bonita, mas foi uma festa incompleta”, criticando o presidente Lula que tinha muito mais autoridade que o atual governo, e poderia ter deixado toda essa pauta de reivindicações da blogosfera sobre democratização da comunicação e lei dos meios de comunicação se não resolvida, pelo menos encaminhada.

jornalistas da grande imprensa saem correndo após Lula entrar na sala 'reservada' com alguns 'escolhidos'

Detalhe: Quando Lula se aproximava do encerramento de sua fala, discretamente, Renato Rovai encaminhava pela mão jornalistas “amigos” para a sala atrás da mesa, para onde o ex-presidente iria após terminar sua intervenção. Enquanto Lula falava para “poucos e bons”, os demais jornalistas da grande imprensa corriam para a saída para tentar registrar sua saída ou entrevista. (Eu mesma suprimi esta parte do texto, embora não retire uma linha, para ver se as atenções dos blogueiros progressistas se voltam para as críticas de fundo e não ao “detalhe”. Aqui a prova do “detalhe”.)

De todas as discussões do 2º BlogProg, a mais importante – sem dúvidas – foi “a luta por um novo marco regulatório da comunicação”, no sábado pela manhã com o professor Venício Lima, o jurista Fábio Konder Comparato e a deputada federal Luiza Erundina. Discussão nevrálgica para democratizar a comunicação e que precede todas as demais questões da pauta da blogosfera. Nessa mesa propus que o BlogProg chamasse uma blogagem coletiva ampla, de fôlego, sobre democratização da comunicação. A proposta não foi aprovada na plenária final. Assim como também não se aprovou a moção (queríamos mesmo é que fosse incluído na carta final) de luta pelo fortalecimento do Estado laico e a mesa LGBT enfrentou resistência. Blogosfera progressista? Não. É uma blogosfera governista que ainda não percebeu que é apenas uma gota no oceano da blogosfera. Não consegue e nem tem interesse em incluir blogueiros nerds, culturais, de arte, de cinema, animação, juventude e nem mesmo LGBTs ou feministas. Quanto mais a blogosfera anticapitalista. E aqui vale salientar o exemplo do Blogueiras Feministas que reúne em sua lista de discussão quase 400 mulheres e tem atualmente em torno de 60 colaboradoras que escrevem periodicamente e vão promovendo uma nova forma de blogar, mais solidária, cumulativa, que amplia e incentiva a formação de novos blogs.

Mesa "a luta por um novo marco regulatório da comunicação" com Erundina, Comparato, Cris Rodrigues e Rogério Tomaz Jr. (mediadores) e Venício Lima

O 3º BlogProg será em maio de 2012 em Salvador, Bahia. O lobby do governo baiano nessa edição do blogprog foi simplesmente insuperável e já sabemos que o viés político continuará sendo governista. Pelo menos teremos as mesas LGBT e mulheres, mesmo já sabendo que não fazem parte da macrodiscussão “progressista”.

Por fim, gostaria de salientar um detalhe estranho. Até a véspera do 2º BlogProg Brasília, a coordenação passava a ideia de que estava muito complicado financiar a estrutura toda do encontro e essa foi a desculpa para não ter uma creche no encontro. Eis que na avaliação de um dos coordenadores gerais, Renato Rovai, surge um excedente de R$ 180 mil reais (essa prestação de contas, me  informaram, foi feita na plenária final do 2º BlogProg). Eu vi mulheres que participaram precariamente do encontro porque precisaram levar seus filhos (afinal, era um final de semana) para o BlogProg e outras que deixaram de participar pelo mesmo motivo. Tomar a decisão política de não organizar creche num encontro nacional em pleno 2011 é igual a desprezar a contribuição das mulheres.

Sempre que ouço falar em blogosfera progressista fatalmente associo a blogueiros em sua amplíssima maioria homens, héteros, brancos, apoiadores desse governo pseudoesquerda do PT-PMDB-e-mais-tudo-que-couber-num-mesmo-saco e excludentes.

O Eblog é claro em suas posições: Somos anticapitalistas, antimachistas e antihomofóbicos. Queremos uma blogosfera solidária, ampla, inclusiva, combatente e crítica.

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Nota: O Eblog está assumindo a convocação da blogagem coletiva pela democratização da comunicação.

