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15 de Outubro: um só planeta, uma só voz!

Texto publicado no Diário Liberdade

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O capitalismo vive sua maior crise e o povo explorado, pressionado pelo desemprego e falta de perspectiva, está nas ruas. As chamadas primaveras no mundo árabe (que somam alguns outros elementos além dos econômicos), nos países da Europa e agora também nos Estados Unidos funcionam que como estimulante para que cada vez mais pessoas saiam às ruas parecem não empolgar os brasileiros.

A grande imprensa que até ontem convocava as marchas contra a corrupção, e que tiveram sua segunda edição nesse feriado de 12 de outubro, hoje já decreta seu fracasso e tenta analisar porque elas não deram certo e chamam especialistas que tentam dar a explicação mais convicente que seja ao mesmo tempo não comprometedora. Mas o que motiva a grande imprensa e essa coordenação-não-coordenação “apartidária” e “apolítica” nesses movimentos anti-corrupção? O escritor Alex Castro já os tinha analisado brilhantemente e concluído assim:

“Se você é contra a corrupção, parabéns. Todo mundo é. Pare de chover no molhado e vá se engajar nos grandes debates do nosso tempo. Cotas raciais, código florestal, política externa, Belo Monte, tudo isso é mais importante do que faniquitos anti-corrupção que não levam (e nem poderiam levar) a nada.”

Diferente do que ocorre no mundo todo, quando a maioria oprimida está nas ruas dizendo que não vai pagar a conta da crise provocada pela minoria que sempre os explorou e lucrou as custas do seu trabalho, nestes movimentos anti-corrupção qual é o alvo? A corrupção? De quem? Não existe uma cara, um foco para esse movimento e por isso elas não mobilizam. Como bem disse o Alex, “ideologia é como espinafre no dente: a gente só vê o dos outros” e não há como mobilizar as pessoas a irem às ruas em movimentos que se dizem apartidários e apolíticos. Porque para levar as pessoas às ruas é preciso conscientizá-las politicamente e isso envolve ideologia. Mas qual? E quando começa-se o processo de conscientização como que faz para parar? Como se estabelecem barreiras de até onde se pode saber, se informar, questionar? As pessoas não são tão manipuláveis assim e não interessa a essas coordenações-não-coordenações e nem a grande imprensa conscientizar ninguém.

Para colaborar com esse processo há o desinteresse imediato (o próprio bolso) para tirar essas pessoas de casa ou desviá-las de atividades de lazer — porque, sim, boa parte da chamada classe média em ascensão no país agora tem direito à lazer, mesmo que a ampla maioria ainda não tenha — para marchas e discussões mais aprofundadas. A questão é: Até quando o Brasil resistirá ao terremoto que sacode o mundo? Até quando assistiremos passivos os trabalhadores do resto do mundo perdendo seus empregos e indo às ruas protestar sem precisar fazer o mesmo? E por fim as perguntas que mais me perturbam nessa história toda: É cada um por si mesmo, cada povo no seu país protestando contra a sua elite exploradora e seus governos à serviço do capital? Não há solidariedade? Sério que estamos nos achando inatingíveis pela crise que não precisaremos sair as ruas, nem mesmo em apoio aos trabalhadores do resto do mundo? Sério que achamos que respostas isoladas darão conta de um problema mundial?

O capitalismo é global e essa onda globalizante foi criada pelos próprios manipuladores do sistema para explorar mais e melhor. Fato é que a crise também é global e, felizmente, a reação dos trabalhadores também está sendo global e as ocupações das ruas e praças estão se espalhando pelo mundo todo, e depois que chegou aos Estados Unidos — de onde ninguém esperava ver brotar a indignação — se tornou viral. Os protestos anticapitalistas organizados nas redes sociais são a bola da vez. Como um vírus criado para sabotar o sistema operacional, os indignados estão usando as ferramentas que encurtam distâncias antes totalmente elitizadas para organizar suas insurreições e sabotar o sistema que os explora e que não lhes serve mais.

