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Sobre a indiferença e o escárnio

Escrevo e falo sempre que posso sobre o meu estranhamento à “democracia” brasileira. Tanto que só consigo escrever a palavra me referindo ao Brasil assim, entre aspas. E o estranhamento está em perceber o quanto o Estado brasileiro permanece repressivo e tolhedor de direitos. Sei que é apenas para alguns, mas na ditadura militar e em outras antes também o era. Numa conversa com amigxs queridxs das minhas redes sociais (ou plataformas digitais), falávamos dos sinais que evidenciam que estamos cada dia mais distante da democracia porque os direitos e a liberdade de alguns foram suprimidos, e o quanto é difícil falar a respeito disso com quem se sente distante (talvez acima) e diferente desses. Essa conversa me fez lembrar do início de um poema do Brecht, Intertexto:

“Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei.
Agora estão me levando.
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.”

Antes dele, a mesma concepção, a indiferença diante da escalada do autoritarismo, estava no “E Não Sobrou Ninguém” de Vladimir Maiakovski, que originou o poema “No caminho, com Maiakovski” de Eduardo Alves da Costa. Alves da Costa, niteroiense, escreveu seu poema no final da década de 60, no período mais duro e sombrio da ditadura militar e por isso voltou como um ato de resistência na campanha “Diretas Já” em 84, quando um trecho (atribuído à Maiakovski) foi amplamente difundido em camisetas e panfletos:

“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”

Foi o poema de Maiakovski que também originou o sermão do pastor luterano Martin Niemöller na Alemanha nazista:

“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse”

E depois desses surgiram várias versões e corruptelas.

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Daí que a conversa de ontem sobre a indiferença diante da escalada do autoritarismo, inspirou o amigo Paulo Candido a escrever uma versão atualizada do poema do Maiakovski e do Brecht tudo-junto-misturado, que é razão desse post e vai além da indiferença e trata também do escárnio que nasce de tanta indiferença. Confiram:

indiferença

Primeiro eles jogaram o Rafael no presídio e esquecerem ele lá.
Eu não me importei, 
porque que porra um morador de rua estava fazendo com desinfetante, eles não gostam de chafurdar na sujeira??

Depois eles mataram o Amarildo e sumiram com o corpo.
Eu estava pouco ligando, 
porque afinal, se você mora na favela devia saber que não é para mexer com a polícia.

Daí eles puseram o japonês e o cara de saia na cadeia com flagrante falso e provas forjadas.
Eu não estava nem aí,
porque, cara, homem de saia de saia é tudo viado 
e japonês baderneiro nem devia ter, né? Só no Brasil mesmo.

Aí eles prenderam ilegalmente a tal Sininho, um monte de professores, uns moleques adolescentes.
Eu nem quis saber,
Bando de black blocs, tem que arder no inferno.

Então eles acabaram com essa coisa de manifestação, cercaram os vagabundos e desceram porrada.
Eu aplaudi de pé,
Cansei dessa gente atrapalhando o trânsito e quebrando vitrine quando eu quero voltar para casa.

Outro dia disseram que eu não podia mais que votar.
Eu fiquei feliz da vida,
Já aluguei a casa na praia para o feriadão, mas nem sei se ainda é feriado, preciso ver isso aí.

De vez em quando eles pegam um vizinho ou um colega de trabalho e eles não voltam mais.
Eu acho massa, 
menos barulho no prédio e menos concorrência na firma.

Outro dia levaram meu filho mais velho, estava na rua depois das nove.
O idiota tinha sido avisado, e é uma a boca a menos para alimentar, 
vamos poder ir para a Europa no fim do ano.

Minha mulher disse que tem uns caras na porta perguntando por mim.
Troquei de roupa e disse para ela seguir a vida,
Afinal, alguma coisa eu devo ter feito e é tudo pelo bem do Brasil.

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União homoafetiva é legal!

Aceitar é opção, respeitar é obrigação!.