Nota 2: O blogueiro Eduardo Guimarães — assim como o Sérgio Amadeu e o Marcelo Branco também cobraram de forma mais incisiva uma postura do governo — fez duras críticas ao ministro Paulo Bernardo e foi tratado com a mesma rispidez e desconsideração que eu. Mas é fato que os elogios a minha intervenção que o Edu cita nos seus comentários nesse mesmo texto publicado no Diário Liberdade desde a semana passada, devem ter ficado apenas nos comentários verbais, porque não li isso em lugar algum da blogosfera. Senão, cadê? No mais foi tudo dentro do clima crítico previamente calculado e nem a posição crítica de alguns blogueiros foi capaz de alterar o tom governista do blogprog.


O jornalismo deles e o “nosso”

Faz tempo que leio, ouço, vejo críticas à grande imprensa brasileira. Aliás, desde que me entendo por gente, antes mesmo de ser jornalista. De uns tempos para cá, essas críticas vêm acompanhadas de um apelido. Na época em que essa grande imprensa começou a dar voz a um pequeno grupo que sugeria o Fora Lula, no início de 2007 (portanto logo após a eleição que o reconduziu à presidência), o jornalista Paulo Henrique Amorim passou a chamar a grande imprensa de PiG (assim com o i minúsculo para identificar com iG, de onde foi demitido em 2008), Partido da Imprensa Golpista. Nesse post do blog Maria Frô tem uma explicação melhor e mais detalhada sobre o que é PIG, como surgiu, quem usa a expressão e que tipo de prática jornalística caracteriza.

Com o advento das redes sociais que permitem transmissão de informação como Facebook e Twitter, o conceito do PIG foi tomando corpo e espaço e reverberando. A blogosfera e a chamada imprensa alternativa seriam conceitualmente a antítese do PIG. Conceitualmente. E eu digo seriam porque na prática não são.

Entre as práticas condenáveis do chamado PIG estão a manipulação da informação, manchetes que distorcem o conteúdo das matérias, enfoques privilegiando um dos lados da notícia (e sempre o mesmo lado, a classe dominante e os chamados governos de direita) e em alguns casos o total silêncio, como se o fato simplesmente não estivesse existindo.

Desde sempre discuto o papel do jornalista de esquerda. Como se contrapor a grande imprensa e aos grandes monopólios e ainda sobreviver exercendo dignamente a profissão? Tarefa complicada. Quinta coluna declarada desde sempre e jornalista formada há 13 anos, ainda não encontrei a fórmula. Vendo minha força de trabalho como qualquer trabalhador, produzindo textos em série, em sua ampla maioria fúteis, para ter o direito de blogar e exercer meu jornalismo livre e marginal. É isso ou trabalhar para o PIG, como faz PHA e muitos dos blogueiros críticos ao “jornalixo” ou “jornalismo canalha“. Não me imponho a tarefa de me contrapor a grande imprensa. Não tenho estrutura para isso. Sequer tenho câmera fotográfica para exercer o tal “jornalismo cidadão”, mas não me furto de dar minha opinião em assuntos que considero importantes.

Desde a última eleição para presidente – uma das mais violentas e atípicas da história –, vi de um lado a grande imprensa pesando sua balança para o candidato tucano e a blogosfera e a imprensa alternativa (salvo honrosas exceções) pesando sua balança para a candidatura petista.

Trezentos blogueiros se reuniram em São Paulo em agosto do ano passado com uma estrutura nunca antes imaginada para blogueiros alternativos, com a clara e confessa intenção de organizar o contraponto à campanha da grande imprensa na defesa do governo e de sua candidata (Blogueiros Progressistas ou blogprog). Abro um parênteses aqui para dizer que esse fato me incomodou demais. Além de ser um encontro bem pequeno burguês, onde blogueiros marginais que contam moedas para pagar sua conexão não tinham condições de estar, ser de esquerda e não votar em Dilma era considerado crime capital.

