[4h54] Meu #dinofilhote completando 18 anos. DEZOITO ANOS. Hoje. Agora. Difícil acreditar que tanto tempo passou… Ele ainda é uma criança.
Acorda. Vem correndo ver se estamos no quarto. Se ainda está com sono, volta pra cama. Se acordou mesmo, ou senta em frente ao meu computador e espera que ligue e coloque música pra ele ou vai sentar na sala em frente à tevê — que não desliga nunca, ou ele levanta apenas para ligá-la no meio da madrugada. Bebe água. Vai no banheiro. Volta pra sala. Espera o café. Bebe, come. E fica o resto do dia entre a sala e o quarto. Entre a tevê da sala e a janela e a tevê do quarto e o computador. Tudo ligado ao mesmo tempo. Vai trocentas vezes ao banheiro. Aprendeu a se limpar sozinho, mas se veste de qualquer jeito. Faz de qualquer bermuda uma grande fralda, pelo jeito como se veste embolando tudo. Aprendeu a dar descarga no banheiro, mas dá antes do que tem pra fazer. Ri de si mesmo, da tevê, dos ataques de raiva do Gilson (disso até eu rio), dos latidos da Lalá, comemora quando os vizinhos chegam no prédio, festeja quando toca a campainha.
Não, ele não é um autista comum. Gosta de pequenas mudanças na rotina. Algumas. Para outras reaje como se tivesse TOC. Os objetos sobre o balcão da pia do banheiro precisam ficar alinhados, o telefone precisa ficar na base. Conta o tempo mentalmente. Mesmo que não esteja com fome fica me perturbando se passa das 21h e não vou pra cozinha fazer o #dinojantar. Essa rotina só é quebrada quando não estou. O Gilson leva, e o leva, de outro jeito. Adora banho, desde que seja quente e no chuveirinho. Não que se lave direito, porque só se molha e fica o tempo todo jogando água no peito. E a rotina do banho é… primeiro escova os dentes — eu escovo os dentes dele. Lavo o cabelo. Ensaboo, ele deixa esfregar bem, vira de costas e fecha os olhos para enxaguar. Vira de novo, termino de enxaguar. Passo o condicionador, e deixo pra enxaguar depois. Pego o sabonete e ele espera os comandos. Levanta o braço, primeiro o esquerdo, ensaboar, enxaguar. Depois o direito. Lava o combo pinto-saco. Comando “vira”, lava as costas, a bunda. “Vira”, lava as pernas. “Levanta o pé”, primeiro o esquerdo. “O outro”, o direito. Termino de enxaguar o cabelo e o corpo. Lavo o rosto. Pego a toalha. Ele sabe que este é o comando pra fechar o chuveiro. “Vem”, ele sai do box. Eu o seco, quase na mesma ordem do banho. Primeiro o rosto, o excesso de água do cabelo, a mão esquerda, o braço. Passo pra mão direita, o braço. Seco até o barrigão, o combo pinto-saco. “Vira”. Tiro o excesso de água da parte de trás do cabelo, seco o pescoço, as costas, a bunda. “Vira”. Me abaixo para secar as pernas. Primeiro a esquerda, depois a direita, até o pé. Volto e termino de secar o cabelo. Penteio o cabelo. Passo desodorante. “Vem” e ele dá dois passos até o quarto dele, onde já deixei a roupa limpa separada para vesti-lo. Visto-o. Primeiro a cueca, depois a camiseta. Se não estiver calorão, a bermuda e mais a sandália. “Vai”. Ufa! Vou arrumar a bagunça.
É assim também antes de dormir. Mas aí, ele já está sonolento por causa da medicação, e quando termina de vestir o pijama, o comando é “Pra cama”. Ele deita. Dou um boneco amarelo, sem braço já que ele gosta de andar pra cima e pra baixo. O cubro. Um beijinho na boca. Repito “eu te amo”. Um beijinho de esquimó. Outro beijinho na boca. “Dorme”. Desligo as luzes extras, fica só a do corredor. Às vezes ele levanta meio zumbi para desligar essa também. Deixo como ele quer. Finalmente descanso.
Nem sei há quanto tempo é essa a minha rotina. Teve um tempo que ele não dormia, e eu também não. Mas, agora além de estar mais leve, divido-a com o Gilson. E, confesso, estou curtindo ver a relação que eles estão construindo. Eles se gostam, mesmo. Não poderia ser diferente. É tão desgastante que só com muito afeto para suportar. É desse afeto que brota as doses extras de paciência que se fazem necessárias.
Quanto tempo mais nessa rotina? Não sei. Aprendi a viver um dia de cada vez e não pensar muito no futuro. Já foi tão pior… Já estivemos um sem o outro por um longo tempo. E doeu tanto que nem é bom lembrar. Ou é, para saber o que festejamos hoje. Somos uma família bem torta e de horário malucos, é fato, mas que se estruturou do jeito certo, sobre afeto. E sobra afeto.
Acho que o Calvin é bem feliz nessa nossa bagunça. E hoje é dia de cantar parabéns!
11 junho, 2014 at 3:38 PMjun
Emocionada com seu relato sobre o filhão. Muito lindo ! Beijão procês.