A ideia de não ter casa ou pouso fixo normalmente atrai, pela sensação de “irresponsabilidade” permitida e liberdade. Nunca tive casa (no sentido de lar), mas sempre tive um endereço onde morei a maior parte da minha vida e onde reconhecia cheiros, paredes, pessoas e onde dormia sem sobressaltos. O que não tem sido possível.
Por mais que viver solta por aí tenha uma aura de sedução, não se reconhecer em nada ou ninguém não é fácil. Mesmo que da casa tivesse só a ilusão — me apossando aqui da composição do amado Vitor Ramil para conseguir me expressar — de ter lugar para repousar do mundo e da batalha diária, ela é vital. Pelo menos para pés tão cravados no chão.
Falando em Vitor Ramil, não é de hoje que o apresento a quem encontro pela vida afora. Ele é bem mais que uma inspiração casual para escrever, é o meu compositor preferido. Diferente da ampla maioria dos artistas gaúchos que alcançam fama nacional — ou que objetivam a fama nacional — como seus irmãos mais velhos, Adriana Calcanhotto, Elis Regina, entre outros, o Vitor escolheu morar em Pelotas e mesmo que passe a maior parte do ano viajando, seu pouso, lar, coisas, ficam lá.
Nem todo mundo tem o talento do Vitor e pode escolher onde morar e continuar fazendo, trabalhando no que gosta. Nos meus últimos anos em Pelotas era morar lá ou ser jornalista. As duas coisas juntas mais o Calvin não foram possíveis para mim. Dói muito não estar em Pelotas. Não há outro lugar no mundo onde queira morar ou estar mais do que na Satolep descrita, poetizada e cantada por Vitor (por mais idealizada que seja).
Sua música me traz Pelotas. Me transporto pra lá pelo som da sua voz e na melodia de suas canções. Sinto meus passos pelas ruas úmidas, o cheiro da cidade, vejo as pessoas… A contradição do momento é que quanto mais a saudade aperta menos consigo ouvi-lo. E não ouvir a música do Vitor dói também, torna a vida mais triste, tudo fica menos. Suas canções me trazem a presença do Calvin tanto quanto as do Smiths. O ensinei a gostar dos dois. É nesse misto de “never never want to go home because i haven’t got one anymore” e “o tempo é o meu lugar, o tempo é minha casa, a casa é onde quero estar” que tenho vivido nos últimos meses.
Não posso voltar para Pelotas agora e é lá que está o meu melhor pedaço. Queria poder desembarcar do mundo numa estação da Satolep imaginária do Vitor para me recompor e parar de doer. O “me encontrar” é um luxo com o qual nem sonho mais neste mundo.
10 abril, 2012 at 3:38 AMabr
Música é o sumo do confotro à emputecência… Ela nos leva onde devemos estar seja lá onde estivermos.
Se a música ainda te abre aos cheiros, texturas e imagens de lugares e pessoas que fazem sua imperfeição, então você vai bem…
10 abril, 2012 at 3:38 AMabr
Bem, eu me sentia assim nos meus quatro anos mineiros e sentia a falta imensa deste Rio que eu amodeio. Lindo texto.
10 abril, 2012 at 3:38 PMabr
=))
10 abril, 2012 at 3:38 PMabr
Pois, é. Me sinto despatriada. E nem é pelo bairrismo de achar que o RS é o melhor do país do mundo…
10 abril, 2012 at 3:38 PMabr
Dói, né. E eu sempre lembro de um poeminha de Felix de Athayde, que fala disso – da ausência/presença e da nossa casa interior:
Quando quero Olinda
Não é lá que vou
Busco-a em mim mesmo
Onde Olinda sou.
Beijos, querida.
10 abril, 2012 at 3:38 PMabr
Beijo, Rê! =))
10 abril, 2012 at 3:38 PMabr
Ei… menina… ficamos assim, ó: Satolep é a Terra de Niara. Não é conto de fadas, não. É conto de gente.
UM beijo e um dengo.
10 abril, 2012 at 3:38 PMabr
Ai, Ni…
Doeu, aqui.
Se encontrar é luxo, a gente se perde todo dia.
Não consigo pensar em nada pra te dizer, exceto que não sonhar é a morte, então, sonhe, sim, em se encontrar e se perder, e se desfazer e se refazer e reencontrar.
11 abril, 2012 at 3:38 AMabr
Gostaria de poder ficar com Satolep pra mim, nos meus contos, mas é invenção do Vitor Ramil e preciso respeitar.
Fico com o beijo e o dengo. 😉
11 abril, 2012 at 3:38 AMabr
Continuo sonhando, Renata, mas algumas coisas sei que não são pra mim. Jamais me encontrarei nesse mundo, meu desajuste com ele é imenso, insolúvel.
C’est la vie!
Beijo!
10 junho, 2012 at 3:38 PMjun
Oi Niara… Navegando na web, me deparei com seu blog.. e fico muito feliz por achar um texto que fala da minha linda Satolep como diz Vitor Ramil… Fazem quase 4 anos que não moro mais lá, só vou a passeio visitar a familia, mas sempre me dá um aperto no peito e uma vontade imensa de voltar pra ‘casa’… lindo texto.
10 junho, 2012 at 3:38 PMjun
Feliz fico eu que tenhas gostado, Aline. Volte sempre e faça do Pimenta um pouco da tua casa, também. 😉