Continuarei tomando meu café na caneca do PIG e mostrando a bunda pro povinho da patrulha, da etiqueta governista revolution*

A partir daí começou a patrulha na blogosfera e nas redes. Quem criticasse o governo (perfeito!), Lula (deus!), ou Dilma (santa!) era acusado de ser tucano, de colaborar com a oposição e ou de ser “a esquerda que a direita gosta”. A ordem era ‘defenda o governo acima de qualquer coisa, incluindo a sua consciência crítica‘. O comportamento dessa ‘brigada’ identificada como “onda vermelha” era evangelizador, fundamentalista, e essa ‘guerra santa’ ficou tão violenta que cortei relações com umas 300 pessoas (nem todos blogprog) e deixei de ler blogues que acompanhava há muito tempo. Mais do que isso. Perdi o respeito que nutria por esses cidadãos e profissionais. Até tentei voltar a acompanhar boa parte deles, mas o estrago já estava feito. Eles não perderam o vício da patrulha e estão mesmo vendados, cegos.

No último período surgiu o slogan “O PIG esconde, a gente mostra”, num esforço de cumprir o papel que a grande imprensa se nega – perseguir a verdade com ceticismo e inteligência –, passaram a divulgar notícias que, segundo eles, o PIG não divulga por ser contra seus interesses. Isso na teoria. Numa manhã dessas, um amigo tão cético quanto eu se deu ao trabalho de conferir sete das manchetes citadas no tal slogan. Segundo ele, TODAS estavam publicadas na Folha de São Paulo (vilã mor do PIG junto com a Veja). Ele ainda alfinetou ao final: “Vocês mentem!” Não lembro de alguém tê-lo contestado, mas o slogan segue a pleno vapor mostrando matérias que teoricamente o PIG esconde. Mas a Folha publica.

O jornalismo praticado pela maioria dos blogprog e por boa parte da imprensa alternativa é igual ao da grande imprensa. Só mudam os personagens a serem defendidos e atacados. Quero aqui fazer uma ressalva sobre um grande portal, o Vermelho do PCdoB, que por ser veículo de um partido político tem a licença natural de ser ideológico. Quem vai ao vermelho buscar informação, sabe de antemão o viés da notícia. A isso se chama isenção jornalística. Incluo nessa ressalva os blogues que estampam a foto da atual presidenta e aos que tentam honestamente manter a isenção. Aos demais, aconselharia uma leitura que me acompanha desde guria: “A moral deles e a nossa” – León Trotsky. Acrescento que não basta se dizer diferente. É preciso se constituir como diferente nas práticas diárias (se pudessem ler também o conceito de práxis em Gramsci, seria bom) . Reproduzir o péssimo exemplo de jornalismo do PIG só o reforça. E aí cabe a pergunta: Quem é de fato a esquerda que a direita gosta?

Todo socialista sabe (está nos relatos da primeira revolução socialista, a russa) que governo ainda no sistema capitalista é um jogo em disputa, precisa ser tensionado à esquerda porque a direita e a grande imprensa estão combatendo diariamente. Isso na hipótese de termos de fato um governo de esquerda. Atualmente isso é apenas uma crença de militantes fundamentalistas desvairados que querem provar sua hipótese a qualquer custo, engolindo Sarneys, Collors, Calheiros, Cabrals, Kassabs e toda sorte de sapos, cobras e outros animais peçonhentos que enfiam nas suas goelas e nas de outrem.

Crítica e auto crítica são fundamentais para manter o prumo, para se manter no caminho certo. Se for apenas um jogo de poder e de se manter nele, tirem as máscaras e parem de usar os termos esquerda, socialista, cidadania, verdade e, inclusive, o PIG. Transformar seus blogues em panfletos de propaganda governista não revela altruísmo ou ativismo abnegado. Apenas levanta suspeitas quanto à manutenção monetária desses veículos. Tal e qual com a grande imprensa, onde quem anuncia é bem tratado na notícia. O problema é que nos blogues e na imprensa alternativa não há anúncios. Quanto mais obscura essa relação, menos crédito dou às defesas inflamadas que tenho lido ultimamente.

Blogueiros gostam de bater no peito e dizer que não abrem espaço para anúncios porque se profissionalizar – ninguém anunciaria em blogues que não sejam atualizados periodicamente – perderiam a característica informal, marginal e porque não se vendem. Ok. Mas vender a consciência crítica tudo bem? A que preço? Ativistas experientes podem mesmo ficar tão cegos e alienados assim?

