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A mídia nazista do séc. XXI

Seriam os israelenses os novos nazistas? Estariam os judeus indo à forra por tudo que sofreram durante o Holocausto na Segunda Guerra Mundial? Perguntas complicadas de se fazer sem parecer estar ateando fogo a uma disputa já incendiária. Mas diante deste conflito, a opção é pelo lado mais fraco, os palestinos. Não os vejo como terroristas simplesmente porque não se deixam vitimizar e exterminar por Israel, como fizeram os judeus diante da Alemanha nazista.

Provavelmente os israelenses não são os novos nazistas porque eles não teriam a oportunidade de chacinar os palestinos sem uma reação à altura. É essa incapacidade de se deixar vitimizar que faz os palestinos – seres tão “perigosos” – serem execrados pela opinião pública mundial influenciada pelas grandes corporações midiáticas. Eles não se deixam barbarizar sem dar o troco na mesma moeda ou pelo menos tentar, uma vez que não há como comparar o poder político e de fogo israelense – estado constituído e apoiado pelos EUA – contra um povo despatriado e vigiado.

A paz no Oriente Médio está longe de se tornar viável. Mas é preciso que o mundo entenda que se os palestinos aceitassem todos os absurdos exigidos por Israel para a construção da paz, eles seriam exterminados. Israel não abrirá mão de um centímetro de Jerusalem e nem dos territórios ocupados na Cisjordânia. O mundo aceita passivo os ataques de Israel contra os palestinos e grita a cada reação palestina contra israelenses. Ou seja, o mundo diz claramente aos palestinos que só lhes cabe morrer nessa guerra. E eles preferem morrer lutando contra o invasor/opressor do que morrer de joelhos, como os judeus diante de Hitler.

Dizem que o Holocausto judeu só aconteceu porque a imprensa não dispunha dos recursos que dispõe hoje. Mas o mundo, hoje, assiste a barbárie contra o povo palestino e vê outra coisa. As imagens dos muros que cercam a Faixa de Gaza e delimitam o espaço do povo palestino são ainda mais chocantes do que as imagens do Gueto de Varsóvia. No entanto, o mundo não se choca porque junto com as imagens há uma leitura deturpada, preconceituosa contra um povo islâmico e não ocidental.

Vítima tem que cumprir o seu papel. A vítima que ousar se rebelar contra seu opressor não é tão vítima assim e, portanto, não é merecedora de compaixão ou solidariedade a sua dor.

Essas vítimas ‘não tão vítimas’ que não aceitam sua opressão caladas, acabam com a grande encenação dicotômica ocidental entre o bem e o mal. Sua ousadia faz com que o mundo deixe de ser uma novela, um filme onde existem vilões e mocinhos com seus papéis bem delimitados. Como entender o conflito no Oriente Médio sem eleger vilões e mocinhos?

Pois sejam bem-vindos ao mundo real, humano, onde o bem disputa espaço com o mal dentro de cada um. Somos bons e maus ao mesmo tempo, bonitos e feios, gentis e agressivos. O povo palestino não seria a vítima da vez não fosse por estar em condições desiguais de luta contra os israelenses. Não bastasse o poderio bélico e econômico de Israel, os judeus ainda contam com o apoio incondicional dos EUA e do mundo contra os terríveis e sanguinários terroristas palestinos.

Os israelenses não são os novos nazistas. Os nazistas do século XXI são as grandes corporações midiáticas, que condenam um povo à barbárie sem direito a defesa. Em sua cruzada “santa” contra o povo palestino, a grande mídia não utiliza campos de concentração, câmeras de gás ou fornos para exterminar suas vítimas. Utiliza um método mais “limpo”: segue a risca doze regras de redação sobre fatos do Oriente Médio noticiados ao mundo. Seguem elas:

Um: No Oriente Médio, são sempre os Árabes que atacam primeiro e sempre Israel que se defende. Esta defesa chama-se represália.

Dois: Os Árabes, Palestinos ou Libaneses, não tem o direito de matar civil. Isso se chama “Terrorismo”.

