Não é segredo pra ninguém meu profundo e sério relacionamento com a depressão. E não posso mentir, esse relacionamento se construiu/constituiu a partir da gravidez do Calvin. Os piores momentos que vivi, óbvio, não tem a ver com a existência do Calvin, mas foram decorrência da gravidez dele. Falta de estrutura minha, talvez. Falta de estrutura do mundo ao redor para nos abarcar… Quem sabe tudo junto.
Lembrar desse tempo é como descer ao inferno. É como tentar nadar no lodo. Não há forças, não há nenhuma mão estendida. Deste lugar ninguém te puxa para te dar colo ou mesmo para ter dar fôlego para mais uma braçada. Impossível pensar noutra coisa senão no fim.
Vivi isso várias vezes. Tantas que nem sei dizer como estou aqui. Como que ainda respiro. A sensação de sufocamento é tão forte que se torna física. O peito dói do esforço para respirar, para continuar vivendo mais um segundo, um minuto, uma hora. Quem sabe depois as forças apareçam…
Foi nesse lodo que aprendi a sobreviver. Criei uma tática de sobrevivência — justo eu que sempre me pensei desapegada da vida pelas tantas vezes que pensei em suicídio –. Não entrar em desespero, acumular forças, ficar quietinha, ir devagar, ou ficar, quase imóvel, quase vencida, até um momento de menor densidade do lodo, onde as poucas forças fossem suficientes para arriscar braçadas, e seguir, como se o tempo não existisse.
Sempre me ocorreu que essa talvez fosse uma estratégia indigna, a de adiar o inevitável. Tem dignidade em manter-se vivo assim? Ainda não sei. Peguei o tempo e o moldei do meu jeito. Passei a viver nesse tempo moldado, no meu tempo. Mas ele, o tempo aprisionado e moldado, deixou suas marcas.
É fato que muitas alegrias e encontros vieram depois desse(s) tempo(s) horrível(is), e também tive tempos de calmaria. E se não fosse a indignidade do meu apego não as saberia. Mas… sempre me pergunto: E se acontecer de novo? E se eu cair no lodo novamente?
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O mesmo tempo que ameniza, faz esquecer, também aprisiona e causa ferimentos incuráveis… Num momento acho que estou segura, ainda dentro do meu tempo, e nem vejo o cerco se fechando.
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6 março, 2014 at 3:38 AMmar
Querida,
Eu sei que não costumo ter muita força no braço e meu fôlego é pouco. Mas, de qualquer forma, nunca tive medo de me sujar e posso ficar quietinha boiando ao seu lado, esperando o seu momento. Tinhamu.
6 março, 2014 at 3:38 PMmar
😥 … ❤
20 março, 2014 at 3:38 AMmar
Impossível dizer quantas vezes chorei contigo. Por você, mas especialmente, por me ver tão bem representada nas coisas que escreves. Sabe aquela dor do personagem de “A espera de um Milagre”? Aquele homenzarrão, negro, pobre e que não podia viver neste mundo porque sentia/ previa todas as dores das pessoas? É assim que me sinto muitas vezes ,desadequada, perdida, embora possa parecer que não. Então, as tuas palavras, o que escreves, são como um sopro na vida e, se posso oferecer consolo,, é te dizendo que, na maior parte das vezes, tu consolas e tuas palavras, mesmo que usadas para refletir a tua dor, me ajudam a entender que não estamos sozinhas nesse mundo. Obrigada por isso Niara. E, quando a dor for insuportável, lembra que, como a Borboleta aí em cima, “mesmo não tendo muitas forças nos braços e pouco fôlego”, te abraçarei sempre e , dividirei contigo o pouco fôlego que ainda existe em me fazer respirar.
15 abril, 2014 at 3:38 PMabr
Rejane, eu custo a vir aqui para escrever, e só estou vendo hoje teu comentário. Desculpe-me por isso, e obrigada. Meu coração fica quentinho de te saber aí solidária comigo e representada/emocionada nas/com minhas palavras. É muito bom fazer sentido. ❤