Madrugada entre o dia 23 e 24 de junho. Foi nessa noite em 1929 que meu pai nasceu, no 6º distrito da chamada colônia de Pelotas (zona rural), Santa Silvana. Só foi registrado muitos dias depois quando o meu avô Francisco, carpinteiro descendente direto de portugueses da Ilha da Madeira, veio à cidade em agosto daquele ano.
Na noite de São João que nasceu meu pai, os vizinhos se juntaram na casa da minha família para fazer a fogueira em homenagem ao santo, costume na época. Todos queriam acompanhar o parto, bem difícil, da minha avó Maria Luiza, uma italiana que nasceu num navio em pleno Atlântico na viagem para o Brasil, mas que foi resgistrada como brasileira no desembarque.
Meu pai nasceu João em homenagem ao santo e se acostumou a acender uma fogueira todos os anos para o “seu santo”, representado por uma criança com uma cruz na mão e uma ovelha no colo. Cresci vendo ele chegar mais cedo da oficina no dia 23 – ele era mecânico e ia e voltava do trabalho pedalando -, e ia juntar lenha com os vizinhos para armar a fogueira. Deixava tudo pronto para acendê-la de madrugada. Sempre muito perfeccionista e atento a todos os detalhes, se precavia para que não acontecesse nenhum acidente. Nunca houve.
Manteve esse hábito por toda a vida. Só nos últimos três anos, já bastante doente e debilitado é que deixou de fazer a fogueira. Nunca mais as noites de São João foram iguais, assim como a minha vida também não foi a mesma desde que ele se foi em 2003.
Não consegui dizer isso a ele, e por isso tenho a necessidade de registrar agora, mas ele amenizava a minha vida. Não sabia o quanto me sentiria órfã sem ele. Sempre que ouço Noite de São João, um poema de Fernando Pessoa musicado pelo Vitor Ramil, lembro daquelas noites de fogueira no pátio da minha casa e da falta que aquele João me faz.
Deixo aqui meu presente de aniversário para o meu pai, que estaria fazendo aniversário hoje e que, assim como eu, gostava muito dessa música do Vitor.
Meu pai morreu na noite de 13 de setembro de 2003 e o 13 de setembro também virou “Noite de João” pra mim.
24 junho, 2010 at 3:38 AMjun
Ah, Guria!
A vida é beleza … e agonia
Sentimentos a flor da pele.
Sempre guardamos no coração
alguém que ainda nos é muito especial .
Gardel.. meu pai.. São João .. o teu.
Mas o teu João deve estar feliz… rindo
contente da vida.. as tuas palavras
perfuraram o céu.. e agora dormem
dentro do coração de quem te amou
do teu primeiro minuto ao último minuto dele,
aquele João que guardas com carinho no coração
Beijo
Evandro
24 junho, 2010 at 3:38 PMjun
beijo querida. música linda de ouvir.
muito carinho!
24 junho, 2010 at 3:38 PMjun
Também perdi meu pai a alguns anos. Ele teria hoje 62 anos, se foi muito cedo, aos 57. Nós não tinhamos um relacionamento muito próximo, mas o que aprendi de ética foi com ele. Isto é tudo. Aprendi com isto a viver um dia de cada vez, fazendo a diferença com as pessoas e principalmente com meus filhos e esposa, para que quando partir, quem fique tenha boas lembranças e inspirações assim como você tem ao lembrar do Sr seu pai, João. Pra você desejo muito otimismo e Viva São João.
24 junho, 2010 at 3:38 PMjun
oLA, SEMPRE ACHO MUITO LEGAL CONHECER PESSOAS QUE TEM A POSSIBILIDADE DE TER LEMBRANÇAS ASSIM….És privilegiada, por poder armazenar na tua memória , cenas que parecem ter sido tiradas de nossos livros….muito legal..
24 junho, 2011 at 3:38 AMjun
ai, que lindo Niara!
Certeza que o seu pai tá muito orgulhoso de você uma hora dessas!
Beijo Grande!!
24 junho, 2011 at 3:38 AMjun
Feito gol.
13 setembro, 2011 at 3:38 AMset
Amiga, também perdi meu pai em 2002. Ele era os meus quindins. Todos diziam que eu era a sua preferida, porque eu era a única mulher e os outros 2 filhos eram homens. Mas sempre foi assim mesmo, até com as netas. Era só carinho comigo e me recordo de muitos momentos ao seu lado. Contava histórias de trancoso pra gente dormir, imagina e depois passou a contá-las para os netos. Na minha casa sempre se festejou muito também o S.João. Aliás, começava a se festejar com a trezena de Santo Antônio e só terminava depois do S.Pedro. Era uma folia só para as crianças. Depois que ele morreu, a minha mãe continuou fazendo as suas comidinhas juninas, mas depois que ela se foi essa época, de que gosto tanto, não é mais a mesma coisa para mim. A gente talvez subestime a importância dos nossos pais nas nossas vidas e só conseguimos de fato o que eles representaram quando já se foram. É assim, somos humanos, deve ter sido assim com eles também. O que fazer. Importa a certeza de que os mantemos nos nossos corações. Um cheiro amiga, como sempre, os seus textos são repletos de emoção.
31 outubro, 2011 at 3:38 AMout
Nada como esses registros para nos trazer na memória a presença dos que mais amamos.
Eu costumo dizer que D. Inês preenchia tanto minha vida que são inúmeras as “fogueiras” a me lembrar diariamente da sua ausência.
Nunca gostei muito de café, mas desde que ela se foi não consigo passar um dia sem faze-lo, de manhãzinha como ela gostava, fumando um cigarro (que era o seu cheiro característico, cheiro amado e conhecido), cantando baixinho uma seresta antiga (que ela esbravejava com toda a força dos pulmões as seis da matina…rs)
06 de março era dia de D. Inês. 18 de julho foi a data de sua libertação. E todo dia 18, desde então, seja de qual mês for, meu coração encolhe dentro de mim e recita uma prece em forma de canção para ela.
Lendo sobre o Seu João, me vem a memória uma das festas juninas que ela organizou na antiga casa de minha avó. Minha mãe, sempre festeira, sempre com o violão na mão, apesar de todas as dores, de todos os espinhos diários…
A dor nos une querida. A saudade também.
Bjs
Dri
24 junho, 2013 at 3:38 PMjun
Entendo tudo o que disse. Muita gente já se foi. Também sinto saudades. Beijos.