A próxima insurreição já está marcada e as convocações seguem via redes sociais (facebook e twitter principalmente). O 15.O pretende ocupar as praças do mundo todo e já está confirmado em 40% dos países do planeta e em 17 estados brasileiros (63%). As acampadas começarão às 16h de sábado 15 de outubro e se estenderão até às 23h do domingo, 16 de outubro. Temos um alvo concreto, definido, e motivos reais para ocuparmos o planeta no próximo sábado.

E antes de pensar que a crise não lhe atinge neste momento e que seu emprego e futuro estão garantidos, olhe bem em volta e pense melhor. Afora a crise que pode nos atingir muito em breve, temos muito contra o que protestar como a construção devastadora da usina de Belo Monte e o desmatamento desenfreado da Amazônia, provocada pela ganância e sede de lucro que não pensa no futuro do planeta e nem nos povos que dependem da floresta para viver; os índices altíssimos de violência contra a mulher, provocada pela desigualdade de gênero que é um dos pilares de sustentação do capitalismo e a ainda desigualdade de salários entre homens e mulheres; os crimes da ditadura que permanecem impunes e perpetuam a tortura como modus operandi do Estado brasileiro e que atinge os mais pobres e negros, que reforçam a impunidade (que só faz fortalecerem a corrupção); as desocupações higienistas para a Copa do Mundo que prejudicam os mais pobres; a intolerância e o preconceito que criminaliza pobres e negros; a criminalização dos movimentos sociais que tem provocado repressão violenta aos movimentos grevistas de professores, técnicos, bancários (e outras categorias) país afora; o monopólio das comunicações que manipula e permite que apenas cinco famílias determinem o que a grande maioria da população receberá de informação e a impede de se manifestar; o elitizado acesso à internet que impede o acesso da maioria da população à informação e conhecimento e inclusive impede de saberem de insurreições como essa; a luta pela reforma agrária, que além de diminuir os crimes e a fome no campo garantirá o abastecimento a todos e ajudará a conter o desmatamento ilegal…

Enfim, escolha a sua bandeira e acampe na praça da sua cidade no dia 15, discuta os problemas da cidade, do país e do mundo, exerça a democracia real. Os tentáculos do capitalismo estão por toda parte e de alguma maneira te atingem e prejudicam. E se ainda faltar empolgação e motivos para ocupar as praças do Brasil no 15.O, leia o discurso da ativista Naomi Klein na ocupação de Wall Street em Nova Iorque. Veja um trecho:

‎”Dez anos depois, parece que já não há países ricos. Só há um bando de gente rica. Gente que ficou rica saqueando a riqueza pública e esgotando os recursos naturais ao redor do mundo. (…) Estamos encarando uma luta contra as forças econômicas e políticas mais poderosas do planeta. Isso é assustador. E na medida em que este movimento crescer, de força em força, ficará mais assustador. (…) Tratemos este momento lindo como a coisa mais importante do mundo. Porque ele é. De verdade, ele é. Mesmo.”

É necessária uma revolução ética, uma mudança de rumo. O capitalismo trata pessoas como números, coisas. Juntos podemos mudá-lo!

15 de outubro: um só planeta, uma só voz!

peixinhos, organizados, podem vencer o tubarão

Confira o manifesto de convocação do 15.O no Brasil e as cidades (e locais) organizadas para as acampadas, no Brasil e no mundo.

Confira aqui o mapa mundial do 15.O atualizado.

Assista a convocação de Eduardo Galeano para o 15.O:

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Aos meus camaradas, um ano vermelho!


