Arquivo da tag: biscate

Eu sem o Biscate Social Club…

Parece uma letra do Vinícius… Samba em Prelúdio. Poderia ser, mas acredito que as coisas têm seu tempo e são finitas.

1276988604936

 

Demorei para escrever contando porque tem coisas que doem mais do que deveriam. Não faço mais parte do Biscate Social Club e nem escrevo mais lá — mas meus textos, os já escritos, ficaram –, embora a relação de afeto continue com xs bisca tudo que lá permanecem e com o próprio site, que ajudei a parir com muito orgulho. Continuo lendo e continuo indicando a leitura: é libertador e libertário, além de muito prazeroso. Então, não vejam esse comunicado como desabonador ou como uma desqualificação do espaço, porque é capaz que com a minha saída ele fique melhor e menos esculhambado (a esculhambada sou eu, desculpa).

Coletivos tem ritmos, regras e seguem seus caminhos. Tenho o meu ritmo, minhas regras e meus princípios e eles estavam se chocando com o ritmo, regras e princípios do coletivo BiscateSC. Tenho esse jeito meio megafone contra a injustiça e não a admito onde estou, convivo. E houve uma imensa injustiça e covardia contra o BiscateSC e eu berrei antes de todo mundo, não esperei. Tipo queimei a linha, saí berrando antes do coletivo contra essa injustiça. Não sei se saberia fazer diferente. O coletivo achou melhor não me seguir, e nem precisava. E embora pareça, não saí por causa da mágoa de cabocla ou pela contrariedade de não ter sido seguida, mas pelo aceite coletivo à injustiça, pelo menos publicamente. Esse “concordo contigo, mas não posso assumir isso publicamente” não cabe para coletivos, acho. Pelo menos não para o eu parte de coletivos.

Há uma escritora/blog/coletivo feminista chupando o conteúdo do BiscateSC. E meu crime ou pecado foi ter dito isso com todas as letras. A ampla maioria das pessoas preferiu enxergar como “convergência de ideias”, “coincidência de pensamentos” e usar até mesmo do conceito de sororidade para aceitar essa chupação, afinal quanto mais pessoas estiverem escrevendo e conscientizando sobre a libertação das mulheres de sua opressão melhor. Depende. Não acho que varrendo divergências de fundo como racismo, machismo, classicismo, homolesbitransfobia e falta de ética para debaixo da tapete avançaremos ou chegaremos a algum lugar.

A esquerda da qual sou ativista desde quando me entendo por gente se diferencia no fazer, no trilhar o caminho e não apenas no objetivo a ser alcançado. Os demais esquerdistas que pensam que os fins justificam os meios são os mesmos que ajudaram a degradar a proposta do socialismo aos olhos do mundo e deram armas ao capitalismo para nos atacar. É preciso estar vigilante e atento. Se nos opomos à injustiça e queremos um mundo justo é preciso construí-lo desde já pelo caminho da justiça, da ética, da correção de princípios. Não é sendo condescendente com falcatruagem, roubo de ideias e o pisar no outro porque é ou parece menor segundo sua régua que teremos esse mundo justo. E isso tem muito a ver com o feminismo. Não é possível ser feminista e ter empregada doméstica (desculpa, mas não é, quem tem sabe ou deveria saber que vive em contradição), se achar melhor na cadeia de produção (exploração) ou que pode chegar “antes” que qualquer pessoa às riquezas e prazeres da vida porque é branca, hétero, cis ou num-sei-que-lá-mais. Ou se parte do princípio que somos todos iguais desde já e nos respeitamos dessa forma ou já falimos no nosso intento antes mesmo de começarmos a luta.

largando o chicote do BiscateSC... :-(

largando o chicote do BiscateSC… 😦

O BiscateSC foi ao ar no dia 17 de dezembro de 2011, e continua tão lindo em sua proposta e conteúdo hoje quanto naquela tarde nublada e abafada de verão. O mundo continua careta, hipócrita e criminalizando o comportamento das mulheres e ainda temos muito o que dizer. O BiscateSC não tem a fama que deveria, apenas deitamos em quantas camas quanto conseguimos (ho ho ho) e quem a tem (a fama) achou mais fácil reescrever nosso conteúdo e assinar seu nominho em cima do que nos dar o devido crédito. Lamento muito que seja assim, mas também agradeço porque ajuda prabu a definir quem é parceirx na trincheira de luta e quem na primeira oportunidade vai furar teu olho ou te enfiar uma faca nas costas. Não sei vocês, mas eu prefiro saber em quem posso confiar.

