Há uma sombra que persegue meus dias. Desde criança a vejo, sinto, pressinto. Nem sempre desagradável. Em muitos momentos me deixei acolher por ela, a salvo dos olhares invasivos e do julgamento alheio, que na verdade eu mesma me impunha.
Cresci com ela, mantendo uma distância razoável, segura, que só era interrompida em extremos de necessidade. As crises eram constantes. O desajuste com o mundo, o descompasso com o tempo, os embates com os outros… Tudo tão doloroso e aos solavancos…
Fui perdendo o controle dessa distância e me misturando com a sombra. Ficando meio parecida com a lua, que dependendo do dia maior e mais brilhante ou menor e mais opaca. Chegando a dias de um completo nada.
As fases de escuridão foram ficando maiores e deixando crateras a cada crise mais profundas. Fui aprendendo a lidar com as sequelas. Era isso ou não voltar mais a crescer, brilhar. Cada volta foi sendo mais bonita. Proporcional à dor sofrida com os solavancos da ida e da volta. E a beleza sempre me iludia que os tempos sombrios haviam acabado…
Tanta similaridade com a lua não é à toa e nem impune. Me confesso um pouco cansada desse eterno girar, girar… A única diferença é não ter periodicidade, não ter dia para escurecer ou iluminar. Não há certeza dos tempos, e a sombra me é tão mais segura e familiar…
Os dias são quentes e ensolarados aqui no Rio de Janeiro e justo por isso ando recolhida, a salvo de olhares invasivos e julgadores e do excesso de claridade. Confortável, aguardando a próxima fase.
10 agosto, 2013 at 3:38 PMago
espero que, vez e quando, seja como a lua que navega serena…
11 agosto, 2013 at 3:38 PMago
beijo, Lu. ♥
13 agosto, 2013 at 3:38 AMago
Também eu me canso do girar, não do seu, do meu. Mas por isso mesmo acho que entendo… E a cada giro, mais rápido, tudo passa: o “bem”, o “mal”, o “nada disso”. Às vezes é tudo tão rápido que me pergunto onde eu estava e se senti mesmo aquilo que pensei ter sentido. Talvez seja a velocidade da informação. Às vezes me parece que eu queria que nada disso existisse, mas agora se revela tão necessária esta velocidade para a sobrevivência, para a luta… e lutamos tanto. Não podemos deixar a consciência retroceder. Então vamos, eu também do meu jeito, esperar a nova fase lunar. “Mente quem diz que a lua é velha!”
13 agosto, 2013 at 3:38 AMago
15 agosto, 2013 at 3:38 AMago
Gracias, Marcelo, pelo comentário e pela música. Um alento. 🙂