Mujica tumultua Montevidéu ao caminhar pelas ruas há três dias de sua posse como presidente

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A partir de segunda-feira o Uruguai terá como presidente um homem simples, de hábitos simples, e que, pelo visto, não se deslumbra com o poder. Longa vida ao ex-guerrilheiro tupamaro Pepe Mujica!
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Ana Olivera e Pepe Mujica na caminhada da Frente Ampla, pela avenida 18 de Julio, em Montevidéu (foto: EFE)

Presidente eleito do Uruguai, José Mujica, tumultuou o centro de Montevidéu nessa sexta-feira ao participar de uma caminhada ao lado da candidata da Frente Ampla ao governo da capital, há três dias de sua posse como presidente.

Fiel ao seu estilo informal, Mujica caminhou dez quadras da avenida principal da cidade, 18 de Julio, para acompanhar Ana Olivera no primeiro ato de sua campanha para as eleições municipais marcadas para 9 de maio. Vigiados apenas por um pequeno grupo de militantes, que formaram uma corrente humana ao seu redor, Mujica e Ana Olivera caminharam juntos com outras mil pessoas, enquanto dezenas de jornalistas se esforçavam para tirar fotos.

A caminhada que durou aproximadamente 15 minutos causou surpresa entre os cidadãos que não esperavam a presença do futuro presidente e o receberam com sorrisos, gritos e aplausos. Muitas pessoas tentaram tirar fotografias junto com o ex-guerrilheiro tupamaro. O ato foi encerrado na Praça Independência, mesmo local da cerimônia de posse de Mujica na próxima segunda-feira.

Em conversa com jornalistas, Olivera disse esperar que sua campanha tenha como principal característica “o contato com as pessoas”. Ela afirmou que pretende percorrer Montevidéu “palmo a palmo”.

A candidata da Frente Ampla é apontada como favorita. Pesquisas de intenção dão a ela índices de preferência superiores a 50%. Olivera tem 56 anos e milita no Partido Comunista, integrante da Frente Ampla. Se eleita, será a primeira prefeita mulher de Montevidéu em 101 anos de processos eleitorais.

(fonte Telesur e Ansa)


Transformatórios sociais

UM OUTRO MUNDO É AQUI!
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Relato do Fórum Social Expandido da Periferias que aconteceu no Loteamento Dunas, em Pelotas e que contou com a participação de periferias de cidades como Belém, Paris, Ivry, Roma, Rosário, Medelin e Barcelona, via internet
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A terceira edição do Fórum Social Expandido das Periferias foi, para mim, uma experiência ímpar. Teria sido para qualquer ativista social. Ver periferias de várias cidades do mundo linkadas através da internet, socializando experiências de como reverter a exclusão social imposta pelo capitalismo, foi gratificante. Mais até do que minha participação na primeira edição do Fórum Social Mundial, quando vi nascer a esperança da possibilidade de construção de um mundo novo. Principalmente por ser o Fórum das Periferias uma organização anárquica dentro do próprio FSM, que hoje parece esgotado em sua proposta inicial.

Comitê Desenvolvimento do Dunas - CDD

O FSP 2010 aconteceu entre os dias 3 e 6 de fevereiro, no Loteamento Dunas em Pelotas, região sul do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, Terra. Neste local, um dos mais pobres e violentos da periferia pelotense, são desenvolvidos projetos sociais baseados na organização comunitária. Aqui, a Uniperiferia (Universidade da Periferia) e a ONG Amiz trabalham em conjunto para dar novas perspectivas de vida aos moradores no Comitê de Desenvolvimento do Dunas (CDD). Entre os projetos desenvolvidos está o Casa Brasil, projeto interministerial do governo federal que agrega elementos do Pontos de Cultura e Inclusão Digital. Saliento que o Dunas é uma das melhores experiências do Casa Brasil, e foi ele que proporcionou, através de equipamentos e treinamento de pessoal, a apropriação da tecnologia necessária à realização deste fórum.

auditório do CDD - local dos debates presenciais

Ou seja, o investimento público feito por um projeto governamental e administrado corretamente por uma comunidade organizada, está resultando hoje em benefícios locais e também numa organização que pretende ser global, para beneficiar outras comunidades que ainda vivem na mais completa exclusão. É a gLOCALização em contraponto à globalização, combatendo o capitalismo e produzindo inclusão social.