Atualmente há uma campanha na internet pedindo a saída da ministra da Cultura Ana de Hollanda. Na linha de frente dessa campanha estão velhos camaradas e até ex-funcionários da campanha à presidência de Dilma. A primeira atitude de alguns blogueiros, antes de verificar os argumentos desses seus velhos camaradas, foi tentar desqualificá-los, descontextualizar as críticas e defender o governo – e aqui há um equívoco, porque defender o governo Dilma nesse momento pode passar justamente por pedir a substituição de Ana de Hollanda –. Ou é muita miopia política ou talvez a tese hipotética de financiamento governista de alguns blogues não seja infundada. Vejam bem, eu disse “alguns blogues”. Existem centenas de pequenos blogueiros que fazem a defesa do governo Dilma na base do “amor”. Mundo injusto esse, não?

Só uma constatação: O que se faz na maioria dos blogues e da imprensa alternativa deste país é tão anti-jornalismo quanto o que se faz na grande imprensa. É o roto falando do esfarrapado. Talvez por isso a grande imprensa não se sinta ameaçada pelo blogprog. Ser de direita não é necessariamente ser burro ou cego, né? Tal e qual ser de esquerda não garante neurônios ágeis, razão ou ética.
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Sujestão de leitura: Sobre ser jornalista…
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* A etiqueta governista revolution é a definição para a brigada virtual de militantes sempre prontos a defender o governo petista, não importando qual a crítica ou argumento. Mesmo defendendo um governo que não pode ser classificado como esquerda, eles se sentem vanguarda da revolução socialista, que não aconteceu no Brasil (é bom lembrar). O termo é proposital e debochadamente contraditório, autoria da publicitária cearense Mayara Rocha.
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Até quando os arquivos da ditadura permanecerão secretos?

O prazo estabelecido pela Lei da Anistia para que os arquivos secretos da ditadura militar permanecessem fechados expirou durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). FHC criou no final de seu segundo mandato, uma lei com a figura do “sigilo eterno” para documentos com o carimbo de “ultrassecreto”. O presidente Lula (2003-2010) mudou a lei, porém manteve a possibilidade de jamais haver acesso a certos papéis, se assim as autoridades quiserem. E as autoridades querem. Lula reuniu com os familiares dos mortos e desaparecidos, mas nada resolveu.
Para quem deposita muitas esperanças na presidenta Dilma Rousseff sobre a abertura desses arquivos, lembro que ela foi ministra da Casa Civil e responsável direta pelo Arquivo Nacional. Uma das primeiras medidas desse governo foi mudar o Arquivo Nacional da Casa Civil para o Ministério da Justiça, sem deixar claro qual a intenção e motivo da mudança. Só ficou a impressão da perda de importância do AN dentro do governo Dilma. Além disso, é bom lembrar também que estamos iniciando o nono ano do governo petista no Brasil.
Essa semana a ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário esqueceu que é governo e cobrou de FHC a responsabilidade sobre os arquivos, questionando sobre documentos que supostamente teriam sido destruídos entre 1995 e 2002. FHC, do alto de sua covardia e comodidade, declarou ser a favor da abertura dos arquivos. Certo que FHC não tem moral para falar a respeito, mas o governo petista, como um todo, também não tem. Nesse caso Lula e FHC são iguais. Se omitiram em cumprir seu papel e prolongam ad eternum a tortura sofrida pelos familiares dos desaparecidos. A ministra Rosário deveria ter conversado um pouco mais com seu antecessor Paulo Vanucchi sobre as dificuldades internas com esse tema. De concreto não temos nada até agora, nem a Comissão da Verdade já tão polemizada.
Anteontem o assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, confirmou o encontro da presidenta Dilma com as Mães e Avós da Praça de Maio em Buenos Aires na próxima segunda-feira (31). “Garcia disse que o encontro foi agendado a pedido de Dilma. “A presidenta tem uma grande sensibilidade para questões relativas aos direitos humanos”, afirmou o assessor. “Essa iniciativa da presidenta [em receber essas senhoras] valoriza muito essa luta emblemática que essas senhoras têm na história política recente da Argentina”, disse ele.
Porém, Garcia afirmou que, por falta de tempo, Dilma não poderá visitar o Museu da Memória Aberta, construído na área onde funcionou a Escola de Mecânica Armada da Marinha (ESMA) – no local havia um dos principais centros de tortura da Argentina.” (fonte: BRASIL.gov.br)
Alguns fatos me chamam a atenção nessa notícia: 1) A imensa sensibilidade (valorizada na declaração de Garcia) de Dilma com os Direitos Humanos até agora não se explicitou no Brasil com a mesma força. 2) O texto passa a ideia que Dilma está ‘fortalecendo’ o movimento de mães e avós dos desaparecidos argentinos, país que tem um museu para lembrar os horrores da sua ditadura, que abriu os arquivos secretos à mando da presidenta Cristina Kirchner em janeiro de 2010 e vem julgando e condenando os torturadores. 4) A falta de tempo de Dilma em visitar o Museu da Memória Aberta parece evitar um constrangimento maior, já que o ministro Nelson Jobim é um dos membros da comitiva oficial. 5) O que Dilma Rousseff dirá às Mães e Avós da Praça de Maio sobre a abertura dos arquivos da ditadura brasileira? 6) O que dirá sobre as mães e familares dos desaparecidos brasileiros que não tem a mesma ‘sorte’ a atenção do governo petista (desde o tempo de Lula)? 7) O que dirá sobre a anistia estendida aos torturadores pela justiça (sic) brasileira?
Para a coordenadora da Comissão Especial Memórias Reveladas, Alessan Exérdra Mascarenhas Prado, “por temor de revanchismos e punições” as Forças Armadas não abrem seus arquivos. As Forças Armadas não sabem o que é comando ou não tem comando?
Se fosse Dilma, sentiria muita vergonha diante das Mães da Praça de Maio e diante da presidenta Cristina Kirchner que cumpriu seu papel na história, mesmo não tendo sido torturada ou guerrilheira e não sendo ‘esquerda’.
O fio de esperança que tinha sobre a abertura dos arquivos durante esse governo arrebentou quando a presidenta manteve Nelson Jobim como ministro da Defesa.
Alguém avisa à presidenta Dilma Rousseff que a luta das Mães e Avós da Praça de Maio também existe aqui no Brasil? Grata.