Hoje é um dia histórico para o Brasil. O Supremo Tribunal Federal, sempre tão retrógrado e direitista, nos leva finalmente ao século 21. Reconhecer a união homoafetiva estável é uma imensa conquista da cidadania brasileira e um passo concreto para a criminalização da homofobia. Veja os direitos que os homossexuais adquirem a partir de hoje com a decisão.
O STF foi unânime e os ministros foram, um a um e cada um à sua maneira, dizendo sim a união homoafetiva e ao direito de cidadania plena de milhões de homossexuais até então marginalizados por seus afetos e escolhas. Este sopro de tolerância e amor da suprema corte brasileira é um alento e uma esperança de termos finalmente um Estado laico, livre da influência preconceituosa das igrejas e do pensamento tacanho que associa homossexualidade à promiscuidade.
Enfim, poderia citar todos os maus exemplos de homofobia que tanto me entristecem, envergonham e me fazem sentir menos humana e cidadã. Mas hoje é dia de alegria e de comemorar esse imenso passo, mesmo sabendo que essa decisão não nos livra do preconceito. Mas nós certamente sobreviveremos e como bem disse Eduardo Guimarães, “hoje o mundo ficou um pouco melhor”.
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Bem-vindo, século 21!

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Sedução meia boca para quem gosta

Devassando a Timeline…
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Homens metidos a Don Juan e mulheres metidas a Cleópatra* existem em todos os lugares, inclusive na esquerda e/ou na internet. Sempre convivi em maior ou menor distância com os chamados capas-pretas da esquerda que se utilizavam de sua posição e/ou conhecimento, poder para seduzir militantes (aqui substituindo o termo ‘moçoilas’) desavisadas(os). Acontece com homens e mulheres, mesmo que seja muito mais frequente com os homens pelo modelo patriarcal fortemente arraigado e pelo culto ao tipo “cafajeste” que parece perpassar até as barreiras ideológicas e de gênero. Afinal, concordando ou não, algumas mulheres assumem esse papel meio que em tom de vingança sexista.

Substituí o termo “moçoila” porque somos todos adultos, com mais ou menos experiência. E no mundo atual, com tanta informação pipocando por todos os lados, cair em um determinado tipo de ‘papinho’ de sedução, parece ser mesmo por conveniência ou por vontade própria. Mas diante dos ‘mitos’ da esquerda continuam a suspirar moçoilas e moçoilos desavisados. De novo – não por escolha minha mas pelas circunstâncias – os homens, bonitões com tendência à solteirice (leia-se independência afetiva/emocional) são alvo certo para suspiros e por consequência, se utilizam do vasto campo de ‘oportunidades’ de sedução a sua frente. Alguns, mais honestos, nem gastam muita saliva e deixam bem claro que não vão se comprometer com ninguém, nunca. Outros preferem exercitar seu lado ‘cafa’ e se esmeram em promessas subentendidas e em declarações de afeto – que mais parecem notas de três reais – desnecessárias.

Por que estou falando sobre esse assunto? Não, não me deixei seduzir pelo José Dirceu. Ele nem tentou (rindo muito enquanto escrevo). Meus amigos mais próximos diriam que se ele tentasse me seduzir haveria grande chance dele sair reclamando que foi ‘seduzido e abandonado’.

Mas, canalhices a parte de ambos os lados, essas histórias se repetem todos os dias e eu as tenho visto no tuíter, que além de ser um microblog é também uma rede social de relacionamentos. Alguns profissionais que dão pinta de serem muito sérios – e são mesmo muito sérios e competentes profissionalmente – ao partirem para suas tentativas de seduções, se mostram como cafajestes tradicionais e totalmente pervertidos (pervertidos no sentido de depravação = desvio patológico do comportamento considerado normal, com todas as controvérsias que o assunto suscita). Há alguns que se dizem subversivos ao invés de pervertidos, porque acreditam mesmo estarem subvertendo a ordem natural das coisas. Oi? Bem historinha pra boi dormir ou para derrubar a vaca (desculpem-me a expressão).