Três: Israel tem o direito de matar civil. Isso se chama “Legitima Defesa”.

Quatro: Quando Israel mata civis em massa, as potências ocidentais pedem que seja mais comedida. Isso se chama “Reação da Comunidade Internacional”.

Cinco: Os Palestinos e os Libaneses não têm o direito de capturar soldados de Israel dentro de instalações militares com sentinelas e postos de combate. Isso se chama “Seqüestro de Pessoas Indefesas”.

Seis: Israel tem o direito de seqüestrar a qualquer hora e em qualquer lugar quantos Palestinos e Libaneses desejar. Atualmente são mais de 10.000 dos quais 300 são crianças, e 1.000 são mulheres. Não é necessário qualquer prova de culpabilidade. Israel tem o direito de manter os seqüestrados presos indefinidamente, mesmo que sejam autoridades democraticamente eleitas pelos Palestinos. Isso se chama “Prisão de Terroristas”.

Sete: Quando se menciona a palavra “Hezbollah”, é obrigatório a mesma frase conter a expressão “apoiado e financiado pela Síria e pelo Irã”.

Oito: Quando se menciona “Israel”, é proibida qualquer menção à expressão “apoiada e financiada pelos Estados Unidos”. Isso pode dar a impressão de que o conflito é desigual e que Israel não está em perigo existencial.

Nove: Quando se referir a Israel, são proibidas as expressões “Territórios Ocupados”, “Resoluções da ONU”, “Violações de Direitos Humanos” ou “Convenção de Geneva”.

Dez: Tanto os Palestinos quanto os Libaneses são sempre “covardes” que se escondem entre a população civil, a qual “não os quer”. Se eles dormem em suas casas com as sua famílias, a isso se dá o nome de “Covardia”. Israel tem o direito de aniquilar com bombas e mísseis os bairros onde eles estão dormindo. Isso chama “Ações Cirúrgica de Alta Precisão”.

Onze: Os Israelenses falam melhor o Inglês, o Francês, o Espanhol e o Português que os Árabes. Por isso eles e os que os apóiam devem ser mais entrevistados e ter mais oportunidade do que os Árabes para explicar as presentes Regras de Redação (de 1 a 10) ao grande público. Isso se chama de “Neutralidade Jornalística”.

Doze: Todas as pessoas que não estão de acordo com as Regras de Redação acima expostas são “Terroristas Anti-Semitas de Alta Periculosidade”.

Essas regras foram adaptadas de um texto em francês de autoria desconhecida e amplamente difundida na blogosfera. O resultado é conhecido por todos. Para que os judeus tivessem seu estado pós Holocausto, os palestinos é que pagaram a conta. Foram expulsos de suas casas e terras, confinados e quando reagem são rotulados de terroristas e tem o mundo inteiro contra eles. Não bastasse isso, a Cisjordânia está à beira de uma verdadeira explosão.

O relato é do jornalista Nicola Nasser, que trabalha em Bir Zeit, Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel: “A consciência de terem sido traídos e abandonados é fermento explosivo na Palestina, sobretudo por causa do bloqueio político imposto pela ocupação militar direta dos territórios – o cerco contra a OLP e a Autoridade Palestina na Cisjordânia; e o violento bloqueio israelense imposto na Faixa de Gaza. Todas as condições estão maduras para a eclosão da violência mais brutal: uma 3ª intifada palestina na Cisjordânia, e novo ataque militar por Israel contra os cidadãos em Gaza.” (Continue lendo este relato)

A questão é: Se os judeus tem direito a um estado, a terem seu país e seu lugar no mundo, os palestinos também tem. Já passou da hora da criação do Estado da Palestina. E como estamos na véspera do Dia Mundial de Confraternização da Paz, desejo sinceramente que esse 1º de janeiro de 2010 seja bem diferente para os palestinos do que o de 2009.


* As fotos foram enviadas por grafiteiros da Faixa de Gaza e publicadas no blog Dialógico. Continue vendo as imagens…
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Os dois posts abaixo tratam do mesmo assunto. Acompanhe: