Día de la soledad

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Quem me conhece sabe que sou dada a paqueras, flertes, affairs… Curto essa coisa da sedução. Não aquela sedução besta — meia boca, para quem gosta –, que já começa estabelecendo relações de poder, mas as paqueras horizontais, que começam desinteressadamente interessadas e interessantes. E o mundo virtual facilitou a vida pra mim e para quem sente mais atração pela mente e coração das pessoas do que por essa estética mundana — vamos definir assim, momentaneamente.

Nunca fui bonita e nem me acho, mas sei que todas as pessoas têm seus atrativos e são, à sua moda, interessantes. Ademais, a beleza está no olho de quem a vê, vai de como a pessoa te enxerga e principalmente pelo ângulo oferecido. Não sei paquerar gostando apenas da aparência de alguém, embora isso às vezes aconteça. É do instinto animal, olhar, apreciar. Mas se não sei quem é, não sei o que pensa, em quê acredita ou é descrente, e “em que banda toca” (como dizia meu pai), acaba não me oferecendo encanto nenhum.

Preciso de palavras e suas muitas inflexões e entrelinhas para entender e saber um pouco da alma das pessoas e dos “mocinhos”. Meio estranho, né? Mas entre muitas paqueras e mocinhos interessantes que pintam e com os quais tive/tenho o prazer de compartilhar palavras, frases e até textos inteiros, aconteceu. Aconteceu o dia em que acordei e me dei conta que passei a vida toda sozinha. E não vejo na minha frente nenhum mocinho disposto a mudar isso. Talvez eu não esteja disposta a mudar isso e nem seja essa a função desses mocinhos na minha vida. Afinal, como disse, as paqueras são desinteressadas e esse é o grande barato delas. E só para ser bem clichê — e brega — “o problema não são os mocinhos, o problema sou eu”. Né?

Mas no dia em que a solidão se apresenta, assim, tão cruamente e pesada, nenhuma dessas considerações faz qualquer sentido. Fico, então, na companhia desse moço uruguaio cantando Soledad…

Posso sonhar só por hoje que ele está cantando especialmente pra mim?

Soledad,
Aqui están mis credenciales,
Vengo llamando a tu puerta
Desde hace un tiempo,
Creo que pasaremos juntos temporales,
Propongo que tú y yo nos vayamos conociendo.

Aquí estoy,
Te traigo mis cicatrices,
Palabras sobre papel pentagramado,
No te fijes mucho en lo que dicen,
Me encontrarás
En cada cosa que he callado.

Ya pasó,
Ya he dejado que se empañe
La ilusión de que vivir es indoloro.
Que raro que seas tú
Quien me acompañe, soledad,
A mi que nunca supe bien
Cómo estar solo.

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Sobre Niara de Oliveira

ardida como pimenta com limão! marginal, chaaaaaaata, comunista, libertária, biscate feminista, amante do cinema, "meio intelectual meio de esquerda", xavante, mãe do Calvin, gaúcha de Satolep, avulsa no mundo. Ver todos os artigos de Niara de Oliveira

11 respostas para “Día de la soledad

  • Maria Carolina Bissoto

    Maravilhoso!!! Pode compartilhar?

  • Maurício Alves

    Somos dados a paixões grandiloquentes e saudades épicas, Niara.

  • Jorge Borges (@jorgeborgesrj)

    seu desabafo me lembrou desabafos q eu nunca fiz… um dia achei q a solidão era algo inerente à nossa existência. e simplesmente tentei deixar pra lá. hj só nos resta mesmo a poesia.

    “y del amor. La dicha que me diste
    y me quitaste debe ser borrada;
    lo que era todo tiene que ser nada.

    Sólo me queda el goce de estar triste,
    esa vana costumbre que me inclina
    al Sur, a cierta puerta, a cierta esquina.”
    Borges (O original)

  • Fernando Amaral

    Para dias assim, Nina http://www.youtube.com/watch?v=t3ZhnD7tI8A&feature=related e Jack, sem gelo. E desligar do resto, que tudo, tudo mesmo, pode ficar para amanhã.

  • Amanda

    Sua linda! 😛

    Num é fácio! Mas ó, tenho que dizer: tu tá no bom caminho.

    😀

    Beijos

    Amanda

  • gislaine

    Niara, a solidão não é só sua. Talvez por estar sozinha seja mais fácil dizer que solidão é falta de estar com alguém – NÃO É – pelo menos pra mim. Nunca fico desacompanhada, mas me sinto sozinha…A sua forma de expressar é intensa, doce e objetiva. Eu lí e fiquei pensando: devolva as palavras que nunca consegui expressar, elas são minhas! A única diferença foi a parte dos “mocinhos”.

  • Maura Corrêa

    Confesso que tentei elaborar ou, pelo menos, lembrar de uma frase de efeito sobre a ~solidão~mas só consigo pensar numa coisa: solidão é uma merda. É muito bom, sim, ter um ~mocinho~para amar e viver junto. Acho que o único instinto que temos é o amor. As paixões são legais, mas cansam e, sejamos francos, são burras, bregas e melodramáticas. Nhá… Amor é que daora. E eu quero um amor que nem o que a Adélia Prado descreveu: “feinho”.

    “Amor feinho não tem ilusão,
    o que ele tem é esperança:
    eu quero amor feinho.”

    Daora a vida (e o amor)

  • fernando carreira

    Oi guria…que bonito teu texto!

    O que posso te dizer é que dias como esse não são privilégio teu. Acho que todo mundo, de vez em quando, acorda com esse sentimento de vázio… sentindo-se esquecido, abandonado! Pior quando se está longe de casa né? Enfim, em dias assim, o melhor mesmo é um bom chimarrão, uma bela musica e deixar o pensamento voltar ao passado…lembrar de casa, dos amigos, e dos amores!

    Te cuida guria…
    Abraço.

  • Niara de Oliveira

    Obrigada pela visita e coments, Fernando.
    Se cuide também.
    Abraço!

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