interconexões: enquanto Betinho, da ong AMIZ fala no debate presencial, David Gabriel (no telão) acompanha de Paris, via Ustream

Durante quatro dias, os quatro eixos de discussão do FSP 2010 foram Cultura e Arte Transformadora, Ambiência e Urbanismo, Segurança e Proteção, e Comunicação e Informação. Estiveram linkadas ao FSP (via plataforma OpenFSM, através das ferramentas Ustream e Skype) nas discussões, periferias das cidades de Uruguaiana, Belém, Medelin, Rosário, Roma, Barcelona, Paris e Ivry.

creche para os filhos dos participantes locais

A palavra que traduz essa edição do Fórum das Periferias é “transformatórios”, que traz em si a ideia de alterar o caráter passivo dos muitos observatórios sociais para transformatórios das realidades já estudadas e observadas. Conheça, no OpenFSM/FSP2010, as resoluções e encaminhamentos aos quatro eixos de discussão do FSP 2010, já chamados de transformatórios. É possível assistir a cada um dos debates, além de entrevistas e depoimentos extras. Quem quiser contribuir na discussão em cada um dos temas, o espaço está aberto. Nada mais natural que transformatórios sociais estejam em constante transformação.

Discussão sobre arte transformadora, coordenada por Dan Baron (esquerda)

Num outro momento apresentarei aqui a experiência da comunidade do Loteamento Dunas, em Pelotas, e porque é este lugar que sedia o debate presencial do Fórum Social Expandido das Periferias.

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NOTA: A entrevista com Dan Baron, arte educador e presidente da IDEA, sobre arte transformadora está sendo transcrita e estou fazendo perguntas complementares por e-mail. A gravação além de longa não ficou boa. Prometo para breve. Questões enviadas via Twitter por @carlosemilio e @qriz fazem parte da entrevista.
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Um outro mundo é aqui!

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Começou às 17h de hoje, em Pelotas, o Fórum Social Expandido das Periferias, edição 2010. Organizado pela Uniperiferia e sediado no Comitê de Desenvolvimento Dunas (CDD) – que abriga entidades colaboradoras, como Ong Amiz e projeto Casa Brasil – e dispõe de um auditório com acesso à internet para os debates.
Mais de cinquenta pessoas trabalham voluntariamente para colocar o Fórum das Periferias na web em tempo real. Os debates acontecem sempre a partir das 14h e as inscrições são gratuitas. O público presente no auditório físico do CDD terá acesso a experiências de periferias de outros lugares do mundo, através dos debates virtuais, ao mesmo tempo em que o mundo terá acesso aos projetos desenvolvidos na periferia de Pelotas.
Os eixos temáticos que serão debatidos são Informação e Comunicação, Cultura e Arte, Segurança e Proteção, Ambiência e Urbanismo. Quer acompanhar os debates? Confira a programação e acesse o auditório virtual. O FSP acontece até sábado, 6 de fevereiro.
O Fórum das Periferias é um desdobramento do Fórum Social Mundial que já está em sua terceira edição e acontece no Loteamento Dunas, um dos locais mais pobres e violentos da periferia de Pelotas. O lugar certo para essa iniciativa e para os projetos desenvolvidos. Assista ao vídeo (feito no CDD por participantes do projeto Casa Brasil) e tenha uma ideia do trabalho feito no Loteamento Dunas, transformando a vida de pessoas agora, já, e provando que esse outro mundo não só é possível como ele acontece aqui, na periferia da minha cidade.
É a gLOCALização como resistência à globalização e ao capitalismo.
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Nota: Amanhã, entrevistas diretamente do FSP no Loteamento Dunas.
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Crise na Venezuela

Excelente e esclarecedora entrevista com o sociólogo Edgardo Lander sobre a crise da Venezuela e análise do chavismo. É difícil ficar apenas com a versão de bandido e candidato a ditador passada pela grande imprensa ou, em contrapartida, com o endeusamento de Hugo Chávez por setores da esquerda. A prudência indica: nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A entrevista está publicada no Outras Palavras.