Esses ‘don juans’ precisam saber que a internet aproxima as pessoas, de tal forma que aquela conversa de amigas (onde basta uma abrir a boca e contar o grande segredo para todas se darem conta que foram seduzidas pelo mesmo cafajeste e pela mesma história – ipsis litteris) se dá muito mais rápido do que eles imaginam, sem testemunhas (ninguém as vês tomando chá ou indo ao banheiro juntas confabular) e o pior de tudo: todas tem em seus msns, gtalks, skypes, mensagens diretas do tuíter e/ou imeius, os registros das seduções do espertinho (alguns repetem até os erros de português).

Numa dessas confabulações de um grupo de gurias do tuíter hoje a tarde, surgiu a ideia de ‘denunciar’ os nomes (as arrobas) de alguns desses ‘don juans’ fajutos. Mas nem todas queriam se expor ou entregar que caíram de alguma forma no tal papinho infame e barato. Pensei em contar sozinha quem eram, uma vez que jamais me considero vítima de sedução. Anunciei que contaria e criou-se uma baita expectativa sobre quem são as tais ‘arrobas pervertidas’ (apelidei assim), mas não quero criar uma ‘caça às bruxas’. São profissionais até certo ponto sérios e que utilizam as mídias sociais também para divulgar seu trabalho. Então fica o alerta: Você amigo(a) don juan/cleópatra-de-meia-pataca que está aí usando as mídias sociais para seduzir de forma barata e cafajeste suas vítimas, saiba que a internet deixa rastro e as pessoas se esbarram por aqui mais facilmente que na vida real. Entenderam? (Tá.)

Muito bem disse o Marcelo Branco, coordenador da campanha Dilma nas redes virtuais, que a internet potencializa o que as pessoas são na vida real. Um pouco de cautela ao usar a rede não fará mal algum a ninguém. Traduzindo: Menos, pessoal. Menos!

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* mitos masculino e feminino que seduziam, segundo consta, até o ar que os envolvia.


Contradições…

A foto acima é da marcha de abertura do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre anteontem, 25, foi registrada pelo amigo Pedalante e por ele enviada num e-mail. Um pouco antes de receber a foto ontem (26), fiquei sabendo pelo tuíter especial da Zero Hora de cobertura do FSM (@FSM_ZH) que houve “tentativas de abuso sexual” no Acampamento Internacional da Juventude. Retuitei. Logo depois, o perfil da Marcha Mundial das Mulheres (@marchamulheres) envia tuíte perguntando: “de novo? sempre acontece isso nos acampamentos =( ”

Um pouco mais tarde, o perfil @FSM_ZH relata que para encontrar um papel jogado no chão no mesmo Acampamento Internacional da Juventude, precisou andar mais de vinte minutos e destaca isso como sendo um “ótimo exemplo”. E é mesmo! Mas não é contraditório? Essa juventude, que incorporou um novo comportamento com relação ao planeta – que é uma preocupação ralativamente nova para a esquerda, ainda não assimilou um novo comportamento com relação às mulheres. Não é de se estranhar que mesmo com uma lei específica para coibir a violência contra a mulher, os casos só aumentem. É lamentável que essa juventude, dita de esquerda e revolucionária, não tenha com as mulheres os mesmos cuidados que tem com o planeta.

Quando é que as mulheres deixarão de serem vistas como coisas, como simples objeto do desejo masculino? E por que só li essa informação na chamada grande imprensa ou mídia burguesa – expressão mais frequente nos discursos da esquerda? Por que os jornalistas da chamada imprensa alternativa, de esquerda, da blogosfera, não fizeram a denúncia?

Como resposta a todas essas perguntas me aproprio do slogan da Marcha Mundial das Mulheres para dizer que “seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”. Esse “outro mundo” tão propagado pelo FSM, só será possível ser construído quando as mulheres forem livres, donas de seus corpos e sexualidade. A mudança começa no dia a dia, no comportamento de cada um.


Nota: Segundo as informações do repórter Paulo Germano (acampado) e repassadas ao @FSM_ZH, todos os envolvidos no caso foram expulsos do acampamento.


