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Eu, desumana

Faz um certo tempo que me desconheço. Não me reconheço em ações e atitudes e nem mesmo na revolta, minha velha parceira da vida inteira. Será esse o lado bom da dor? Não falo da dor extrema que vem em contrações porque já sabe de antemão que o corpo não vai aguentar, mas àquela dor moto-perpétuo.

Há um ano, numa tarde muito fria (tipo 5ºC no máximo) e ensolarada, olhei meu filho dormindo, me debrucei sobre ele na cama, dei um longo beijo nele e saí quase que correndo porta afora antes que perdesse a coragem. Ainda não voltei. Os planos ainda não funcionaram. Nada ainda deu certo e não há um dia em que não me pergunte se darão, se valerá a pena… Certo mesmo só essa dor, que já fez morada. No dia em que ela for embora é capaz que sinta o vazio, o buraco no peito.

Já não me acho mais humana. Mutei. Virei uma outra coisa qualquer, sem nome, sem definição. De vez em quando me divirto, rio e até consigo relaxar. Mas acho graça e um tanto estranho se alguém me pergunta se estou feliz… Sobrevivo com um pedaço meu imenso longe de mim. Como seria possível a felicidade assim?

Para não ficar muito chata eu digo que aguento, que seguro as pontas, que só alguns dias é que são piores… A incrível arte de tentar mentir para si mesma, respirar fundo e tentar racionalizar a dor dizendo que será só por mais um dia. Não será. Mas, tomara que não demore muito.

Se alguém tiver algum alento não se acanhe em oferecer.

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Mais?
Dias de Mudança
Estranhamento
O amanhã colorido
Vapor de água
O caminho escolhido


Estranhamento

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Ando tão angustiada nos últimos dias…
Um misto de saudade, falta sei lá de quê, despertencimento, me sentindo um peixe fora d’água — ainda mais com tantos dias sem chover por aqui.
Esse estranhamento tem feito com que me comporte e reaja de forma estranha a tudo e a todos. Estou mais calada, mais agressiva e, infelizmente, mais persecutória do que de costume.
Estou meio assim como a Graúna nesse quadrinho… desconfiada. Desconfiada do futuro, das pessoas e até mesmo de mim.

No mais, o Teatro Mágico pode falar por mim:

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(…)
Sobra tanta falta de paciência que me desespero
Sobram tantas meias verdades que guardo pra mim mesmo
Sobram tantos medos que nem me protejo mais
Sobra tanto espaço dentro do abraço
Falta tanta coisa pra dizer que nunca consigo
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Sei lá se o que me deu foi dado
Sei lá se o que me deu já é meu
Sei lá se o que me deu foi dado ou se é seu
.
Vai saber se o que me deu quem sabe
Vai saber quem souber me salve
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