O chavismo em seu curto-circuito

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O sociólogo Edgardo Lander examina, no Fórum Social Mundial, as causas da nova crise venezuelana. Para ele, a esquizofrenia do processo bolivariano está na origem das turbulências; e os próximos seis meses podem redefinir o futuro político do país
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Antonio Martins, Brunna Rosa e Rita Casaro
Outras Palavras
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Em Porto Alegre, no mesmo palco onde participou há pouco do seminário que avalia os dez primeiros anos do Fórum Social Mundial, o sociólogo venezuelano Edgardo Lander concede agora uma entrevista sobre a crise em seu país. Ao ouvir a pergunta, o corpo que sustenta este rosto tenso, de testa larga e pelos grisalhos, inquieta-se. Lander se remexe na poltrona, para ficar ereto; emite um suspiro e começa a descrever, com detalhes e nuances, o que quase nunca aparece na mídia. Nem a oficial, que vê em Chávez um demônio a ser exorcizado, nem a de certa esquerda, que quase sempre trata o presidente como anjo redentor.

“O processo político venezuelano continua marcado por uma profunda esquizofrenia”, pensa este professor da Universidade Central da Venezuela e membro do Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (Clacso). “A mobilização social desencadeada desde a posse de Chávez despertou da apatia as maiorias. Elas sentem-se donas do país. Milhões de pessoas, antes submissas, querem opinar. E o fazem, nos Conselhos Comunais, Comitês de Água, ou espaços abertos para debater as políticas de Saúde e Educação.

“No entanto, a mobilização foi desencadeada pelo Estado e dele depende fortemente”, continua Lander, que também é um dos articuladores assíduos e inspirados dos Fóruns Sociais das Américas. Ele dá exemplos: “Os Conselhos Comunais, pedra de toque do novo processo político, costumavam encarar a sério todas as propostas de debate lançadas pelo presidente. Mas que fazer se, em meio a uma polêmica intensa, os integrantes de um Conselho ligam a tevê e vêem o presidente anunciar, garboso, que ya decidió a questão em que estavam mergulhados? Não é natural que se enxerguem como meros figurantes?”, pergunta o sociólogo.

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O FSM e as nossas esperanças

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Começou hoje em Porto Alegre o Fórum Social Mundial 10 anos. Na verdade não é o décimo FSM – que teve sua primeira edição em 2001 -, mas é o início das atividades para a décima edição que será a mais longa da história. Por isso também o retorno a Porto Alegre e o seminário de avaliação (veja programação) das conquistas nesses nove anos na construção de um outro mundo.

Os avanços são inegáveis. Pessoas que não eram vistas e ouvidas, hoje fazem parte da agenda mundial de contestação à ordem vigente e de protesto contra injustiças. O FSM rompeu preconceitos, aproximou culturas e promoveu uma interatividade mundial nunca antes sonhada. Muitos dos excluídos de antes, hoje caminham juntos em defesa daqueles que ainda não tem acesso aos recursos disponíveis no mundo e nem mesmo ao próprio FSM.

marcha de abertura FSM 2010, Porto Alegre

Como disse hoje pela manhã, no seminário de abertura do Fórum, a uruguaia Lilian Celiberti, da Articulação Feminista Mercosul, “no FSM ainda há mais homens, mais brancos, mais heterossexuais. (…) Sou a favor do anti-imperialismo. Mas não basta. É preciso falar do anti-racismo, anti-patriarcalismo, anti-homofobia. (…) Dificuldade não está só no inimigo externo, mas nas práticas capitalistas que os próprios movimentos adotam no dia a dia”. E como Lilian mesmo lembrou em sua fala, “a diversidade se impôs” também no FSM.  E não poderia ser diferente. Num espaço criado para servir de fomentador da transformação da ordem mundial, da construção de um mundo justo e solidário, baseado na lógica humana e não do capital, surgem pequenos personagens que se destacam. Pessoas que tentam com o seu exemplo provar que outro mundo é possível.