Laptop feito de papel reciclado

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Blog Planeta Sustentável
Superinteressante
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A preocupação com o meio ambiente anda sendo uma inspiração e tanto para os designers. A mais nova invenção, projetada por Je Sung Park, veio diretamente da terra do sol nascente: é o Recyclabe Paper Laptop, um laptop feito com papel reciclado, como o próprio nome nos permite concluir.
O produto funciona como qualquer outro computador. A diferença está na sua confecção: ao invés das peças eletrônicas serem protegidas por materiais de plástico ou metal, elas são embaladas por papelão. A “capa”, claro, é muito menos duradoura, mas por ser feita de um material mais fácil de se reciclar, Je Sung aposta que é mais simpática ao meio ambiente. Será?
O novo laptop – inspirado na onda dos eletrônicos descartáveis, como câmeras e celulares – é, por enquanto, um produto apenas conceitual: não tem forma real, nem previsão de lançamento e muito menos preço. Parece que Je Sung teve uma ideia genial, mas não sabe muito bem como torná-la realidade. Alguém tem alguma sugestão para o moço?
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Leia também:
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A última lua de 2009, em Cuba

Yoani Sánchez
Generación Y

Ontem, corri do bairro da Colina até em casa para chegar a tempo de filmar o por do sol e publicá-lo em meu blog. Mas o último círculo de fogo de 2009 estava sendo cercado por nuvens e impossível de ser gravado na câmera. Um pouco frustrada, olhei para nordeste e uma lua espetacular, rosa, ao lado da coluna de fumaça da refinaria Lopez Nico. Luz ao lado da sujeira, próximo ao anel de prata das chamas geradas pela combustão do petróleo.
Deixarei, junto deste texto, algumas imagens da lua que brilhou em sua plenitude. Também joguei o tradicional balde de água a meia noite da minha varanda, num ato de limpeza anual para remover tudo o que nos impede de avançar como nação. Esta manhã, o primeiro sol de 2010 secou as poças que se formaram dos jatos d’água caídos dos edifícios próximos. Soou como uma catarata plural, múltipla, e espalhava os despachos que vinham de cada casa. Num só pensamento, milhões de cubanos: “O que está errado, que vá”.

O original está postado no blog Generación Y, de Yoani Sánchez.


Gafe é uma coisa, preconceito de classe é outra

Boris Casoy

Chocante o “deslize” de Boris Casoy no Jornal da Band na noite de ontem (31/12) ao desdenhar das felicitações de dois garis. Não que esperasse algo menos preconceituoso por parte de Casoy, ex-membro do CCC – Comando de Caça aos Comunistas – que tinha como lema “matar um comunista por dia” (*). Mas pela forma como um jornalista experiente, famoso pela ancoragem dos telejornais por onde passou e pelo bordão “isso é uma vergonha!”, joga por terra sua “credibilidade” por deixar escapar em voz alta um pensamento que deve ser recorrente.

A gafe verbalizada por Casoy na verdade é preconceito – ou ódio – de classe, é mais comum do que se imagina e é o que faz com que a elite brasileira tenha vergonha de ter um presidente operário, semianalfabeto que quebra o protocolo de onze em cada dez cerimônias que participa. Não defendo e nem apoio o governo Lula por vários motivos, mas preconceito de classe me diz respeito e atinge diretamente. Sempre que perceber um trabalhador ser destratado, humilhado, estando ele presidente ou não, vou me indignar e manifestar. O fato do presidente do meu país ser um operário (ou ex, como queiram) só me orgulha. Minha vergonha de seu governo reside em outros fatos e políticas governamentais e nada tem a ver com preconceito.

Lula está pouco se lixando para as ofensas e grosserias de que é vítima por parte da elite e por grande parte da mídia brasileira. Quanto mais batem, mais sua popularidade entre sua classe aumenta – a isso chama-se identificação, reconhecimento e sensação de pertencimento – e seu prestígio internacional cresce. Mas os demais trabalhadores não têm o mesmo escudo nem casca grossa e estão expostos a humilhações públicas como aqueles dois trabalhadores em rede nacional, ontem à noite.