No mais, só tenho a dizer: continuem lendo e divulgando o BiscateSC. Melhor espaço ever onde já estive, melhores parceiros de copo e escrita que já tive, e sei que se deitássemos todos numa mesma cama era capaz de mudarmos o mundo só com esse ato. Quem sabe um dia… Hein? Hein? Hein? 😛


Biscate de Luta e a Marcha das Vadias em Pelotas

Texto meu postado originalmente no Biscate Social Club

Não sou uma biscate qualquer.

A biscate que sou só eu poderia ser. Ou, a mulher que sou só eu poderia ser. Ou ainda, a pessoa que sou só eu poderia ser. Somos todos assim, construídos de pequenos detalhes, grandes diferenças, caminhos trilhados com dificuldade ou não, escolhas, dores, alegrias… Vida vivida.

Entre as minhas escolhas estão ser comunista — reconheço a que classe pertenço neste mundo capitalista, reconheço a opressão sofrida por esta classe, me rebelo, quero e luto para construir outro mundo, com outro sistema, sem classes e baseado na cooperação mútua tendo o ser humano como parâmetro — e feminista — reconheço meu gênero e todas suas implicações e opressão sofrida, e luto por um mundo antimachista, construído na parceria entre gêneros.

Para além de ser feminista, percebi que a opressão de gênero é um dos pilares de sustentação da opressão de classe e que essas duas opressões estão intimamente ligadas (a opressão de gênero e a normatização da sexualidade da mulher surge na História junto com a propriedade privada), uma não sobrevive sem a outra e talvez por isso seja tão difícil romper com as duas.

Nesse período do início de março é comum recebermos homenagens e flores e vermos a feminilidade ressaltada. Pois reafirmo, engrossando o coro de milhares de mulheres que lutam ao meu lado, o 8 de Março (leia aqui sobre a origem da data) é um dia de luta, de protesto e de reflexão. Dia de recusarmos as flores e falsas/frágeis homenagens e dizermos em alto e bom som: QUEREMOS É RESPEITO E UMA VIDA SEM VIOLÊNCIA!

Juntemo-nos às Marchas das Vadias e atos públicos desse 8 de Março nas cidades Brasil afora. Vamos às ruas fazer valer nossa autonomia e liberdade. Não há outro jeito. Nesse mundo, machista e capitalista, a biscate que eu sou é essa: rebelde, de luta!

.

As mulheres de luta de Pelotas irão às ruas no próximo sábado na Marcha das Vadias, para dizer NÃO à violência contra a mulher. Concentração a partir das 11h, no Chafariz do Calçadão da Andrade Neves com Sete de Setembro. Faça o seu cartaz, vista-se da maneira que quiser e compareça.

.

Outros Atos e Marchas referentes ao 8 de Março de 2012:

Brasília: 6 a 31/março — Diversas atividades do Fórum de Mulheres do DF.
Belém: 8/março — Caminhada, concentração em frente ao Tribunal de Contas às 9h.
São Paulo: 8/março — Ato e Passeata, concentração na Praça da Sé às 14h.
Recife: 8/março — Manifestação na Praça do Diário, às 15h.
Fortaleza: 8/março — Caminhada das Mulheres, concentração no Parque do Cocó às 16h.
Rio de Janeiro: 8/março — Manifestação, concentração no Largo da Carioca às 12h.
Belo Horizonte: 8/março — Ato e Passeata, concentração na Praça da Estação às 15h.
Natal: 10/março — Marcha das Vadias, concentração Ponte Negra atrás do Vilarte às 14h.
Vitória: 10/março — Ato das centrais sindicais na Assembleia Legislativa às 19h.
Campo Grande: 10/março — Marcha das Vadias, concentração Pça Rádio Clube às 8h30.

.

Veja AQUI uma brincadeira, um editorial de moda (NOT) com as fotos que fiz na Marcha das Vadias de Brasília em junho de 2011.