Pedalantes por um mundo melhor


Estou falando de quatro adoráveis malucos, que decidiram ir pedalando até Porto Alegre para participar do FSM 2010. Dois deles partiram de São Paulo no dia 7 de janeiro, Antonio Lacerda Miotto (@pedalante, no Twitter) e Mathias Fingermann. No dia 11, em Joinville, se juntou ao grupo Giorgio Testoni e em Floripa, no dia 14, Victor Barreto completou o quarteto que chegou a Porto Alegre pedalando no último dia 22.

Giorgio, Antonio, Mathias e Victor (abaixado), no Alto Araçás em Floripa - foto: Edu Green

Mathias Fingermann e o hotdog vegano

Durante a viagem foram consumidos quase dez litros de água de coco, quatro litros e meio de caldo de cana, três melancias, além de muitos “X-mico” ou hotdog vegano (pão com banana). Diariamente cada um comeu pelo menos duas bananas. Esse foi o combustível extra para a viagem, dificultada pelas chuvas fortes e o vento sul que castigaram os ciclo-viajantes.

Antonio Miotto, o 'pedalante'

Segundo o pedalante Antonio Miotto – 43 anos, vegetariano e professor universitário -, o objetivo da viagem é inserir a discussão da bicicleta como meio de transporte no meio urbano. Essa discussão sobre mobilidade urbana se faz cada vez mais necessária quando as pessoas perdem cada vez mais tempo, presas no trânsito caótico das grandes cidades. Amanhã, 26, eles farão uma palestra no auditório da Secretaria Municipal de Esportes de Porto Alegre, às 19h30, promoção da Sociedade Audax e Poabikers.com.br.

Giorgio Testoni

Mathias Fingermann, 23 anos, é professor de educação infantil e não come carne vermelha. Victor Barreto, 39 anos, é analista de projetos sociais e também não come carne vermelha. Giorgio Testoni, 23 anos, é estudante universitário é o único onívoro do grupo.

Victor Barreto

Esses “malucos” são os mais certos entre nós. Mudaram suas vidas, seu jeito de viver e tentam socializar sua experiência com outras pessoas. Usando apenas uma bicicleta como arma, tentam mudar o mundo e nos enchem de esperança de que é mesmo possível construir uma alternativa para a humanidade. “Bora” fazer alguma coisa também?

As fotos são da galeria pedalfsm2010 e pedalfsm. Mais detalhes sobre as propostas do ciclo-turismo, mobilidade urbana e o início dessa aventura no blog Pedalante e no blog pedalfsm2010 (atualizado durante a viagem).


Liberdade no mundo retrocedeu em 2009

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Adital
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O ano de 2009 foi marcado pelo retrocesso da liberdade no mundo. Isso é o que afirma o Relatório 2010 “Liberdade no Mundo”, produzido pela organização Freedom House. Episódios como o golpe de Estado em Honduras e o massacre de civis e jornalistas nas Filipinas contribuíram para a queda nos níveis de liberdade.

De acordo com o Relatório, o ano de 2009 registrou um aumento da repressão contra defensores e ativistas de direitos. As liberdades de expressão e de associação também foram alvos de ataques, com perseguição crescente a jornalistas, meios de comunicação alternativa e pessoas comprometidas com os direitos humanos e as reformas políticas.

A organização Freedom in the World mede, desde 1972, a capacidade das pessoas de exerceram seus direitos civis e políticos em 194 países e 14 territórios do mundo. As nações são classificadas em: “Livre”, “Parcialmente Livre”, e “Não Livre”.