A Band disse que a “gafe” vazou acidentalmente e, com o pedido de desculpas feito pelo jornalista Boris Casoy no jornal de hoje (01/01), dá o caso por encerrado. Espero sinceramente que os dois garis processem a Rede Bandeirantes e seus apresentadores para que o caso sirva de exemplo. Gostaria ainda de ver os garis (categoria) fazendo um protesto em frente à emissora e que este protesto os fizessem perder muitos anunciantes, para que os chefes da Band saibam o preço de manter um “profissional” tão preconceituoso, tão politicamente incorreto, como a cara de seu jornalismo. Acabei de incluir esses dois desejos em minha lista para o ano de 2010. Oxalá aconteçam!

(*) Em 1968, numa reportagem sobre líderes estudantis, a revista O Cruzeiro acusou Boris Casoy de ter participado do CCC (Comando de Caça aos Comunistas), durante os anos 60. Casoy nega até hoje e afirma não haver provas de sua suposta participação no CCC. Vinte anos depois, disse ter consciência do “quanto a imprensa pode estigmatizar alguém. Eu senti isso na carne. E não esqueço.” (fonte Wikipédia)

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Jornal da Band – 31 de dezembro de 2009

Os âncoras Boris Casoy e Joelmir Beting não perceberam que o microfone ficou aberto e, pensando que ninguém mais os ouvia, fizeram comentários preconceituosos sobre da dupla de garis que desejava a todos, inclusive aos dois, um feliz 2010. A colega dos dois âncoras da Band, Millena Machado, foi conivente em sua risadinha, que também pode ser ouvida.

Transcrição:

Casoy: “Que merda, dois lixeiros desejando felicidades do alto da sua vassoura.”
Millena: apenas ri (condescendente)
Casoy: “O mais baixo da escala do trabalho…”
Operador: “Deu pau, deu pau…”
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Leia também o artigo “Boris Casoy, o filho do Brasil”, de Paulo Ghiraldelli Jr.
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A ditadura da felicidade natalina

Rodrigo Cardia
Blog Cão Uivador
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Eu não gosto de Natal. Faz bastante tempo.

Afinal, tal data é associada ao Papai Noel e ao nascimento de Cristo – e não acredito mais em nenhum dos dois. Logo, é uma comemoração sem sentido para mim. Some-se isso ao fato do Natal marcar o início do verão – é mais fácil agüentar colorados “pifados” do que calor – e completa-se o quadro da dor.

Pior do que a existência da data, é o tal de “feliz Natal”. Em primeiro lugar: se a data não me faz sentido como comemoração, também não vejo razão em sair dizendo “feliz Natal” para todo mundo. Em segundo lugar: sei que, ao contrário da idéia de felicidade vendida pela mídia, muita gente fica realmente deprimida com o Natal – o que não é meu caso, já que tenho ânimo para escrever textos como este, detonando a comemoração fajuta.

Deve-se estar feliz com o Natal, mesmo que se deteste a data. É preciso dar “feliz Natal”, mesmo que a contragosto. Em algumas famílias – felizmente não é o caso da minha – é preciso agüentar alguns parentes chatos que só vemos nesta época.

E cada vez mais, somos “obrigados” a estarmos sempre felizes – nem que para isso seja preciso fingir. E no Natal, a tristeza é tão mais abominada que é ainda mais necessário o fingimento – daí para a depressão é um passo.

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Comentário – Com exceção do termo “colorados ‘pifados'” (o autor deve ser gremista), concordo com o texto todo – em gênero, número e “degrau”!


A ditadura da fé e da ausência de razão contra a opção sexual

Victor Barone
Amálgama
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O preconceito é uma doença silenciosa. Ele se instala nas mentes, nas consciências, e lá se agarra com unhas e dentes. Em poucas questões este vírus tem se mostrado mais resistente que na questão da homossexualidade. Assim como um vírus se manifesta por formas diversas, determinando os sintomas da doença, o preconceito de sexualidade também possui facetas diversas. Todas elas malignas e fatais ao desenvolvimento de sociedades livres  e fraternas.

