Em meio ao lodo, uma flor de lótus

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Quem diria que o final idiota de uma novela completamente idiota me inspiraria algo de bom. Pois aconteceu, e me inspirou a escrever depois de quinze dias ausente deste espaço. Depois do depoimento à la Joseph Climber do maestro João Carlos Martins, no apagar das luzes da novela Viver a Vida (Rede Globo), ele regeu a sua Orquestra Bachiana Filarmônica na apresentação daquela que considero a mais linda música da história da humanidade, a Sinfonia nº 9 de Ludwig van Beethoven. Confesso que depois de ouvi-la, tudo o mais me parece medíocre, até mesmo Chico Buarque ou Tom Jobim.

página manuscrita do quarto movimento

Esta foi a última sinfonia completa composta por Beethoven, concluída em 1824 quando já estava quase completamente surdo, perturbado mentalmente e que revolucionou a história da música. Foi a primeira vez que a voz humana ganhou o mesmo destaque que os instrumentos numa sinfonia. Beethoven incluiu parte do poema An die Freude (“À Alegria”), uma ode escrita por Friedrich Schiller (e por isso o quarto movimento da sinfonia é popularmente conhecido como “Ode à Alegria”), cantada por solistas e um coro em seu último movimento. Ele também mudou o padrão das sinfonias clássicas, colocando o ‘scherzo’ antes do movimento lento. Beethoven repetiu isso em outras composições, mas a única (e primeira) sinfonia composta assim, foi a nona.

Apresentada pela primeira vez em 7 de maio de 1824, no Kärntnertortheater, em Viena, Áustria, tendo como regente Michael Umlauf, diretor musical do teatro. Beethoven estava afastado da regência pelo estágio avançado da surdez, mas teve direito a um lugar especial no palco, junto ao maestro.
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Este trecho do filme “Minha Amada Imortal” (1994), de Bernard Rose, com Gary Oldman interpretando o maestro mostra essa primeira apresentação da sinfonia. Nesse filme podemos ter uma ideia do (des)temperamento de Beethoven, sua genialidade em confronto com o humano, e como essa sinfonia foi composta. Ela não só causa uma emoção indescritível, como a sua história é quase inacreditável. E pensar que ele mesmo jamais pode ouví-la…
A flor de lótus foi a possibilidade de milhões de pessoas, sempre aleijadas da cultura, terem acesso à música clássica em pleno horário nobre (sic) da tevê. E com direito à reprise. A trajetória do maestro João Carlos Martins, de fato, é uma história de amor à música e está se transformando na história de alguém que tem vontade de tornar popular o gosto pela música e pela cultura erudita. Merece e tem todo o meu respeito e admiração. Já a Rede Globo e a sua pseudo tentativa de fazer pensar através das novelas é o lodo, onde quase nunca nascem flores.
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Sobre Niara de Oliveira

ardida como pimenta com limão! marginal, chaaaaaaata, comunista, libertária, biscate feminista, amante do cinema, "meio intelectual meio de esquerda", xavante, mãe do Calvin, gaúcha de Satolep, avulsa no mundo. Ver todos os artigos de Niara de Oliveira

2 respostas para “Em meio ao lodo, uma flor de lótus

  • Rejane

    Nossa amiga, que bela homenagem a esse que foi o maior compositor de todos os tempos. Que bonito ficou o texto e como esse vídeo de Minha Amada Imortal é arrebatador. Eu assisti ao filme, é lindo demais. Estava mesmo sentindo falta de seus posts. Parabéns e um beijo @rjmaria

  • Fernanda Ávila

    Abusaste desta vez! “Minha Amada Imortal” foi um dos meus filmes gestacionais…e a nona é para sempre reverenciar mesmo!No meio de tanto lodo é bom lembrar à nossa pouca e menos brilhante esquizofrenia que pode haver na solidão e no silêncio dos seres atormentados tamanho amor a realizar. Valeu, comadre! Acertaste de novo. Beijos!

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