Ontem à tarde experimentei por meia hora um sentimento desconhecido. Não o pior e nem o maior, mas o mais perverso. O vazio. Ele não dói, mas desespera, desatina.
Vou tentar explicar melhor. Por apenas meia hora – verdadeira eternidade – nessa segunda-feira meu filho ficou desaparecido. Ele aprendeu a pular a grade da frente da nossa casa e ganhou o mundo, saiu correndo à esmo, tão rápido que esqueceu de deixar rastro. Ninguém o viu passar em direção alguma.
Eu, que sou muita prática em situações de pânico, fiz tudo que é indicado. Após as primeiras buscas nos lugares mais próximos e prováveis, voltei em casa, conferi novamente se ele não tinha se escondido em algum lugar dentro de casa e liguei para a Brigada Militar pedindo ajuda, deixei sua descrição completa e meu telefone. Em seguida voltei à rua para prosseguir nas buscas. Os guris que estão sempre brincando aqui pela volta, se dispuseram a ajudar. Em poucos minutos tinham juntado todas as parcerias do futebol, da escola e se dividiram entre as quadras próximas e iam dizendo os lugares conferidos. Verdadeiros especialistas em buscas.
Quando as forças começaram a me faltar e bateu mesmo o desespero, voltei em casa para começar a ligar para amigos pedindo ajuda. Sozinha não iria suportar aquela angústia que dobrava a cada segundo, num crescente avassalador. Quando botei a mão no telefone, ele tocou. Era o mecânico Tito – hoje alguém adorável para mim -, de uma oficina que fica uns 800 m daqui me dizendo que meu filho estava bem, sentado dentro do carro de um cliente e que não havia quem o tirasse de lá. Sorte esse carro estar aberto e o caminho livre para ele entrar. Saí imediatamente para buscá-lo. Enquanto não o visse, não o tocasse, não descansaria.
Desde que o reencontrei e meu mundo preencheu de novo, venho, aos poucos, tentando compreender esse vazio que senti. Pude, por um instante, entender o que sentem as mães dos desaparecidos. Todos. Dos políticos aos que somem no vento, como fumaça, levados, perdidos, roubados, extraviados.
Onde havia vida não há mais. Onde havia motivo de alegria e preocupação, só um maldito nada. Queria poder esquecer esse dia, exorcizá-lo da minha memória, e esquecer junto essa sensação demolidora de todos os alicerces humanos. Sabem aquele papo meio bicho-grilo sobre o que é o tudo? Que tem como resposta que o tudo é nada e o nada é tudo. Mentira. O nada é pior que tudo, literalmente.
16 março, 2010 at 3:38 AMmar
“Enquanto ser no mundo” te digo: o Todo e o Nada são relacionais, mas permanecem absolutos.Tá,tá é sarro este papo,mas o que senti lendo teu post não é.O Calvin e o Tom para o mundo são menos que nada,mas para nós duas e respectivamente são o todo.O que conheceste, foi mais que o vazio: foi o medo. Este nosso desconhecido que rege as vidas aprisionadas nas convenções. Acontece que quando se apresenta para os “destemidos” é assim definitivo,assim desesperador e concreto. Os medos idealizados que não tivemos mas elaboramos nos servem para reconhecer as características deste medo concreto que destrói tudo de vez.Queria poder te ajudar a exorcizar esta sensação,mas o máximo que posso te dizer é que sou solidária.Conheço esta tua sensação cada vez que o Tom “passa o portal” e me deixa sem notícias por semanas neste mundo cheio de notícias terríveis.Enfim, comadre, como novata nesta coisa de medo, só posso te dedicar minha ompanhia e afeto.Tô sempre contigo no pensamento.Força e…mais força!
16 março, 2010 at 3:38 PMmar
ni,
imagino mais ou menos o que vc passou, o meu mais velho fugiu de mim, achando que dava par brincar de pique-esconde quando eu estava grávide de 7/8 meses do mais novo, e ele tinah uns 3 anos dentro . foi dentro de uma loja de departamentos. entrei em desespero. ele sumiu! 15 minutos depois com a ajuda de seguranças e vendedores achamos o peralta. foi um alívio ( e aí comprei uma coleirinha de crianças, ele era terrível, ipossível acompanhar o ritmo com um barrigão) com o seu pequeno foi bem mais aterrador. ainda bem que já está tudo bem. bjs
18 março, 2010 at 3:38 PMmar
que raiva do mundo numa hora dessas, onde as crianças se perdem. espero que nunca aconteça comigo isso, mas imagino teu sofrimento e às vezes penso: maior injustiça do mundo é fazer uma mãe sofrer coisas assim. logo uma mãe, né? (um pai também, claro)
bjos aí!
19 março, 2010 at 3:38 PMmar
Força e garra sempre!!!
28 março, 2010 at 3:38 PMmar
Que sufoco. Por aqui também tivemos uns dias de apreensão com nossa pequena que teve reação ‘a vacina h1h1.
5 abril, 2010 at 3:38 PMabr
Filho: parte do corpo da mãe que mais dói e que mais faz falta. Que bom que deu tudo certo.
bjus
3 abril, 2012 at 3:38 AMabr
[…] — mobilize, não consigo dimensionar a dor de quem tem filho, pai, mãe desaparecido. Um dia o Calvin fugiu e vi o chão desaparecer sob meus pés. Não gosto nem de lembrar da dor e agonia que é não saber […]
3 abril, 2012 at 3:38 PMabr
[…] — mobilize, não consigo dimensionar a dor de quem tem filho, pai, mãe desaparecido. Um dia o Calvin fugiu e vi o chão desaparecer sob meus pés. Não gosto nem de lembrar da dor e agonia que é não saber […]