Uma das formas pela qual esta doença da alma se manifesta é através da classificação da homossexualidade como algo “anormal”. Este é o caminho escolhido por uma miríade de pessoas que não conseguem enxergar a diversidade como algo pertinente ao ser humano. Sua base argumentativa trafega pela religiosidade ou pelo que classificam como comportamento natural. Ambos os pontos carecem de estrutura argumentativa coerente.

Na religiosidade, parte-se do pressuposto de que existe uma verdade moral absoluta ligada ao comportamento sexual, sem a qual os seres humanos estariam desviados do “caminho”. Estas verdades estão baseadas na fé e não em conceitos científicos. Fé é um caminho pessoal. A minha, serve para mim. A sua, para você. Não cabe ao homem impor sua crença aos demais, visto que ele não detém a verdade absoluta, mas a sua própria verdade apenas, embasada por sua própria fé.

O desprezo desta linha de raciocínio levou a humanidade a todo tipo de desumanidade. A noção de que uma determinada fé – e os conceitos que se julgam pertinentes a ela – deva prevalecer sobre a vontade dos homens causou, entre muitos outros desatinos, as cruzadas, a Inquisição e a jihad islâmica.

Há uma diferença fundamental entre – fiel a minha própria fé – fazer a opção pessoal de não aceitar a homossexualidade e o extremo de tentar impor este conceito aos demais.

Leia a íntegra do artigo.


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No Broadcasting Ourselves 😉
Chad Hurley, CEO e cofundador

Três anos atrás, Steve e eu estávamos parados em frente aos nossos escritórios e de brincadeira nos coroamos os reis do hambúrguer da mídia. Nós tínhamos acabado de virar notícia por nos juntarmos ao Google no objetivo de organizar as informações do mundo (no nosso caso, os vídeos) e tornar essas informações fácil e rapidamente acessíveis por todas as pessoas, em qualquer lugar. Tenho muito orgulho em dizer que estamos na marca de mais de um bilhão de exibições por dia no YouTube. Este é um grande momento na nossa curta trajetória e devemos tudo a vocês.

Pensando em como tudo começou, lembro que estávamos comprometidos com alguns princípios básicos que desde então se tornaram regras fundamentais no mundo dos vídeos on-line:
• A velocidade é o que importa: os vídeos devem ser carregados e reproduzidos rapidamente.
• A cultura do clipe veio para ficar: os clipes curtos são extremamente procurados e são perfeitos para assistir a uma grande variedade de conteúdo.
• Plataformas abertas abrem muitas possibilidades: criar conteúdo não é o nosso negócio, é o de vocês. Nós queríamos criar um lugar em que qualquer pessoa com uma câmera, um computador e uma conexão com a internet pudesse dividir a sua vida, a sua arte e a sua voz com o mundo todo, e, em muitos casos que pudesse também ganhar a vida fazendo isso.
A nossa plataforma e o nosso negócio continuam a crescer e se desenvolver três anos depois da aquisição. Ainda estamos comprometidos com os mesmos princípios básicos com os quais construímos o site, mas sabemos que algumas coisas mudaram. Como a largura de banda cresceu, a qualidade dos nossos vídeos acompanhou esse crescimento. Nós começamos a ver uma grande procura por conteúdos de maior duração e, por isso, trouxemos para o site mais programas e filmes. Hoje existem inúmeras maneiras de produzir e consumir conteúdo e mais pessoas estão considerando a possibilidade de transformar esse hobby em um negócio real. Estamos trabalhando muito para conseguir acompanhar a rápida evolução da tecnologia e trazer aos nossos usuários tudo que vocês esperam ver no maior site de vídeos do mundo: ótima qualidade, um amplo conjunto de opções e ferramentas para os usuários, parceiros e anunciantes e maneiras de tornar a experiência do YouTube a mais personalizada possível a qualquer momento e em qualquer lugar.
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Polêmica sobre o projeto de lei que pune a discriminação contra homossexuais

Uma consulta informal realizada no site do Senado Federal é palco de imensa polêmica neste momento. A enquete pergunta “Você é a favor da aprovação do projeto de lei (PLC 122/2006) que pune a discriminação contra homossexuais?”enquete

A votação está quase sempre empatada, ora maioria sim, ora maioria não. Enquanto grupos de defesa dos direitos humanos e dos homossexuais divulgam a enquete pedindo o voto no “sim”, há um levante evangélico pedindo o voto no “não”.

No site do jornal O Estado de São Paulo, hoje (16), o escritor Antonio Prata assina o texto “Ditadura Gay”, em que cita alguns absurdos presenciados nessa batalha pelo resultado da enquete. Segundo ele, “evangélicos de todo o país iniciaram uma cruzada via internet, pelo direito de ofender pessoas que namoram pessoas do mesmo sexo”.

Prata chama a atenção para os devaneios que a intolerância é capaz de produzir e conclui o texto – ironicamente – dizendo que “a batalha racial já está perdida (referindo-se a eleição de Obama nos EUA como máxima da superação da opressão racial), mas a sexual ainda pode ser ganha! Basta ir ao site do Senado, clicar em NÃO e mostrar a todos que ainda tem gente disposta a lutar por um mundo injusto, desigual e preconceituoso!”

Leia o texto na íntegra aqui e vote na enquete. Está localizada à direita, um pouco abaixo, na página do Senado (clique na imagem). O projeto em questão é oriundo da Câmara dos Deputados, de autoria da ex-deputada Iara Bernardi (PT-SP), e tramita atualmente no Senado. Eu, votei SIM.

Em Tempo: A discussão desse projeto seria muito interessante para Pelotas, neste momento em que a polícia suspeita sobre a ocorrência de crimes de ódio contra homossexuais na cidade. Além é claro, da nossa velha fama que precisa ‘sair do armário’ e ser encarada como de fato é: preconceito e intolerância com as diferenças.


Ainda sobre o caso Geisy…

Saiu na Caros Amigos de novembro, um artigo da psicanalista Maria Rita Kehl, intitulado “Facismo Banal”, que, na minha opinião, põe as coisas nos seus devidos lugares nessa polêmica com a Geisy Arruda na Uniban.

Reproduzo trechos a seguir.

A expulsão de Geisy me parece pura covardia da direção da Uniban: vamos nos livrar de um problema com o qual não sabemos lidar

“A massa não é confiável” escreveu Freud em Psicologia de massas e análise do eu (1920). Os indivíduos que participam de uma formação coletiva sob o comando do representante de algum ideal comum são capazes de atos que, se estivessem sozinhos, não se atreveriam a cometer. O superego individual tira uma folga em favor do superego coletivo. Em nome dele, o sujeito dissolvido na massa se precipita em atos extremos que jamais – ou sempre? – sonhara praticar.

Por que os meninos e meninas escandalizados – ou excitados – com o mini rosa shocking da colega a chamaram de “puta”? Usar a palavra puta como insulto revela o ressentimento do homem diante do desejo sexual da mulher, quando esse desejo não é voltado para ele.

(…)

De uma forma ou de outra, é sempre do velho superego que se trata. A moral tradicional explodiu na Uniban com a fúria do retorno do recalcado, aliada ao que? Ao velho comando a favor do gozo, do qual os jovens hoje vivem perigosamente perto demais. A condenação de “puta, vagabunda”, alia-se ao desejo de “lincha, estupra”. São duas faces da mesma moeda, “goza/não goza”, Kant e Sade de mãos dadas, tornados ambos mais cruéis na proporção direta do desprestígio do pensamento na sociedade atual. A conclusão ficaria por conta de Hannah Arendt: quando o pensamento torna-se supérfluo, abre-se o caminho para a banalidade do mal.

Leia aqui a íntegra do artigo de Maria Rita Kehl


De volta ao passado

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Cada um olha o fato pelo ângulo que pode, tem ou convém. Mas para não ficar apenas no discurso feminista, do combate à violência sexista – justo, diante de todos os absurdos que cercaram o caso da Uniban -, vou propor um exercício de raciocínio e tentar apenas fazer algumas perguntas.
Vamos imaginar que um rapaz universitário, de 20 anos, vai à aula com uma bermuda de tecido frágil, sem cueca por baixo e sem camisa, e que ainda – sei lá – “valorize” suas formas com trejeitos e gestos e transite pelos corredores da universidade, entre seus colegas.
Qual seria a reação do público?
Alguém consegue imaginar que diante desta cena um grupo de mulheres fosse em direção do rapaz gritando “almoço livre de graça!”, “vamo pegá!”, “vamo comê!”? E um coro de homens e mulheres o ficassem elogiando: “michê!”, “michê!”, “michê!” ou “corno!”, “corno!”, “corno!”
Até para adaptar os termos que uma multidão como essa, sedenta, gritaria diante do rapaz é difícil. Para os homens até os xingamentos são mais amenos…
É quase impossível imaginar a cena que descrevi porque ela não tem nenhum vínculo com a realidade. E por que? Eu apenas troquei o sexo da vítima na cena de agressão.
Sempre que alguém, ou um grupo, acha que uma mulher precisa ser ‘controlada’, o faz com violência. Se a mulher é fisicamente mais fraca, por que o uso da violência? E por que uma mulher precisa ser controlada?
Por que a sexualidade da mulher é capaz de causar tanto alvoroço?
Por que um grupo se acha no direito de dizer o que bem quiser a uma mulher, e a um homem não?
Por que um país inteiro se acha no direito de julgar o comprimento de um vestido? Se a sociedade dita regras para todos, por que não faz o mesmo com os homens?
Algum homem já foi repreendido por tirar a camisa em público e ‘provocar’ o desejo alheio pelo peito e barriga definidos ou a cueca que ficou aparecendo? Quando é uma mulher e a calcinha aparece, todos logo já entendem que ela está “disponível”. De onde vem esse entendimento coletivo?

o comprimento das saias nos anos 60

Convenhamos, as minissaias usadas nos anos 60 eram muito mais curtas do que o maldito vestido da Uniban. Considero até revolucionário, libertador, para as mulheres o encurtamento das saias há 50 anos atrás. Mas em pleno séc. XXI uma minissaia causar esse furor é, no mínimo, estarrecedor.

Ou viramos todos ogros, ou perdemos completamente a noção das coisas. Eu voto nas duas opções.
A única cena que me vem a cabeça, é a daquele gorila ensandecido batendo com um osso no chão no filme 2001 – Uma Odisséia no Espaço. Somos todos aquele gorila, numa viagem de volta ao passado.
Essa universidade perdeu uma ótima oportunidade de realizar um grande debate sobre comportamento, democracia e igualdade. Enfim, perdeu a oportunidade de formar melhores cidadãos. Seria bom que aqueles alunos se voltassem contra a reitoria com a mesma fúria pelo alto valor das mensalidades… Mas consciência coletiva não é o forte dos alunos da Uniban, já pudemos observar.
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Nota: Esse assunto já havia me cansado. Mas novas opiniões sobre o caso quase que me forçaram a emitir minha opinião.

Estado violência

Após alguns dias assistindo uma avalanche de notícias sobre violência em todas as suas faces e em todos os lugares possíveis, comecei a ficar incomodada. Quando saturei dessa onda, me veio a cabeça uma música do Titãs, do meu tempo de adolescente – lá no final dos anos 80. Deixo a letra e o link para ouvir está no título da música.

Estado violência (1986)

Charles Gavin

Sinto no meu corpo
A dor que angustia
A lei ao meu redor
A lei que eu não queria
Estado violência
Estado hipocrisia
A lei que não é minha
A lei que eu não queria
Meu corpo não é meu
Meu coração é teu
Atrás de portas frias
O homem está só
Homem em silêncio
Homem na prisão
Homem no escuro
Futuro da nação
Estado Violência
Deixem-me querer
Estado Violência
Deixem-me pensar
Estado Violência
Deixem-me sentir
Estado violência
Deixem-me em paz.

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Deixem-me pensar!
Deixem-me sentir!
Deixem-me em paz!