Meu querido amigo mestre jornalista Deogar Soares faz hoje, 1º de janeiro, 75 anos. Ele está e estará sempre presente na minha lembrança.
Sempre que vou escrever e não estou muito inspirada ou com preguiça, penso que ele poderia ler o meu texto. Aí, sou obrigada a caprichar. Deogar era um crítico mordaz, ácido e ferino. Mas doce no trato com as pessoas. Um homem de princípios, caráter firme e regador de utopias. Sonhava em montar um jornal de esquerda, para desafiar os poderosos e esfregar o preconceito da sociedade em sua cara.
Sua revolta e indignação nunca envelheceram. Ele preservou aquele sentimento típico da juventude de querer mudar o mundo e sonhava com dias melhores. Mais do que isso, contribuía com suas crônicas diariamente no rádio, desconsertando e desacomodando quem o ouvia. Tinha uma voz padrão de rádio, grave, inconfundível.
Deogar lutou contra a ditadura no ar, trabalhando. Ele criou (acho que inspirado em José Saramago) um método para não ser apanhado pela censura. Durante a repressão, as rádios não podiam improvisar e tudo o que fosse ao ar precisava ser redigido antes e aprovado pelo diretor da rádio, no caso a Rádio Universidade Católica de Pelotas (RU), além da gravação dos programas naqueles rolos de fitas antigos.
Deogar, que tinha o aval do diretor da RU (mesmo que alguns duvidem), passou a escrever suas crônicas sem pontuação nenhuma e sem parágrafos. Pontuava mentalmente, quando escrevia e depois quando lia dando a entonação que desejasse. Tomou muitos ‘chás de banco’ no 9º Batalhão do Exército ali na Av. Duque de Caxias. Mas era impossível provar o que ele havia dito na rádio horas antes. Os arremedos de censores locais perdiam horas tentando ler seus textos ‘despontuados’ e não tinham aparelhagem para ouvir aquelas fitas em rolo. Deogar se divertia, apesar do perigo e contava essas histórias sempre com aquela risada pausada, que era sua marca.
Já escrevi sobre ele algumas vezes (Sobre ser jornalista… e Das minhas utopias), e continuarei escrevendo.
Eu o convidei para me entregar o “canudo” na minha colação de grau como jornalista em janeiro de 1998. Era justo, já que ele sempre foi minha maior inspiração e exemplo de ética e profissionalismo. Ele foi e eu fiquei muito orgulhosa, me sentindo prestigiada pelo meu mestre.
Deogar nos deixou prematuramente em agosto de 2003. As saudades são muitas.
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Um beijo, querido!
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