Os ecos nada ecológicos de Copenhage

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Depois da palhaçada de Kyoto – e desculpem-me os palhaços profissionais -, não tinha esperança alguma que Copenhage fosse chegar a algum lugar na diminuição dos gases estufa, que tiveram até sua existência questionada às vésperas da conferência. Mas confesso que esperava mais de Barak Obama que, depois do que fez ontem na COP 15, deixou claro ao mundo que é mais pose do que atitude, mais imagem do que política real.

O presidente Lula cumpriu seu papel de liderança dos países emergentes e fez um discurso firme, onde cobrou dos países desenvolvidos a conta pelo aquecimento global. Nem sequer esqueceu de mencionar a influência do clima sobre a pobreza. No discurso, foi perfeito. Pena que sua política ambiental deixe tanto a desejar. Os dados estão expostos para quem quiser ver. O orçamento do Ibama para 2010 é um exemplo: R$ 92 milhões para combater desmatamento, pesca predatória, queimadas, poluição e biopirataria. Parece brincadeira? Mas não é.

Essa madrugada, enquanto se avaliavam os não resultados de Copenhage, surge a notícia de mais um ambientalista assassinado no Pará. Já chamei, aqui mesmo neste espaço, o estado do Pará de “terra de ninguém”. Na verdade o Pará é uma terra de poucos e poderosos donos e nenhuma justiça.

Com que autoridade Lula vai à COP 15 fazer aquele baita discurso, quando brasileiros são exterminados por defenderem o meio ambiente? Provavelmente com a mesma autoridade que Barak Obama, que se presta a comparecer a uma conferência sobre o clima disposto a não fazer acordo algum. Ficaremos sempre esperando pela próxima conferência do clima, ad eternum.

Deixo três links para textos sobre a COP 15. Ao acessar os textos, se tem acesso também a três sítios/portais que costumam tratar do meio ambiente e sustentabilidade.

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No Portal EcoDebate, Henrique Cortez analisa o desastre da conferência no texto “COP 15 fracassou como esperado”.

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No Greenpeace Blog, direto de Copenhage, Cristina Amorim em “COP 15 e o dia que não acabou” conta detalhes sobre os acordos e desacordos nesta sexta-feira.

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No site do MST, João Pedro Stédile avalia a conferência do clima no artigo “Copenhage e suas falsas soluções”.

Sobre Niara de Oliveira

ardida como pimenta com limão! marginal, chaaaaaaata, comunista, libertária, biscate feminista, amante do cinema, "meio intelectual meio de esquerda", xavante, mãe do Calvin, gaúcha de Satolep, avulsa no mundo. Ver todos os artigos de Niara de Oliveira

2 respostas para “Os ecos nada ecológicos de Copenhage

  • Maurício Caleiro

    Dona Pimenta,

    Concordo com seus comentários iniciais, quanto a mais uma decepção com Obama.

    Já o seu julgamento da atuação de Lula me parece um tanto injusto. Em primeiro lugar porque não foi só discurso – o Brasil, através de seu presidente, não só apresentou a única PROPOSTA CONCRETA que beneficiaria os países pobres, os em desenvolvimento e os desenvolvidos como teve a coragem de fazer críticas abertas à postura dos líderes mundiais. Está nos principais jornais internacionais, não sou eu que digo.

    Quanto à pergunta de com qual autoridade Lula fala em defesa do meio ambiente, eu responderia que com a autoridade de, ao contrário de seus antecessores, ter reduzido, na gestão Minc, o desmatamento na Amazônia aos seus menores índices históricos pós-ditadura – mesmo com esse orçamento merreca.

    Já o Acre é, sim, um grave problema. Mas, infelizmente, a Constituição determina que a segurança nos estados está a cargo das polícias militares. Portanto, a não ser que o governo acreano faça um apelo formal à administração federal – que poderia então enviar uma força-tarefa da PF -, não é nas costas do presidente que recaem as responsabilidades pela segurança de sindicalistas acreanos, mas sim na do governador do estado, Binho Marques (PT).

  • Niara de Oliveira

    Olha só a controvérsia. Mesmo tendo cometido o ato falho de falar no Acre ao invés do Pará, estado onde ocorreu o assassinato (o último que se tem notícia), os dois estados são administrados pelo PT, o mesmo partido do presidente. E não vem me dizer que não tem nada a ver, porque tem. Se fosse o PSDB que estivesse nas três frentes de administração, as críticas seriam ferozes. Minha crítica à política ambiental não se deu sobre a articulação feita por Lula na COP 15 – que eu até gostei da enquadrada que ele deu nos países ricos -, mas sobre o que é feito aqui. Um orçamento deste tamanho para o Ibama dá uma ideia do nível de comprometimento do governo com o combate ao desmatamento e crimes ambientais. Os índices alcançados por Minc podem ser até razoáveis, mas estão muito aquém de um governo que se pretenda sério na área ambiental. Mas siga discordando de minhas opiniões e comentando. Acho o debate salutar.

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