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Cada um olha o fato pelo ângulo que pode, tem ou convém. Mas para não ficar apenas no discurso feminista, do combate à violência sexista – justo, diante de todos os absurdos que cercaram o caso da Uniban -, vou propor um exercício de raciocínio e tentar apenas fazer algumas perguntas.
Vamos imaginar que um rapaz universitário, de 20 anos, vai à aula com uma bermuda de tecido frágil, sem cueca por baixo e sem camisa, e que ainda – sei lá – “valorize” suas formas com trejeitos e gestos e transite pelos corredores da universidade, entre seus colegas.
Qual seria a reação do público?
Alguém consegue imaginar que diante desta cena um grupo de mulheres fosse em direção do rapaz gritando “almoço livre de graça!”, “vamo pegá!”, “vamo comê!”? E um coro de homens e mulheres o ficassem elogiando: “michê!”, “michê!”, “michê!” ou “corno!”, “corno!”, “corno!”
Até para adaptar os termos que uma multidão como essa, sedenta, gritaria diante do rapaz é difícil. Para os homens até os xingamentos são mais amenos…
É quase impossível imaginar a cena que descrevi porque ela não tem nenhum vínculo com a realidade. E por que? Eu apenas troquei o sexo da vítima na cena de agressão.
Sempre que alguém, ou um grupo, acha que uma mulher precisa ser ‘controlada’, o faz com violência. Se a mulher é fisicamente mais fraca, por que o uso da violência? E por que uma mulher precisa ser controlada?
Por que a sexualidade da mulher é capaz de causar tanto alvoroço?
Por que um grupo se acha no direito de dizer o que bem quiser a uma mulher, e a um homem não?
Por que um país inteiro se acha no direito de julgar o comprimento de um vestido? Se a sociedade dita regras para todos, por que não faz o mesmo com os homens?
Algum homem já foi repreendido por tirar a camisa em público e ‘provocar’ o desejo alheio pelo peito e barriga definidos ou a cueca que ficou aparecendo? Quando é uma mulher e a calcinha aparece, todos logo já entendem que ela está “disponível”. De onde vem esse entendimento coletivo?
Convenhamos, as minissaias usadas nos anos 60 eram muito mais curtas do que o maldito vestido da Uniban. Considero até revolucionário, libertador, para as mulheres o encurtamento das saias há 50 anos atrás. Mas em pleno séc. XXI uma minissaia causar esse furor é, no mínimo, estarrecedor.
Ou viramos todos ogros, ou perdemos completamente a noção das coisas. Eu voto nas duas opções.
A única cena que me vem a cabeça, é a daquele gorila ensandecido batendo com um osso no chão no filme 2001 – Uma Odisséia no Espaço. Somos todos aquele gorila, numa viagem de volta ao passado.
Essa universidade perdeu uma ótima oportunidade de realizar um grande debate sobre comportamento, democracia e igualdade. Enfim, perdeu a oportunidade de formar melhores cidadãos. Seria bom que aqueles alunos se voltassem contra a reitoria com a mesma fúria pelo alto valor das mensalidades… Mas consciência coletiva não é o forte dos alunos da Uniban, já pudemos observar.
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Nota: Esse assunto já havia me cansado. Mas novas opiniões sobre o caso quase que me forçaram a emitir minha opinião.
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