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Oriente Médio: Novo ataque a Gaza no horizonte

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Mel Frykberg
Revista Fórum
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Ramala, 21/1/2010 – Um novo ataque do Exército de Israel contra a Faixa de Gaza é iminente e seria ainda mais brutal do que a operação Chumbo Derretido do ano passado, alertam fontes israelenses e palestinas. A pergunta é se a nova agressão mudará algo e se as causas que levaram à sangrenta guerra há um ano deixaram de existir. Na última semana, as forças de defesa israelenses realizaram uma série de incursões terrestres e aéreas que deixaram cinco palestinos mortos, três deles membros confirmados da organização extremista Jihad Islâmica, e vários feridos.

Estas ações provocaram novos lançamentos de foguetes contra Israel a partir dos territórios palestinos. Trata-se da maior escalada da violência entre esse país e a resistência palestina desde a operação Chumbo Derretido. O ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, advertiu publicamente a organização islâmica Hamas para “ter cuidado”. Por sua vez, Jalid Al Batsch, líder da Jihad Islâmica, divulgou uma declaração em Gaza afirmando que “o ataque israelense indica claramente que Israel se prepara para uma grande operação militar na Faixa e busca apoio internacional para sua agressão por meios políticos e com campanhas na imprensa”.

“A contagem regressiva para a segunda guerra de Gaza começou”, afirmou o colunista e analista israelense Bradley Burston no jornal israelense Haaretz. “Outra guerra de Gaza não seria apenas fatal para o que resta da credibilidade moral de Israel, mas também enfraqueceria e paralisaria as ofensivas político-militares do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no Iraque, Afeganistão e, mais abaixo da colina, Iêmen, prevê Burston. Sua especulação se baseia em recentes declarações e análises de altas fontes militares de Israel, que haviam feito comentários semelhantes antes do ataque a Gaza, em janeiro de 2009, segundo o jornalista.

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Comboio humanitário em Gaza

cartuns de Latuff no comboio humanitário em Gaza

Na faixa de Gaza, os carros do comboio humanitário usam as imagens do cartunista brasileiro Carlos Latuff. Como bem observou Conceição Oliveira, “é realmente impressionante como Latuff tem reconhecimento mundial em todos os espaços em que as pessoas estão unidas para lutar contra as injustiças”.


Os algozes humanitários

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A ajuda humanitária nestes dias de inferno pós-terremoto não pode ser uma mera musculação de consciência daqueles que doam um quilo de arroz e dormem tranquilos
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Elaine Tavares
Brasil de Fato
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A gente do Haiti é gente de muito valor. Foi o único país, no mundo, em que os escravos fizeram uma revolução contra seus senhores e venceram. Foi em 1791, logo depois da revolução francesa. A ilha caribenha ferveu em desejos de liberdade e o povo armado – mais de 500 mil negros num espaço onde viviam apenas 32 mil brancos – botou os colonizadores franceses para correr. Toussaint de Loverture, Dessalines, Alexandre Pétion. Gigantes da luta de libertação que, com suas idas e vindas, erros e acertos, fizeram do Haiti, com a força das gentes, uma nação livre, digna, soberana. Primeiro país abaixo do Rio Bravo a se fazer independente em 1801. Petión acolheu Bolívar e foi o responsável pela virada na cabeça do libertador. Deu a ele guarida, ajuda e só pediu em troca que ele libertasse os escravos da América do Sul. Bolívar mudou.

Mais tarde, as lutas intestinas revolveram o país e várias lideranças passaram pelo poder, até que no início do século XX o mal fadado vizinho do norte, os Estados Unidos, decidiu intervir no país para cobrar dívidas, uma história muito conhecida pelos países latino-americanos. Desde aí, o povo do Haiti sofreu fortes reveses, culminando com a dinastia Duvalier, sanguinária ditadura de pai e filho, que perdurou de 1957 até 1986. Regime de terror, tortura e perseguições, enfrentado com valentia pela população, que pagou caro por isso.

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