Chocante o “deslize” de Boris Casoy no Jornal da Band na noite de ontem (31/12) ao desdenhar das felicitações de dois garis. Não que esperasse algo menos preconceituoso por parte de Casoy, ex-membro do CCC – Comando de Caça aos Comunistas – que tinha como lema “matar um comunista por dia” (*). Mas pela forma como um jornalista experiente, famoso pela ancoragem dos telejornais por onde passou e pelo bordão “isso é uma vergonha!”, joga por terra sua “credibilidade” por deixar escapar em voz alta um pensamento que deve ser recorrente.
A gafe verbalizada por Casoy na verdade é preconceito – ou ódio – de classe, é mais comum do que se imagina e é o que faz com que a elite brasileira tenha vergonha de ter um presidente operário, semianalfabeto que quebra o protocolo de onze em cada dez cerimônias que participa. Não defendo e nem apoio o governo Lula por vários motivos, mas preconceito de classe me diz respeito e atinge diretamente. Sempre que perceber um trabalhador ser destratado, humilhado, estando ele presidente ou não, vou me indignar e manifestar. O fato do presidente do meu país ser um operário (ou ex, como queiram) só me orgulha. Minha vergonha de seu governo reside em outros fatos e políticas governamentais e nada tem a ver com preconceito.
Lula está pouco se lixando para as ofensas e grosserias de que é vítima por parte da elite e por grande parte da mídia brasileira. Quanto mais batem, mais sua popularidade entre sua classe aumenta – a isso chama-se identificação, reconhecimento e sensação de pertencimento – e seu prestígio internacional cresce. Mas os demais trabalhadores não têm o mesmo escudo nem casca grossa e estão expostos a humilhações públicas como aqueles dois trabalhadores em rede nacional, ontem à noite.
A Band disse que a “gafe” vazou acidentalmente e, com o pedido de desculpas feito pelo jornalista Boris Casoy no jornal de hoje (01/01), dá o caso por encerrado. Espero sinceramente que os dois garis processem a Rede Bandeirantes e seus apresentadores para que o caso sirva de exemplo. Gostaria ainda de ver os garis (categoria) fazendo um protesto em frente à emissora e que este protesto os fizessem perder muitos anunciantes, para que os chefes da Band saibam o preço de manter um “profissional” tão preconceituoso, tão politicamente incorreto, como a cara de seu jornalismo. Acabei de incluir esses dois desejos em minha lista para o ano de 2010. Oxalá aconteçam!
(*) Em 1968, numa reportagem sobre líderes estudantis, a revista O Cruzeiro acusou Boris Casoy de ter participado do CCC (Comando de Caça aos Comunistas), durante os anos 60. Casoy nega até hoje e afirma não haver provas de sua suposta participação no CCC. Vinte anos depois, disse ter consciência do “quanto a imprensa pode estigmatizar alguém. Eu senti isso na carne. E não esqueço.” (fonte Wikipédia)************************************************************
Jornal da Band – 31 de dezembro de 2009
Os âncoras Boris Casoy e Joelmir Beting não perceberam que o microfone ficou aberto e, pensando que ninguém mais os ouvia, fizeram comentários preconceituosos sobre da dupla de garis que desejava a todos, inclusive aos dois, um feliz 2010. A colega dos dois âncoras da Band, Millena Machado, foi conivente em sua risadinha, que também pode ser ouvida.