Entrevista com Criméia Almeida e Suzana Lisbôa, da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos, publicada em 12/01/2010 numa blogagem coletiva pela abertura dos arquivos e punição dos torturadores – Verdade e Justiça

Relato de Marcelo Rubens Paiva de 20/01/2011, dia em que Rubens Paiva (seu pai) completou 40 anos de desaparecimento.

P.S. :: Para ler outros textos que publiquei sobre o assunto é só clicar nas tags “ditadura”, “abertura dos arquivos”, “arquivos secretos” ou “desaparecidos” ali na nuvem de tags.

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A esperteza de Lula

Esta análise vai no sentido de não ver uma luta justa ser usada como mera manobra eleitoral. Integro uma campanha conjunta com outros blogueiros pela abertura dos arquivos secretos da ditadura, pela punição aos torturadores e defendo o PNDH-3 em sua integralidade, principalmente a Comissão da Verdade – tal como está no texto original do decreto assinado pelo presidente Lula em 21/12/2009

Primeiro fiquei espantada em ver uma Comissão da Verdade – para apurar os crimes cometidos durantes a repressão política – prevista no terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos. Realmente não esperava. Depois veio a tardia repercussão na imprensa (levaram dezoito dias para ler o documento e descobrir como melhor poderiam usá-lo), da direita e dos militares.

Aos poucos, todos os defensores dos Direitos Humanos no país vão levantado a voz para defender uma iniciativa do governo Lula – alguns pela primeira vez em sete anos.

O fato é que o PNDH-3 merece mesmo ser defendido. Além de ser um documento construído democraticamente (fato reconhecido até por tucanos um pouco mais sensatos) ao longo de um ano, foi amplamente negociado com todos os setores do governo. Isso quer dizer que não havia nada no texto final que todos já não soubessem há muito tempo. Essa gritaria toda aponta na direção de interesses obscuros. Obscuros para a maioria da população. Para quem convive com o jogo político brasileiro nada tem de obscuro ou escondido nas intenções da imprensa e da direita, mais uma vez unidas na defesa de torturadores e assassinos contra os “terroristas maus e comunistas”. Basta defender o PNDH-3 para ser imediatamente classificado de subversivo pela cartilha atual da grande imprensa.

Mas – porém, todavia, contudo -, ao ouvir os discursos em defesa do PNDH-3, comecei a duvidar das intenções do governo ao assiná-lo. Quem leu a entrevista, publicada simultaneamente por vários blogs, de Pedro Luiz Maia com Criméia Almeida vai entender onde estou querendo chegar. O presidente Lula, e seu governo, descrito por ela não combinam em nada com o Lula que vimos dois dias atrás defendendo o direito de 140 famílias enterrarem seus mortos.

Então, pergunto: Por que um governo que não fez nada para abrir os arquivos secretos da ditadura, tendo poder para tanto, e investigar onde estão esses “140 cadáveres” (esse números é contestado pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos), de repente resolve fazer alguma coisa?

Apesar de estar engajada na luta em defesa do PNDH-3, não esqueço que estamos em ano eleitoral e que o principal objetivo de Lula é fazer da ministra Dilma a sua sucessora. Espero (e quero!) estar enganada mas, olhando melhor o cenário, tudo me parece apenas uma grande sacada estratégica de Lula.

Neste momento em que todos os movimentos sociais do país poderiam estar se aglutinando em torno de uma outra candidatura que defendesse os objetivos da Comissão da Verdade e demais pontos previstos no PNDH, estão dando uma trégua em suas críticas ao presidente e sua candidata. Já cheguei até a ler que ‘se fosse Dilma a presidente, esses arquivos já teriam sido abertos’. É fato também que o governo ganha uma aparência muito mais sedutora e confiável para a esquerda e para os movimentos sociais tendo a grande imprensa, direita, militares e igreja unidos contra ele.

Além disso, estamos às vésperas de mais um Fórum Social Mundial, onde sempre estão presentes representantes dos Direitos Humanos do mundo todo. Com o Brasil prestes a ser julgado na corte criminal interamericana por crimes contra os direitos humanos, seria muito bem-vindo o apoio público manifestado pelas entidades de DH do país, principalmente o apoio das famílias das vítimas dos crimes de DH praticados pelo Estado brasileiro. Não é, não?

Ou Lula é mesmo muito esperto ou eu que estou vendo-o assim.


Lula do filme ou do livro?

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Uma das grandes polêmicas no mundo do cinema é a adaptação de obras literárias para as telas. Nesses casos, até hoje, nunca ouvi alguém dizer que tivesse gostado mais do filme do que do livro. Sempre o contrário. Com o filme sobre a vida de Lula, parece, não será diferente. Ao menos para quem teve acesso aos dois. Todos os comentários que havia lido até então, não davam conta dessa análise – comparar o filme ao livro no qual foi baseado. Compartilho aqui, a única crítica comparativa que encontrei. E confesso que depois de ler o texto abaixo, fiquei com mais vontade de ler o livro do que ver o filme.
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Lula, o filho do Barretão

Os homens são bem mais interessantes do que os heróis – ou os santos
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Eliane Brum
Época
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“Não quero que publiquem que eu sou santo. Não sou. Estou cansado que me carreguem no colo, que puxem meu saco. Não encontro textos sérios: ou inventam mentiras para me esculhambar, ou exageram em coisas que não existiram para me transformar num super-homem. Não sou nem uma coisa nem outra. Gostaria que você fizesse um texto ‘científico’ sobre mim, contando as coisas como elas são”.

clique na imagem para saber mais sobre o livro

Esta fala é de Luiz Inácio Lula da Silva e foi transcrita na introdução de sua biografia – Lula – o filho do Brasil (Perseu Abramo) –, escrita pela jornalista Denise Paraná. No surrado sofá vermelho do pequeno apartamento de Denise, então uma estudante vivendo com o dinheiro da bolsa de doutorado em História, na Universidade de São Paulo (USP), Lula contou a extraordinária história de sua vida em encontros que totalizaram cerca de cem horas de entrevistas, entre os anos de 1992 e 1994. Ao contá-la, pronunciou umas duas centenas de palavrões que foram limados da edição da Fundação Perseu Abramo, publicada no final de 2002, ano da primeira eleição presidencial vencida por Lula, depois de três derrotas. A primeira publicação da obra é de 1996.

A biografia, elaborada com os critérios da história oral e apresentada na forma de entrevistas com Lula e seus irmãos, é irretocável. Ao contar a história de Lula de 1945 a 1980, do nascimento no sertão pernambucano à liderança das greves no ABC paulista, Denise Paraná compreendeu que a riqueza do homem era sua complexidade. Foi respeitosa com todas as contradições do retirante sertanejo, operário e líder sindical que se tornaria o presidente mais popular da história recente do Brasil. Como o próprio Lula pediu, ao aceitar contar sua vida, o retrato traçado no livro é fascinante, mas decididamente não é nem o de um herói, muito menos de um santo.

Quando li a biografia, para cobrir a campanha de 2002, às vezes ri muito com Lula, às vezes chorei, em outras achei-o mau-caráter, em alguns parágrafos deu até raiva. Ao final da leitura consegui me aproximar das muitas verdades de Lula, um homem complexo e contraditório como são todos os homens. Ou, como diz Denise na primeira frase da introdução da obra: “Este é um livro sobre um homem controvertido”.

Ao assistir a Lula – o filho do Brasil, o filme, fui surpreendida por um outro Lula. Este me deu sono. Baseado na biografia de Denise Paraná, o filme usou fatos relatados no livro, retocou alguns momentos menos edificantes, mas perdeu o melhor da história: a humanidade do personagem. O Lula do filme é plano, unidimensional. Faz tudo certo sem tropeçar em nenhum conflito, nem mesmo um bem pequeno, em sua trajetória linear. Ao final, ficamos pensando (eu, pelo menos) que aquele cara da tela nunca chegaria a presidente da República. Não chegaria nem a liderar uma greve do ABC. O Lula do filme é raso como o açude seco em que o menino Lula bebia água com o gado.

A história de Lula e de sua família é uma grande história. Contém nela um naco da trajetória do Brasil. O pai migrou para São Paulo com a amante menor de idade, deixando no sertão a mãe grávida de Lula e outros seis filhos. Numa visita, ainda fez uma oitava filha antes de levar um dos meninos, Jaime, com ele para Santos. Dona Lindu vende tudo e vai para São Paulo atrás do marido porque este filho engana o pai, analfabeto, e escreve uma carta muito diferente da que ele ditou. Em Santos, ela tem gêmeos e perde os filhos sem nenhuma ajuda. Muito mais tarde, quando Lula está preso, dona Lindu morreria de câncer.

As irmãs de Lula trabalham como domésticas, um irmão tem doença de Chagas, outro é torturado pela ditadura militar. A primeira mulher de Lula morre no sétimo mês de gestação, junto com a criança, possivelmente por negligência médica. Quando é velada, o chão da casa em que viviam cede com o peso do caixão. O filme conta muitas dessas histórias, mas é uma narrativa sem densidade ou nuances. Não parece uma vida, mas fatos encadeados.

O Lula real era um menino tão tímido que não conseguia vender laranjas na infância por falta de coragem de gritar. O do filme é um vendedor com sacadas publicitárias. No filme, o casamento com Maria de Lourdes, a primeira mulher, é um conto de fadas proletário, com direito à perseguição no varal de roupas. Na vida, o casal voltou antes da lua de mel porque Lourdes só chorava. Quando o sogro de Marisa, taxista, conta a ele sobre sua nora, viúva, Lula estava saindo da casa da namorada, Miriam Cordeiro, e pensa: “Qualquer dia vou comer a nora desse velho”. No filme, ele apenas conta ao taxista, com voz embargada, que perdeu a mulher e o filho. E o taxista diz que também perdeu um filho e mostra a foto da viúva, Marisa, e do neto. O viúvo Lula do filme só chora. O da vida chora, mas depois quer “namorar todo dia e, de preferência, com pessoas diferentes”.

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Veja no trailer oficial algumas das cenas a que Eliane Brum se refere em sua crítica:


Da filha de Olga Benario para Lula

A carta abaixo invalida o argumento de que os casos de Olga Benario e Cesare Battisti não tem nada em comum

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Exmo. Sr. Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Anita Leocádia Prestes é professora do Departamento de História da UFRJ

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Na qualidade de filha de Olga Benario Prestes, extraditada pelo Governo Vargas para a Alemanha nazista, para ser sacrificada numa câmera de gás, sinto-me no dever de subscrever a carta escrita pelo Sr. Carlos Lungarzo da Anistia Internacional (em anexo), na certeza de que seu compromisso com a defesa dos direitos humanos não permitirá que seja cometido pelo Brasil o crime de entregar Cesare Battisti a um destino semelhante ao vivido por minha mãe e minha família.
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Atenciosamente,
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Anita Leocádia Prestes
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Leia AQUI a carta a que Anita se refere, de Carlos Alberto Lungarzo, da Anistia Internacional – no Portal Luis Nassif.
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