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A espera do sofá

Não tenho como negar que a vida está melhor do que nos tempos do Ridijanêro. De lá para cá as temperaturas são mais amenas _embora tenha tido picos de calor neste verão, como hoje_, meu salário dobrou _embora tenha dobrado também o trabalho_, a casa é mais ampla e aos poucos, entre as dívidas e a ginástica cotidiana com o orçamento temos conseguido muito aos poucos pequenas conquistas.

Uma dessas conquistas é o bendito sofá. Não temos ainda. A sala só não está completamente vazia porque tem uma mesinha com a tevê em cima, o tapete, uma poltrona _daqueles conjuntos modulados muito comuns nas salas das cohabs do país na década de 80 e 90_, um baú-pufe e uma cadeira. De vez em quando está lá também o secador de roupas.

Daí fico me dizendo “quando chegar o sofá” isso, “quando chegar o sofá” aquilo… Na verdade é uma bengala para coisas que não consigo resolver. E a chegada do sofá não resolverá também. Chuif. Fui abraçada de novo pela sombra sempre presente, na espreita, da depressão. Não sei explicar como chega, quando chega, quando começa o abraço. Só quando estou quase sem conseguir me mexer, envolta por ela e sendo consumida, é que percebo. E aí, tu não sabe se espera ela cansar, desistir ou começa a fazer uma força constante para lentamente começar a afastar seus braços de ti.

Confesso que estou sem forças. Nenhuminha. Nem os arroubos do TOC por limpeza me motivam. E cêis sabem o quanto faxina é terapêutico, né? Pois, é… Nem isso. E misturei força física com moral porque o cansaço é amplo, geral e irrestrito. Sinto uma vontade imensa de dormir, só dormir. Não choro, não me emociono diante de nada. Ok, tenho tido zero oportunidades para isso. Só consigo entrar nos meus pensamentos depois que todos dormem. E aí o relógio anuncia que logo o dia chegará para interromper o mergulho, e vem o calor… e mais um dia, depois outro e outro…

Sigo em suspenso, esperando… o sofá, já encomendado, poder deitar.

SOFÁ VERMELHO CHESTER

não, meu sofá não será vermelho. dei mole, né?


O tempo, e o meu tempo

tempo

Não é segredo pra ninguém meu profundo e sério relacionamento com a depressão. E não posso mentir, esse relacionamento se construiu/constituiu a partir da gravidez do Calvin. Os piores momentos que vivi, óbvio, não tem a ver com a existência do Calvin, mas foram decorrência da gravidez dele. Falta de estrutura minha, talvez. Falta de estrutura do mundo ao redor para nos abarcar… Quem sabe tudo junto.

Lembrar desse tempo é como descer ao inferno. É como tentar nadar no lodo. Não há forças, não há nenhuma mão estendida. Deste lugar ninguém te puxa para te dar colo ou mesmo para ter dar fôlego para mais uma braçada. Impossível pensar noutra coisa senão no fim.

Vivi isso várias vezes. Tantas que nem sei dizer como estou aqui. Como que ainda respiro. A sensação de sufocamento é tão forte que se torna física. O peito dói do esforço para respirar, para continuar vivendo mais um segundo, um minuto, uma hora. Quem sabe depois as forças apareçam…

Foi nesse lodo que aprendi a sobreviver. Criei uma tática de sobrevivência — justo eu que sempre me pensei desapegada da vida pelas tantas vezes que pensei em suicídio –. Não entrar em desespero, acumular forças, ficar quietinha, ir devagar, ou ficar, quase imóvel, quase vencida, até um momento de menor densidade do lodo, onde as poucas forças fossem suficientes para arriscar braçadas, e seguir, como se o tempo não existisse.

Sempre me ocorreu que essa talvez fosse uma estratégia indigna, a de adiar o inevitável. Tem dignidade em manter-se vivo assim? Ainda não sei. Peguei o tempo e o moldei do meu jeito. Passei a viver nesse tempo moldado, no meu tempo. Mas ele, o tempo aprisionado e moldado, deixou suas marcas.

É fato que muitas alegrias e encontros vieram depois desse(s) tempo(s) horrível(is), e também tive tempos de calmaria. E se não fosse a indignidade do meu apego não as saberia. Mas… sempre me pergunto: E se acontecer de novo? E se eu cair no lodo novamente?

O mesmo tempo que ameniza, faz esquecer, também aprisiona e causa ferimentos incuráveis… Num momento acho que estou segura, ainda dentro do meu tempo, e nem vejo o cerco se fechando.

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Aniversário de vitória

Há exatamente um ano eu estava saindo da casca, ou melhor dizendo, rompendo com quatro anos de depressão profunda que me impediam de sair de casa, trabalhar, viver…
O lançamento e sessão de autógrafos de um livro com alguns textos meus na Feira do Livro de Pelotas de 2009 me tiraram de casa direto para uma situação de destaque, algo que evitava/evito. Foi um trabalho importante. Não escrevo mais no blog/site/jornal online que gerou a publicação, mas me orgulho de todo o trabalho que fiz naquele período, incluindo os textos publicados no livro.
Encarei o evento como o primeiro passo do resto da minha vida. E assim foi. Minha vida mudou radicalmente nesses 365 dias passados, embora alguns sentimentos e pensamentos sombrios insistam em permanecer comigo. Mas estou vigilante e tento não deixá-los tomar espaço.
Voltei a sorrir e a sonhar como tenho relatado nos posts mais recentes e o sentimento mais comum nos últimos dias é a esperança de dias melhores.
Depois de amanhã, dia 9, o Pimenta com Limão completa seu primeiro ano de vida. Me aventurei nessa viagem – até então inédita – de escrever sobre sentimentos muitos pessoais para registrar aquele meu momento vitorioso (afinal eu venci a depressão sem ajuda profissional, sozinha, com as minhas pernas e esforços) e para me acostumar com essa ferramenta (blog do wordpress) para finalmente colocar no ar o meu blog de cinema. O Pipoca Comentada está no ar e eu mantive o Pimenta com Limão porque gostei de desabafar virtualmente. Gostei tanto que vocês me aturarão por muito tempo ainda. Rá!!!
Hoje eu comemoro o primeiro aniversário do meu segundo nascimento. Muitos outros ainda virão, não que eu pretenda morrer novamente para de novo nascer, mas porque sobreviver é o que de melhor faço nessa vida.
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